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O PONTO DE VISTA ANALÍTICO: SISTEMA DE INOVAÇÃO NA DEFESA

3 A REALIDADE REFERENCIAL

3.4 O PONTO DE VISTA ANALÍTICO: SISTEMA DE INOVAÇÃO NA DEFESA

O fenômeno investigado, tal como descrito até este ponto da pesquisa, está inserido no processo de transformação da Defesa, em curso no Brasil, que, de acordo com especialistas como Covarrubias (2005) e Enzo (2011), não ocorrerá sem a introdução de uma atitude ino- vadora na cultura organizacional dos principais agentes do setor (Forças Armadas, Indústria de Defesa, Universidades e Centros de Pesquisa).

Para avançar nas discussões é importante compreender qual é o “Ponto de vista analítico” deste pesquisador. Conforme visto no capítulo 2, os três primeiros atos do processo de inves- tigação estruturalista interferem uns nos outros e não são feitos de forma sequencial e sim simultaneamente. Por essa razão, antes de indicar o Corpus de Elementos, é importante enten- der como se deu a escolha do Ponto de Vista Analítico. De acordo com Thiry-Cherques (2008), nesta etapa, é essencial escolher um, e só um, ponto de vista de “leitura” do campo observacional. Existirão muitos elementos no Campo e é preciso ter a clara noção da categoria em que se enquadram estes elementos. É preciso, portanto, esclarecer que tipo de leitura se fará do observável e sob que ótica serão procurados os elementos para análise.

Para compreender o que se passa por detrás do aparente, é necessário recorrer à interpre- tação. Interpretar significa, dentro do possível, olhar com o olhar distanciado (LÉVI- STRAUSS, 1970). Por isto, não faz sentido pré-selecionar no campo investigado o que é rele- vante. É a intenção analítica, o ponto de vista, que fará esta seleção.

Dito isto e estabelecendo uma ligação com a seção anterior, é interessante observar os ar- gumentos de O’Rourke (2006, p.34), do Departamento de Defesa dos EUA, que, no documen- to intitulado de “Elements of Defense Transformation”, afirma que a Inovação é vital para a

Transformação, e por sua vez depende da criatividade e do desenvolvimento de novos con-

ceitos organizativos, processuais, operacionais e tecnológicos. Deve-se, assim, “encorajar a inovação, a partilha de conhecimentos e a experimentação operacional entre as nossas Forças Singulares e com outras Forças Multinacionais.” (DoD, 2004, p.14).

Enzo (2011), concordando com a assertiva acima, argumentou que sem inovação não há transformação. Para ele, a transformação é um processo de longo prazo, amplo e profundo; não sendo modismo urgente. Sendo assim, faz-se necessário e fundamental que o setor de Defesa assuma a importância de que o desenvolvimento de uma atitude inovadora é essen- cial.

[...] há que se olhar para frente. Renovar o antigo que habita em cada soldado profissional é um necessário ato de coragem. Sem desprezar o permanente, desfazer- se do provisório; sem perder os valores que conformam e dão credibilidade à nossa Instituição, abrir as claraboias para o arejamento e preparar-se para vencer a guerra do futuro – com tudo que ela terá de ‘nunca visto’. É este o desafio que concito to- dos a enfrentar (ENZO,2011).

A partir destes atores, nas primeiras investigações a respeito do campo observacional, es- te pesquisador observou que o setor de Defesa possui o terceiro maior orçamento da União, cerca de 34 bilhões, 1,6% do PIB, segundo dados do SIPRI (2011). Dados que colocaram o Brasil, em 2010, na 11ª posição no ranking mundial. Um orçamento com cifras expressivas, mas que não traduziram e nem traduzem a real situação de equipamento ou aparelhamento das Forças Armadas.

Em 2011, o SIPRI15 (Stockholm International Peace Research Institute) produziu outra pesquisa buscando levantar os maiores exportadores de armas convencionais. O Brasil obteve a 27ª posição, o que significa 0,1% do mercado mundial de armamento. No mesmo período, os EUA exportaram um terço das armas negociadas (33,3%), seguido por Rússia (26,3%) e França (8,1%). O País teve sua melhor colocação em 1985, quando ocupou a 10ª posi- ção. Mesmo assim, isso significava menos de 1% do total mundial naquele ano.

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Apesar dos dados divulgados pelo SIPRI terem problemas metodológicos e comprometerem muitas vezes os exercícios de comparação entre países, são úteis para análises de corte temporal.

Para a pesquisadora Carina Solmirano, do SIPRI, embora o Ministério da Defesa receba volume expressivo de recursos federais, se confrontado tanto a países sul-americanos quanto a outros comparáveis em termos de potencialidade, investe pouco em defesa nacional. A espe- cialista também observa que o percentual do investimento do MD é muito reduzido, “o que pode comprometer seriamente a capacidade combatente das Forças Armadas” brasileiras. Ela destaca ainda que se tornou evidente que o Brasil está tentando demostrar ao mundo sua ne- cessidade de aumentar a capacidade militar juntamente com sua influência política e econô- mica no âmbito internacional. De fato o investimento brasileiro em defesa, que inclui gastos com pesquisa, desenvolvimento, inovação, reequipamento etc., é bastante reduzido, sendo, em média, da ordem de 0,10% do PIB, conforme indica o Anexo A - Desempenho orçamentário do Ministério da Defesa.

A partir da análise do desempenho orçamentário do MD e dados acima expostos, este pesquisador intuiu que havia algo a ser estudado neste campo, a fim de entender o motivo pelo qual tal orçamento não se transforma em melhoria dos instrumentos de trabalho dos mili- tares, denominados produtos de defesa (PRODE) ou materiais de emprego militar (MEM).

Observando esta questão mais atentamente, nota-se que boa parcela destes recursos é em- pregada na compra de equipamentos no exterior, não dando prioridade para a indústria nacio- nal de Defesa, nem à necessidade de o País ampliar o índice de nacionalização. Focando neste dado concreto, buscou-se aprofundar no estudo dos motivos que levam os gestores do setor de Defesa a não privilegiarem a indústria nacional e observou-se que, embora haja um grande interesse de todos os agentes no desenvolvimento econômico do setor industrial de Defesa, continua sendo mais caro comprar alguns equipamentos dentro do País ou o que é pior, na maior parte das vezes, a indústria não possui capacidade tecnológica para desenvolver produ- tos de maior complexidade.

Deste fato, então, começa a surgir ponto de vista analítico deste pesquisador. Por que, em geral, a indústria brasileira não consegue atender às demandas das Forças Armadas? Poderia ser a falta de estímulo governamental? Por que há casos de sucesso como o da Embraer, por exemplo? A Embraer teve um bom aporte de recursos federais. Seria esta a fórmula do suces- so? Mas, isto não faz sentido, haja vista a existência de casos de sucesso onde o aporte de recursos foi menor ou inexpressivo (VANT; Radar SABER etc.). Quais as condicionantes que impulsionaram os casos de sucesso? Ao buscar resposta a estas perguntas, este pesquisador obteve as melhores explicações nas teorias dos sistemas de inovação. Por este motivo, o Pon-

ele abrange a maior parte dos Elementos que se pretende investigar e contribui com a pesquisa das relações entre tais elementos, que é uma necessidade epistemológica.

Para levantar o Corpus de Elementos, que será uma das próximas etapas do protocolo es- truturalista, partiu-se da premissa de que o Sistema de Inovação no setor de Defesa é fragmen- tado e desarticulado, não possui coesão entre os principais agentes do sistema, conforme apontam o trabalho de Cunha e Amarante (2011), que serão explorados em outras seções des- ta pesquisa). A indústria não sabe quais as metas das Forças Armadas em relação futuro dos materiais de emprego militar, executa esforços difusos, não focando em todas as áreas de inte- resse das Forças. Estas, por sua vez, não conseguem ter projetos consistentes de longo prazo, e argumentam que é por falta de garantia de recursos perenes do Governo Federal. O governo, por sua vez, não consegue ampliar os gastos com a Defesa, e apresenta como um de seus ar- gumentos o fato de o MD já contar com um dos três maiores orçamentos ministeriais. As uni- versidades parecem não se engajar fortemente em pesquisas para o setor, devido ao elevado custo das pesquisas de sistemas complexos e pela esta instabilidade econômico-financeira existente neste segmento.

Assim, pode-se observar o mesmo fenômeno sob várias perspectivas, as principais são: i) desconhecimento das demandas do Poder Militar pelas Indústrias de Defesa; ii) limitada ca- pacidade do Poder Militar de executar projetos consistentes de longo prazo no que tange ao desenvolvimento de produtos de defesa; iii) dificuldade do Governo Federal de ampliar gas- tos com a Defesa; iv) desinteresse da universidade pelos assuntos de Defesa, embora este quadro esteja sendo revertido lentamente, já que estão surgindo cursos civis nesta área do co- nhecimento.

Além disso, a escolha do “Sistema de Inovação” como Ponto de Vista Analítico se deu em razão da convicção de que as teorias dos Sistemas de Inovação permitem a compreensão dos fatos, das atividades, dos processos e dos agentes envolvidos no setor em estudo.

A expressão “Sistema de Inovação” surgiu nos anos 80 e se difundiu com trabalhos de Chris Freeman (1987), Richard Nelson (1987; 1988) e Lundvall (1992). Desde então, tais autores passaram a ser referência nos trabalhos sobre sistemas de inovação e são amplamente citados pelos estudos posteriores neste campo. Bengt-Ake Lundvall, um dos primeiros a tratar sobre o tema da forma como hoje é conhecida, destacou a importância das fortes interações entre empresas e instituições com o propósito de desenvolver novos conhecimentos em ciên- cia e tecnologia. O autor desenvolveu um trabalho teórico, investigando o conceito e o desen- volvimento da estrutura de análise do sistema de inovação, observando que as Estruturas de

Produção e a Definição institucional são duas dimensões importantes para definir os siste-

mas de inovação, reconhecendo que a organização desses sistemas é influenciada por fatores econômicos, políticos e culturais que ajudam a determinar a escala, direção e sucesso de todas as atividades de inovação.

Em 1995, Freeman ampliou a discussão, definindo o conceito de Sistema Nacional de Inovação como um “conjunto de instituições públicas e privadas, cujas atividades e interações contribuem para a criação, avanço e difusão das inovações tecnológicas de um país”.

Figura 4: Sistema Nacional de Inovação Fonte: Freeman (1995)

Na visão de Edquist (2001), Conde e Araújo-Jorge (2003), Lundvall (2005) e Cassiolato e Lastres (2005, 2007), os aspectos teóricos relacionados aos Sistemas de Inovação (SI) têm sido utilizados, tanto como conceitos analíticos, para identificar as redes de inter-relações entre atores dos setores público e privado, envolvidos com a geração e difusão de inovações; quanto como instrumento de política pública ou privada para forjar e promover essas relações (FREEMAN, 2004). Edquist (2001, p.13) e Malerba (2004) argumentam que existe uma série de possibilidades de abordagens distintas da de sistemas nacionais de inovação. Os autores consideram possível identificar as fronteiras de um sistema [sistema-alvo], ou seja, na análise de um sistema é possível discriminar o seu interior em relação ao meio-ambiente. Os autores afirmam que um sistema de inovação pode ser espacial ou setorialmente delimitado (ou am- bos) a depender do objeto de estudo. Por esta razão, encontramos na literatura conceitos como

SNI, Sistema Setorial de Inovação (SSI) e outras designações, conforme a classificação pro- posta por Silvestre (2006) (Quadro 3).

Quadro 03 – Principais abordagens dos Sistemas de Inovação e seus enfoques Parâmetros de Classificação Tipos de Abordagem Enfoque Sistema de Inovação

Mais relacionado ao sistema de conhecimento; foco em concei- tos como conhecimento; aprendizagem e mudanças tecnológi- cas; estruturas podem estar dispersas geograficamente e a ino- vação exerce um papel central nesta abordagem.

Geográficos ou espaciais

Regional – Supranacional

O foco está direcionado para as fronteiras geográficas de mais de um país (Mercosul, por exemplo).

Nacional O foco está direcionado para as fronteiras geográficas de um país (Brasil, por exemplo).

Regional – Subnacional

O foco está direcionado para as fronteiras geográficas de uma região dentro de um país (ex. Sudeste do Brasil).

Local O foco está direcionado para as fronteiras geográficas de uma localidade (Sul Fluminense, por exemplo).

Técnicos ou Tec- nológicos

Setorial O foco está direcionado para um dado setor ou segmento indus- trial. Não apresenta delimitação geográfica definida.

Tecnológico O foco está direcionado para uma dada tecnologia. Não apresen- ta delimitação geográfica definida.

Corporativo O foco está direcionado para uma dada corporação. Não apre- senta delimitação geográfica definida.

Fonte – Adaptado de Silvestre (2006)

A análise setorial se prestaria a compreender mais detalhadamente as peculiaridades e forças que regem um determinado setor. Por essa razão, no entender deste pesquisador, este tipo de sistema, o SSI, é o que mais se aproxima da estrutura vigente no setor de Defesa para gerenciar as inovações. Em termos conceituais, segundo Malerba (2002), um SSI pode ser entendido como:

Um conjunto de agentes que se inserem na geração, desenvolvimento, produção, comercialização e difusão de produtos e serviços concebidos segundo possibilidades e condições típicas de cada setor, a partir de uma base específica de conhecimentos, tecnologias, insumos e condições de demanda, tendo em vista a heterogeneidade existente entre os diversos setores – e indústrias – que compõem a estrutura econô- mica (MALERBA, 1999, p.4).

De acordo com Malerba (2002), os principais agentes que compõem um SSI incluem: os indivíduos (consumidores, empreendedores, cientistas); as firmas (no caso da Defesa, a BID - Base Industrial de Defesa); as organizações não-empresariais (universidades, institutos de pesquisa, agentes financeiros, associações técnicas); os departamentos de P&D; os grupos de organizações (associações industriais); as instituições normativas; os órgãos de fomento etc.

Para por fim à caracterização do Ponto de Vista Analítico escolhido, é importante com- preender o conceito de Inovação no setor de Defesa. Sabe-se que um dos maiores problemas

para se tratar do termo inovação, seja para o estabelecimento de Políticas Públicas, seja para a gestão das organizações, é o correto entendimento sobre sua definição (TIDD; BESSANT; PAVITT; 1997, 2005). Na literatura, muita confusão se faz entre invenção, inovação e difu- são. Em função disto, para dar clareza ao trabalho, este pesquisador irá partir da definição de Longo (1987) para, em seguida, comentar sinteticamente sobre a evolução do termo, até che- gar à definição que será utilizada nesta pesquisa.

Longo (1987) afirma que, na terminologia da propriedade industrial, a invenção usual- mente significa a solução para um problema tecnológico que pode ser patenteada, considerada nova e suscetível de utilização. Na realidade, segundo aquele pesquisador, milhares de inven- ções nunca foram patenteadas, e o que pode ser patenteado varia, de certa maneira, de país para país. De acordo com ele, a invenção é um estágio do desenvolvimento no qual é produzi- da uma nova ideia, desenho ou modelo para um novo ou melhor produto, processo ou sistema, cujos efeitos podem ficar restritos ao âmbito do laboratório onde foi originada.

Já a inovação compreende a introdução de um novo produto no mercado, em escala co- mercial tendo, em geral, fortes repercussões socioeconômicas. Normalmente, significa a solu- ção de um problema e envolve um conjunto de fases que vão desde a pesquisa até o uso práti- co (LONGO, 1987). Em outras palavras, a inovação é o resultado cumulativo de atividades e interações associadas à pesquisa e desenvolvimento e que se traduz em novo produto processo ou serviço, comercializado no mercado ou posto em prática por uma instituição sem fins lu- crativos.

Por seu turno, difusão diz respeito à imitação da inovação, a partir do momento em que ela é adotada por um grande número de competidores, organizações ou empresas concorren- tes. Assim, difusão e inovação são conceitos complementares. A inovação é simplesmente o começo do processo de difusão. Ao longo do tempo, empresas desenvolvem inicialmente ca- pacidades de rotina, que, se desenvolvidas de forma eficiente e através de um processo se- quencial e cumulativo, podem ser seguidas por inovação básica, inovação intermediária e ino- vação elevada, caso consigam acelerar para acompanhar a fronteira tecnológica e diminuir a lacuna tecnológica (FIGUEIREDO, 2004).

É importante dizer que o conceito de inovação surgiu com os trabalhos de Schumpeter (1934). Na visão dele, a inovação era considerada como elemento de competição, crescimento e desenvolvimento econômico. Seu argumento era de que o desenvolvimento econômico seria conduzido pela inovação por meio de um processo dinâmico em que as novas tecnologias

substituiriam as antigas, um processo por ele denominado de “destruição criadora” (SCHUM- PETER, 1934, 1957).

Com a evolução do conceito ao longo do século passado, a distinção schumpeteriana en- tre invenção, inovação e difusão de três atos claramente definido foi desaparecendo, em favor de uma concepção de mudança tecnológica como um contínuo processo (ROSENBERG, 1976).

Tal evolução foi trazendo outros aspectos à inovação, a qual passou a ser vista como um processo complexo, exigindo a interação de vários agentes, como as universidades, Institutos de Pesquisa, Agências de Fomento e o Governo, para o seu sucesso. Essa ideia é corroborada pelas abordagens evolucionistas e neo-schumpeteriana de Freeman (1982, 1989) e de Nelson e Winter (1982), que vêm a inovação como um processo dependente da trajetória, por meio do qual o conhecimento e a tecnologia são desenvolvidos a partir da interação entre vários atores e fatores. Interações estas que são essenciais ao objeto na nossa pesquisa.

Desenvolveu-se, então, na década de 80, o modelo interativo de inovação ou modelo neo- schumpteriano, muito mais centrado nas empresas, onde as relações não são únicas e nem lineares, destacando-se a importância dos feedbacks. Este modelo demonstra que o processo de inovação é interativo e multidirecional, ou seja, não só a ciência influencia a tecnologia como os avanços tecnológicos são usados para o avanço científico (KLINE; ROSENBERG, 1986).

Com os estudos de Kline e Rosenberg (1986), a ênfase se deslocou da filosofia do sim- ples ato de inovação do modelo linear para o processo social subjacente à novidade técnica economicamente orientada. Como consequência o termo inovação foi paulatinamente sendo substituído por processos de inovação ou atividades de inovação. Esta visão é corroborada por Fagerberg (2004) que afirma que inovação é um fenômeno sistêmico, fruto da interação entre os diferentes atores do processo produtivo e as organizações. Para o autor, inovar envolve "combinação de vários tipos de conhecimentos, capacidades, competências e recursos".

Em 1987, foi publicado o Manual de Oslo, que teve sua terceira edição publicada em 2005. Com o objetivo de melhorar a compreensão do processo de inovação e seus impactos econômicos, o Manual de Oslo (OCDE, 2005) apoia-se na abordagem neo-schumpteriana da inovação e com enfoque no Sistema de Inovação. Nele, a inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um no- vo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas” (OCDE, 2005, p.55). A grande

mudança da 1ª para a 3 ª edição do referido manual foi que o termo inovação tecnológica foi substituído por inovação, perdendo o adjetivo.

Com esta evolução, o manual da PINTEC (IBGE, 2008, p.18), também deixou de usar o termo “tecnológico” nas definições de inovação de produto e processo, pois de acordo com Manual Oslo essa “palavra evoca a possibilidade de que muitas empresas do setor de serviços interpretem ‘tecnológica’ como ‘usuária de plantas e equipamentos de alta tecnologia’, e as- sim não seja aplicável a muitas de suas inovações de produtos e processos” (OSLO, 2005, p. 24).

Esta evolução já havia sido percebida no segmento militar mundial. No Exército dos EUA, por exemplo, o termo tecnologia é indissociável da doutrina ou de mudanças organiza- cionais. Rosen (1991) define a inovação militar como uma mudança no modo de combater ou a introdução de um novo meio de emprego militar.

Nos últimos anos, pesquisadores especializados em Defesa, em âmbito mundial, desen- volveram três grandes teorias da inovação no campo da ciência política, que podem ajudar a entender como são produzidas as inovações em sistemas complexos como o deste estudo. A primeira, associada à Rosen (1991), postula que a inovação revolucionária no setor militar ocorre principalmente a partir de dentro, ou seja, somente as FA são capazes de introduzir mudança eficaz. Ex: introdução de porta-aviões nos EUA (1918-1943), e a criação da mobili- dade aérea com o helicóptero nos EUA (1944-1965). Na opinião de Rosen, inovação em tem- pos de paz é, essencialmente, um processo político que envolve redistribuição de poder e re- cursos entre as diferentes Forças, entre as diversas armas (infantaria, cavalaria e engenheiros), ou entre os mais velhos e as novas gerações de oficiais.

Uma segunda teoria, articulada por Posen (1984), argumenta que a inovação militar ocor- re em grande parte sob o estímulo de civis que estão livres da bagagem emocional e psicoló- gica da vida castrense. Aquele autor postula que, em curto prazo, a introdução de ideias revo- lucionárias dentro das forças armadas é tão lento, que os civis são obrigados a induzir inova- ção na doutrina e nas armas. Esta teoria, portanto, implica que o controle civil dos assuntos militares é importante para a inovação, uma vez que dá uma perspectiva independente de co-