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OS CONTRASTES NA CONDUTA (12:1-28)

A conduta humana é feita de contrastes; de um lado, a inata tendência para o bem; do outro, o calejamento para o mal. Nesta batalha, em que todo ser humano se sente metido, vence apenas o que dispuser de recursos fora do consenso humano. Deus, na vida humana, dá forças para vencer o mal; sem Deus, as tendências malignas vencem.

4.3.1 Os contrastes (vv. 1 e 2)

Há uma inata reação do pecador à disciplina. Esta visa ajustar o homem ao ideal humano, mas o pecado, a perversão dos sentimentos, leva o homem a aborrecer esta correção. Aí está a luta entre as forças do bem e as do mal. Não sabe o homem desviado que o favor de Deus está para o que aceita a disciplina e o seu desfavor para o que a rejeita. Toda a natureza ensina esta ciência - a disciplina - e até as coisas criadas sofrem estes impulsos. Uma árvore plantada em determinado lugar cresce contra os ventos, inclinando-se para o lado de onde os mesmos vêm, para lhes resistir. É a disciplina da natureza. Como é que o homem ajuizado rejeita esta disciplina não sabemos, mas devem ser as forças do mal atuantes em sua natureza.

A condenação do homem rebelde não é nem desumana nem ilegal. Deus, como o Juiz supremo, premia os bons e castiga os maus. O termo condenar no verso 2 é um vocábulo legal, resultante da transgressão das leis divinas.

4.3.2 A perversidade nada constrói (vv. 3 e 4)

As lições da história aí estão para quem quiser apreciá-las. A violência aos princípios da ordem e da moral é apenas destrutível, nada construindo. Na sociedade moderna, levantam-se grupos contra a ordem estabelecida, usando de todas as violências, matando, roubando e cometendo toda sorte de maldade. Que constroem estes grupos? A justiça termina vencendo, porque está do lado da ordem. A simples mudança de governo não basta para satisfazer às necessidades do ser humano, que deseja trabalhar e viver em paz. É como ensina o verso 3: O homem não se estabelece pela violência (perversidade). Este termo, sempre presente nestes contrastes, indica a natureza torcida, violentada, fora dos limites naturais. É uma matéria que torna o indivíduo uma ferida no corpo social.

A mulher virtuosa é a coroa do seu marido... O contrário, é como podridão nos seus ossos (v. 4). Uma figura social característica da nuance social. Por que entrou este Provérbio aqui entre dois versos (4 e 5), que tratam dos desvios do homem? Um lapso na coordenação dos provérbios ou uma ilustração? Preferimos a segunda hipótese. Uma mulher virtuosa é um exemplo de dignidade, de elevação de sentimentos; mas, a que não é, pode ser comparada à podridão da família e dos deveres conjugais. Ilustra bem um homem justo e um perverso, um correto e outro desviado do caminho do bem (comp. 31:10-31). Um elogio.

4.3.3 A perversidade não compensa (vv.. 5-9)

Um criminoso convertido numa penitenciária de São Paulo, depois de solto e livre, disse: "O pecado não compensa." Qual é a contribuição que o crime oferece à sociedade? Apenas a necessidade de um imenso aparato policial, o custeio de cadelas e penitenciárias, e nada mais. Os provérbios são um cáustico aplicado à alma dos desviados do bom caminho, e muitos mudam de rumo, embora outros continuem, para infelicidade deles e nossa. Segundo o verso 5, tudo depende do pensamento, o isto está em conformidade com o ensino de nosso Senhor em Mat. 5:27-32, quando o estado do coração é uma outra fonte de onde vêm os maus pensamentos e as más ações. Então diz: Os pensamentos dos justos são retos, mas os conselhos dos perversos, engano (v. 5). As idéias e as intenções determinam o curso da vida. Os justos para o bem; os perversos para o mal. Aí está tudo que se pode dizer do homem justo e do perverso. Um tende a derramar sangue; o outro a livrar os homens (v. 6). Quanto sangue derramado por causa do pecado, e quanto desassossego se sente! A humanidade é infeliz por causa de uns poucos, que trabalham para a desventura própria e dos outros. Acontece que

cada qual tem o seu destino. Os perversos são derrubados o já não são (desaparecem) (v. 6), mas a casa dos justos permanecerá (v. 7). Quantas casas de perversos se encontram nas sociedades? Nenhuma. Quantas casas de homens justos, isto é, que não trabalham para o mal? Muitas. É isso que o texto sagrado nos ensina. Tudo está ligado ao entendimento do homem, o modo como planeja sua vida e a sua casa (Mat. 7:26). O justo é louvado, mas o perverso é desprezado (v. 8). Há vantagem em ser justo, pelo menos em não fazer mal a ninguém. Este é o homem justo. A sua casa permanece, porque é homem que planeja o bem e vive seguramente. Os gregos tinham uma democracia, formada de um grupo de homens escolhidos. Eram poucos, porém tidos como bons. Os outros não tinham o direito de votar. Em certo sentido é isto que o nosso texto indica. O homem de bom entendimento é louvado, mas o perverso é desprezado. O homem de mente distorcida é um sujeito desprezado.- O verso a seguir prega a humildade. Melhor é o que se estima em pouco a faz o seu trabalho, do que o vangloriou, que tem feita de pão (v. 9). A vangloria é outra forma de estultícia, irmã da perversidade, porque é uma distorção do pensamento. Um homem humilde e que trabalha vale por meia dúzia que se vangloria e não trabalha. O vangloriador é o que tem falta de pão, pois, em lugar de trabalhar, gasta o tempo louvando-se. Como é dito em outro lugar: "A boca do justo produz sabedoria, mas a língua do perverso será desarraigada" (10:31). Antes produzir pouco e ser humilde do que produzir muito vangloriosamente. É melhor ser humilde do que servo, isto é, trabalhar por conta própria do que ser escravo dos outros.

4.3.4 O justo o laborioso (vv. 10-12)

Uma séria de contrastes. O justo atenta para a vida dos seus animais, porém o coração do perverso é cruel (v. 10). O homem bom não maltrata um animal, mas um sujeito perverso tem prazer em bater nele. Há no Rio de Janeiro uma sociedade protetora dos animais, tendo por fim socorrer um animal abandonado ou que está sendo maltratado. Seus elementos vão até os depósitos de animais apanhados na rua, para ver se estão sendo maltratados. É sinal de coração bom; afinal, por que bater num animal, que não sabe o que faz? A seguir vem o louvor do homem que trabalha a sua terra, contra o que gasta o seu tempo em coisas vãs. O trabalhador não tem tempo para vaidades. Cuida dos seus deveres. A vagabundagem é o que caustica este verso. Certos homens vivem sonhando com fantasias, em lugar de trabalhar. É da terra que vem o nosso pão, e não de olhar as estrelas e pensar vaidades. O perverso quer viver do que caçam os companheiros (v. 12). É uma outra versão dos maus. É o contraste entre os resultados da maldade humana e os desejos dos homens bons, reconhecendo que a raiz dos justos é que produz (v. 12). Não há vantagem na maldade; só o bem é duradouro e fértil.

4.3.5 Recompensas a punições (vv. 13-16).

O uso da boca, ou dos lábios, está aqui lisamente demonstrado. O iníquo fica preso por suas próprias palavras, mas o justo, mesmo que tenha caído em fraqueza ou dificuldades, irá escapar. A angústia cabe a todos os viventes, em determinadas situações, mas o justo sal delas, enquanto o perverso mais se enleia. Cada um se farta do bem pela sua própria boca, o o que as mãos dos homens fizerem ser-lhe-á retribuído (v. 13). Quem foi que se cansou de fazer bom uso da boca? A sua obra permanecerá, enquanto a dos maus desaparecerá. Parece certo que os homens são recompensados pelas suas palavras e ações, o que vale dizer que o bem sempre prevalece, mesmo que as condições sejam adversas (v. 14). O mundo em que viviam os sábios de Israel é o mesmo em que vivemos; os séculos não mudam o coração humano, nem os resultados finais do bem e do mal. Há uma justiça que não falha, mesmo que tudo mais mude na terra. É a justiça divina a premiar os bons e a punir os maus. Isto está em acordo com Mateus 12:36 e 11 Coríntios 5:10. Há uma doutrina muito grave nessa escritura de Mateus. Aí vemos que as palavras ditas não se perdem, que há um como que gravador registrando tudo que dizemos. Os físicos já chegaram à conclusão de que nem as palavras se perdem; vão ecoando pelos espaços etéreos até que um dia aparecerão no juízo a nosso favor ou contra nós. Será isso que Jesus está ensinando? Quanto ao nosso comparecimento no grande Tribunal, ninguém tem dúvidas; e lá tudo será devidamente ajustado. Isso contestam as doutrinas dos pregadores do aniquilamento da alma e os que a negam, como os Testemunhas de Jeová (sic). "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não tivermos desfalecido" (Gál. 6:9, 10).

Este ensino maravilhoso está de acordo com a nova Revelação e é seguido por dois provérbios sobre os tolos (ewillim) e os sensatos. O insensato pensa que o seu caminho é o certo e não se deixa ensinar; enquanto isso, o sábio quer aprender mais e mais e aceita instruir-se. Só o tolo acha que já sabe tudo. A sua estupidez é tanta que não enxerga a sua ignorância. Não é assim o sábio, o perscrutador, o que se sente insaciável no saber. A Ira do Insensato num instante se reconhece, mas o prudente oculta a afronta (v. 16). O tolo, por pouco ou nada, logo se enfurece; o sábio cala e espera.

4.3.6 Outros contrastes (vv. 17-21)

Estes versos apresentam três contrastes quanto à maneira de falar e de dar testemunho. O que diz a verdade manifesta a justiça (nos tribunais), dá testemunho verdadeiro, mas a testemunha falsa, a fraudo (v. 17). Fraudar a verdade, para fazer perecer o justo, deve ser à

vista de Deus um crime inominável. Este autor já viu uma testemunha afirmar perante um juiz uma coisa totalmente inverídica, e a mentira era de tal modo evidente que até o juiz a reconheceu, dando ganho de causa à outra parte (Salmos 106:33). A tagarelice é outra falsidade da língua. É como pontas de espada, o lábio veraz permanece para sempre (v. 19). Só a verdade permanece e diz-se que ela é como o azeite, que sempre fica por cima da água. Estes versos são o estigma do falador e do perjuro.

Os outros dois versos elaboram o pensamento dos anteriores. Só a veracidade tem fôlego de vida, enquanto a mentira é de curto fôlego, logo se desfaz como a névoa da manhã. No coração dos que maquinam o mal há fraudo, mas alegria têm os que aconselham a paz (v. 20). Os conselheiros da paz podem perder a primeira batalha, mas ganham a segunda. Ao justo nenhum agravo sobrevirá, mas, o perverso, o mal o apanhará em cheio (v. 21). Trata-se de uma série de provérbios sobre a falsidade e a veracidade. A falsidade é chaga da sociedade, que se vê envolvida nas malhas das intrigas e só a custo consegue livrar-se, pois a inclinação do coração humano é mais propenso à mentira do que à verdade.

4.3.7 Mais contrastes sobro a verdade (vv. 22-24)

Os lábios mentirosos são abominação no Senhor (v. 22). Esta escritura deveria ser lida por muitos cristãos que não têm controle da língua e dizem qualquer coisa que interesse aos ' seus intuitos. Nós estamos cada dia tropeçando nessa gente, que pensa que Deus é surdo-mudo, e nada ouve e nada diz. Engano. Por tuas palavras serás julgado, como vimos antes. As nossas palavras ficam registradas nos gravadores divinos, e de lá não saem nunca. Enquanto isso, os que obram fielmente são o seu prazer (v. 22). Deus é justo e verdadeiro, e não pode ter complacência para com os mentirosos. Só os verazes são o seu contentamento. Graças damos ao Senhor por termos um Deus que premia os bons e castiga os maus, mesmo que na vida cotidiana isso pareça não existir. Esta verdade é desenvolvida no verso 23, que afirma: O homem prudente, oculta o conhecimento, mas o coração dos Insensatos proclama a estultícia (v. 23). Aqui está o retrato do prudente e do insensato. Um modesto, recato; o outro, um tagarela, palrador.

O verso seguinte contrasta o obreiro esforçado com o preguiçoso, uma nota sempre presente em Provérbios, contra os preguiçosos. Uns são Investidos de cargos de responsabilidade; são os diretores de empresas, enquanto os indolentes são reduzidos à escravidão (v. 24). É do trabalho que todos vivemos, e por isso os preguiçosos não têm o direito de comer o fruto do trabalho do operoso. Para coroar este ensino sobre a diligência, consta o seguinte verso: A ansiedade do coração do homem o abato, enquanto uma palavra boa o alegra (v. 25). Oh! o valor de uma palavra no devido tempo, uma palavra de conforto, que um pastor sempre deve ter para os abatidos! A seguir, uns versos sobre a simpatia, que são uma réplica do que acabamos de estudar.

4.3.8 Sejamos simpáticos uns nos outros (vv. 26-28)

A simpatia, a ternura, os sentimentos altos do coração humano são uma ajuda, enquanto o coração dos maus é uma praga. O justo serva de gula no seu companheiro (v. 26), mas os perversos o fazem errar. Não é só com coisas materiais que se ajuda os outros. Uma palavra boa, dita oportunamente, serve de gula na vida; e quantas vezes salvamos uma vida com uma frase encorajadora! Isto se opõe ao verso seguinte, em que o sábio volta a tratar com o preguiçoso. Por que isso? Porque o preguiçoso não pode ter mesmo uma palavra boa para ninguém. Não trabalha, e quem não trabalha nada pode fazer para animar os outros. E por isso este contraste. O destino de tal pessoa é passar fome; nem será capaz de assar a sua caça, porque não a poderá apanhar, por causa da preguiça. As lebres lá estão no mato, mas o caçador preguiçoso se remexe na sua esteira e lá se fica a pensar na caça sem se levantar para ir apanhá-la. Trata-se naturalmente de um provérbio como tantos, e alguns comentadores acham ser um ditado árabe. Quem sabe, se não é brasileiro? Quem não conhece a obra de Monteiro Lobato sobre Jeca Tatu? Enquanto os preguiçosos morrem de fome, os diligentes, os caçadores da vida, têm prazer em serem operosos (v. 27). É o louvor ao homem que trabalha e produz, e assim carreia a riqueza para si e para o país.

Finalmente, vem o último verso, tratando ainda da justiça, afirmando que na vereda da justiça está a vida, o no canarinho de sua carreira não há morte (v. 28). Este capítulo termina com

uma sentença gloriosa a respeito 'do caminho certo, onde não se encontra a morte. Mesmo que seja difícil o sentido do texto hebraico, a tradução em português é bem clara. Não há morte no caminho da justiça, mas há na vereda da mentira, que é o seu contraste.

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