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DELEITA-TE NA DISCIPLINA DO SENHOR (3:11-20)

3.4.1 O deleite na lei do Senhor, o tema desta seção (3:11-15)

A Sabedoria é a única bênção, o único elemento, que pode trazer segurança à vida humana. Deus disciplina o homem, especialmente o salvo, que tanto recebe as graças agradáveis dadas por Deus, como as desagradáveis, que são o castigo. Bem poucas vezes entendemos esta espécie de bênção, que se nos afigura castigo ou então abandono da parte de Deus. O autor da Carta aos Hebreus não nos deixa em dúvidas a respeito, quando diz: Porque o Senhor corrige ao que ama e açoita a todo filho que recebe (Heb. 12:6). É a mesma doutrina do verso 12 de Provérbios: Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem. Há meia centena de casos exigindo a repreensão, usados na Bíblia, pelo que podemos concluir que repreender ou castigar fazem parte da economia divina para a vida humana. Provérbios usa estas palavras 18 vezes, por onde podemos concluir que a sabedoria consiste em corrigir. Pais que não corrigem os seus filhos com amor arrependem-se muito tarde, quando já estão desviados e sem jeito. Outros os repreendem de modo desumano, o que também não corrige. Uma advertência aqui seria oportuna: corrigir o filho é querer vê-lo no bom caminho; não o corrigir é esperar que ele se desvie e se perca.

Com estas advertências, o escritor sagrado passa a outro assunto, a outro campo da felicidade, que é o encontro com a sabedoria ou o senso do bom viver. Parece que ao seu lado havia muitos preocupados em ajuntar riquezas, descuidando-se de Deus. Então ele vem e promete a sabedoria celestial como algo bem superior às riquezas da terra (vv. 13-18). Certamente, não se trata especificamente de sabedoria livresca, mas de sabedoria que nasce da comunhão com Deus. Esta sabedoria é mais preciosa do que o lucro que dão a prata e o ouro (v. 14). Mais

preciosa ainda do que as pérolas e tudo que se pode desejar não é comparável a ela (v. 15). O que possui tal sabedoria é mais feliz e seguro do que aquele que amontoa prata e ouro, que facilmente se podem perder. O verso 14 se parece muito com uma parábola de nosso Senhor, quando compara a salvação a uma pérola preciosa ou de grande valor (Mat. 13:45, 46). Nós já apreciamos, noutro local, que as riquezas produzem um bem-estar fictício, e, se puderem ajudar a viver um pouco, esta ajuda não permanece, pois até aos que morrem deixando fortunas, estas trazem consigo o germe de contendas entre os que vão herdá-las.

3.4.2 Algumas conseqüências da sabedoria (3:16-20)

Uma das conseqüências da sabedoria divina é o alongamento da vida (v. 16). A vida longa consiste em certa resistência orgânica, do bom trato que se dá ao corpo; entretanto, o seguir a sabedoria do Senhor é o fator principal de uma vida longa. Foi isso que vimos em relação ao temor que se deve aos pais, em que Deus promete longos dias na terra. Por outro lado, além da longura de dias, vem a riqueza, que outros buscam por outros caminhos. Na mão direita está a longura de dias, e na esquerda, riquezas e honras (v. 16). Isto porque os seus caminhos são caninhos deliciosos, o todas as suas veredas, paz (v. 17). Não há felicidade nas riquezas se não houver paz no coração. Isso vale por todo ouro que se possa ajuntar. A história já demonstrou sobejamente que dinheiro, como tal, não traz felicidade; só quando vem acompanhado de outros elementos, como o temor de Deus e obediência às suas leis. A sabedoria divina é árvore de vida para os que a alcançam (v. 18). Recordemos a árvore da vida que Deus colocou no jardim do Éden, e que Perown chama de árvore venenosa, salientando que tal árvore do conhecimento do bem e do mal era um veneno (Cambridge Bible for Schools and Colleges). Não concordamos com esse autor famoso, a não ser quanto às conseqüências do uso da liberdade de comer da árvore proibida. Em si seria boa, tanto que ela volta a ser oferecida aos crentes no Apocalipse (22:2). Aqui ela é um ornamento dado para a saúde das nações. Logo, não é uma árvore venenosa.

Os versos 19 e 20 são uma exaltação da Sabedoria divina, sabedoria que nos é oferecida. Foi esta Sabedoria que orientou o Criador ao fazer este Universo maravilhoso. Em João 1:1-3 somos informados de que o divino Verbo estava no princípio com Deus e por meio dele tudo foi feito, e sem ele nada do que foi feito se fez. O Divino Verbo criou o universo, e esta criação foi produto da sua sabedoria, que é aqui exaltada admiravelmente. Como já foi notado, esta Sabedoria em Provérbios é a sabedoria de Cristo, ou Cristo é a Sabedoria de Provérbios. Aqui não estamos lidando com a sabedoria comum, mas com a Sabedoria divina, personificada em Jesus pré-encarnado. É ele que fala aos homens do Antigo Testamento. É ele que admoesta os mesmos homens a se virarem para esta Sabedoria, que é ele mesmo. O verso 20 nos leva a Jó 38, quando Deus mostra que é ele quem governa os mundos, as nuvens, os trovões, os animais e tudo mais na face da terra. Pelo conhecimento desta Sabedoria, os abismos se rompem e as

nuvens destilam água (v. 20). O autor de Jó, capítulo 38 e seguintes, é o mesmo de Provérbios, especialmente de 1-9. É uma certeza feliz a gente saber que está lidando com a Sabedoria em pessoa quando medita nesses versos. Sentimo-nos mais perto do Senhor. Não há necessidade de especular, como fazem alguns comentadores, ao discutirem se é Deus quem fala aqui, ou se é uma personalidade dele, ou mesmo um destilamento de saber do autor do livro. Nós não temos tais preocupações. Para nós, é claro que o Cristo pré-encarnado fala aqui como fala no resto do Velho Testamento, através dos profetas. Por isso este livro, tão pouco lido, é para nós um manancial de sabedoria para a vida cotidiana, veio capaz de guiar o homem pelas suas veredas, até encontrar o único caminho que conduz ao céu (João 14:1-3).

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