• Nenhum resultado encontrado

UM VIVER DISCIPLINADO (13:1-25)

Viver é bom, mas um viver disciplinado é, em todos os sentidos, o que se pode classificar de bom viver. O que se entende por disciplina é o que tange ao viver doméstico, à religião e à sociedade, os deveres dos pais para com seus filhos e destes para com aqueles, bem como os deveres do homem crente para com Deus, e finalmente os deveres para com o agregado humano, reunindo tudo quanto se pode enfeixar na categoria do viver disciplinado, pois abrange todos os contornos da vida. Fora disso é anarquia em quaisquer destes quadros. O capítulo que vamos estudar oferece muitos ensinamentos a respeito da disciplina da língua, do trabalho, do saber e de tantos outros aspectos da vida humana. Vale a pena esse estudo, e nós o vamos fazer na persuasão de que prestaremos algum serviço aos que desejam um viver calmo.

4.4.1 A disciplina começa em casa (vv. 1-3)

Se o pai descuida a disciplina do filho, verá depois que andou errado, e o filho que atende à disciplina é sábio. Só os tolos recusam a repreensão, que também é outro aspecto da disciplina (v. 1). O filho sábio e o cínico se destacam por suas atitudes para com a disciplina paterna. Filhos há que entendem ser a disciplina castigo corporal, o que não é, e, sim, correção e desejo de endireitar o caminho da vida enquanto é tempo (v .1). A linguagem impura de um homem denota falta de disciplina doméstica, mas a linguagem limpa enobrece esta disciplina. Do fruto da boca o homem comerá o bem, mas o desejo dos pérfidos é a violência (v. 2). Fruto da boca quer dizer boas palavras, enquanto a língua suja é uma provocação só admitida em meios malsãos. Há uma Intima relação entre este verso e a conduta diante de Deus, pois o homem que guarde a boca conserva a sua alma, mas o que muito abro os lábios a ai mesmo se arruína (v. 3). Jamais se viu um rapaz ou uma jovem recusar a disciplina doméstica, e tirar bom partido da vida. É o que o verso 3 nos informa. Há muitas vidas arruinadas por causa da falta de correção, por ser dolorosa ou falha.

4.4.2 A disciplina o o trabalho (vv. 4-8)

Os filhos devem ser encaminhados a atividades quaisquer, enquanto não sabem resistir. Não se pode esperar que um menino de cinco anos pegue numa picareta para arrancar pedras, mas pode pegar num balde e irrigar as plantas, isto nos campos e nas cidades. Um menino pode vender jornais e fazer compras para mamãe. Criar filhos vadios na rua é negar-lhes a disciplina do trabalho. Depois acontece o que diz o verso 4: O preguiçoso deseja a não tem, mas a alma dos diligentes se farte. A preguiça não é ingênita, adquire-se. Empregar o menino numa farmácia para entregar medicamentos, ou mesmo no armazém para varrê-lo ou para serviços leves é uma boa disciplina; e mais tarde o menino ou a menina agradecerão a seus pais o lhes terem dado uma ocupação bem cedo. Este escritor começou a trabalhar aos três anos de idade, cuidando do seu irmãozinho mais novo. Mais tarde foi guardar ovelhas. Depois da escola ia para o campo, e assim foi crescendo e trabalhando até poder pegar na enxada. Agradeço à minha mãe esta disciplina. Os meninos ocupados não aprendem coisas néscias;

não têm tempo para isso. A mentira, o disfarce, a impostura nascem da falta de ocupação. Isso também gera outros pecados difíceis de corrigir mais tarde. Trabalhemos, pois, e ajuntemos para a velhice, pelo menos a lembrança de uma vida de serviços.

Com louvor aos diligentes e censura aos preguiçosos, consta este ensino: O justo aborrece a palavra do mentiroso (v. 5). Deve haver alguma relação entre o preguiçoso e o justo, porque o perverso faz vergonha o se desonra. O mal volta-se contra os que o praticam, mesmo que algumas vezes, como lama espalhada, atinja algum limpo. Temos então um preguiçoso, um perverso, um laborioso, cuja alma se farta, e um justo. Duas antíteses interessentes, palmilhando todo o livro de Provérbios, ditos de Salomão.

Em contraste com a perversidade, vem a justiça que guarda ao que anda em Integridade (v. 6), porque a malícia subverte o pecador. Cada caminho tem as suas recompensas. O sábio relembra as duas veredas, a dos que andam em integridade e a dos que vivem em malícia. Como Se' estas virtudes rendessem para os cofres dos justos, consta o verso 7, que reza assim: Una se dizem ricos sem ter nada, outros se dizem pobres, sendo mui ricos. Há aqui a idéia de haver riquezas que não se justificam, enquanto há pobrezas que são riquezas. Nosso Senhor era pobre, sendo muito rico, riquíssimo, pois tudo era dele. Há pobres assim. O que têm pertence aos outros (11 Cor. 8:9). Há riquezas que desonram e há pobreza que enobrece. Isto já era verdade nos dias de Salomão, o mais rico do mundo de então, e quiçá de todos os tempos (veja ainda Luc. 12:21). Algumas traduções vertem a palavra dizem por fazem ou fingem, para realçar mais ainda as diferenças entre os que se fazem de ricos, sendo exibicionistas, extravagantes e sovinas. Qualquer que seja a tradução, o contraste é evidente. O verso 8 completa essa doutrina de um modo muito característico: Com as suas riquezas se resgata o homem, mas ao pobre não ocorro ameaça. O rico talvez resgate as suas dívidas com os seus haveres, e, assim sendo, ficará seguro; o pobre, porém, nada tem a perder, senão quem sabe? - as suas algemas (Novo Dicionário da Bíblia). O pobre dorme descansado: nada tem e nada teme, enquanto o rico, tendo muito, vive sobressaltado. Na Bíblia não se encontram muitos louvores para o pobre, mas muitas críticas para os ricos. Deus, sendo o Senhor de tudo, não faz alarde de suas riquezas e tem imensa compaixão pelo pobre.

4.4.3 Outro contraste (vv. 9-13)

O verso anterior versava sobre riqueza e pobreza, e o de agora, sobre luz e trevas. A luz dos justos brilha Intensamente, mas a lâmpada dos perversos se apaga (v. 9). Este contraste deve estar em relação com a riqueza mal ganha e a pobreza bem vivida. Os ricos, vaidosos e sovinas, têm uma lâmpada que logo se apaga, enquanto os pobres têm uma luz sempre a brilhar. São os extremos da vida. Uns com as suas pompas e seus bizarros modos de vida; outros, com a sua humildade, sem arrogância. Também há pobres arrogantes, mas não são mencionados aqui. A série de contrastes continua. O verso 10 declara que da soberba só resulta a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria. Talvez haja aqui referência aos ricos soberbos, que criam contendas, enquanto os que procuram conselho, os humildes, encontram sabedoria. Quantos gostam de pedir conselhos? Poucos. E os que os solicitam sempre os alcançam. Essa doutrina de riquezas e pobrezas continua no verso 11, quando diz: Os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunte à força do trabalho terá aumento. O louvor do que trabalha e ajunta honestamente, e a crítica ao que facilmente ou desonestamente enriquece aí estão. Continua assim o elogio ao laborioso e a censura ao desonesto e ao preguiçoso. Há realmente riquezas que constituem um orgulho, e pobrezas que são um opróbrio, porque resultam de vadiagens. Diz-se que o velho Matarazzo chegou da Itália com as calças remendadas. Com o labor profícuo conseguiu uma das maiores e mais sólidas riquezas do Brasil. Foi ele o grande iniciador da indústria brasileira, quando as meias das senhoras vinham de Paris, e a pasta. e as escovas de dentes de lá vinham também, para não -mencionar a manteiga Lo Peletior. Depois outros foram aprendendo a investir, e hoje o Brasil é um grande país industrializado. Graças a Deus. Já vendemos nossos produtos a outros países e as nossas reservas em dólares estão perto da casa dos três bilhões, quando em 1964 éramos um povo pedinte, que tomava emprestado para poder importar as coisas necessárias à nossa indústria. Vai aqui o louvor ao que trabalha com vigor. Talvez o verso 12 ainda se relacione com a riqueza mal adquirida, pois diz: A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida (v. 12). O efeito de algo ansiosamente esperado é o desgosto, e causa doenças, enquanto o desejo satisfeito é árvore de vida. Há aqui alguma relação da vida com Deus e com os deveres religiosos, mesmo que não se refira a qualquer mandamento mosaico. A tranqüilidade do coração é saúde, e esta vem também dos deveres religiosos cumpridos. Já sabemos o que é árvore da vida, a árvore que Deus colocou no Éden para alimentar o casal adâmico, de modo que pudesse viver eternamente. Essa árvore reaparece no Apocalipse, dando os seus frutos todos os anos, para saúde das nações (Apoc. 2:7; 7:3; 22:2 e 14). Mesmo que o ensino seja simbólico, ainda vale por uma ilustração de se levar uma vida tranqüila, contente com o que se tem e não desejando riquezas mal adquiridas. Para completar esta série de contrastes sobre justiça, riqueza e tranqüilidade, segue o verso 13, com mais uma lição: O que despreza a Palavra a ela se apenhora, mas o que tenra o mandamento será galardoado. Jamais alguém foi bem sucedido por abandonar. a Palavra de Deus, pois ficou penhorado por ela, devedor por sua negligência. Quando vemos filhos de crentes abandonarem a igreja e a Bíblia, sempre somos sacudidos pelo temor do que pode vir, pois ninguém jamais foi feliz em relegar o Mandamento. Para tais há sempre uma punição. É bem certo que nem todos os fiéis crentes são ricos, mas já vimos que dinheiro por si não constitui felicidade. A felicidade vem da segurança da vida com Deus. Aqui fica o

contraste entre o que abandona a Palavra e o que é fiei ao Mandamento. Para esse há galardão. Faça cada qual a sua escolha. O verso refere-se aos que conhecem a Palavra e o Mandamento, pois os israelitas eram, todos eles, ensinados na Palavra e nos mandamentos da lei. A negligência é, pois, causticada com a promessa de que os que abandonavam a Palavra ficavam por ela penhorados.

4.4.4 Contrastes entro sabedoria e estultícia (vv. 14-16)

Entre os desarrazoados, o sério faz carreira. A inteligência se aventura. A idéia de ciência professada desencoraja a pesquisa na medida em que recusa o desconhecido. Para a inteligência não se poderia formar um conceito da ciência e ficar a ela adstrito, sem imediatamente colocar empecilhos ao seu funcionamento. É isso mesmo. O homem que pesquisa, que busca, acha; aos que se fecham em si mesmos, na sua estupidez, nada acontece senão o negativismo. 1 Esse autor dedica-se a buscar o desconhecido, o que talvez tenha existido, mas quem sabe? Assim concorda o nosso provérbio: O ensino do sábio é fonte de vida, para que se evitem os laços da morte (v. 14). A ciência é refrigeradora, revitalizadora, e capaz de livrar da morte a inteligência. Isso custa, e quem sabe não haverá quem ache ser melhor dormir o sono da ignorância do que queimar as pestanas, rebuscando em velhos alfarrábios, coisas esquecidas? É uma questão de gosto. Um arqueólogo que se mete nas grutas e cavernas, em busca de um pedaço de tijolo, um osso, talvez possa parecer um louco, mas se não houvesse "loucos", nós ainda estaríamos vivendo nos tempos da "Pedra Lascada", em matéria de conhecimentos antigos. Fica, pois, entendido que o ensino do sábio é fonte de vida, para que se evitem os lagos da morte (v. 14). O termo doutrina ou ensino, em hebraico torah (lei), é a norma de vida do hebreu; e fora desta só a morte, seja a terrena, seja a espiritual. Isso é confirmado no verso seguinte (15): A boa Inteligência consegue favor, mas o caminho dos pérfidos é intransitável. Quer dizer, por ele não se passa para viver. É o elogio da inteligência contra a estultícia de certa gente, que prefere ser tola a ser sábia. Deus é quem retribui a uns e a outros, aos sábios e aos tolos (prevaricadores), e a retribuição é feita com justiça. O tolo (kesil) em hebraico é aquele que tem a seus pés a luz, porém prefere as trevas; e para tal gente não pode haver esperança. Todo prudente procede com conhecimento (v. 16), mas o insensato espraia a sua loucura. Não é apenas tolo para si, mas para os outros igualmente. Esses provérbios são o elogio da sabedoria em contraposição ao elogio da loucura, que alguns preferem.

4.4.5 Aceito a disciplina (vv. 17-22)

A doutrina da disciplina ou correção da vida é uma constante nos provérbios, e ela é aqui apresentada na forma de um embaixador fiel, que é medicinal, enquanto o meu mensageiro se precipita no mal. O bom embaixador vai por todo o mundo, dando as lições do seu governo e procurando ajudar os outros povos, aos quais foi enviado. Sua obra é medicinal é benfazeja. Os que rejeitam esta doutrina medicinal vão de mal a pior, até atingirem a pobreza, em parte, filha da tolice. É certo que a má distribuição das riquezas determina a pobreza, mas muitos pobres assim o são porque não dão ouvidos à sabedoria. Um operário que ganha pouco, mas joga no bicho, na loteria e vai a todos os jogos de futebol, não pode mesmo conseguir equilibrar as suas finanças. Tem de ser pobre. Os culpados são os que pagam pouco, mas também ele que gasta nas dissipações. É um mal complexo. O que rejeita a Instrução, pobreza a afronta lho sobrevêm (v. 18). O que guarde a repreensão será honrado (v. 18), isto é, o que se deixa guiar pelos caminhos do bom convívio receberá as honras que merece um bom operário. Há um homem humilde, guarda de trânsito no Rio, conhecido em todo o Brasil como o Apito de Ouro, honrado onde chega. A sua fidelidade ao dever é uma constante. Os versos 18 e 19 formam um contraste admirável. O que recebe a repreensão, o que se deixa instruir, é louvado; o o desejo que se cumpre agrada a alma; mas apartar-se do mal é abominável para os Insensatos (v. 19). Esses preferem o mau caminho e por isso não são honrados. A virtude, o direito, mesmo à custa de sacrifício, são recompensados, cedo ou tarde. Seguir o direito por amor ao mesmo é refugar o mal por nojo dele. Entendemos que todo este ensino é parte da Lei (Torah), e esta lei é de Deus. Portanto, o galardão, as bem-aventuranças que seguem o homem justo vêm de Deus. O ensino parece relacionar-se com assuntos puramente humanos, mas não; ele vem de Deus. Todos esses conselhos em forma de contraste são expressões do saber humano, oriundos da Torah, que é a Lei de Deus. A lei é a fonte de todo o saber humano. Daí, ensina o verso 20: Quem anda com o sábio será sábio, mas o companheiro do Insensato se tomará mau. Os maus companheiros são a perdição de muita gente boa, que se perverte nas más companhias. Os versos 21 e 22 determinam o destino dos bons e dos maus. Ninguém se preocupe com as recompensas, visto serem certas, e chegarem no tempo exato. Os kesilim (loucos) e os que os seguem recebem no devido tempo os louros da sua loucura. Esta sabedoria bastaria para endireitar o mundo, se o povo a quisesse praticar.

4.4.6 Outros contrastes (vv. 23-25)

A pobreza com justiça é melhor que a riqueza com abominação. A terra virgem dos pobres dá mantimento em abundância (v. 23). Não é muito fácil este verso. Por um lado, a sua terra virgem dá mantimento com fartura, mas, ao mesmo tempo, por falta de justiça, o mantimento é dissipado. Algumas traduções vertem pobres por "perversos", e os dois termos no hebraico se parecem muito, porque o verso na sua totalidade parece controverter-se. A doutrina deve ser esta: a terra virgem dá mantimentos com fartura, mas por causa do juízo, isto é, da falta de justiça, o mantimento é dissipado. Então, não basta ser rico, porque a falta de justiça desfaz a riqueza.

Segue um provérbio familiar a respeito da disciplina, o assunto deste grande capítulo. O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina. É a vara do pai nas costas do filho. Muitos pais "bonzinhos" permitem que seus filhos façam o que quiserem; não os disciplinam. Isto é contrário à sabedoria e à Bíblia. A disciplina é boa para tolos e para filhos, para que uns e outros andem nos caminhos certos. Muitos pais descobrem tardiamente que a falta de correção bíblica estragou o seu filho. Agora é tarde para o corrigir. Disciplina com amor é remédio; disciplina com rancor é veneno. As coisas nos devidos lugares. Tanto esta verdade vale, que o justo tem o bastante, mas o estômago dos perversos passa fome (v. 25). Deve haver certa correlação entre o estômago do justo e o do pobre, entre o que foi disciplinado e o que não o foi. A correção pode concorrer para tornar o homem justo, enquanto a sua falta pode determinar a sua perversidade. O menino nasce tabla rasa, Isto é, não traz nada senão as tendências hereditárias. Estas podem e devem ser corrigidas, e ainda ajudadas pela disciplina. A doutrina Lambrosiana (de Lambrósio, famoso penalista italiano) diz que a pessoa já nasce feita, Isto é, já traz as tendências que devem formar a sua carreira na vida. Isto não pode. ser certo, porque então seria o caso de se permitir cada um fazer o que quiser e não o responsabilizar. É a doutrina da irresponsabilidade. Nada disso. A criança traz, é certo, tendências hereditárias; todavia, a Instrução e a disciplina modificam esses pendores e os corrigem. Concluímos, assim, este grande capítulo sobre a vida e disciplina ou Um Viver Disciplinado. Sem disciplina moral, intelectual e espiritual ou religiosa, não se pode esperar uma vida correta em qualquer setor da atividade humana.

Documentos relacionados