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ENSINOS SOBRE RELAÇÕES ENTRE INDIVÍDUOS (27:1-27)

A primeira lição é que não nos devemos louvar quanto ao dia de amanhã, porque não sabemos o que nos trará. Tiago 4: 13-16 apresenta esta doutrina, que possivelmente foi daqui copiada. Se assim for, verificamos que o Livro de Provérbios era um dos mais lidos em Israel. Paulo mesmo e Pedro fazem largo uso dele. Ainda sobre o verso 2, podemos invocar Tiago outra vez (4:16; veja 26:12). Noutro provérbio lemos que louvor em boca própria é vitupério (Prov. 18:27). Outra vez volta à cena o tolo, cuja ira é mais pesada que pedra e areia. Deve ser uma espécie de ira irracional, filha de sua própria insensatez. Todo homem normal se controla, até nos seus momentos mais críticos; todavia, o insensato se descontrola, ao irar-se. Deve ser isso que se entende deste verso. Pelo verso seguinte, o 4, temos outra idéia do que sejam o furor e a ira, sendo a inveja pior que a pior ira. De fato, quem pode vencer o invejoso, que é traiçoeiro, e, se não se arremete contra o adversário, também não o poupa.

6.3.1 O valor de um amigo (vv. 5-11)

Leais são as feridas feitas pelo que ama, a melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto (vv. 5 e 6). Não se trata de repreensão no sentido vulgar, mas de aconselhar, quando essa repreensão ou conselho é melhor do que uma amizade embutida. Quando amamos alguém, desejemos o seu bem; então nos achegamos a tal pessoa e lhe dizemos o que nos parece lhe ser útil. É o mesmo que afirmar: "Pancadas de amor não doem." Há muita sabedoria em Provérbios e nas variadas formas de expressão popular.

A alma farta pisa o favo de mel; mas à alma faminta amargo é doce (v. 7). A ironia é muito fina neste verso. Uma pessoa farta, mesmo que se veja num banquete, não se transmuda, mas a um faminto tudo é doce e bom.

Qual ave longo do seu ninho, assim é o homem longo do seu lar (v. 8). Uma suave comparação. Uma ave longe do seu ninho está distante de sua casa, de seus filhotes e sua companheira; o homem longe do seu lar, da esposa e dos filhos é um coitado atirado ao mar. Destes versos isolados, passa o escritor sagrado a uma série de ensinos sobre amizade. Como o óleo o perfume alegram o coração, assim o amigo encontra doçura no conselho cordial (v. 9). Há um bom amigo; quem o tem? Diz-se que o Padre Antônio Vieira escreveu: "Há certos amigos que não são amigos certos." Sim, um amigo leal, que nos honra na presença e na

ausência, é qualquer bênção que alegra como o óleo. Igualmente, o verso 10: Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai ... Se temos um amigo, é nosso dever socorrê-lo, se preciso, e, se foi amigo de nosso pai, por causa de sua memória, ainda devemos ser seu amigo. O amigo da família deve ser prezado. O resto do verso é um complemento admirável: Mais vaio o vizinho perto que o irmão longe (v. 11). Nós sabemos o que é ter um bom vizinho, que ao primeiro sinal de aflição está à nossa porta para nos ajudar. Se nosso irmão está longe, que poderá fazer? É isso que o texto nos ensina.

O verso 11 tanto pode pertencer a essa seção como à seguinte, pois está isolado. É o apelo do pai ao filho para que seja sábio e alegre o seu coração, porque assim poderá responder aos que o afrontam. O sentido doutrinário não é muito claro, a não ser que o bom filho é um encorajamento para o pai na sua adversidade. Não se trata tanto do dever de o filho acudir ao pai, mas de encorajá-lo por ser um bom filho.

6.3.2 Algumas observações interessantes (vv. 12-16)

O verso 12 deve ser comparado com 22:3, onde é repetido, e com o 13 (veja 20:16). São ensinos análogos e que os homens de Ezequias repetiriam, por acharem interessantes os seus ensinos. O homem prudente afasta-se do mal, mas o tolo mete-se nele. Ficar por fiador é fato que Provérbios condena sem misericórdia; e tomar por penhor aquele que se obriga à mulher estranha é ensino que a gente não entende. O verso correspondente em 20:16 refere-se a desconhecido; mas essa qualidade de mulher, que sempre tem sentido pejorativo, parece-nos bem esquisita. Ficar-lhe por fiador seria rematada loucura. A mulher oriental não tinha direitos civis, nem o domínio da casa paterna; então como é que se faz tal recomendação? O que bendiz o seu vizinho em altas vozes logo de manhã (v. 14) deve referir-se a uma laudação palavrosa, insincera; e os que ouvem tais saudações são tomados no sentido de mandinga.

Talvez se refira aos que conversam sobre os eirados; ainda assim, de madrugada, soa algo fora do normal. É costume que não se conhece, mas deveria estar em uso nos dias de Ezequias.

Uma outra expressão sobre a mulher rixosa a assemelha ao gotejar contínuo em tempos de chuva. Pobres mulheres. Algumas merecem todas essas recriminações, embora muitas mereçam os nossos louvores. Nossas igrejas têm experiência do que são as boas mulheres, sem as quais um pastorado não progrediria. A vida tem de tudo. O verso 16 vai adiante, usando figuras de conter a mulher rixosa como seria conter o vento e tentar agarrá-la, o mesmo que pegar numa coisa untada de óleo. Escorregaria como enguia na mão. Essa pequena seção tem muitas lições que devemos anotar.

6.3.3 Comparações importantes (vv. 17-22)

Como o ferro com ferro se afia, assim o homem ao seu amigo (v. 17). Um ajuda ao outro e os dois se completam. Uma ferramenta cega, embotada, não corta, não serve; um amigo que não auxilia não serve também. É a lei da reciprocidade. É como o homem que trata da figueira o come do seu fruto, a o que cuida do seu senhor é honrado (v. 18). A figueira paga o trabalho que se lhe dá; e o senhor bem servido recompensa o seu servidor, honrando-o. As nossas relações se aperfeiçoam pelo contato e uso, os que bem desempenham as suas tarefas são honrados (veja Mat. 25:21). O egoísta acha não ser assim, mas sua opinião não vale. A mesma doutrina ainda continua no verso 19, onde a água reflete o rosto da pessoa que dela se aproxima; do mesmo modo o coração do homem se espelha no do amigo. Continua a lei da reciprocidade - bem com bem, mal com mal.

Doutrina estranha oferece o verso 20. O inferno, Shool, e o abismo, Abadom, nunca se fartam, são como a sepultura que está sempre pronta a receber mais um. Deve referir-se ao ganancioso, que é como os olhos, que nunca se cansam de ver; o ganancioso jamais está satisfeito, sempre quer mais e mais, até se arruinar. A lei é procurar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas serão acrescentadas. Quantos se deixam levar por essa doutrina?

A seguir vem um teste. O crisol prova a prata, e o forno, o ouro, e só por esses elementos a prata é prata e o ouro é ouro. Então que significa esse ensino? Que o homem é provado pelos louvores que recebe (v. 21). Se é louvado é porque o merece, e isso será a prova da sua atividade. Os louvores muita vez estragam a pessoa de caráter fraco; o forte, porém, não se lava nesses elogios e os recebe humildemente, reconhecendo que não fez tudo quanto podia

ou devia fazer. Essa doutrina está em desacordo com o verso 22, ao dizer que o insensato, ainda que seja pisado com mão de gral, não se vai dele a sua tolice. ' Pobres tolos, que têm em Provérbios a sua maior condenação

6.3.4 - Um tratado sobro a vida pastoril (vv. 23-27).

Sobre este breve relato a respeito da vida pastoril em Israel muito se tem escrito, pensando alguns comentadores tratar-se de influenciar a vida do campo contra a vida palaciana e especulativa, pois era do campo que vinham a riqueza e a fartura. Se este ponto de vista puder ser aceito, só temos a lamentar a brevidade desse tratado, pois consta apenas de três versos: 25 a 27. Temos por norma não especular demais sobre os ensinos da Sagrada Palavra. Entretanto, admitimos, em muitos casos, termos de imaginar, de supor, pois a laconicidade do texto nos leva a isso. Assim achamos que o sagrado escritor tivesse mesmo em mente encorajar a vida campesina.

Nas colheitas ou no fim delas, fica sempre o que se chama de restolho, o que cai das hastes do trigo, cevada ou centeio, bem como as partes rentes ao chão, de onde foi cortado o cereal. Este restolho forma mesmo uma camada, que serve para conservar a umidade do solo contra as geadas do inverno. Então diz o texto: Quando, removido o feno (restolho), aparecerem os renovos (v. 25), então surgem as ervas, e os cordeiros te darão as vestes (a lã), os bodes o preço do campo, pela procriação e multiplicação de animais, o as cabras, leito em abundância para teu alimento (v. 27). Passado o inverno, ao começar a despontar a primavera, limpo o campo, os gados encontram pastagens em abundância, o que propicia a procriação e a riqueza do fazendeiro. Esse tipo de vida campesina é bem mais interessante que a vida especulativa da cidade, com os seus preguiçosos, os traficantes, as mulheres vadias, que, segurá-las, é o mesmo que controlar o vento", e "agarrá-las", o mesmo que pegar o óleo na mão (27:16). No campo está a fartura de lã para fazer os vestidos, leite para o queijo e a manteiga, e a renda da venda de animais.

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