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O QUE CONVÉM SABER DA VIDA (22:17-23:11)

Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios, o aplica o teu coração ao meu conhecimento (v. 17). Os versos 17-21 constituem um convite ao aluno para observar bem as coisas que dizem respeito à vida, para que as siga fielmente, aplicando-lhes o coração. Declara o sábio que o fim é implantar a sabedoria e o temor de Jeová no coração do jovem estudante, para que bem lhe vá na vida (v. 18). O conselho é pessoal e direto: Para que a tua confiança esteja em Jeová, quero dar-te hoje a instrução a ti mesmo (v. 19). Continua dizendo que lhe havia escrito (ao aluno), a quem revelara excelentes coisas acerca de conselhos e conhecimentos (v. 20), a fim de que possas responder claramente aos que te enviarem (v. 21). Parece, esse conselho está em conformidade com Tito 2:1-10 e ss. Quem teria sido esse discípulo não é dito, e isso Importa pouco, porque todos nós somos estudantes.

A expressão excelentes coisas tem dado muito trabalho aos comentadores, devido ao fato de o termo original hebraico sheloshim ser de origem egípcia, como o é a maior parte do ensino desse capítulo. O pergaminho denominado Amem-en-ope, título dado a um sábio egípcio, uma espécie de "Salomão egípcio" e que não se sabe como chegou a circular em Israel, foi a fonte de onde derivou o ensino encontrado no capítulo em estudo, todo ele ou quase todo. Assim a frase excelentes coisas pode significar trinta coisas ou trinta capítulos, talvez "trinta princípios ou normas", constantes do referido pergaminho. Deixando de parte o verdadeiro sentido da expressão ou mesmo do termo hebraico, visto como não tem sido possível determinar com segurança o que significa, voltemo-nos para o assunto doutrinário, importante, pois resume uma série de normas úteis, tanto ao hebreu como ao gentio.

O que não deve deixar de causar certo interesse é o fato de um sábio egípcio chegar a exercer tal influência em Israel, ao ponto de o seu escrito chegar a emparelhar-se com o ensino de Salomão. Já noutro local, dissemos que muitos dos nossos provérbios são de origem estrangeira, ditos correntes que se tornaram máximas internacionais, como algumas que temos em nossa língua, umas de origem francesa, língua que exerceu muita influência no linguajar brasileiro, e outras de origem Inglesa ou americana. A sabedoria não tem pátria, e em qualquer parte ela é bem-vinda. Termos técnicos ainda hoje são importados de outros centros culturais. Portanto, também o fato de ensinos ou doutrinas egípcias ou árabes circularem em Israel não nos deve causar surpresas.

Outrossim, estamos no ar quanto aos autores dessa seção ou compilação. Seriam esses sábios membros de alguma academia literária oficial ou oficiosa, a quem Salomão teria cometido a tarefa de aproveitar tudo quanto interessasse ao seu ensino, ou seriam sábios, por ele mesmo delegados, à moda dos sete sábios da Grécia, segundo a lenda? Seria uma espécie de sinédrio literário, grupo dedicado a colecionar e promover a literatura hebraica? Pensa-se que Salomão

teria delegado, a um grupo da sua confiança, a tarefa de colecionar a sabedoria hebraica numa forma de enciclopédia, e desta nos vieram esses provérbios. O fato de ser esta coleção muito diferente da anterior e . da seguinte, leva-nos a admitir tal possibilidade. Finalmente, ao certo nada sabemos. O ensino é que vale e é bom, pois trata de preparar um aluno para saber responder claramente aos que te enviarem (v. 21). Uma pessoa qualquer seria enviada em missão literária e deveria saber responder a quesitos necessários à missão. Tomemos para nós a parte prática, que foi a mesma que Paulo deu a Tito, o organizador do trabalho na ilha de Creta, na Grécia antiga. Creta havia sido por séculos o refúgio das artes e das letras, e parece até ter-se tornado uma outra Atenas ou Alexandria, antes de existirem esses centros culturais. Como o evangelho penetrou ali, mal sabemos; entretanto, Tito foi comissionado para por em ordem as coisas em Creta e tem mesmo algumas palavras, bem pouco recomendáveis, a respeito dos crentes (Tito 1:10-14). Ele deveria saber como responder aos que o interrogassem. Quem sabe, o sábio está referindo-se a um aluno que iria prestar exame de sabedoria em qualquer escola? Isso porque a sabedoria desta seção não é totalmente egípcia nem hebraica, mas também babilônica. Logo, para entender tudo, era necessário estar bem preparado. Ditas estas palavras, podemos passar a examinar os ensinos dos sábios e verificar em que eles se conformam com a doutrina hebraica, ou dela se afastam.

5.1.1 Coisas que o aluno deve evitar (vv. 22-29)

Não roubes ao pobre, porque é pobre, nem oprimas em juízo ao aflito (v. 22). A exploração do pobre pelos ricos era coisa normal nas sociedades antigas, como nas modernas. Parece tratar- se de ação legal em juízo. O Senhor é defensor, tanto de uns como de outros. Jeová é o advogado dessa gente pobre, e, quando não houver quem as defenda, Jeová aí está para o fazer, Portanto, seria perigoso oprimir os pobres e atropelar em juízo (na porta) o oprimido. O resultado de tais cometimentos seria a iniqüidade? O mundo tem sofrido muito e ainda tem muito a pagar pelas injustiças cometidas contra os pobres e desafortunados, dos quais Deus é o Fiador.

O segundo conselho é que não te associes com o iracundo (v. 24), para que não aprendas as suas veredas o assim te enredos o percas a tua alma (vida). O colérico sempre chega a mau fim, pois, destemperado em seus ímpetos, enlouquecido em seus desatinos, leva a pior, bem assim os que seguem nessa desalmada caminhada. Há outro perigo na vida: o que se envolve em fianças sem ter com que pagar. Por diversas vezes esta advertência vem aos nossos olhos. Quando mal isso traz à memória! Bem recentemente um homem ficou de fiador; tendo o afiançado desaparecido, correu para os amigos e conhecidos para o livrarem de protestos de títulos em que após o seu nome. Agora, aflito e sem saber o rumo a tomar, vê-se perdido ante a sombra de um protesto de letras, que lhe arruinaria o futuro por largo tempo. Cuidado! Não

estejas entre os que se comprometem o ficam de fiadores. Este provérbio, é claro, não pertence a Amem-en-ope, pois é perfeitamente israelita. Igualmente, não removas os marcos antigos que puseram teus pais (v. 28). O remover marcos de divisas de fazenda é vício antigo, e já em Israel havia essa tentação de aumentar a fazenda à custa da remoção de marcos, pedras fincadas nos extremos de duas propriedades, sobre as quais cresciam os musgos, como a indicar que aquilo era sagrado, não devia ser mexido (veja Deut. 19:14).

Por fim: Vês um homem perito na sua obra? Perante reis será posto, e não entro a plebe (v. 29). Os peritos sempre são escolhidos para posições de destaque, e isto vem de longe. Atualmente muito se fala em peritos nisto e naquilo, e tais homens são sempre cobiçados para posições destacadas, por sua perícia. Amem-en-ope era criado civil; talvez se refira a esse fato.

5.1.2 Sequem-se outros conselhos úteis (23:1-11)

Quando te assentares a comer com um governador... (v. 1), presta atenção para ver como se conduz o que está ao teu lado, para não acontecer que faças um papel feio. É o conselho aos glutões, que se deixam embriagar com os pratos vistosos e fazem papel de pessoas sem costumes. Uma figura impressionante: mete a faca na garganta (v. 2), no caso de seres homem glutão, isto é, se te perderes à vista dos pratos desconhecidos, mas de aparência vistosa. ;É o conselho da ética social, da maneira como nos devemos conduzir num meio acima do nosso. Tais comidas vistosas são enganadoras. Não podemos ver em que tais comidas são enganadoras, a não ser para pessoas desacostumadas. Os banquetes são uma sedução a tolos, para desejarem enriquecer e poderem dar banquetes; tais desejos, porém nunca levam à boa situação. A inteligência tem outros fins, pois fitar a riqueza é o mesmo que olhar a miragem no deserto, porquanto fará para si asas como a águia que voa pelos céus (v. 5). Se alguém ao teu lado é rico e tu és pobre, não comas o pão do invejoso; noutras palavras: não sejas invejoso e não cobices os seus delicados manjares (v. 6), pois o tal é como é, e as suas palavras são enganadoras, quando se diz: come e bebe, mas o seu coração está longe de ti (v. 7). Cuidado em fitares os olhos naquilo que não é nada (v. 5), pois a vista é enganosa. A antiga versão traduzia: olhos malignos, que desejam o que não convém. Certamente vomitarás o bocado

que comeste (v. 8). Uma série de conselhos úteis a qualquer indivíduo imaturo e cobiçoso, que deseja o que não pode ter e vai atrás de conversas de amigos que não o são, pois o seu coração não está contigo (v. 8). São os conselhos de amigos que não o são; e quantos se deixam levar pelos tais até encontrarem a sua ruína.

Cuidado nas conversas com um tolo, pois desprezará a tua sabedoria, e perderás o teu tempo. Quanta conversa fútil a gente usa na vida, e pessoas há que se deleitam em tais bate-papos, que nunca levam a coisa alguma (v. 9). Outra vez: Não removas o marco antigo nem entres no campo do órfão, pois estes têm um grande advogado, o go'el, o remidor de Rute (3:12), chamado resgatador e também referido em Jó (17:3). No Velho Testamento o go'el é geralmente o parente mais chegado, mas também é o que defende outrem contra possíveis injustiças. Os órfãos tem seu golei, que os defende contra a ganância dos desavisados (veja Núm. 35:19). Este Remidor é uma figura admlrável do nosso grande GO'EL, o Remidor dos pecadores, o Amigo mais chegado que irmão. Na instituição judaica, bem poucos ensinos eram mais tocantes do que este, e isso se pode ver na simples e elevada narrativa de Rute.

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