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O SÉTIMO MANDAMENTO (6:20-35) 1 Conselho para a vida (6:20-22)

O tema deste conselho é a observância do SÉTIMO MANDAMENTO (Êx. 20:14). O versículo 23 é a continuação do ensino oferecido, havendo uma solene advertência nos versículos 24-35. Portanto, guarde-se quem puder.

FILHO MEU, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a Instrução de tua mãe (v. 20). O menino israelita era ensinado em casa a respeito dos deveres do moço na sociedade e na família, e essa instrução era severa e firme, conforme nos ensina Deuteronômio 6:6, 7. Nada mais positivo e severo do que este ensino a um menino de família religiosa, e os judeus, apesar de suas multas falhas, eram fiéis no cumprimento desta ordenança divina. De acordo com a lei, o mandamento devia ser atado perpetuamente (sempre) ao coração, pendurado ao pescoço (v. 21). Quando caminhares, isso te guiará e, quando te deitares, te guardará (v. 22). É justamente o que Moisés prescreve em Deut. 6. Quando acordares, falarás contigo (v. 22). Temos aqui três verbos que valem por uma sentença. Andar e ser guiado, deitar e ser guardado contra os perigos que rondam de noite, acordar e ter com quem falar. Coisa mais instrutiva contra o pecado não pode haver. Afirmar que o homem, ou a mulher, que anda com a sua Bíblia no coração e se deita na segurança de passar a noite em paz e se levanta e tem

com quem conversar, é o mesmo que dizer que ninguém pode andar sem Deus, deitar-se sem Deus e levantar-se sem Deus. Que bom a gente saber-se garantido ao andar, dormir e acordar. Recordamos o nosso tempo de menino, quando éramos ensinado que o "anjo da guarda" ficava junto da cama quando nos deitávamos, e quantas vezes fomos olhar debaixo da cama para ver se o anjo já estava lá. Coisas de me nino, mas agradáveis, e quanta consolação aquela doutrina dava ao menino Antônio.

O mandamento é a lâmpada o a instrução é luz (v. 23). A lei divina exposta e ensinada provê perfeita luz para a vida e segurança para o viver. Jesus chamou a João Batista a Lâmpada, enquanto ele mesmo era a Luz (João 5:35 e 1:8). Não há luz sem lâmpada, pelo que as duas coisas se completam. Então a Palavra de Deus deve ser entesourada no coração e exposta à luz do dia (v. 23). Esta doutrina é a segurança certa e perfeita contra as seduções da vida, e por elas o crente é conservado puro diante de Deus.

É claro que a disciplina e a correção da luz dão segurança à vida (ver II Tim.. 3:16). Esta proteção e segurança são necessárias contra as seduções da mulher estranha que aparece no verso 24, a mulher de lisonjas, a mulher alheia. Contra uma tal sedução só a Palavra de Deus garante, porque, além dos impulsos da carne, as seduções, as lábias e tudo mais levam à perdição quem não estiver escorado na Palavra de Deus. O mandamento é para guardar contra esta mulher (v. 24).

3.11.2 Uma recomendação solene (6:23-31)

Esta vil mulher, que tanto pode ser um símbolo como uma realidade, é apresentada no Velho Testamento de muitos modos, e não poucas vezes em relação com a nação israelita, considerada adúltera pela transgressão da lei. Jeremias especialmente é muito forte nessa figura (Jer. 3:9; 13:27; Os. 2:2; 2:4; 5:4). A nação israelita, em virtude do Concerto feito com Deus, mediante o qual era escolhida como a única nação entre todas as da terra, era considerada casada com Deus. Nesse caso, não podia ter outros deuses; todavia, a história nos conta que Israel foi uma adúltera, adorando deuses de todos os povos ao redor. Desse prostíbulo nasceu toda a desgraça dessa nação, porque a idolatria afastava do Deus

verdadeiro, e isso importava no abandono nacional por parte de Deus. O adultério, seja do povo, de homem, ou mulher, é uma abominação, porque frustra e destrói todos os maiores valores do convívio humano e social, especialmente o doméstico.

Segundo Tiago 4:4, vê-se que esse pecado ultrapassa tudo quanto se pode imaginar em relação com a má conduta sexual. É o pecado contra Deus, contra um contrato de casamento; um pecado contra a família e contra a sociedade. Tal pecado abrange todos os contornos da vida humana. Nem por isso a mocidade destes dias enxerga tal situação, e se entrega aos desvarios da orgia sexual, afrontando a Deus, aos pais e à família, e arcando com as conseqüências naturais. Já noutra página registramos o surto de doenças venéreas, que assola algumas nações, e as medidas de higiene social não conseguem sustar tal situação. Onde não há temor de Deus tudo é possível. O pecado domina. Por isso o mestre dessa seção insiste em que o homem se afaste do adultério, e a única forma segura é ficar firme na Palavra de Deus. A vil mulher e as suas lisonjas são a perdição de muitos; e o crente é advertido contra as suas lisonjas. Os elogios que ela faz à vítima da sua cobiça, como a dizer: "Que lindo moço és; quão garante pareces!" e por aí a fora vai, e o moço ou velho, encantado com essas lisonjas, pensando que são uma verdade mesmo, cai na ratoeira como rato guloso.

Não cobices no teu coração a sua formosura e nem te deixes prender com as suas olhadelas. As mulheres antigas já pintavam os olhos como fazem as modernas, que pintam de claro ou escuro as pálpebras, tornando as olhadelas mais sugestivas. As mulheres egípcias, e por certo as judias, usavam muitos cosméticos e pinturas para as unhas, tudo como modernamente se faz, pelo que Salomão tem razão em dizer não haver nada de novo debaixo do céu. O texto dá a entender que há duas espécies de mulheres: a casada e a prostituta. Tanto uma como a outra são um perigo, embora a casada envolva crime duplo, por causa do ciúme do marido, como se verá no capítulo a seguir. Por uma prostituta o máximo que se paga é um pedaço de pão, mas a adúltera (a casada) anda à caça da vida preciosa (v. 26). Está feita a diferença entre as duas mulheres. A prostituta é uma pobre mercadora que vende o corpo a troco de um pedaço de pão, e faz disso a sua própria vida. É até digna de misericórdia; a casada, porém, é uma víbora, pois, tendo o seu marido que dela cuida e sustenta, anda à caça de vidas por vaidade e luxo sexual. Essa é mais perigosa pelos resultados que produz na vida de alguém. Quantos crimes a sociedade registra, quantas famílias destruídas, quantos filhos atirados ao desamparo de sua mãe e quantos maridos desarvorados. É a chaga social, que nada evita e para a qual não há remédio senão a Palavra de Deus.

Tomará alguém fogo no seu selo sem que se queime, ou andará alguém sobre brasas sem que se queimem os seus pós? (vv. 27 e 28). Que figuras! Seio é parte do corpo cobiçado e bem cuidado. Alguns comentadores não fazem distinção entre essas duas mulheres, entendendo que uma só faz os dois papéis; todavia, parece que o texto não autoriza essa interpretação, pois é claro que há uma prostituta que se vende por um pedaço de pão e uma adúltera (mulher casada) que se prostitui por luxo ou sexualidade. Ambas são prostitutas, sim, mas

uma é profissional, enquanto a outra não o é. O que se chega à mulher do próximo é o mesmo que andar sobre brasas, pois não ficará sem castigo aquele que a tocar (v. 29). Um dia o pecado é descoberto, e então vem o acerto de contas.

O verso 30 é um tanto obscuro. Significa que um ladrão que rouba para matar a fome, se for apanhado, pagará a falta (v. 31). Ora, se um homem que furta para comer não fica sem castigo e paga sete vezes tanto, quanto mais o que se junta A mulher do próximo! Não ficará sem castigo. Parece até que "o pecado te apanhará", como diz a Escritura. Entre os dois ladrões, um da honra alheia e o outro da propriedade, ambos pagam pelo seu feito. Há pouco (um caso em milhares) um pobre homem foi apanhado furtando um pedaço de algo para saciar a fome. Foi encaminhado à XVII Vara Criminal no Rio. O juiz, um antigo batista, julgou-o, admoestou-o e mandou-o embora, advertindo-o que, se voltasse ali outra vez, seria condenado. Encontrou um juiz criterioso. Roubar para comer não deveria ser crime, mas é. Em Israel um homem podia entrar na horta ou pomar do seu vizinho e comer até se fartar, mas não podia levar nada para casa. As nossas leis não permitem isso. Um ladrão que rouba por fome deveria ser absolvido, se for principiante. Muitos assim entram na estrada do crime, roubando primeiro para comer e depois para viver do crime. É falta do amor de Deus na vida. Um rapaz me pede um almoço porque está com fome. Devo pagar o almoço? Perfeitamente, porque não se admite que uma criatura humana passe fome. Talvez seja um preguiçoso, mas quem sabe? Roubar, em qualquer sentido, é crime contra a fazenda alheia. Pedir é considerado exploração. Essa, a nossa sociedade. Por isso que em Israel não podia haver pobres; todos cultivavam a terra, e quem não a tinha rabiscava no campo dos outros, como foi o caso de Rute (veja Sal. 58:11). Roubar? Nunca.

3.11.3 Uma recomendação solene (6:32-35)

Poderíamos escrever outra seção, mas preferimos esta designação. O restante do capítulo 6 é um solene aviso, um aviso repetido, aliás, contra a mulher do próximo. Há muitas advertências, que são outros tantos avisos, como uma tabuleta a indicar o perigo do caminho e a pedir que o viajante se desvie para outra ruela. Há contramãos no tráfego; há contramãos no caminho do pecador.

O que adultera com uma mulher está fora de ai (v. 32). Noutra linguagem, está louco, porque, além de ser insensato valer-se de mulheres estranhas, o que usa da mulher do outro se expõe

a perigos, que mal podem ser calculados. O adúltero, pois, tanto um como o outro, expõe-se a tormentos e até a destruição da vida. Só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa (v. 32). Talvez esteja na mente do autor inspirado o castigo da sociedade, que, não sendo pura, todavia, não tem complacência para com uma adúltera. A exposição ao opróbrio social era um castigo maior do que o que as nossas sociedades impõem. Além disso, há outro perigo, o maior, talvez: o esposo ultrajado porque o ciúme excita o furor do marido (v. 33). Noutra página verificamos quantos crimes de morte são praticados à sombra das alcovas maculadas; quantos entram com seus pés e saem levados pelos dos outros; quantas emboscadas são armadas até se apanhar o incauto, o ladrão da honra. Tudo isso acontece cada dia e a cada hora. O ciúme cega e não há compaixão no dia de vingança (v. 34). Acautela-te, moço; foge dessa rua; esconde-te algures; muda de caminho; não te aproximes da morte. O marido ultrajado não aceitará presentes ou reparos, ainda que sejam muitos (v. 35). Aliás, não há reparos em tais prejuízos, nem resgate. Dente por dente é a lei.

O autor de Provérbios estava saturado de casos como os enunciados aqui. A sociedade israelita, parece, havia apodrecido nos seus desvios de Deus; e as informações dadas pelos profetas são qualquer fato de nos envergonhar em uma sociedade religiosa, escolhida por Deus para ser o testemunho vivo da fé.

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