• Nenhum resultado encontrado

OS CAMINHOS DA VIDA E OS SEGREDOS DE UM CORAÇÃO SINCERO (15:1-35)

O controle no falar e na conduta, de modo a manter uma atitude segura na vida, são os pensamentos centrais deste capítulo. As atitudes intempestivas, seja no falar, seja em qualquer outro campo de atividade humana, sempre produzem maus resultados. Vamos, então, nessa linha de pensamentos, apreciar mais um capítulo do Livro de Provérbio.

4.6.1 Os olhos do Senhor estão sobre toda a terra e sobre todos os homens (II Crôn. 16:9; Prov. 15:1-7)

Não há campo que escape a esta observação divina. Por isso, aconselha o sábio: A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira (v. 1). Em nossos contatos individuais, se esta norma fosse seguida, teríamos evitado muitos contratempos. A dureza de palavras nasce, muitas vezes, de uma disfunção do fígado, mas também de mau costume ao tratar com os outros. A língua serena é árvore da vida (v. 4). Outra vez vem a referência já estudada tantas vezes a respeito da "árvore da vida", e aqui aparece ela como um resultado da língua serena, tranqüila e sossegada. Talvez isso, em parte pelo menos, seja um resultado da educação doméstica, porque o verso 5 fala do (filho) insensato, que despreza a instrução do pai, talvez para seguir a instrução da rua. Os pais modernos são vítimas das influências da rua, pois os seus filhos são influenciados pela má conduta de tantos filhos desviados. Isso é ainda reforçado pelo verso 7, que diz: A língua dos sábios derrama alimento, mas o coração do insensato não procede assim. Isso tudo junto ao fato de que na casa do justo há fartura, mas a renda dos perversos é perturbação (v. 6). Todos estes ensinos se entrelaçam para destacar a verdade central da moderação da língua.

4.6.2 Os sacrifícios devem ser puros (vv. 8-10)

Fala dos sacrifícios oferecidos no templo, sacrifícios justos e de acordo com o ritual mosaico. Sacrifícios de perversos são uma abominação ao Senhor, como a oração do justo lhe é agradável (vv. 8 e 9). A seguir vem outra sentença, muito debatida em Provérbios, a da repreensão ou disciplina, e o que odeia esta correção morrerá. A morte de muitos resulta de terem abandonado a disciplina doméstica e se haverem entregado à ruidosa camaradagem da rua. Isso leva à morte. Vale a pena repetirmos que os pais não devem negligenciar a disciplina da casa, para não terem de ver os seus filhos serem disciplinados pela rua. O descaminho da vida leva a outras conseqüências com respeito à eternidade, que também devem ser levadas em conta.

4.6.3 Os perigos do descaminho (vv. 10-14)

O além e o abismo devem ser traduzidos por Sheol o Abadom. Sheol, como temos visto em várias ocasiões, é o lugar dos mortos, na concepção judaica, muitas vezes traduzido imperfeitamente como inferno. Abadom é o lugar da destruição. Tanto um como o outro são visíveis e patentes diante do Senhor, que tudo vê, e ninguém pode julgar agir de modo que ele não veja. Se tais lugares invisíveis para o homem são claros ao, Senhor, quanto mais os caminhos dos perversos. Os corações dos filhos dos homens estão patentes ante o Senhor. Isso o escarnecedor ignora e não ama quem o repreende, nem procurará o conselho dos sábios e entendidos, que podem guiá-lo nos caminhos do bem (conf. ls. 1:11). Para contrastar com essa situação desesperada é afirmado que o coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração, o espírito se abate (v. 13). Eis aqui um cosmético de alto valor para a beleza do rosto. As pessoas de coração limpo e alegre não vêem os sulcos do rosto aparecerem muito cedo. Entretanto, os que vivem a lamentar-se, a remoer as suas desditas e desgostos envelhecem cedo. Certo que há outras considerações a esse respeito, mas, sem dúvida, este verso vale por uma terapêutica facial muito importante. Viva alegre, e viva muito. Diz-se que os olhos são as janelas da alma; por outro lado, o rosto é a janela do coração. Podemos ver no rosto das pessoas o que está no seu coração, mesmo que se admita a maneira de fingir algo que não se sente.

4.6.4 É melhor ficar contente que zangado (vv. 15-17)

Como pode uma pessoa ficar contente, quando os seus assuntos vão mal? Todavia, um espírito aflito produz dias maus, enquanto a alegria do coração é banquete contínuo (v. 15). É difícil sermos otimistas, não obstante ser o que rende na vida. O pessimismo só serve para aprofundar os sulcos do rosto. A religião tem muito proveito em tudo e até nesta forma de encarar o viver. É certo que Deus vê tudo e sabe o que cada qual precisa. Deus é bom Pai e sabe dar boas coisas a seus filhos, se lhas pedirmos. O defeito de muitos é que oram pouco ou não oram nada, e, nas dificuldades da vida, sucumbem. Então vem a sentença luminosa: Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor (outra vez o temor do Senhor), do que grande tesouro onde há inquietação (v. 16). Um verso como este deveria ser dependurado ao pescoço de muita gente ansiosa e gananciosa, que espera colher mais dos seus tesouros do que do viver em harmonia com o Senhor. Deus sabe do quanto carecemos, e já nos preveniu que não é no dinheiro que está a felicidade, mas em buscar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça (Mat. 6:33, 34). A maioria começa pelo fim, começa procurando os tesouros, em vez de procurar o Reino. As inquietações da vida nascem dessa falsa maneira de entender o governo divino na vida humana. Melhor é um prato de hortaliças onde há amor, do que o boi cevado onde há contenda (v. 17). Numa casa onde todos os dias se lê a Bíblia e se ora a Deus vive-se bem melhor comendo verduras, do que se se comesse carneiro no meio de bulhas. É a confiança em Deus Provedor que vale, e não a fartura, pois não é comendo muito ou comendo pouco que se vive melhor. Com isso não desdenhamos uma boa alimentação; o principal, porém, é a paz do coração e o temor de Deus.

4.6.5 Olha a vereda da vida (vv. 18-24)

Todo este ensino se relaciona com a maneira de viver e do estado do coração. Portanto, evitar as contendas é um bom remédio porque o homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a luta (v. 18). Fujamos das contendas, dos homens contenciosos, dos que vivem para derrotar os outros; e, se pudermos, mudemos de casa, para lugar onde esta gente não esteja. Um grande comentador chamou a esta seção orbiter dicta: olhar para cima e esperar em Deus, porque embaixo está o Sheol (v. 24). Depois de salientar que o preguiçoso tem o caminho cercado de espinhos, enquanto a vereda dos justos é plana e limpa, o mestre passa a outro assunto, muito oportuno e que diz respeito ao modo como os filhos sábios

alegram seu pai, enquanto os estultos desprezam suas mães. Só mesmo um filho estulto e insensato pode não aceitar os conselhos de seus pais, que só desejam o seu bem (v. 21). A seguir vem o mestre com outro conselho, muito oportuno, e que diz respeito ao governo dos povos, afirmando: Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há bom êxito (v. 22). Isto diria respeito ao governo de Salomão, que, não sendo democrático, sabia aproveitar os conselheiros do Estado e com eles governar bem. Não conhecemos com segurança o sistema de governo salomônico, mas a verdade é clara, que, quando um homem se aconselha com outros, deve encontrar a média da verdade desejada. Os conselheiros se alegrariam em dar respostas adequadas, porque uma palavra dita a seu tempo é boa (v. 23). Um bom conselho, quem o menospreza? Só o tolo o enfatuado. O soberbo e o presunçoso também são visados nesta série de conselhos, como vemos no verso 24, onde o entendido acha o seu caminho para cima, porque para baixo está o Sheol. Olhe para cima e viva. Porque em cima está o Senhor.

4.6.6 O Senhor continua com os justos (vv. 25-29)

É maravilhoso contar com o Senhor nos negócios desta e da outra vida. Os assuntos dos soberbos ele deita por terra, contudo, mantém a herança da viúva (v. 25). As viúvas e os órfãos são objetos de cuidados especiais por parte de Deus, e isso está demonstrado num sem-número de passagens, especialmente em Miq. 6:8 e Heb. 13:16. Deus permite que uma mulher fique viúva e um menino perca os pais, mas solicita, dos que Podem, o cuidado desses necessitados. A Bíblia é o livro sempre a favor dos desafortunados; portanto, os que têm devem dar aos que nada possuem. Nessa ordem de conceitos, vem uma palavra muito consoladora: Abomináveis são para o Senhor os desígnios dos maus, mas as palavras bondosas lho são agradáveis (v. 26). Quando se dirige uma palavra amiga a uma pessoa, como isso deve ser agradável ao Senhor! Uma escritura como esta mostra-nos o sentimento divino em suas relações com o ser humano, uma espécie de antropologia divina, onde Deus se associa às necessidades humanas. Isso contrasta com o que é ávido de lucro desonesto, que transtorna a sua casa, mas o que odeia o suborno, cão viverá (v. 27). O lucro injusto, o roubo e a ganância são odiados por Deus, porque fraudam os outros seres humanos. O restante desta seção versa sobre o mesmo espírito de que só o justo e o limpo de coração contam com o favor divino. O justo ora, e o Senhor atende (v. 28). A oração do justo pode muito, no dizer de Tiago. Deus ouve as orações dos que lhe suplicam e responde com grandes bênçãos.

4.6.7 O temor do Senhor e a disciplina são o remédio da vida (vv. 30-33)

Por quatro vezes o nosso texto repete a frase - o temor do Senhor - como se fosse um refrão de cântico litúrgico. É que sem o temor de Deus a vida perde o seu sentido mais alto e nobre. Com esta frase vêm outras, similares, como a do verso 30: O olhar do amigo alegra o coração. As alegrias do coração só podem vir dos amigos, e estes vêm dos que temem ao Senhor. Do mesmo modo e no mesmo sentido, o verso seguinte, a respeito da repreensão dos que a ela atendem, pois têm a sua morada no meio dos sábios (v. 31). A admoestação é um meio de corrigir a vida, dado por quem já tem maior vivência. Entretanto, poucos gostam de ser repreendidos ou ajudados a mudar de curso. Termina este grande capítulo, afirmando que o temor do Senhor é a Instrução da sabedoria, isto é, quem teme ao Senhor é, sábio.

Documentos relacionados