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HÁ PERIGOS E BÊNÇÃOS NO VIVER (18:1-24)

4.9.1 Uma série de normas para a conduta dos indivíduos e povos (vv. 1-8)

Quem disse que não há perigos? E são tantos os que nos rodeiam, que só mesmo a Palavra inspirada pode ajudar-nos na luta contra eles. Entre outros, há o separatismo, o isolacionismo, o de só se pensar em si, pouco se interessando no que se passa com os outros. Este é o pensamento de um grande comentador, e é, outrossim, a nossa experiência no decurso dos anos. Atualmente luta-se para que os povos ricos pensem nos pobres e distribuam com eles parte das suas riquezas, ganhas justamente à custa de tais povos. O Brasil era, em tempos recentes, um exportador de matérias-primas, que vendia a troco de quase nada, para depois comprar os produtos industrializados a peso de ouro. O lucro ia para os industriais, enquanto ficávamos cada vez mais pobres. Felizmente as coisas mudaram um pouco para

nós, embora o problema continue a existir para muitos. Os ricos não pensam nos pobres e nem se recordam que as suas riquezas foram conseguidas, em boa parte, à custa deles. Esta é a grande lição da história dos povos pobres. Se ela valesse. .. Não é só o solitário (v. 1) que busca o seu próprio interesse; também o tolo exibicionista, o que não tem prazer senão em externar a sua tolice e que não está preparado para o dia da perversidade, quando com vergonha a sua desgraça o buscará (v. 3). Todavia, Águas profundas são as palavras da boca do homem, são como fontes de sabedoria e ribeiros transbordantes (v. 4). Nada como a palavra boa dita a seu tempo, o bom conselho, a boa influência. Esta é a grande norma da vida produtiva e útil. Não é assim o parcial, o que perverte a justiça contra o justo (v. 5), talvez para fazer prevalecer o seu interesse ou o seu ponto de vista. Trata-se aqui de causas em juízo, na porta da cidade, onde eram julgados os problemas do povo e em que, uns por interesse próprio e outros por maldade, torciam o direito. Não há nada mais asqueroso na sociedade humana do que a perversão da justiça, fazendo do torto direito e do direito torto Quando uma situação destas se encastela numa sociedade, nada mais há a esperar dela. Talvez seja por isso que cm lábios do insensato entram na contenda o por açoites brada a sua boca (v. 6). Pois a boca do insensato é sua própria destruição (v. 7), e a sua alma perece por seus próprios lábios. A boca, sempre a boca, que fala o que não convém e fora do tempo adequado. O pior é que as palavras do mal, do maledicente, são doces bocados que descem para o mais interior do ventre, para depois, como excremento, serem lançadas no estrume (v. 8). Os provérbios são causticantes no terreno da língua e dos males que ela pode causar; mas também são um elogio pelos bens que determina.

4.9.2 Desta série de conceitos, passa o texto ao trato dos justos (vv. 9-1 2)

Depois de causticar o preguiçoso e negligente, irmão do desperdiçador (v. 9), passa a analisar aquele que confia no Senhor, que é como uma torre forte, em que se acolhe no dia mau. Ali está seguro e firme (v. 10). Nada como uma torre, que não seja de marfim, onde, na hora da angústia, um pobre sofredor se acastela e encontra refúgio. O rico confia nas suas riquezas, pois são a sua cidade forte (v. 10) e, segundo imagina, uma alta muralha, todavia, segurança mesmo e cidade forte, só Deus realiza esta verdade. O tal homem se gaba de sua opulência, mas depois da ruína torna-se humilde (v. 12). Que bom é que a humildade acompanhe o homem, quer o rico, quer o pobre, pois não há lugar para arrogância nesta vida, reconhecido o fato de nossa ignorância e pobreza de bens materiais e espírituais.

4.9.3 A resposta na hora corta (vv. 13-16)

Há um outro provérbio, que diz que o que fala depois fala mais alto. Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha (v. 13), o mesmo que não saber o que dizer e então soltar termos inconvenientes. Isto também é falta de sabedoria. Se o "calar consente", o falar antes do tempo também é prejudicial. Cada coisa no seu lugar. Talvez esta forma de segurança resulte do fato de que muitos são doentes da vontade e do espírito. A falta de espírito firme até na doença se torna uma calamidade (v. 14), pois muitas enfermidades resultam de fraqueza mental. A medicina moderna trata muitas doenças, por meio da auto-sugestão ou psicopatia. Se o espírito está forte, a medicina tem aplicação, mas se está fraco, que resultará? (v. 14). Talvez esta doutrina se relacione com o coração do entendido, que adquire conhecimento, e com o coração, o ouvido atento para adquirir mais sabedoria (v. 15). Os fortes de espírito são os que têm ouvidos para ouvir e não dar respostas antes do tempo. Só os tagarelas se apressam a dar respostas. Vem a seguir um verso que parece meio deslocado da conceituação dos outros. Trata de dar presentes. O presente que o homem faz alarga-lhe o caminho e leva- o perante os grandes (v. 16). Deve-se entender o presente dado sem segundas intenções, porque, do contrário, já tem o sabor do suborno. Conhecemos um caso de certa pessoa que, depois de ser atendida no que desejava, ofereceu um presente à quem a ajudou, que rejeitou o presente com certo amargor, como quem queria dizer: "Pensa que lhe atendi na esperança de presentes?" A ofertante ficou meio desconcertada, desculpou-se, e tudo acabou bem. Um presente sem ter em vista uma recompensa alarga o caminho, pois a pessoa presenteada sente-se bem em receber, e fica cativa do ofertante. Presentes de aniversário são sempre mostras de boa camaradagem.

4.9.4 Diversas manifestações de sabedoria (vv. 17-24)

O que começa o pleito parece justo, até que vem o outro o o examina (v. 17). Quase sempre o que começa uma questão em juízo parece estar certo da sua causa. No entanto, depois que o juiz examina o caso, muitas vezes se torna o contrário. A lição é que evitemos ir a juízo. Jesus mesmo aconselhou o entendimento antes de recorrer à justiça (Mat. 5:25, 26). Todavia, nem sempre isso é possível, pela incapacidade da outra parte em querer o entendimento. Muitas questões poderiam ser tratadas entre as partes antes de ir ao tribunal. Vale, todavia, a doutrina. Há espíritos irreconciliáveis, e para os tais não há acordos. O verso seguinte tem um ensino desconhecido entre nós, o de lançar a sorte antes do pleito. Há o costume bem difundido do sacara ou coroa", para decidir muitos assuntos; mas para tirar as dúvidas sobre qualquer outro assunto parece que não há. Quando duas partes desejam entregar à "sorte" uma determinada decisão, o "cara ou coroa" vale, pois não há idéia de jogo. Haveria tal costume em Israel? Não sabemos. Certa vez foi comprada uma fazenda em parceria. Depois foi retalhada em lotes. Feita uma suposta divisão em duas partes, foi acolhida a idéia de "cara ou coroa", sendo assim decidido pacífica e inteligentemente a partilha.

Apresenta-se agora outra doutrina: a do irmão ofendido que resiste mais que uma fortaleza e suas contendas são ferrolhos dum castelo (v. 19). Esta doutrina é difícil. Quererá o sábio dizer que o irmão ofendido espera justiça e não cede? Ou que se torna rancoroso até que se modifiquem as situações? Não sabemos entender este verso. No hebraico também não é muito claro. A Septuaginta traz uma leitura divergente e que também não ajuda muito, quando diz: "Um irmão ajudado por um irmão é como uma forte cidade." Para contrabalançar a dificuldade do verso 19, temos o 20.0, trazendo uma leitura muito diferente da comum encontrada em Provérbios. Do fruto da boca o coração se fada o do que produzem os lábios se satisfaz (v. 20). Refere-se à palavra boa, dita a seu tempo, do conselho sábio oferecido ao amigo. É certo que tanto Provérbios como Tiago apresentam palavras causticantes para os lábios e para a língua; este verso, porém, é um bálsamo na aridez da maledicência e ignomínia. Quanta coisa boa manipulam os lábios sadios! Quantos louvores, uma língua santificada! Graças a Deus que nem tudo é derrota de língua e de lábios. Bem diz o verso 21: A morte o a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto. Quantas almas abatidas são levantadas pela língua, e quantas são afundadas no lodo da maledicência! A língua é o instrumento que Deus colocou no corpo humano para o louvor e bendizer. Quando desviada de sua função, é praga, uma calamidade. Com isto vem o outro ensino muito nosso conhecido: O que acha uma esposa, acha o bem o alcançou benevolência do Senhor (v. 22). Não apenas uma mulher, mas uma esposa boa e verdadeira. Isso é realmente uma benevolência do Senhor, pois uma esposa rabugenta, queixosa, é uma goteira no quarto de dormir. A mulher foi dada ao homem para ajudá-lo; mas quantas se apercebem dessa função? Nem sempre a mulher é culpada, digamos, porque o homem deve levar a sua parte da culpa por ter uma esposa má. São fenômenos da vida conjugal, difíceis de ajuizar.

O pobre fala com súplicas, mas o rico respondo com dureza (v. 23). O pobre é sinônimo de humildade, mas nem sempre, pois há pobres arrogantes e malcriados. O que se ensina é que o pobre, por sua condição, é pessoa humilde, enquanto o rico se supõe senhor de tudo e é arrogante. Nem um nem outro tem de que se valer da sua condição, porque o pobre apenas é um deserdado da sorte; e o que o rico tem não é seu. Então ombreiam-se as condições de ambos. Um que não tem, e outro que tem o que não é seu. Este capítulo termina com o verso de ouro: O homem que tem muitos amigos sal perdendo, PORQUE HÁ AMIGO MAIS CHEGADO DO QUE UM IRMÃO (v. 24). Este Amigo que o autor de Provérbios não conhecia bem, nós o conhecemos, o Amigo que sempre está ao nosso lado, mais íntimo do que o mais íntimo dos irmãos. O Amigo que não muda nunca; e sempre oferece o mesmo rosto. Oh! que glória termos um amigo assim!

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