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PROVÉRBIOS ANTITÉTICOS SOBRE A PUREZA DA RELIGIÃO (28:1-28)

Este tipo de provérbios é muito interessante na contextura da doutrina, pois o que a primeira linha afirma, a segunda contesta. Há quase sempre o "MAS" para modificar o sentido da primeira linha, como, por exemplo: "Os homens maus não entendem o que é justo; MAS os que buscam o Senhor entendem tudo" (v. 5). É uma espécie de debate próprio, em reuniões sociais ou religiosas, ainda em uso em nosso Nordeste, entre os violeiros ou cancioneiros. Numa quadra, um afirma certa coisa, ao que o outro responde o contrário. O uso desses provérbios em Israel era comum. Tal ensino abrange os capítulos 28 e 29. Um debate entre a mocidade, numa noite festiva, seria alguma coisa inédita. Infelizmente, se há alguma parte da Bíblia ignorada, esta é a de Provérbios, justamente a que deveria ser mais lida e conhecida pelos que estão começando a viver, para saberem como se conduzir na vida, pois o Livro de Provérbios é uma resenha de todo o saber oriental, tanto dos judeus como dos gentios, como já vimos quando estudamos O Livro dos Sábios em 22:17-24:22. Como já dissemos, alguém sugeriu às Sociedades Bíblicas fazerem edições especiais de Provérbios, bem encadernadas, com aparência atraente, para distribuir entre a juventude. Isso seria admirável contribuição à formação do caráter da mocidade.

6.4.1 Fidelidade à lei de Deus (v. 1-8)

A comparação entre os perversos e o justo é interessante; aqueles fogem, mas o justo é intrépido como o leão (v. 1). Não há coragem para os perversos, que se escondem de si mesmos. Os justos são valentes. Esta doutrina deve referir-se à situação de Israel no tempo de Ezequias, pois no norte os reis se sucediam a intervalos, e as transgressões da lei eram uma calamidade, e, por causa dessas transgressões, mudavam-se freqüentemente os príncipes ou reis (v. 2). O Reino do Sul, permanecendo por mais de 135 anos sobre o do Norte, teve o mesmo número de monarcas, a demonstrar que só a fidelidade à religião dá permanência. Um sábio e prudente se faz estável, como Ezequias, que reinou de 729-682 a.C., ou seja, por 42 anos. Enquanto reinava em Jerusalém, em Israel os monarcas se sucediam a Intervalos. Por isso o Reino do Norte não demorou a cair nas garras dos reis assírios. O verso 3 também deve estar em consonância com a situação de Israel do norte. O homem pobre que oprime os pobres é como chuva (v. 3). Isso deve referir-se ao empobrecido dono das terras, obrigado a pagar impostos sobre impostos, para sustentar um governo sem segurança, e que, por sua vez, oprimia os outros; ou então um delegado do governo, também empobrecido e que ia extorquindo dos coitados o pouco que tinham. Essa casta é como chuva que tudo arraste o não deixa trigo (v. 3). A situação no norte, comparada com a do sul, é mesmo como chuva que arrasta tudo e deixa a terra escalvada e nua. Tudo isso acontece aos que desamparam a fel o louvam o perverso (v. 4). Os governos dos povos vizinhos, sírios e assírios, exploradores, eram louvados ou bajulados, povos perversos; mas os que guardam a lei se Indignam contra ele (v. 4). Os judaítas, louvados na sua lei, eram invencíveis e repeliam os Iadravazes reis do norte. Uma espécie de loucura coletiva tomou conta do pobre povo do norte de Israel, onde não havia castigo que bastasse para se emendarem, e por isso o texto diz: Os homens maus não entendem o que é justo, MAS os que buscam o Senhor entendem tudo (v. 5). Segurança e felicidade existem para os que buscam a lei do Senhor, como foi o caso de Jerusalém nos dias de Ezequias, mesmo que antes e depois também houvesse multa loucura no abandono da lei de Deus.

O verso 6 faz uma comparação interessante. Ser melhor um pobre que ande na sua integridade, do que um perverso nos seus caminhos, ainda que seja rico (v. 6). Riqueza não é condição para bondade. Deve haver aqui uma referência ao indivíduo usuário e extorsivo, coisas proibidas em Israel e condenadas pela lei. Veja-se Levítico 25:36, em que se proíbe receber juros de importâncias emprestadas ao irmão (veja Deut. 23:19). O verso 8 completa a doutrina, em que o extorsivo ajunta para o que se compadece do pobre. A usura é filha da ganância e muito comum modernamente entre os gentios, em que humildes funcionários hipotecam os seus salários ou proventos com juros de até 20% ao mês. A isto deveria chamar- se roubo. Emprestar dinheiro a juros legais é normal, mas a extorsão é praga. Muitos pensam que os judeus implantaram essas normas; se assim é, os gentios aprenderam bem as lições. O que vale é guardar a lei, pois o tal é filho prudente, mas o companheiro de libertinos envergonha a seu pai (v. 7). Outra praga das sociedades é a libertinagem, a vadiação e perdulação. Quantos pais por esta razão vivem amargurados com os seus filhos. Talvez esta

condição leve ao verso 8, já estudado, em que o ganancioso ajunta para o que se compadece do pobre. Os libertinos não têm consciência da desdita dos outros, só pensam em si. A justiça divina não falha, mesmo que pareça tardia. Quantas fortunas mal ganhas serviram não para os que as ajuntaram, mas para outros! Nem sempre tal fato sucede, porém está previsto na Escritura e deve ser certa. Esta seção completa-se com a condenação da usura e da exortação, filhas naturais de gente perversa, que não tem o temor de Deus e só pensa no seu estômago (veja Lev. 25:36).

6.4.2 Só a justiça é louvada (vv. 9-12)

Não há religião que sirva para salvar o que se desvia da lei, pois até as suas orações não são ouvidas, conforme 15:8. Isto lembra-nos a parábola do fariseu e do publicano em Luc. 18:13. Palavras não convencem; a prática da lei e da justiça é que valem. Deus não ouve aos que abandonam a sua palavra e se entregam a devaneios. O que desvia os retos para o mau caminho, ele mesmo cairá na cova que fez (v. 10). O mal por si se destrói, diz o adágio popular; mas os íntegros herdarão o bem (v. 10). Integridade aqui significa fidelidade à lei de Deus; estes não se desviam dos retos caminhos. O escritor sagrado passa a outro assunto no verso 11. O homem rico é sábio aos seus próprios olhos, mas o pobre que é entendido sabe desprezá-lo (v. 11). A riqueza é presunçosa, egolátrica e só vê o dinheiro, enquanto o pobre fiei, porém, à lei, sabe desprezá-lo, isto é, não liga para ele. Esta é melhor tradução. Pobres e ricos ocupam grande parte do Livro dos Provérbios, não tanto pela riqueza ou pobreza em si mesmas, mas pelos seus efeitos na vida social. Há sempre louvores para o pobre, por ser a parte mais fraca da sociedade, enquanto o rico, em geral, sofre as vergastadas do sagrado escritor.

Outro verso de grande importância: Quando triunfam os justos, há grande festividade (v. 12). Deve ter alguma relação com a subida de Ezequias ao trono, governando ele juntamente com seu pai, um rei mau. Logo que este morreu e tomou Ezequias conta do governo, houve grande regozijo e por todo o seu reinado houve felicidade. Quando os perversos (maus) sobem, os justos se escondem (v. 12). Houve reis que morreram e nem deixaram de si saudades (II Crôn. 21:20).

6.4.3 Sinceridade na religião o conduta (vv. 13-20)

O verso 13 deve ser estudado à luz do Salmo 32. O que encobre as suas transgressões jamais prosperará (v. 13). O verso 3 do Salmo 32 declara: "Enquanto calei os meus pecados, os meus ossos envelheceram." O que confesse os seus pecados o os deixa alcançará misericórdia (v. 13). Esta doutrina aplica-se a certos cristãos pecadores, que nunca declaram as suas faltas. Diz o texto que os tais não prosperam. Todavia, temos visto velhos pecadores, impenitentes, em franca prosperidade. Serão salvos? A Palavra de Deus não pode falhar. Há muitos que se dizem crentes e não o são. Só o juízo perante o trono de Jesus esclarecerá muita coisa (Mat. 25:31-40). Por isso diz mais o

texto: Feliz é o homem constante no temor do Senhor (v. 14).

Veja 1 João 1:8, 9. Temor de Deus. não é o mesmo que ter medo de Deus, conforme Oséias 3:5, onde a palavra tremendo significa pavor por pecados cometidos. O que endurece o seu coração cairá no mal (v. 14). É o mesmo que dizer: O que muitas vezes é repreendido e não se arrepende cairá sem remédio.

Os versos 15 e 16 tratam de governos insensatos. Como leão que ruge o urso que ataca... fazem o mesmo que um perverso dominando os pobres. Imagine-se um cretino governando uma nação de pobres! Que desgraça! Isso, todavia, tem acontecido muita vez. Um perverso governando um povo pobre é o mesmo que um príncipe falho de inteligência, que multiplica opressões (v. 16). Em contraste com esta situação, segue uma outra, admirável: O que aborrece a avareza viverá muitos anos (v. 16). Esta linguagem dirige-se a um povo crente, porque os incrédulos não têm noção dos pecados que cometem, roubando o seu próximo, como temos visto noutros passos. Os Provérbios nasceram em Israel, no meio de um povo supostamente temente a Deus. Se tais ditos fossem escritos na França ou no Brasil, cremos que a linguagem seria outra. O verso 17 trata do homicídio, e é o único verso em Provérbios vazado em prosa. O homicida vai matando, até chegar a sua vez de cair também na cova, isso tem acontecido bastantes vezes em nossa sociedade. Só o que anda em integridade será salvo (v. 18) ou estará a salvo, porque o perverso fogo cairá. O mal não dura para sempre, como diz o pregador do seu púlpito: "O teu pecado te apanhará." Há recompensa em ser justo e viver justamente, porque o pecado sempre traz maus resultados. Só trabalho honesto recebe louvores na Palavra divina, como se vê no verso 19, em que o que lavra a sua terra virá a fartar-se de pão, mas o que se ajunta a vadios (vagabundos), se fartará de pobreza (v. 19). O verso 20 deve ser estudado à luz de 6:29, onde a fidelidade tem o sentido conjugal; todavia, aqui parece tratar-se de fidelidade para com Deus, pois o que se apressa a enriquecer não passará sem castigo (v. 20). A pressa de ficar rico leva o indivíduo a cometer muitas faltas, tais como a sonegação de impostos, a usura, a extorsão e outras. Para tal pessoa não se pode esperar um fim bom. Riqueza é uma boa coisa, mas riqueza com iniqüidade é chaga que produzirá um dia as suas dores. 6.4.4 A justiça em tudo (vv. 21-28).

Justiça nos tribunais, visto que parcialidade não é bom, pois até por um bocado de pão (suborno) o homem prevaricará (v. 21). Parcialidade do juiz ou da testemunha, quando estão em jogo interesses materiais ou morais, é um crime de que muitos provérbios se ocupam. Quantas injustiças se cometem, quando o mais fraco é quem leva o prejuízo. Por isso nós suspiramos por uma era de justiça, que há de vir, em que os ladrões, os perjuros, as falsas testemunhas não terão vez. O Milênio será esta era. Essa parcialidade se estende até o verso 22, em que aquele que tem olhos invejosos corra atrás de riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ela a penúria. Não adianta ser invejoso e ganancioso; as muitas riquezas adquiridas fraudulentamente já desapareceram e seus donos vieram a cair na penúria. O dinheiro é um sujeito sem moral e quando encontra um outro sem dignidade, então um mundo de iniqüidade desaba. Um certo mestre dizia a pregadores jovens: "Cuidado com o dinheiro e com as mulheres!" São mesmo duas coisas boas, porém, mal usadas, são uma desgraça para pregadores e outros.

O que repreendo ao homem achará depois mais favor do que o que lisonjeia com a língua (v. 23). Por mais de uma vez temos tratado das lisonjas e dos louvores, e temos visto que estas coisas são bem mais agradáveis que a repreensão, a todos indesejável. Um bom conselho, ou mesmo repreensão, virá a produzir seus benéficos resultados, enquanto a lisonja, o louvor barato, a nada conduzem, senão talvez desviar a pessoa.

O verso 24 parece tratar de filhos que tentam obter as propriedades de seus pais antes do tempo, à moda do Filho Pródigo. Possivelmente, terá relação com o dever dos filhos de sustentar os pais, e que, em nome da lei lhe recusavam este dever (Mar. 7:10). Tanto num caso como no outro, eram transgressão da lei mosaica. Então o filho israelita dizia: "Não há transgressão, não é pecado." Todavia, tanto o nosso texto como Jesus condenam tal procedimento. Há casos raros em que os pais doam aos filhos os seus haveres antes de morrerem, isso, porém, é outro procedimento. O verso 25 está dentro deste contexto. O homem cobiçoso (heb., largo de olhos) levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperava (v. 25). Trata das lutas e contendas ao redor de heranças ou de litígios entre indivíduos. Apanhar um pedaço de terra a mais indevidamente é crime, e, pela Bíblia, é pecado; entretanto, isso acontece muito. O verso 26 continua este mesmo pensamento, admitindo que um homem que pratica o que diz o verso 25 se supõe ser entendido (esperto), mas o que anda em sabedoria será salvo (v. 26). Sabedoria aqui é aquela que vem de Deus e de uma consciência serena e correta.

O que dá ao pobre ("empresta a Deus") não terá falta (v. 27). Este não é ganancioso, o que só quer para si, mas o que esconde dele os olhos será cumulado de maldições (v. 27). Os pobres, as viúvas e os órfãos são objeto de especial carinho por parte de Deus, e quem nega auxílio a estes seres humanos desprovidos de meios não passa sem a sua recompensa. Finalmente vem o verso 28, em que os maus governantes voltam a merecer o repúdio do sagrado escritor, e só há alegria quando eles perecem e os justos se multiplicam (v. 28). Termina aqui este capítulo de provérbios antitéticos. Vale a pena o leitor meditar nos seus ensinos (veja 29:2).

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