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A VIDA REAL E A LEI DE DEUS (21:1-31)

Há de contínuo uma representação do rei, ora em sua bondade, ora em sua fereza. O rei, nos antigos tempos, era mesmo o fiel da balança. Tudo estava na sua mão: dava e tirava como e de quem queria. Nos tempos modernos, felizmente, já não é tanto assim, porque há justiça para discernir os casos, mesmo admitindo-se todas as fraquezas humanas. No caso do nosso texto - Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor... (v. 1). Admite-se aqui que o Senhor é quem guiava o coração do rei; no caso de Salomão assim foi por muitos anos. Depois que se entregou aos desatinos das suas - mulheres, até a direção divina se foi. Todo cantinho do homem é reto aos seus olhos, mas o Senhor sonda os corações (v. 2). É uma triste verdade que nós sempre achamos os nossos caminhos retos, se bem que a retidão seja conferida só pelo Senhor. Nem todos os nossos caminhos são retos, mesmo que assim nos pareçam. Talvez por isso mesmo o verso 3 apresenta uma outra doutrina importante: Exercitar justiça o juízo é mais aceitável ao Senhor do que sacrifício. Muitos sacrifícios eram rejeitados por Deus, porquanto o coração dos ofertantes não estava conforme as regras mosaicas. Então o sacrifício era uma hipocrisia. Deus ama a justiça (Miq. 6:8). Beneficência também é outro requisito da Lei. Por isso que o coração altivo (orgulhoso) é lâmpada dos perversos (v. 4). Com tal gente, Deus não tem nada a ver. Deus não pode tolerar altivez e orgulho, porque no homem não há nada, nem condições a permitirem tais qualidades. Não temos nada que não nos fosse dado; se temos alguma coisa, nos foi dada por Deus. Logo, por que orgulho? Só os perversos ou pervertidos podem agasalhar tais defeitos na sua vida. Os planos do diligente tendem à abundância, mas a pressa excessiva, à pobreza (v. 5). Que significa esta doutrina? Talvez se refira aos que querem enriquecer depressa, por quaisquer meios, quando com menos pressa se chega à riqueza, e esta será mais segura. Portanto, trabalhar para adquirir tesouro com língua falsa é vaidade o Ia" mortal (v. 6). Parece que não há muita relação entre esses dois versos, mas há pelo menos qualquer ligação. Língua falsa aqui pode ser fruto de negócios ilícitos, embora tais riquezas durem pouco. Ainda talvez em conseqüência dessa maneira de adquirir riquezas com língua mentirosa, venha esta outra observação: A violência dos perversos os arrebata, porque recusam praticar a justiça (v. 7). Quantos amontoaram grandes fortunas com violências, e depois tiveram de ver que Deus soprou nelas, e se foram. Antes a pobreza com justiça do que a riqueza com violência ou injustiça. Antigamente era muito comum deslocar um marco divisório de uma fazenda para dentro de outra; e, se o pobre reclamasse, até se mandava um verdugo matá-lo. Ainda há resquícios dessas violências no interior dos Estados, mas não com tanta freqüência como antes. Então: Tortuoso é o caminho do homem carregado de culpas, mas reto o proceder do honesto (v. 8). Todos esses versos ou provérbios estão ligados à conduta do homem que quer tudo para si, seja qual for o meio. Deus está contra o tal e no devido tempo verá a recompensa da sua conduta. Já sabemos que não adianta lutar contra a justiça e contra Deus: não dá resultado.

4.12.1 A má esposa o seus conseqüentes (vv. 9-15)

O comentador A.D. Power apresenta uma paráfrase interessante: "É melhor habitar umas águas furtadas, debaixo do telhado, do que num salão duplo com uma esposa rixosa" (Novo Comentário da Bíblia). Quem pode suportar tal esposa que de tudo se queixa, nunca está satisfeita, nunca está contente? Quantas referências a esposas já vimos em nosso estudo! (18:22; 14:1; 12:4 e outras). A mulher, como estamos fartos de saber, foi dada ao homem como ajudadora; e quando se afasta dessa norma, torna-se, então, rixenta e questionadora. Perde a sua função de ajudadora. O Livro dos Provérbios não poupa adjetivos tanto para a louvar como para a criticar. No verso 19 voltamos a ver a esposa por outro ângulo ainda. Da esposa rixenta, passa o sagrado escritor a tratar do perverso, outro tipo humano muito comentado nesses capítulos. A alma do perverso descia o mal, nem o seu vizinho recebe dele compaixão (v. 10). A boa vizinhança é coisa desejável em toda e qualquer circunstância, mas para um perverso nem o bom vizinho lhe merece qualquer atenção. A perversidade é o oposto da bondade; o perverso é um tipo degenerado, cuja vida foi invertida, virada para o avesso. É parente próximo do escarnecedor, o tipo asqueroso, que de tudo zomba e por isso, quando é castigado, o simples se torna sábio (v. 11). Há um ensino muito profundo neste verso. Quando um escarnecedor recebe castigo, o homem simples verifica a diferença entre ele e o escarnecedor. Tal diferença é o mesmo que instruir um sábio; este aumenta o seu conhecimento. O sábio deseja ser mais sábio; o simples deseja ver a sua condição elevada. Parece que este é o ensino. Em contraste com esta lição, vem outra, de não menor significado: O justo considera a casa dos perversos, e os arrasta para o mal (v. 12). Não há misericórdia para o perverso. Ele e os seus são arrastados para o mal, que bem merecem. Por que deve uma pessoa ser perversa, ter a natureza torcida? O pecado é o único fato que pode perverter uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Adão foi pervertido pela sua falta, isto é, de santo e bom, tornou-se inimigo de Deus. Coisa terrível é esse pecado na vida. Dessa situação nasce outra; a insensibilidade. O que tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido (v. 13). O pobre é nosso semelhante; por qualquer motivo caiu na indigência. Só a perversidade pode tapar os, ouvidos ao seu clamor. Deus reconhece a existência dessa qualidade de gente desprovida, e não manda pão do céu para ela, entretanto, espera, dos que podem, se compadeçam dela; porém os perversos de natureza não têm sensibilidade, e então o pobre fica mesmo sem nada. Como tudo na vida tem recompensa, quando o rico clamar também não será ouvido.

Agora uma nova diferente. O presente que se dá em segredo abate a ira, o a dádiva em sigilo, uma forte indignação (v. 14). Se você tem um inimigo, dê-lhe um presente em segredo, que ninguém saiba; a sua irá se acalmará. Quem irá fazer isso? O princípio é válido; como fazê-lo é o negócio. Outro assunto: Praticar a justiça é alegria para o justo, mas espanto para os que praticam o mal (iniqüidade) (v. 15). O justo sempre tem prazer em o ser, pois é da sua natureza boa. Já o iníquo não sente gozo nisso, por ser contrário à sua índole. Tudo depende do estado do espírito da pessoa. Fazer o bem é coisa natural para a pessoa boa, e praticar o mal é próprio da pessoa má.

4.12.2 Boas normas são desejáveis para a vida (vv. 16-23)

Uma pessoa que se desvia do caminho do entendimento cal na congregação dos mortos (v. 16). Isto se aplica aos tolos, aos falhos de entendimento, que terminam na ruína e na miséria. É quase o mesmo que - quem ama os prazeres empobrecerá, o a quem ama o vinho e o azeite jamais enriquecerá (v' 17). Prazeres e vinho, eis a dupla do pobre gozador. No verso 1 do capítulo 20 há outra advertência contra o vinho, mas contra o azeite, desconhecemos. Amar o azeite para quê? Algo havia em Israel, não claro para nós. O verso 18 diz: O perverso serve de resgate para o justo. Isto lembra-nos ls. 43:3, 4, quando o Egito e a Etiópia foram dados em resgate por Israel. Certo comentador diz: "Há uma espécie de substituição; um resgate pago para permitir que o justo escape; e o resgate é a pessoa do iníquo." Para que Israel fosse resgatado, o Egito sofreu um pedaço de mau caminho. O ímpio dado em resgate do justo. Novamente a mulher. Melhor é morar numa terra deserte do que com a mulher rixosa e iracunda (v. 19; veja verso 9). Que haveria com os sábios de Israel para tanta queixa das mulheres? Uma terra deserta deve ser alguma coisa indesejável; isso mesmo, uma mulher rixosa em casa. Contra esta situação vem outra, diferente: Tesouro desejável a azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato os desperdiça (v. 20). O azeite servia para a comida, para empastar os cabelos, para iluminação. É um elemento de paz e ordem, e por isso não sabemos por que o azeite e o vinho foram postos lado a lado no verso 17. Noutro lugar aludimos ao negócio que se fazia com azeite nos lugares onde não havia olivais. Israel era rico em oliveiras. Até no Jardim de Getsêmane as havia e ainda há. Lá está uma do tempo de Cristo, da qual este autor tirou um raminho cheio de azeitonas verdes.

O que segue a justiça e a bondade, achará a vida, a Justiça a a honra (veja Mat. 6:33 e Miq. 6:6- 8). Uma antecipação da mensagem de Cristo (v. 21). Lindo, não é? Nunca há prejuízo em se ser justo e bom para com os outros, porque só essas qualidades valem na vida. Justiça e amor são coisas exigidas dos que andam com Deus, e, quem possui essas coisas, tem tudo. Isso faz parte do Sábio que escala a cidade com valentes a derriba fortalezas em que ela confia (v. 22). Deve tratar-se da força moral do justo ou do sábio, pois escalar uma cidade é coisa para guerreiros. Um preceito muito útil é o do verso 23: O que guarde a sua boca o a sua língua, guarda a sua alma. É o preceito de Tiago 5, que muito vale em qualquer situação. A língua é objeto terrível e é coisa muito boa. Que seria da pessoa sem a língua? Talvez seja preferível perder a vista. Li uma história no Readers Digest em que um fumante teve de submeter-se a uma operação na garganta, e, quando entrou na clínica, viu um grupo de homens sem língua e sem garganta, alimentando-se por meio de tubos. Quem pode imaginar o que seja isso? Mas os fumantes continuam a crer nos anúncios das empresas de cigarros e fumam ,até que o câncer lhes bata à porta. O verso 24 não tem conexão com os demais; trata do zombador, figura muito aparecida nos Provérbios. Passa depois ao preguiçoso, que morro desejando, visto como suas mãos recusam o trabalho (v. 25). Um dos provérbios mais constantes é o do preguiçoso. Por quê? Haveria tantos assim em Israel? Junto a isso está o cobiçoso que cobiça

todo dia, enquanto o justo dá o nada retém (v. 26). Sempre um louvor para o justo e uma critica severa para o injusto, o iníquo e o preguiçoso. Qual será o sentido do perverso que oferece o sacrifício com intenção maligna? (v. 27). Que intenção será essa? Não entendemos, mas aí está e deve conter uma lição. Desafiar a Deus? Quem sabe? O meio em que vivemos e as intenções do coração humano são tão diversos que muitos provérbios ficam sem explicação. A testemunha falsa perecerá, mas a auricular falará sem ser contestada (v. 28). Não há contestação para a testemunha veraz; e, mesmo que seja contestada, logo a verdade virá à tona. Havia muitas testemunhas falsas naqueles dias distantes, e disso nos informa o sábio dos Provérbios. Tal pessoa é como o perverso que mostra a dureza do seu rosto, mas o reto considera o seu caminho (v. 29). O rosto da pessoa diz muito da sua natureza; mesmo que haja bastante dissimulação. Todo o capítulo 21 se resume nos dizeres do verso 30: Não há sabedoria nem Inteligência, nem mesmo conselho contra o Senhor. Perfeitamente. Quem pode dar conselho ao Todo-Sábio, Todo-Poderoso, Todo-Inteligente? A sabedoria está com Elo e tudo que é desejável na vida. O homem, como o cavalo, prepara-se para o dia da batalha, mas a vitória vem do Senhor (v. 31). Deus é quem dá a vitória ao homem, como lhe dá tudo quanto precisa, se pedir. Finalmente, tudo se resume em se ser fiei a Deus e às virtudes do caráter humano; a vida sem isto é uma farsa, uma hipocrisia.

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