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PRECEITOS E ADMOESTAÇÕES (20:1-30)

O vinho em Israel era produzido na casa do viticultor, como em muitos lugares da Europa. Tomado com moderação é um bom alimento, pois a dose de álcool é pequena, não chegando a 6%. Todavia, o excesso faz mal. Um homem seria capaz de beber dois ou três litros de vinho, a espaços, sem perigo.; todavia, bebendo desregradamente, cai na bebedeira. É Isso que o verso primeiro reconhece, dizendo: O vinho é escarnecedor, o a bebida forte, alvoroçadora (v. 1). O homem que se deixa vencer pelos excessos não é sábio. Uma parte talvez mais perigosa da bebida é o que se chama "bagaceira", uma aguardente destilada do bagaço da uva. Tomada com moderação, estimula os centros nervosos, mas o excesso é como a "cachaça" brasileira, uma praga tremenda no interior do Brasil. Toda forma de álcool é perigosa e fazem bem os evangélicos em se absterem de participar dessas bebidas. Pelo menos, de modo geral, os batistas são totalmente abstinentes. Nos países produtores de vinho já não se diria isso, como em Portugal, onde o vinho faz parte da mesa, sendo tomado com moderação.

4.11.1 Cumpro o teu dever (vv. 1-5)

Depois da recomendação de que o vinho é escarnecedor, isto é, leva o bebedor a zombar de si mesmo, vem o preceito de não irar o rei, não se levantar contra a autoridade. Há muitos provérbios recomendando moderação nas críticas ao rei, e aqui se diz que o terror do rei é como o bramido do leão (v. 2). Podemos imaginar o que seriam as Iras de um rei absoluto, tendo a seu dispor soldados para meterem o delinqüente na enxovia? Quando visitamos o palácio dos "Doges", em Veneza, e vimos as grades das enxovias, e nos mostraram a "Ponte dos Suspiros", tivemos um quadro ao vivo do que seria a onipotência dos donos de Veneza. Longe como estávamos daqueles dias sombrios, tivemos a sensação de calafrios. Quantos milhares de milhares sofreram as iras dos déspotas antigos? A lista é ignorada aqui, mas está bem certa lá em cima, onde esses verdugos prestarão as suas contas um dia. Quem provoca a ira do rei, peca contra a sua própria vida, Isto é, vai morrer. O Novo Testamento é muito claro quanto ao dever de respeito que se deve aos reis, especialmente em Rom. 13:1-7. Note-se que o rei do tempo de Paulo era o que se podia dizer de pior; todavia, era o rei. Apresenta este mesmo ponto de vista o conselho de que é honroso para o homem a desviar-se de contendas, mas todo insensato se mete em rixas (v. 3). Há tipos rixentos e contenciosos, sempre dispostos a provocar a paciência dos outros: são os Insensatos, os filhos do mau senso.

Com esta advertência vem uma nota muito comum em Provérbios, a respeito do preguiçoso, de que já nos ocupamos diversas vezes: o homem que não lavra durante o inverno (por causa do frio) no verão não tem o que colher. O trabalho no inverno é penoso, em lugares frios, porém é quando tem lugar a sementeira de certas espécies que dão fruto no verão.

Agora, sim, vem uma nota altissonante: Como águas profundas são os propósitos do coração do homem (v. 5). Quem pode sondar o coração humano? É como um profundo oceano, indevassável ao estranho. Todavia, há homens de Inteligência a que sabem descobri-lo, isto é, que controlam tais propósitos. Diz-se que o coração humano "é terreno onde ninguém pisa", e é certo. Quando o adágio afirma que "o coração tem razões que a inteligência não entendo", diz muito bem, pois até a inteligência, ou a razão, é incapaz de sondar o coração do homem. É de lá, dessas profundidades, que vêm os maus pensamentos, as piores decisões, no dizer de Jesus.

4.11.2 Há muitos propósitos bons (vv. 6-10)

Há gente que se jata da sua bondade, mas o homem fidedigno, quem o achará? (v. 6). Há, felizmente, pessoas boas no mundo e cremos que a maioria assim é; fidelidade, porém, é coisa diferente de bondade. Muitos maridos bons enganam suas esposas, e muitos empregados bons ludibriam seus patrões. Estes não são fidedignos, embora bons, no sentido vulgar. Bondade e fidelidade não são sinônimas; podem andar juntas, mas não são iguais. É o caso do justo: este anda na sua integridade e por isso felizes lho são os filhos depois dele. Temos, então, aqui três termos muito interessantes: benignidade, fidelidade e integridade. Todos três são bons vocábulos, que nem sempre andam juntos. Quando o rei se assenta no trono do juízo... quem pode dizer: purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado? (v. 9). O rei aqui deve ser um símbolo do grande Rei, o rei Ideal, ao assentar-se no seu trono para julgar vivos e mortos. Quem dirá: Purifiquei o meu coração, estou limpo do meu pecado? Há em o Novo Testamento três tronos: O do Juízo em Mat 25:31-46; Apoc. 4:2; 20:11-15, e o do cap. 5:10 de 11 Coríntios. Todos se referem a um mesmo fim, bem diferente do mencionado aqui. Entre os muitos pecados do gênero humano está o de roubar o próximo por meio de balanças e pesos falsos, coisa abominável ao Senhor, porque é uma forma muito sutil de fazer o mal. Com a medida a que faltam algumas gramas, no fim do dia se terá roubado meia dúzia de quilos de muitos. O pecado é tão sutil e matreiro que Até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se o que faz é puro e reto (v. 11). Desde bem cedo na vida o menino ou a menina

revelam o veneno que trazem na sua natureza. Pode ser inconsciente, mas revela o que não entendem. Isso nos leva a ver que há um mal em a natureza humana que só um remédio específico pode curar: o sangue de Jesus. Nós somos muito indulgentes com as nossas faltas, quando deveríamos ser rigorosos e fazer força para mudar. Quem, porém, deseja julgar-se mau?

4.11.3 Diversos preceitos (vv. 12-17)

Os nossos órgãos, Deus os fez, tanto o ouvido como o olho, e são a nossa maior riqueza na vida, pois quando falham os olhos ou os ouvidos, estamos aniquilados para multa atividade. Como deve ser grato a Deus aquele que ouve e enxerga bem! Só depois de perdermos estas jóias é que tomamos conhecimento do seu valor. óculos e aparelhos auditivos ajudam, mas não resolvem. Deus fez tudo muito bem feito.

Não ames o sono (v. 13) é o mesmo que dizer: não sejas preguiçoso, não empobreças; abro bem os olhos, e terás fartura. Olhos abertos são sinal de atividade, olhos fechados, de parada na vida. Parece esta ser a filosofia do abrir e fechar dos olhos. No fundo da maioria dos provérbios há um sentido filosófico, nem sempre claro, e nós temos de procurar descobri-lo. É assim com o verso 14, quando um negociante oferece o seu artigo e o comprador diz: não vaio nada; isso para comprar barato, e depois se gabar da boa barganha que fez. Chama-se a isso regatear. Quantas vezes um comerciante não sabe o que está vendendo! Quanto a falar bem, é bom, pois os lábios Instruídos são jóias preciosas (v. 15). Nada há igual à inteligência, que se expressa em lábios puros.

Volta-se ao fiador (veja 6:1 e ss.). Tome-se a roupa, refere-se ao penhor oferecido pela fiança (Êx. 22:26 e ss.). O afiançado dava, por sua vez, uma garantia pela fiança, para salvaguardar o prejuízo porventura causado. Assim, o dano do fiador seria menor. A fiança era comum em Israel, mas sempre vista como perigosa, tanto mais a estrangeiros, que se iam de viagem e não se sabia se voltariam ou não. A fiança é duvidosa. É pior que emprestar dinheiro. Uma outra admoestação é dada no verso 17: Suave é o pão ganho por fraudo, mas depois a boca se enche de pedrinhas de areia. Eis uma outra maneira de roubar, mais sutil e mais perigosa. Sempre houve muitos modos de fraudar os outros, especialmente os governos, que, por sua vez, enchem a boca de areia aos fraudadores. Pague o que deve, seja a quem for, e, se ao governo, muito mais, porque ele cobra enchendo a boca de areia. No Brasil já se vai à cadeia por fraudar o governo nos impostos.

4.11.4 É bom fazer planos (vv. 18-27)

Planejar para ir à guerra. Lucas apresenta uma doutrina a respeito em 14:31. Os conselhos nem sempre dão o resultado desejado, a guerra torna-se perigosa. Vem depois o cuidado com o que muito abre os lábios, o mexeriqueiro, pois logo revela o segredo. O pairador, que de tudo fala e pouco entende de alguma coisa, é tipo perigoso.

A maldição ao pai ou à mãe é um pecado terrível, pois (ao tal) se Em amwã a làmpade nas mais densas trovas (v. 20). Só um degenerado pode cometer tal pecado, visto como os pais estão no lugar de Deus, para a procriação. e o encaminhamento da pessoa humana na vida. Tal criatura será desarralgada da terra. É o mandamento com promessa (Êx. 20:12; Ef. 6:2). O castigo é morrer cedo; mas quem tal pecado comete deveria morrer logo. Uma poam antecipada de herança no fim não será abençoada. Certos pais distribuem a fazenda entre os filhos antes de morrer, por medo de brigas. No final, quando chegar o tempo de efetivamente receber a herança, esta já não existe, 'pois foi gasta ou dissipada antes do tempo. O verso seguinte tem uma lição proveitosa: Não digas: vingar-me do mal; espera no Senhor, o elo te livrará (v. 22). Neste mundo nós estamos sujeitos a muitos tropeços, inclusive ao de sermos prejudicados e sentirmo-nos desejosos de vingança. Todavia, ensina-se aqui o dever de esperar pela vingança do Senhor, que poderá demorar, mas chega. A vingança pertence ao Senhor (Sal. 94:1; Rom. 12:19; Heb. 10:30). É duro o tempo da espera, mas vale a pena. Novamente o assunto de pesos e medidas falsos, tantas vezes referidos. Dois pesos são coisa abominável ao Senhor; balança enganosa não é boa (v. 23). O verso 24 dá-nos uma admirável idéia de como a vida é dirigida sem o sabermos. Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como podo, pois, o homem entender o seu caminho? (v. 24). Coisa misteriosa é a vida humana. Quantas coisas planejamos, e saem erradas; quantas não planejamos, e dão certo. A coisa melhor é ser diligente com tudo que vier à mão, sem avançar, porque não sabemos o que está no caminho. Isto não contraria o fazer planos na vida, e, sim, é contra fazer quaisquer planos. Quanta coisa este autor já planejou, e deu errado; e quanta sem planejamento, e deu certo! Se sempre tivéssemos ante nós este verso, e, em oração, consultássemos o Senhor, melhor nos correria a vida.

O verso 25 reza: Os votos precipitados e não cumpridos são uma vergonha. Dedicar alguma coisa a Deus, dizendo: é SANTO! é perigoso. É a doutrina ou costume hebraico de declarar corbam alguma coisa devida ao Senhor (Mar. 7:11). Depois de fazer o voto, é tarde para refletir. Tem de ser cumprido. Recordemos o caso de Jefté, que votou oferecer a Deus quem primeiro lhe saísse ao encontro, voltando vitorioso da guerra, e a primeira pessoa a Ir ao seu encontro foi a filha. Que horror sacrificar a própria filha! (Juí. 11:29-40) (Sobre essa interpretação, veja Estudo nos Livros de Josué e Juizes, do autor). Depois de votar, cumpra, se tem palavra, é a recomendação do escritor sagrado.

O rei sábio "Ira os perversos o faz passar sobra elas a roda (v. 26). É difícil saber o que ensina este verso, mas deve referir-se ao castigo que o rei dá aos faltosos, submetendo-os ao tronco, como faziam os senhores de escravos no tempo da escravatura.

O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual esquadrinha todo o seu mais íntimo ser (v. 27; comp. 1 Cor. 2:11). O espírito do homem é o que o distingue dos outros animais. Um irracional tem a nephesh, alma vivente; nas narinas do homem, porém, Deus soprou o seu próprio fôlego. Esse fato o distingue de tudo quanto foi criado. Mesmo que em alguma escritura se leia que o homem também é nephesh, fôlego de vida ou alma vivente, ainda assim, o fato de Deus soprar nas narinas do homem, o faz totalmente diferente de todos os animais (veja Estudo no Livro de Eclesiastes, Cap. 3, do autor). Os Testemunhas de Jeová e outros insistem em que o homem e os animais são iguais; todos têm fôlego de vida. Portanto, quando o homem morre, morre tudo quanto tinha e era; nada fica da alma ou espírito. É doutrina materialista e animalista. O homem tem a lâmpada de Deus no seu espírito. Este não morre.

As qualidades que sustentam o trono do rei são: amor, fidelidade e benignidade (v. 28). Com estas qualidades ele sustenta o seu trono. Jamais algum povo se levantou contra um dominador que assim rege a sua gente (veja 11 Sam. 7:12). O ornato dos moços é a sua força, e a beleza dos velhos, as suas cãs. O ancião é respeitado pela idade, mas o moço o é pela força. Quem seria capaz de bater num velho? Só mesmo um celerado; todavia, bater num jovem é desafiá-lo para a luta. Este verso é lindo. Quando este escritor distribui folhetos nas praças do Rio de Janeiro, todos o acatam, todos param para receber o papel. Olham as suas cãs e param. Vale a pena ser velho, mesmo porque não se pode ser moço mais. Os vergões das feridas purificam do mel... é o bem da disciplina que faz bem ao corpo e à alma de quem é disciplinado (v. 30).

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