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CAPÍTULO IV O DIREITO À EDUCAÇÃO INTEGRAL NOS PLANOS DE

4.1 A normatização jurídica dos PMEs

4.1.3 Estrutura dos planos aprovados

A organização interna de um plano municipal de educação requer duas perspectivas: uma que informe o fim a que se propõe chegar e uma outra que oriente o curso da ação à luz das condições reais nas quais ocorre a elaboração do plano.

A primeira fixa dois tipos de critério: o fim geral ao qual se procura chegar (objetivos) e o fim concreto que se considera possível de alcançar (as metas). A segunda tratará de especificar tecnicamente, de maneira concreta, quais são os passos a serem dados para conseguir o fim proposto (LAMARRA; AGUERRONDO, 1983, p. 100).

Para lograr êxito, ainda que sejam observadas tais perspectivas, faz-se necessária, ainda, uma análise da situação que se pretende alterar e dos condicionantes que nela intervêm, a fim de diagnosticar não apenas os problemas a serem resolvidos mas, sobretudo, suas causas. Em outras palavras, “o bom diagnóstico requer mais do que a simples e factual descrição da realidade. Requer a tomada de consciência das razões que nos colocam onde estamos e dos limites e possibilidades de alterar a situação” (BORDIGNON, 2009, p. 93).

O ato de diagnosticar consiste, pois, em um exame da situação educacional local, por meio da análise de dados quantitativos e de caracterizações e contextualizações qualitativas, visando à formulação do PME e orientando a sua execução (BONAMINO et al., 2006; SOUZA, 2017). É a partir do diagnóstico que são estabelecidas as prioridades para a formulação da política educacional do município, a qual se consubstancia no PME propriamente dito (SOUZA, 2017).

Apesar da importância conferida à ação diagnóstica, a normativa relativa ao PNE 2014-2024, analisada anteriormente, não apresenta um diagnóstico que fundamente as metas e/ou estratégias estabelecidas para a educação nacional. Esta mesma estrutura foi observada em dez dos quinze planos analisados neste estudo, à exceção de Cosmópolis, Monte Mor, Paulínia e Valinhos, os quais, com diferentes níveis de detalhamento, apresentaram elementos de análise da realidade educacional local.

Do conjunto de quatro PMEs que, de uma forma ou de outra, informaram a realização de diagnósticos, três municípios – Cosmópolis, Paulínia e Valinhos – organizaram seus planos documentando tal exame em seção específica do documento, dissociando a análise da realidade local da declaração de metas e/ou estratégias. Para Souza (2017), esta forma de organização do documento, dissociando a análise da realidade das seções que estabelecem as metas e/ou estratégias do PME, pode dificultar a compreensão do leitor sobre a possível articulação entre os dados da realidade observada e os objetivos que o plano pretende alcançar, elementos essenciais para o planejamento da educação municipal.

Monte Mor, por exemplo, organizou o diagnóstico em correspondência a cada uma das metas e/ou estratégias relativas às diferentes etapas e modalidades de educação básica, possibilitando ao leitor a observação mais próxima entre a

análise situacional realizada e as metas e/ou estratégias planejadas para o equacionamento dos desafios relativos à educação no município.

Do ponto de vista quantitativo de metas dos PMEs em questão, a análise revelou que mais da metade, ou seja, 9 (60%) desses documentos, extrapolou o número previsto no PNE 2014-2024, em outras palavras, possuem mais que vinte metas estabelecidas, sendo que o PME de Indaiatuba e Americana superaram em cerca de três vezes essa quantidade, ao delimitarem, respectivamente, 61 (sessenta e uma) e 65 (sessenta e cinco) metas no total.

O elevado número de metas pode incorrer na pulverização e fragmentação de metas e/ou estratégias, semelhante ao que ocorreu em relação ao PNE 2001-2011, conforme advertiu o Conselho Nacional de Educação (CNE), ao realizar a avaliação do referido documento (BRASIL, 2009b).

Por outro lado, a quantidade reduzida de metas definidas nos planos de Engenheiro Coelho, Santa Bárbara d’Oeste e Cosmópolis, ou seja, 12 (doze), 14 (quatorze) e 15 (quinze), respectivamente, pode favorecer a exequibilidade desses documentos, além de possibilitar o maior controle social relativo à execução do plano (MARTINS, 2014).

O PME de Valinhos (2015) não foi relacionado no Gráfico 2 pelo fato de ter optado por uma organização que se distancia do modelo empregado no PNE (2014-2024), eximindo-se da indicação de metas e/ou estratégias. Desse modo, a opção por organizar-se em torno de 91 (noventa e um) objetivos/metas relativos às etapas e modalidades da educação básica e aos eixos temáticos relacionados à educação municipal impossibilitou a comparação do referido plano com os demais documentos analisados.

Fonte: AUTORA, 2018.

No que diz respeito ao número de estratégias previstas nos documentos, os PMEs de Engenheiro Coelho e Santo Antônio de Posse podem ser considerados reduzidos quando comparados aos demais documentos, uma vez que foram estes os que menos estratégias previram, 57 (cinquenta e sete) e 65 (sessenta e cinco), respectivamente. Importa registrar que o terceiro plano com o menor número de estratégias foi o de Cosmópolis, com 125 (cento e vinte e cinco), 60 (sessenta) estratégias a mais do que o observado no de Santo Antônio de Posse.

Levantamento empreendido por Pinto (2014) revelou a fragilidade institucional para a gestão da educação observada nas localidades menos populosas, aquelas com cerca de 20.000 (vinte mil) habitantes, fato este que pode ter influenciado no acanhado número de estratégias registrado nos planos de educação dos municípios de Engenheiro Coelho e Santo Antônio de Posse.

Bordignon (2014, p. 32) chama a atenção para a importância da elaboração de estratégias para a implementação do plano de educação. Segundo o autor, “as estratégias definem a utilização dos recursos, os meios e processos para realizar a caminhada rumo ao alcance dos objetivos, a realização das metas”, indicando, pois, os caminhos para a efetivação do PME.

No outro extremo, encontram-se os planos de Campinas e Indaiatuba, os quais registraram as duas maiores quantidades de estratégias previstas, respectivamente 269 (duzentas e sessenta e nove) e 277 (duzentas e setenta e sete), quantidades estas que se aproximam das 254 (duzentas e cinquenta e quatro) estratégias previstas no PNE (2014-2024), refletindo a influência da legislação federal no planejamento da educação local.

Em sua maioria (85,7%), os PMEs analisados preveem um número de estratégias inferior ao estabelecido no PNE (2014-2024), o que pode ser justificado, dentre outras possíveis motivações, pelo reduzido número de estratégias registrado nas metas relacionadas ao ensino médio, à educação profissional e ao ensino superior, os quais não se constituem, via de regra, em responsabilidade do poder municipal.

4.2 Os Planos Municipais de Educação (2015-2025) e o direito à educação