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CAPÍTULO IV O DIREITO À EDUCAÇÃO INTEGRAL NOS PLANOS DE

4.2 Os Planos Municipais de Educação (2015-2025) e o direito à educação

4.2.1 Disponibilidade

4.2.1.3 Valorização dos profissionais da educação

A legislação nacional (CF de 1988 e LDBEN de 1996) previu a valorização dos profissionais da educação por meio de estatutos e planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público, piso salarial nacional além da obrigatoriedade de formação superior para todos os docentes. Da mesma forma, o PNE (2014-2024) estabeleceu a valorização dos profissionais da educação como uma de suas diretrizes, induzindo os entes subnacionais a planejarem metas e/ou estratégias nessa direção.

Nos PMEs (2015-2025) analisados, a temática da “valorização dos profissionais da educação” foi tratada sob diferentes aspectos, relacionando-se à formação inicial e continuada, aos planos de carreira, à reestruturação da jornada de trabalho docente, à valorização salarial e à garantia de condições adequadas de trabalho.

As metas e/ou estratégias relativas à formação inicial e continuada incidiram, em sua maioria, sobre os docentes da educação básica, com predomínio dos professores alfabetizadores e daqueles que atuam no atendimento educacional especializado, e também sobre os gestores das escolas, incluindo direção e coordenação pedagógica.

Americana (2015), Artur Nogueira (2015), Cosmópolis (2017), Engenheiro Coelho (2015), Hortolândia (2015), Indaiatuba (2015), Monte Mor (2015), Nova Odessa (2015), Santa Bárbara d’Oeste (2015), Sumaré (2015) e Valinhos (2015) previram, ainda, a formação dos profissionais da equipe de apoio das unidades escolares, revelando a preocupação municipal com aqueles que atuam nos espaços escolares, independentemente das funções que desempenham. No tocante a esta temática, do ponto de vista do direito à educação integral, ao incluir nas metas e/ou estratégias de formação os diferentes profissionais da educação, o poder público passa a valorizar aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuem para a desenvolvimento integral do educando.

Concordamos com Dourado (2015) que a necessária organicidade no processo formativo e sua implementação solicitam a articulação entre as unidades

escolares, o sistema de ensino e a Instituição de Ensino Superior (IES), de modo que sejam atendidas as demandas dos profissionais da área educação. Esta perspectiva foi sinalizada nos PMEs (2015-2025) quando da explicitação de metas e/ou estratégias prevendo “realizar periodicamente diagnóstico das necessidades de formação de profissionais da educação e da capacidade de atendimento por parte de instituições públicas e comunitárias de educação superior existentes no município e no estado de São Paulo” (ITATIBA, 2015).

De outro modo, a maior parte dos PMEs não fez menção à realização de um diagnóstico das demandas de formação que se apresentam no interior das unidades escolares, dificultando a necessária integração entre as instituições responsáveis pela formação inicial do magistério da educação básica, as IES, com as demandas reais das redes de ensino.

A possibilidade de estabelecer convênios e parcerias com instituições privadas, não necessariamente de ensino superior, visando à formação de profissionais da educação, foi prevista nos PMEs de Hortolândia (2015) e Nova Odessa (2015), facultando ao gestor municipal a contratação de empresas para esse fim.

De acordo com Adrião et al. (2012, p. 544), no Brasil, o incentivo às parcerias entre os setores público e privado, na esfera educacional, vem ocorrendo desde o Plano Diretor para a Reforma da Administração e Aparelho do Estado19

(1995),

a partir do qual se configurou um conjunto legal que, ao mesmo tempo em que ampliou o controle sobre a atuação das ações das administrações públicas, com destaque para as de nível local, estimulou essas mesmas esferas governamentais a buscarem na iniciativa privada apoio logístico e operacional para as responsabilidades assumidas.

Para as mesmas autoras, ao delegar parcela de suas responsabilidades às empresas privadas lucrativas, o poder público abre espaço para que estas atuem, não apenas no fornecimento de materiais didáticos ou formação docente, mas também “sobre a política educacional no que diz respeito à organização do ensino local” (ADRIÃO et al., 2012, p. 546).

19 O Plano Diretor da Reforma do Estado (1995) elaborado então pelo Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, foi aprovado em 21 de setembro de 1995 pela Câmara da Reforma do Estado, vinculada ao Conselho de Governo da Presidência da República, na gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Convém salientar, ainda, que, segundo Barreto (2015, p. 695), a formação de professores em serviço tem se tornado um “empreendimento que compromete grande soma de recursos” municipais, empreendimento este que pouco tem contribuído para a garantia do direito à educação integral, uma vez que a maior parte dessas formações “é ainda feita em moldes tradicionais: palestras, seminários, cursos de curta duração, ou seja, representa uma oferta fragmentada que não traz evidências sobre sua capacidade de mudar as práticas docentes”.

No que diz respeito aos planos de carreira, em sua maioria, os PMEs indicaram a existência dos mesmos, sendo que os textos assinalam a necessária revisão e/ou atualização desses documentos. Por sua vez, as metas e/ou estratégias previstas no PME de Cosmópolis (2017) silenciaram-se em relação à temática;entretanto, na seção denominada de “Diagnóstico”, encontra-se a seguinte afirmação: “a reivindicação e o pedido mais frequente e indispensável dos professores é a reformulação e a adequação do Estatuto e do Plano de Carreira do Magistério Público Municipal” (COSMÓPOLIS, 2017), o que indica a existência do documento, ainda que defasado em relação às condições de trabalho dos profissionais do magistério municipal.

Por outro lado, os PMEs de Nova Odessa (2015) e Paulínia (2015) sinalizaram a inexistência desse documento de valorização dos profissionais da educação ao indicarem em seus textos a necessidade de “assegurar, no prazo de 1 ano, a existência de Plano de Carreira para os profissionais da Educação Básica da Rede Municipal, tomando como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do artigo 206 da Constituição Federal” (NOVA ODESSA, 2015), bem como a de “elaborar e aprovar, até dois anos a partir da aprovação deste Plano, o Estatuto do Magistério e o respectivo Plano de Carreiras, Cargos e Salários dos Profissionais da Educação, com a participação efetiva do funcionalismo” (PAULÍNIA, 2015).

Em relação à remuneração do magistério enquanto mecanismo de valorização profissional, os PMEs (2015-2025) analisados, em sua maioria, previram metas e/ou estratégias para a consecução deste objetivo, à exceção de Americana (2015), Engenheiro Coelho (2015) e Valinhos (2015), que não fizeram referência ao assunto.

Cabe ressaltar que a aprovação da Lei n. 11.738/2008 obrigou os estados e os municípios a assumirem um piso salarial profissional, calculado nacionalmente,

para os docentes da educação básica, levando os entes subnacionais a elaborarem políticas educacionais a fim de garantir não apenas o valor mínimo salarial aos seus professores mas também a adequação da jornada de trabalho de modo que 1/3 (um terço) do tempo da carga horária fosse destinado ao planejamento e estudo.

Campinas (2015) foi o único município que abordou a questão da carga horária ao estabelecer a necessidade de “implementar o 1/3 da jornada da lei do piso para os profissionais do quadro do magistério”. O silêncio dos demais entes subnacionais pode ser traduzido a partir de duas inferências: primeira, a Lei do Piso e, consequentemente, a adequação da jornada docente já foi implementada nas localidades analisadas; segunda, a adequação da jornada encontra-se em discussão no âmbito municipal, haja vista que a regulamentação de tal medida impacta tanto a folha salarial quanto os limites de contratação de pessoal docente. O silêncio detectado denota, ainda, o quanto a temática da valorização do professor se fez polêmica nos PMEs (2015-2025) analisados.

Metas e/ou estratégias voltadas para a promoção, prevenção e atendimento à saúde e à integridade física, mental e emocional dos profissionais da educação foram previstas nos PMEs de Americana (2015), Campinas (2015), Cosmópolis (2017), Indaiatuba (2015), Itatiba (2015), Nova Odessa (2015) e Valinhos (2015). Com o processo de intensificação do trabalho (ASSUNÇÃO; OLIVEIRA, 2009) vivido, não só pelos docentes mas também pelos demais profissionais da educação, o investimento em metas e/ou estratégias visando minimizar os riscos à saúde desses trabalhadores constitui em medida necessária e urgente, a fim de que se possa garantir o direito do aluno à sua formação integral.