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CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO INTEGRAL COMO POLÍTICA PÚBLICA

3.2 Direito à educação integral nas leis orgânicas dos municípios da RMC

3.2.1.3 Plano Municipal de Educação

No âmbito federal, o Plano Nacional de Educação foi previsto no Artigo 214 da CF de 1988, nos seguintes termos:

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a:

I - erradicação do analfabetismo;

II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho;

V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 1988).

Embora a Lei Maior não tenha previsto a elaboração de planos municipais de educação, a Carta Constitucional paulista, aprovada em 5 de outubro de 1989, induziu a elaboração desses ao assinalar, em seu Artigo 241, que os diagnósticos e necessidades constantes nos planos municipais deveriam ser considerados pelo poder público quando da elaboração do Plano Estadual de Educação.

Nos termos previstos pela Constituição Estadual, 14 (quatorze) municípios da RMC previram, em suas LOs, a elaboração de um plano relativo à educação, ainda que usando diferentes terminologias para referir-se ao mesmo. De outra maneira, as LOs de Americana, Campinas, Cosmópolis, Indaiatuba, Morungaba e Paulínia silenciaram em relação ao assunto.

Santo Antônio de Posse (Artigo 45) previu lei complementar relativa ao Plano Diretor de Educação. No entanto, não foram encontradas na LO deste município outras referências relativas ao assunto, o que nos impede de concluir se a expressão utilizada pelo legislador equivale ou não ao PME.

Artur Nogueira (Artigo 228) previu a elaboração do PME na perspectiva de um plano de governo, uma vez que o caput do referido Artigo vincula a elaboração do documento ao início de cada administração ocupante do Executivo municipal, assim, “no início de cada gestão, o Poder Executivo enviará lei à Câmara Municipal, estabelecendo o Plano Municipal de Educação para o respectivo mandato, visando o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis” (ARTUR NOGUEIRA, 1990).

Engenheiro Coelho (Artigo 142), assim como registrado na CF de 1988, transfere para legislação complementar a incumbência de estabelecer o PME. Da mesma forma, a LO estabelece como objetivos do PME aqueles relacionados nos Incisos de I a V do Artigo 214 da Lei Maior.

Holambra (Artigo 216) estabelece que o Plano Municipal de Educação será "elaborado pelos Conselhos Municipais ligados diretamente à educação em consonância com o Plano Plurianual de Educação”. Por sua vez, conforme previsto no parágrafo 2º do Artigo 221, o Plano Plurianual de Educação “deverá estar concluído até 30 (trinta) de junho do primeiro ano de posse do novo Prefeito e conterá programa abrangendo inclusive o primeiro ano da legislatura seguinte”.

Além dos dois planos citados, ou seja, o Plano Municipal de Educação e o Plano Plurianual de Educação, a LO de Holambra determina, ainda, a elaboração do Plano Municipal Anual de Educação (Artigo 217), o qual “deverá conter estudos sobre as características sociais, econômicas, culturais e educacionais e apontar soluções até o dia 30 (trinta) de agosto de cada ano” (HOLAMBRA, 1993).

A nosso ver, ao estabelecer três diferentes planos para a educação municipal, Holambra imputa, ao poder público, a responsabilidade pela articulação das ações previstas em cada um dos diferentes documentos de planejamento, pois, de outra forma, corre-se o risco de serem propostos objetivos e metas de alcance diversos e inatingíveis.

Redação semelhante foi observada na LO de Jaguariúna na qual foram previstas a elaboração do Plano Municipal de Educação (Artigo 226) e também ado Plano Municipal Plurianual de Educação (Artigo 231). No entanto, a respectiva LO não contém artigos especificando cada um desses instrumentos do planejamento municipal, o que nos permite inferir que o legislador, embora tenha usado nomenclaturas distintas, pode ter-se referido a um único documento.

O Plano Municipal de Educação Plurianual foi previsto, ainda, na LO de Pedreira (Artigo 168), o qual “deverá ser elaborado em conjunto ou de comum acordo com a rede escolar mantida pelo Estado”. A mesma orientação relacionada à elaboração conjunta do Plano pode ser encontrada na LO de Nova Odessa (Artigo 201), no entanto, na Lei deste município, observa-se uma inversão na utilização do adjetivo plurianual que, diferentemente do observado na LO de Pedreira, refere-se à educação e não ao plano. Assim, tem-se na LO de Nova Odessa o Plano Municipal de Educação Plurianual.

Santa Bárbara (Artigo 233) inova em relação às demais LOs ao criar a Comissão de Educação do Município a qual possui, dentre outras atribuições, “elaborar e manter atualizado o plano Municipal de Educação”. No entanto, a LO não especifica a constituição da referida Comissão, limitando-se, apenas, a delimitar o número de seus membros, nos seguintes termos: “A composição da Comissão de Educação do Município não será inferior a sete, nem excederá a vinte e um membros efetivos” (SANTA BÁRBARA, 1990).

Sumaré (Artigo 223) estabelece como atribuição do Conselho Municipal de Educação “elaborar e manter atualizado o Plano Municipal de Educação”, no entanto, não estabelece de quem é a competência para a elaboração do plano plurianual de educação, previsto no Artigo 327. Observa-se que, assim como verificado nas LOs de Holambra, Jaguariúna, Pedreira e Nova Odessa, na LO deste município há referência ao caráter plurianual do plano de educação, o qual adquire características próprias e que remetem às políticas de governo e não de Estado, conforme anteriormente assinalado.

Valinhos (Artigo 243) e Vinhedo (Artigo 175) preveem que o Plano Municipal de Educação deve conter um diagnóstico sobre as características sociais, econômicas, culturais e educacionais do Município, além de soluções a curto, médio e longo prazo. De outra maneira, esses municípios divergem em relação às possíveis alterações do plano aprovado. Enquanto Valinhos admite a possibilidade de alteração somente mediante parecer favorável do Conselho Municipal de Educação e da Secretaria da Educação, Vinhedo permite alterações advindas por meio de lei de iniciativa do poder executivo.

A análise realizada possibilita-nos afirmar que, em linhas gerais, as LOs dos municípios da RMC previram a criação do sistema municipal de ensino bem como a elaboração de um plano para a educação municipal, ainda que, em alguns

casos, tenha prevalecido a perspectiva de um plano de governo, limitado e restrito a um determinado mandato executivo. Considerando tal previsão, a seção seguinte dedica-se à análise da relação entre o sistema próprio e o planejamento da educação municipal.

3.3 Sistemas de ensino e planos municipais de educação: uma articulação