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CAPÍTULO IV O DIREITO À EDUCAÇÃO INTEGRAL NOS PLANOS DE

4.2 Os Planos Municipais de Educação (2015-2025) e o direito à educação

4.2.2 Acessibilidade

4.2.2.3 Programas de atendimento aos alunos e às famílias

Nesta temática foram agrupadas 41 (quarenta e uma) metas e/ou estratégias relativas aos programas de atendimento aos alunos e às suas famílias, desenvolvidos em parceria com outras instâncias do poder público ou restritos à área da educação. Nos planos de Santo Antônio de Posse e Valinhos não foram encontradas referências a essa temática, sendo que esta ausência pode dificultar a garantia do direito à educação integral nesses municípios.

No que diz respeito ao atendimento às famílias, foram previstas metas e/ou estratégias para serem executadas em articulação com outras áreas do setor público, tais como, saúde, assistência social e relações do trabalho, voltando-se, sobretudo, às famílias que possuem filhos matriculados na educação infantil, tendo

20 Para Silva, Yazbek e Giovani (2004), os programas de transferência de renda caracterizam-se por executarem transferências monetárias às famílias ou indivíduos, associadas às exigências de contrapartida no campo da educação, da saúde e do trabalho.

como foco “o desenvolvimento integral das crianças até cinco anos de idade” (INDAIATUBA, 2015).

Em relação ao atendimento específico aos alunos, os Planos municipais não foram muito além daquilo que estabelece a Lei Maior. Assim, foi possível identificar, em 06 (seis) documentos, metas e/ou estratégias prevendo o atendimento aos alunos por meio de programas suplementares, conforme estabelece o inciso VII do Artigo 208 da CF de 1988: “o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] VII – o atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde” (BRASIL, 1988).

Em termos constitucionais, os programas de assistência ao estudante adquirem “caráter universalizante, obrigatório, destinados e garantidos a todos aqueles que têm, igualmente, direito ao acesso à educação” (HÖFLING, 2000, p. 160), exigindo, pois, a previsão nos Planos para esse atendimento. As ausências observadas nos documentos dificultam ou mesmo impedem a garantia do direito à educação integral.

As metas e/ou estratégias prevendo programas de incentivo à leitura, à recuperação da aprendizagem, ao combate ao preconceito, à discriminação e à violência, foram pontuais, tendo sido registradas em 08 (oito) dos 15 (quinze) documentos analisados, denotando o baixo interesse do poder público em equacionar os problemas que ocorrem, cotidianamente, no interior das escolas.

4.2.3 Admissibilidade

A “admissibilidade” compreende as temáticas relacionadas à qualidade da educação, âmbito de disputa na literatura educacional. Em vista disso, nossa investigação incidiu sobre metas e/ou estratégias previstas nos PMEs (2015-2025) que fizeram, de alguma forma, referência a essa dimensão.

A Lei Maior determinou que o direito à educação compreende a igualdade de condições para o acesso e permanência (inciso I do Artigo 206) além da garantia do padrão de qualidade (inciso VII do Artigo 206). No entanto, o texto constitucional não estabelece um conceito de qualidade que seja, concomitantemente, “[...]

compreensível à população e exigível judicialmente” (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2005, p. 6), dificultando sua compreensão até mesmo entre os especialistas da área.

Diante desse impasse, consideramos para fins desse estudo, o conceito de qualidade proposto por Dourado e Oliveira (2009, p. 202) onde se lê:

em uma perspectiva polissêmica, em que a concepção de mundo, de sociedade e de educação evidencia e define os elementos para qualificar, avaliar e precisar a natureza, as propriedades e os atributos desejáveis de um processo educativo de qualidade social.

Nesta perspectiva, da análise do conteúdo dos PMEs (2015-2025), foram depreendidas três temáticas, quais sejam: a) avaliação e qualidade da educação; b) currículo e práticas pedagógicas; c) direitos e objetivos de aprendizagem, sendo estas relacionadas no Quadro 13.

Quadro 13 - Quantitativo de metas e/ou estratégias relativas à dimensão “Admissibilidade” MUNICÍPIO Avaliação e qualidade da educação Currículo e práticas pedagógicas Direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento Americana 11 10 02 Artur Nogueira 06 09 02 Campinas 14 12 04 Cosmópolis 08 11 01 Engenheiro Coelho 02 03 02 Hortolândia 26 15 -- Indaiatuba 35 23 03 Itatiba 08 10 02 Monte Mor 26 20 04 Nova Odessa 06 14 02 Paulínia 10 04 01

Santa Bárbara d’Oeste 10 10 --

Santo Antônio de Posse 07 04 --

Sumaré 16 03 03

Valinhos 03 03 --

TOTAL 188 151 26

Fonte: AUTORA, 2018.

Perfazendo um total de 365 (trezentas e sessenta e cinco) metas e/ou estratégias, as três temáticas incluídas na dimensão admissibilidade serão discutidas sequencialmente.

4.2.3.1 Avaliação e qualidade da educação

Compreendendo um total de 188 (cento e oitenta e oito) metas e/ou estratégias, a temática denominada “avaliação e qualidade da educação” foi tratada em todos os PMEs (2015-2025) analisados, ainda que com frequências distintas. Indaiatuba (2015) foi o município que planejou o maior número de metas e/ou

estratégias, 35 (trinta e cinco) no total, enquanto Engenheiro Coelho (2015) previu apenas 02 (duas).

Em sua maioria, as metas e/ou estratégias ocuparam-se da avaliação como meio de controle e de regulação da educação municipal visando obter a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem. Barroso (2005, p. 727) define a regulação enquanto o ato de regular, o qual “significa o modo como se ajusta a acção (mecânica, biológica ou social) a determinadas finalidades, traduzidas sob forma de regras e normas previamente definidas”.

Esta perspectiva pode ser confirmada nos PMEs (2015-2025) analisados, nas metas e/ou estratégias que previram a avaliação da educação municipal a partir de parâmetros definidos nacionalmente, os quais induzem os profissionais da educação a se moldarem a um padrão previamente estabelecido e considerado adequado àquela realidade, conforme trechos extraídos dos documentos:

Meta 12: sistematizar a avaliação na Educação Infantil com base em instrumentos nacionais [...] (AMERICANA, 2015);

2.2. instituir instrumentos de avaliação nacional periódicos e específicos para aferir a alfabetização das crianças” (ARTUR NOGUEIRA, 2015); Meta 14 - atender aos indicadores de qualidade e políticas de avaliação e supervisão propostos pelo Governo Federal para o funcionamento de instituições públicas municipais que prestem atendimento a alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (HORTOLÂNDIA, 2015);

Meta 7 - fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades com melhoria do fluxo escolar de modo a atingir as medias municipais para o IDEB e o SARESP (ITATIBA, 2015).

De outra maneira, alguns documentos priorizaram a avaliação numa perspectiva formativa, a qual “alimenta debates, interroga-se sobre os significados, as causalidades e os processos, trabalha com a pluralidade e a diversidade, abre possibilidades de emancipação, construção, dinamização” (DIAS SOBRINHO, 2004, p. 724), conforme excertos extraídos de diferentes planos municipais:

5.2 - Estimular as escolas a criarem os respectivos instrumentos de avaliação e monitoramento, garantindo a implementação de medidas pedagógicas para alfabetizar todos os alunos até o final do terceiro ano do ensino fundamental (CAMPINAS, 2015);

4.3 - Estabelecer um programa de discussão com os pais sobre as concepções, procedimentos de avaliação dos alunos, concebendo a avaliação como processo formativo e não classificatório (NOVA ODESSA, 2015);

17.7 - Elaborar, em parceria com os professores, instrumentos de avaliação e aferição e divulgar os resultados do padrão de qualidade social da

educação alcançados no município, para as diversas etapas da EJA, respeitando as especificidades do alunado e a diversidade local (PAULÍNIA, 2015).

Ainda que os indicadores nacionais se constituam em importantes parâmetros para que os entes subnacionais empreendam a avaliação da educação local, faz-se necessário que este processo seja objeto de ampla discussão entre os sujeitos envolvidos nos processos educativos do município.