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Argumento VI: Aborto como uma experiência biográfica

Dados 1) A experiência de médicas mulheres nos serviços de aborto legal é atravessada pela

maternidade ou pelo desejo de maternidade. 2) A experiência em serviços de aborto legal gera nos profissionais o envolvimento político com a questão da legalização da prática do aborto e da sua defesa como um direito da mulher.

Garantia Os médicos dos serviços de aborto legal são influenciados por importantes profissionais da área do direito reprodutivo na sua formação.

Em síntese, na análise das construções argumentativas sobre aborto por risco de vida da gestante, o argumento aborto é um direito da mulher teve como proposição a

assertiva da escolha pelo aborto ou pela manutenção da gestação pela gestante. Foram usados como dados as seguintes informações: os ginecologistas começam a dar importância à posição da gestante quanto a sua escolha reprodutiva; diálogos fictícios, criados para reproduzir durante a entrevista a relação médico-paciente e; os conceitos analíticos de autonomia e heteronomia. Como garantia, foram usadas as premissas: o acesso à informação é o principal elemento de assertividade na decisão pelo aborto ou pela manutenção da gestação e; a consideração da dimensão social do risco à saúde da gestante. Como apoio, sustentou-se que impor à gestante a opinião médica sobre a manutenção da gestação ou sua interrupção, invariavelmente, acarreta maiores riscos para a mulher, principalmente se ela for menor de idade e incapaz, legalmente, de decidir com autonomia.

O argumento aborto não é crime teve como proposição a afirmativa de que a

legislação sobre o aborto voluntário é passível de interpretações subjetivas. Os dados utilizados foram: os debates entre a área médica e a área jurídica acerca da legalidade do aborto por risco de vida da gestante atestam a amplitude de interpretações da letra da lei sobre o tema; a prática médica de avaliação do risco com indicação terapêutica de aborto faz fronteira com a prática jurídica e; a anencefalia atenderia os critérios médicos para caracterização do risco materno, entretanto, do ponto de vista jurídico quem corre risco durante uma gestação de anencéfalo é o feto e não a gestante. Como garantia, apresentou- se a tese de que não se pode dissociar risco materno de risco fetal e o apoio sustentou-se na assertiva de que os médicos precisam informar aos profissionais da área jurídica os riscos e os quadros clínicos das mulheres que recorrem ao aborto.

Na construção argumentativa aborto é um procedimento clínico, a proposição central

versou sobre a consideração do aborto como um procedimento médico que requer uma série de protocolos que devem ser seguidos para assegurar a saúde da mulher e a ética do médico que o realiza. Foram usados como dados a defesa de que: a indicação da interrupção precisa ser corroborada por médicos especialistas; a antecipação terapêutica do parto e aborto terapêutico são procedimentos diferentes e; na indicação terapêutica do aborto outros profissionais não-médicos são acionados para acompanhar a gestante. As garantias foram apresentadas segundo as seguintes afirmativas: a indicação terapêutica do aborto não é uma decisão de um único médico, o trabalho em equipe é fundamental na busca pela saúde e bem-estar da gestante; relatos sobre a relação médico-paciente no

processo de comunicação de risco e indicação do aborto atestam a legitimidade do argumento do aborto como um procedimento clínico e; o tratamento médico do aborto como um procedimento é diferente quando se trata do serviço particular. As garantias foram sustentadas pelos seguintes apoios: a indicação terapêutica do aborto é realizada ao longo de um processo que envolve a construção coletiva da avaliação do quadro clínico da gestante e; o termo de consentimento é um documento que assegura a proteção ética do médico e da própria gestante quanto ao risco que se corre.

Na análise do argumento aborto é o desfecho da gestação de risco, a proposição

central afirmava que complicações na gestação e no estado de saúde da gestante podem levar ao aborto induzido, por risco de vida da gestante. Foram usados como dados as seguintes assertivas: a precisão na avaliação do risco é importante para a assistência à saúde da mulher grávida que vai abortar; o diagnóstico precoce de risco e consequente indicação terapêutica do aborto minimizam as possibilidades de complicação do quadro clínico da gestante e o procedimento pode ser feito com maior segurança; na rotina do serviço particular de assistência à gestação de risco, o aborto por risco de vida da gestante não se justifica apenas quando a gestante corre perigo; o risco ocasionado pela malformação fetal também pode resultar em aborto. A garantia fundou-se na tese de que a interrupção da gestação como decorrência do risco de vida para a gestante precisa ser um procedimento seguro, e o apoio afirmou que a gestante de risco que procura o serviço de aborto legal, geralmente, já tem em mente a possibilidade de ser submetida ao aborto.

No argumento aborto pautado pelos valores morais dos médicos, a proposição

central defendeu que a crença moral do médico acerca da legalidade do aborto nem sempre condiz com a sua prática clínica. Os dados usados foram: o parecer do diagnóstico de risco com indicação de aborto não deve transparecer a crença moral do médico sobre o procedimento e; há, na classe médica, preconceito e descriminação contra os médicos que realizam aborto voluntário. Como garantia, foi aprestada a defesa de que a prática médica vai de encontro às crenças da Igreja Católica, o que gera disputas sobre o estatuto de verdade defendido por cada uma dessas instituições. Os apoios se sustentaram nas premissas: a concepção de vida e do início da vida não é passível de ser corroborada por estudos científicos e, portanto, é plural e; tratar o caso de gestação de risco com indicação de aborto como uma experiência técnica é uma forma de conseguir neutralizar a interferência da crença moral sobre a realização do aborto.

Na análise do argumento aborto como uma experiência biográfica, a proposição

central versou sobre afirmativa de que a experiência pessoal, relacionada com a vivência do aborto por alguém próximo ao médico, ou profissional, relacionada com o cotidiano dos serviços que propiciam o contato com mulheres que desejam abortar, sensibilizam os

médicos para a compreensão do aborto como uma escolha autônoma da gestante. Foram usados os seguintes dados: a experiência de médicas mulheres nos serviços de aborto legal é atravessada pela maternidade ou pelo desejo de maternidade e; a experiência em serviços de aborto legal gera nos profissionais o envolvimento político com a questão da legalização da prática do aborto e da sua defesa como um direito da mulher. Como garantia, afirmou-se que os médicos dos serviços de aborto legal são influenciados por importantes profissionais da área do direito reprodutivo na sua formação.

Capítulo 7