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Argumento VI: O risco gestacional pautado no exercício do poder médico

Garantias 1) O Código de ética profissional do médico abona o exercício do poder

Dado A cientificidade é uma garantia de que o poder médico vai ser exercido sem interferências da moralidade médica individual.

Garantias 1) O Código de ética profissional do médico abona o exercício do poder disciplinar médico.

2) A voz e a decisão da gestante podem ser trazidas para a avaliação do risco oferecendo a ela informações sobre este risco.

3) Nomeação da atuação médica como

sugestão na indicação terapêutica pela

Apoio A opinião pessoal do médico que avalia o risco sobre a legalidade ou moralidade do aborto deve ser rechaçada a fim de preservar a autonomia da gestante e garantir a aceitabilidade da avaliação.

Resumindo, na análise das construções argumentativas sobre risco na gestação, o argumento sobre risco epidemiológico na gestação teve como proposição central a

formulação de que o conceito de risco indica a relação entre fenômenos individuais e coletivos, expresso na linguagem matemática das probabilidades. Os dados para sustentação de tal proposição baseou-se na utilização da literatura sobre mortalidade materna e nos Manuais do Ministério da Saúde sobre assistência pré-natal e aborto. Teve como garantia a assertiva de que os cálculos probabilísticos devem ser considerados relacionando às características individuais e particulares de cada gestante e, como apoio, a defesa de que a relação entre a taxa de mortalidade materna e a patologia é mais assertiva no cálculo do risco do que o percentual de risco apresentado pelo quadro clínico da gestante.

As premissas sobre o risco clínico na gestação associado à patologia da gestante

teve como proposição central a consideração da avaliação do risco baseada no fato de as gestantes serem portadoras de doenças. Os dados utilizados fundamentaram-se em relatos de casos clínicos que atestam o risco decorrente da patologia da gestante e em relatos de casos fictícios. A garantia foi apresentada como um conjunto de razões, autorizações, procedimentos e regras usadas para afirmar a legitimidades dos dados (relatos clínicos) e, como apoio, foi usado o argumento que sugere a análise da história de vida, dos aspectos sociais, culturais e econômicos de cada gestante, de modo particular, para explicar o modo de diagnosticar risco na clínica obstétrica.

O argumento a respeito do risco clínico na gestação associado à patologia do feto

teve como proposição central a afirmativa de que doenças manifestadas pelo feto não indicam, de forma direta, risco para a gestante. Os dados foram usados de modo a sustentar informações sobre: pesquisas científicas que atestam que as gestações de fetos com malformação, como a anencefalia, trazem risco para a gestante; casos clínicos que evidenciam o drama vivido por mulheres com gestação de fetos com alguma patologia grave; a evolução clínica do quadro de gestação de fetos anencefálicos como sendo prototípica dos efeitos nocivos à saúde e à vida da gestante em função da patologia do feto; a história das autorizações judiciais para aborto de fetos anencefálicos e; a legislação sobre o aborto voluntário. Como garantia, defendeu-se que a morte inevitável do feto anencefálico

justifica o aborto por risco de vida da gestante e o apoio fundamentou-se no fato de que o feto anencefálico inevitavelmente vai morrer, restando-se salvaguardar a vida e a saúde da gestante.

Na análise do argumento o risco gestacional pautado pelos valores morais dos

médicos, a premissa central defendeu a assertiva de que a análise do risco é determinada

pelas biografias pessoais e profissionais de cada médico. Os dados usados como sustentação foram: relatos de casos clínicos que atestam a divergência entre médicos na avaliação do risco com indicação de interrupção da gestação e as crenças religiosas e; a incapacidade de separar Igreja e Estado como características da autonomia da prática médica na avaliação dos riscos. As garantias apresentadas diziam respeito às seguintes informações: ser favorável ao livre direito de optar pelo aborto é uma postura médica que garante a assertividade na avaliação do risco e na interrupção da gestação e; a decisão da gestante sobrepuja as opiniões e decisões médicas que a contrariem. Os apoios consideraram que: a ciência é pouco eficaz na precisão da avaliação de risco, por isso as crenças religiosas e morais ganham espaço na decisão pela interrupção da gestação como decorrência do risco e; os dados científicos e probabilísticos (estatísticas), mesmo não sendo absolutamente assertivos, devem ser usados como fonte de informação para auxiliar as gestantes na decisão de manter ou interromper a gestação.

As premissas sobre o risco psicológico teve como proposição a consideração de que

as desordens emocionais e os sofrimentos psíquicos decorrentes de uma gestação com diagnóstico de risco constituem-se, eles mesmos, em fatores de risco. Os dados utilizados foram: o risco psicológico é potencializado pelo risco físico; relatos de casos internacionais que narram histórias de gestante em sofrimento emocional; relatos de casos clínicos que atestam que o sofrimento gerado pela não consideração, por parte dos médicos, da opinião da gestante na avaliação do seu próprio risco também é um agravante para o estado emocional dela e; a relação fantasiosa com o feto ou o vínculo imagético com o feto doente ou malformado. A garantia fundou-se na premissa de que os exames clínicos, sobretudo o ultra-som, são instrumentos da prática obstétrica importantes na minimização dos riscos emocionais. Como apoio, defendeu-se a tese de que o risco fetal tem conseqüências importantes na dinâmica emocional da gestante e pode ser interpretado como risco de vida.

No argumento sobre o risco gestacional pautado no exercício do poder disciplinar

médico a proposição fundou-se na premissa de que a definição e a avaliação do risco na

gestação são determinadas pelo exercício do poder disciplinar médico, usando como dado o fato de a cientificidade ser uma garantia de que o poder médico vai ser exercido sem interferências da moral médica individual. Como garantia, foram apresentados: o Código de ética profissional do médico; a voz e a decisão da gestante que podem ser trazidas para a

avaliação do risco oferecendo a ela informações sobre esse risco e; a forma de nomear a atuação médica como sugestão na indicação terapêutica pela interrupção ou manutenção

da gestação. Como apoio, foi apresentado a tese de que a opinião pessoal do médico que avalia o risco sobre a legalidade ou moralidade do aborto deve ser rechaçada a fim de preservar a autonomia da gestante e garantir a aceitabilidade da avaliação.

Capítulo 6

Construções argumentativas sobre aborto por risco de vida da gestante