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Harmonização na produção do Relatório de Estado do Ordenamento do Território no âmbito local: identificação de

CAPÍTULO II: AVALIAÇÃO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO EM PORTUGAL

AUSÊNCIA DE UMA BASE METODOLÓGICA

6.5. Harmonização na produção do Relatório de Estado do Ordenamento do Território no âmbito local: identificação de

elementos comuns

O alcance de uma base harmonizada de produção do REOT local reside, sobretudo, na definição de um conjunto de elementos comuns a verificar em termos de metodologia, estrutura e conteúdos. Neste sentido, torna-se essencial revisitar as experiências de REOT local existentes, numa perspetiva de identificar quais os elementos e procedimentos que se apresentaram transversais aos vários relatórios e passiveis de conciliar, agregar ou relacionar.

A sintetização destes elementos e procedimentos comuns ao nível da produção do REOT local é uma matéria que não encontrou grande espaço na academia e na empiria, uma vez que estes relatórios são por norma produzidos e considerados isoladamente e nunca numa perspetiva de conjunto (Pereira, 2017). Torna-se assim pertinente a construção de uma Matriz Analítica (MA)24 (ver anexo 11) que sintetiza procedimentos e elementos comuns aos REOT locais (ver anexo 12), elaborando um retrato da capacidade de produção atual e contribuindo para a criação de uma base de produção harmonizada no futuro (Castelo Branco, 2018; Catita et al., 2011). Neste sentido, a investigação selecionou um conjunto de REOT locais, ou equivalentes, para analisar com maior detalhe (Aguiar da Beira: Alcanena; Alfandega da Fé, Almada; Alter do chão; Amadora; Covilhã; Lisboa; Lourinhã; Moita; Oeiras; Porto; Setúbal; Sertã25) e, numa fase seguinte, selecionou 5 destes relatórios para a produção da MA.

Uma vez que a realidade local é extremamente heterogénea, em termos de capacidade de produção e especificidades dos relatórios produzidos, a seleção procurou integrar municípios de diversas dimensões e regiões, não se cingindo

24 Confrontar com artigo científico “Dinâmicas Territoriais: experiências de monitorização e avaliação ao nível local em Portugal” in TRIGUEIROS, C. (Coord.) (2017). A Língua que Habitamos. IV Seminário Internacional – AEAULP, Abril de 2017 em Belo Horizonte e Inhotim. (AMADO E CAVACO, 2017)

25 Estes casos de estudo foram selecionados pela existência de experiências de avaliação cujo relatório de avaliação (REOT ou equivalente) se encontrasse público e de acesso livre.

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apenas aos municípios inseridos nas áreas metropolitanas ou aos municípios que dispõem atualmente, dos serviços de monitorização mais desenvolvidos.

Foram assim selecionados 5 REOT, ou equivalentes, das autarquias de Alcanena, Alfandega da Fé, Almada, Alter do chão e Amadora para a criação de uma MA que conjuga a definição de indicadores, fontes de informação e datas de referência para os referidos relatórios26.

A MA organiza os vários indicadores presentes relatórios analisados e identifica para cada um o seguinte:

• Categoria atribuída no REOT (ou equivalente); • Se trabalha com informação de base territorial;

• Se é apresentado no REOT (ou equivalente) numa base territorial e espacializado;

• Unidade/s com que é trabalhado; • Detalhe e abrangência da informação; • Âmbito da recolha;

• Intervalo/periodicidade de recolha; • Fonte/s utilizadas;

• Data da fonte (divulgação);

• Data dos dados utilizados (ano de referência);

• Municípios que utilizam o indicador nos seus REOT (ou equivalente).

A MA revela que os relatórios selecionados, espelham o panorama atual ao nível das práticas de acompanhamento do OT no âmbito do SGTP. São relatórios diversificados, na sua estrutura e organização, e definem indicadores diferenciados para analisar as várias dinâmicas de desenvolvimento territorial.

Estes indicadores, apresentam-se com fontes e datas de referência definidas a nível municipal, que variam de município para município, e que na sua maioria se concentram nas datas de divulgação de estudos alargados, desenvolvidos a nível nacional, e.g. os censos do INE, e a nível regional, e.g., o Inquérito à mobilidade na AML ou o Anuário Estatístico da Região de Lisboa. A forte dependência externa, sobretudo na informação produzida pelo INE leva a que todos os REOT recorram a indicadores demográficos que se concentram nas datas de divulgação destes estudos alargados, neste caos os censos (2001, 2011).

26 Foram selecionados estes 5 REOT de entre a amostragem inicial por, no seu conjunto, representarem uma amostragem da diversidade existente em termos da capacidade de produção e especificidades dos relatórios produzidos.

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A MA demonstra que os indicadores utilizados não são transversais aos vários relatórios, apresentando-se com fontes distintas e timings (periocidades) de recolha de dados e informações díspares, o que dificulta a identificação de indicadores comuns entre os relatórios. Por exemplo, os indicadores constantes nestes 5 casos de estudo, revelam que relativamente à periodicidade de recolha, 31% (90 uni.) são de recolha única, sendo que os restantes 69% (201 indicadores) correspondem a dois ou mais momentos de recolha.

A análise indicia ainda que alguns destes indicadores, embora distintos, procuram espelhar as mesmas dinâmicas. Ou seja, são indicadores semelhantes que, por vezes, se revelam de agregação impossível. Na maioria dos casos analisados, a informação existe, apenas não permite a agregação para uma leitura de conjunto. Estes indicadores poderiam facilmente ser estabelecidos de forma harmonizada, com a disponibilização de um suporte metodológico às autarquias para a recolha e tratamento deste tipo de informação, uma vez que grande parte da incapacidade de agregação reside em incompatibilidades resultantes do processo de produção, e.g., na recolha, tratamento e disponibilização dos dados.

A MA permite uma análise de conjunto ao nível dos indicadores utilizados pelos 5 casos de estudo e ilustra, de forma clara, que o panorama nacional se pauta pela ausência de indicadores transversais aos vários relatórios, comprometendo uma leitura agregada a escalas superiores e a comparação entre estes territórios. Apresenta também, e de forma igualmente clara, que grande parte destes indicadores não apresentam uma base territorial ou não são apresentados de forma espacializada, o que prejudica leituras individualizadas, de conjunto, ou leituras sectoriais assentes na decomposição do território municipal.

De entre estes 5 REOT identificaram-se 291 indicadores de OT distintos, dos quais 67% (194 indicadores são de base territorial. Destes indicadores de base territorial apenas 30% (58 indicadores) são espacializados no seu suporte de apresentação, o que significa 20% do total de 291 indicadores (ver figura 14).

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Figura 14: Pontos-chave da análise dos 5 REOT Locais. Fonte: Elaboração do autor.

É possível verificar que nas autarquias em que se realiza a monitorização com recurso à produção de indicadores espacializados, estes, mesmo que construídos sem uma perspetiva de agregação através da junção com indicadores construídos por outros municípios, permitem o cruzamento, mesmo que limitado, entre indicadores, e a formulação de leituras comparativas entre territórios. Isto é, mesmo com indicadores construídos de forma individualizada, a espacialização do indicador aumenta a oportunidade de utilidade futura em análises cruzadas.

Mesmo na leitura individualizada, a espacialização dos indicadores vai ao encontro da territorialização do acompanhamento das PP, agilizando a perceção do processo de acompanhamento, tornando mais imediata a associação das alterações verificadas ao território e às suas políticas e, não menos importante, facilitando a interpretação informações produzidas a monitorização.

Considera-se, portanto, que a territorialização dos dados e a construção de indicadores espacializados são fatores-chave para aumentar, de forma muito significativa, a utilidade e contributo das ações de monitorização e avaliação.

A MA revela ainda que outro dos aspetos cruciais, possível de ser associado ao sucesso da monitorização do OT nestes 5 casos de estudo, é a escala e detalhe com que são produzidos os indicadores. O ideal, seria que todos os municípios fossem capazes de dispor de uma base de dados desagregados, apurada à subsecção estatística (e em certos aspetos ao nível da parcela urbana ou rústica), a

• 291indicadores de OT distintos

• 67%(194 indicadores) são de base territorial • Apenas 20% (58 indicadores) são espacializados

• 17% (48 indicadores) são apurados ao nível da freguesia

• 1% (4 indicadores) ao nível do bairro • Detalhe predominante é o âmbito municipal

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