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PERMANÊNCIA

O campus Santa Rosa, pertencente ao Instituto Fe- deral Farroupilha, conta atualmente com a oferta presencial de 3 cursos técnicos integrados – uma deles na modalidade PROEJA –, 6 cursos técnicos na forma subsequente, 2 cursos de Licenciatura, 2 de bacharelado e 2 de pós-graduação es- pecialização Lato Sensu.

O trabalho da comissão interna do Programa de Per- manência e Êxito (PPE) iniciou no ano de 2015. A primeira ação desenvolvida foi o estudo dos dados utilizados pelo TCU para elaboração do Acórdão, ou seja, os índices de conclusão, evasão e retenção fornecidos pelo Sistema Nacional de Infor- mações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC). O objetivo central foi sua comparação com os dados dos editais de processos seletivos (Edital 150/2012 e Edital 217/2013) e da Coordenação de Registros Acadêmicos, como lista de alunos matriculados e livro das atas de formatura, a fim de demons- trar a real situação dos cursos, uma vez que o SISTEC frequen- temente apresenta inconsistências. A análise centrou-se nos anos de 2013 e 2014 e demonstrou um panorama geral dos índices da unidade, por modalidade de oferta e por curso.

Quadro 1: Taxa de Conclusão, Retenção e Evasão.

Modalidade Retenção %1. Taxa de Conclusão %2. Taxa de 3. Taxa de Evasão %

2013 2014 2013 2014 2013 2014 Técnicos Integrados 12 8,7 26,04 27,7 1,04 0,5 Técnico PROEJA 8,57 11,26 7,14 7,04 22,85 23,94 Técnicos Subsequentes 49,73 36,24 24,87 4,8 17,8 19,21 Bacharelados - - - - 8,95 7,29 Licenciaturas - 10,56 - 10,56 11,45 5,69

Fonte: dados SISTEC, adaptado do relatório do IFFar enviado ao TCU.

tados, das causas de evasão e, a partir daí a previsão de metas e estratégias para combatê-la” (Ferreira, 2013, p.22637).

Conforme Ferreira,

A evasão na educação profissional técnica de nível médio na Rede Federal de Educação Pro- fissional e Tecnológica é uma problemática que precisa ser focada nas políticas educacionais e nas ações educativas no interior da instituição escolar, pelos investimentos que são dispen- sados para essa oferta, pois o seu papel social está ligado à inclusão social/educacional dos estudantes que ali estão matriculados na maio- ria das vezes oriundos das camadas populares. (Ferreira, 2013, p.22635)

Neste contexto, o Instituto Federal Farroupilha se destacou, pois possuía o seu próprio programa institucio- nal desde 2014, o qual optou por denominar de Programa de Permanência e Êxito dos Estudantes (PPE). Organizado de forma institucional, conta com uma comissão central e comissões internas nos 12 campi que compõem a institui- ção. O presente artigo, neste sentido, objetiva apresentar o trabalho desenvolvido pelo Programa de Permanência e Êxi- to no IFFar – campus Santa Rosa. Em um primeiro momento, discorrer-se-á sobre os índices e possíveis causas da evasão e retenção, bem como sobre algumas ações pensadas para permanência e êxito dos estudantes. Após a análise destes dados, pretende-se propor uma estratégia de trabalho que vise, além do reconhecimento do problema e a proposição de soluções, ser um viés da construção de uma educação mais democrática e voltada à cidadania.

tória. Soma-se a isto, em especial no PROEJA, o grande núme- ro de alunos que está há um longo tempo sem estudar e que encontra dificuldades para a adaptação ao ritmo de estudos.

No caso do Subsequente, muitos dos que consegui- ram concluir as disciplinas no tempo previsto não realiza- ram o estágio, componente curricular obrigatório, ou ainda – na maioria dos casos –, realizaram-no, mas não cumpriram a etapa da escrita do relatório, por não estarem habituados aos moldes acadêmicos de apresentação. Considerando esta questão, foram reavaliadas as formas de entrega dos relatórios do estágio, adaptando-os para o público em questão e aproxi- mando-o mais da realidade do trabalho dos cursos técnicos.

Outro fator de evasão nos cursos supracitados é a falta de identificação com o curso. Muitos dos alunos desis- tem antes de concluírem sua trajetória acadêmica por não se identificarem com a área profissional, tendo construído uma ideia da atuação do técnico da área escolhida muito diferen- te da realidade encontrada. Neste sentido, passou-se a consi- derar uma melhor divulgação da instituição e de seus cursos junto à comunidade, focando no perfil do egresso, as atribui- ções, abrangências e limitações da atuação técnica. No mes- mo sentido, proporcionaram-se às turmas encontros, pales- tras e conversas com pessoas que já atuam na área, fazendo com que esclareçam suas dúvidas e preocupações, buscando a apropriação e a identificação com o campo de estudos.

No caso da retenção, também é preciso levar em conta estas várias particularidades. Entretanto, consideran- do o tempo longe da escola, a rotina pesada que passa a vigo- rar quando voltam aos estudos, o grande número de alunos que precisam sustentar suas famílias – precisando faltar au- las para trabalhar –, os gastos com transporte para chegar ao campus e os horários de deslocamento que ocasionam atra- Os dados fornecidos pelo SISTEC, cruzados com as

informações internas do campus Santa Rosa, demonstraram que os cursos Técnicos Subsequentes e o curso Técnico na modalidade PROEJA foram os tipos de ofertas com as mais altas taxas de evasão e as menores taxas de conclusão. A fim de entender este panorama, seguiu-se então à análise quali- tativa das possíveis causas de evasão e retenção no período. As informações partiram essencialmente das coordenações de curso, dos docentes e de formulários sobre as causas apli- cados aos alunos evadidos no ano de 2015.

A partir deste estudo, percebeu-se que a maior causa da evasão nestas ofertas está relacionada ao fato de os alunos nos cursos técnicos subsequentes e PROEJA serem um pú- blico de trabalhadores. Em sua maioria, são jovens e adultos inseridos no mundo do trabalho e que buscam qualificação profissional para obter melhores empregos e/ou salários. Como a maioria depende do trabalho para o seu sustento e o de sua família, entretanto, a formação profissional fica em segundo plano.

De acordo com Sansil e Falcão,

o fenômeno da evasão está relacionado especial- mente a três categorias: a) fatores referentes às características individuais do estudante; b) fato- res internos às instituições; e c) fatores externos às instituições. O hiato existente entre a forma- ção escolar/profissional e o mundo do trabalho prejudica o preparo do estudante para atuar de forma mais efetiva no mundo produtivo, e, por vezes, contribui para o aumento dos percentuais de evasão. (Sansil; Falcão, 2014, p.70)

Esta realidade é ainda mais presente ao se tratar de cursos técnicos. Os alunos, por não conseguirem conciliar emprego e estudo, acabam tendo seu rendimento no curso afetado, repetindo algum semestre ou ano ao longo da traje-

Juntamente às monitorias, vários projetos de ensino vêm sendo elaborados no campus. Estes ocorrem de forma mais episódica, atendendo a turmas e áreas do ensino de- terminados conforme o projeto. São uma forma de atender a pontos específicos do currículo, desenvolvendo habilida- des e conhecimentos de forma diferenciada. Os projetos de pesquisa e extensão, com a obrigatoriedade de envolverem alunos, também têm sido ótimas ferramentas para ampliar o êxito dos alunos e, consequentemente, sua permanência, tanto por oportunizarem conhecimentos extras, quanto pela possibilidade de bolsas remuneradas.

Considerando ser importante para o aluno a relação entre seu curso e a realidade do mundo do trabalho, algumas ações neste sentido foram priorizadas. Em todos os níveis de ensino foram realizadas viagens técnicas e de estudos e oportunizados encontros com profissionais que atuam na área, abrindo um espaço de diálogo com os alunos, onde po- dem tirar dúvidas e ter uma noção mais clara do seu curso. O objetivo geral é fazer com que estes tenham uma experiência mais prática do que constitui o trabalho na área escolhida, tendo contato com a estrutura de empresas e com profissio- nais capacitados.

O reconhecimento e valorização dos alunos são fun- damentais para seu reconhecimento enquanto indivíduo pertencente à instituição. Assim, estimulou-se no campus a cultura de criar exposições com os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes. Estes são apresentados nos murais dispos- tos pelos corredores, ou no Espaço Cultural. Ao mesmo tem- po em que gera uma sensação de reconhecimento, estimula aos estudantes de outras turmas, que passarão por aquela etapa em breve.

sos, a permanência dos alunos, ainda que retidos, deve ser valorizada e tratada como um ponto positivo e de sucesso. Infelizmente, nem todos os estudantes persistem após uma reprovação, ou após ficarem infrequentes e desistem do cur- so, contribuindo para a evasão.

“A evasão é um processo complexo, dinâmico e cumu- lativo de desengajamento do estudante da vida da escola. A saída do estudante da escola é apenas o estágio final desse processo” (Dore; Lüscher, 2011, p.777). Ao perceber que a luta contra a evasão deve se basear no fortalecimento das pos- sibilidades de permanência, esta fase inicial do diagnóstico realizada em 2015 levou a uma mudança do foco do Progra- ma de Permanência e Êxito no campus nos anos seguintes. A partir de 2016, centrou-se o trabalho nas ações em prol da permanência e êxito dos estudantes. Fazem-se necessárias, assim “políticas públicas com o objetivo de identificar anteci- padamente a evasão escolar, de modo a possibilitar o acom- panhamento de jovens em situação de risco e, assim, prevenir a ocorrência do problema” (Dore; Lüscher, 2011, p.777).

Nesta perspectiva, algumas atividades merecem destaque. Por exemplo, ao lado da ocorrência contínua de recuperações paralelas, tem-se a oferta de monitorias. Com horários fixos, estas ocorrem semanalmente, atendendo a qualquer estudante que necessite de reforço escolar ou quei- ra sanar dúvidas. A cada início de ano letivo é feito do levanta- mento das disciplinas em que os alunos demonstraram maior dificuldade no ano anterior e a partir disto são definidas quais monitorias serão ofertadas. Observa-se que as maiores taxas de não obtenção do êxito ocorrem na área de exatas, biológi- cas e no uso de softwares nas disciplinas técnicas, ficando as vagas de oferta com os professores destas áreas.

TEC e Coordenação de Registros Acadêmicos feita pela Dire- toria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional).

A partir desta constatação, o Instituto Federal Far- roupilha, em um trabalho coletivo, reorientou novamente o foco do Programa. O ano de 2018 marca, assim, uma nova fase no PPE, com a elaboração e aprovação por todos os cam- pi de metas a serem cumpridas institucionalmente. Dentre estas, o destaque fica por conta das Metas que propõem a sensibilização contínua da comunidade escolar e, em espe- cial, a construção coletiva das ações a serem desenvolvidas por curso e modalidade.

Realizaram-se reuniões específicas com os setores do Ensino e os docentes para pensar a realidade dos estu- dantes. Cada curso, assim, elaborou seu plano estratégico com metas e ações para a permanência e o êxito, indicando as principais causas da evasão e retenção e as ações a serem realizadas no período de 2018 a 2020. O contexto de cada curso foi levado em consideração e as proposições foram das mais diversas naturezas: desde a revisão de Projetos Peda- gógico de Curso, foco nas atividades de assistência pedagó- gica, projetos de ensino, pesquisa e extensão, passando por maior divulgação dos cursos, relação entre formação e mun- do do trabalho, integração entre a comunidade escolar, até questões como reorganização da estrutura física do campus. Espera-se que, com isto, o PPE consiga atingir um de seus objetivos: a consolidação de uma cultura institucional para a permanência e êxito.

Esta perspectiva, contudo, só irá ser realmente efe- tivada se contar com a participação de toda a comunidade escolar e, principalmente, com os protagonistas do processo educacional: os próprios estudantes. A partir desta consi- deração, propõe-se para o Programa de Permanência e Êxi- Outro ponto que se considerou central para a perma-

nência e êxito dos estudantes está ligado às suas condições físicas, pedagógicas e psicológicas, a fim de que participem das aulas e atividades de forma a aproveitar o máximo destas. Neste sentido, são realizadas diversas ações de acompanha- mento estudantil, com profissionais da saúde, psicologia, as- sistência social e pedagogia. Acredita-se que estes momen- tos também são educativos e fazem parte da formação dos alunos. O papel do Setor de Assistência Estudantil se destaca ainda na oferta de auxílios para a permanência e transporte dos alunos em vulnerabilidade social.

Todas estas ações, assim como outras não citadas, fo- ram desenvolvidas anualmente. Entretanto, ao longo destes anos de trabalho e das avaliações realizadas pela comissão de Permanência e Êxito, percebeu-se que a maior parte das atividades desenvolvidas partiram de esforços individuais, ou de setores específicos. Não havia uma organicidade nas ações, muito menos uma identidade do PPE. As ações ocor- riam, mas não por meio de uma estratégia pensada coleti- vamente. Isto não significa que não auxiliassem no controle dos índices e na melhora do rendimento/experiência educa- cional dos estudantes; no entanto, não se constituíam como uma política articulada e não contribuíam efetivamente para o fortalecimento da cultura institucional para a permanên- cia e o êxito, como era o desejado.

No caso do campus Santa Rosa, ainda, outro dado acentuou a preocupação com a efetividade do Programa de Permanência e Êxito na forma como vinha sendo conduzido. Os índices de conclusão e evasão relativos aos anos de 2016 e 2017 não demonstraram uma melhoria. Pelo contrário, no caso dos subsequentes e PROEJA, por exemplo, os dados de- monstravam uma evasão cada vez maior, chegando à casa dos 70% em alguns cursos (conforme análise dos dados SIS-

com a própria realidade da sociedade brasileira. O censo es- colar brasileiro de 2013 indica que 70% dos brasileiros com mais de 15 anos de idade não possui a formação escolar bási- ca (nível fundamental ou médio completo) e pouco mais de 8% concluem um curso superior. A evasão destes estudantes de instituições preparadas para recebê-los, com infraestru- tura, laboratórios e servidores qualificados, demonstra que o problema não é somente pedagógico, mas perpassa toda a realidade social do país e a dificuldade da efetivação dos direitos básicos; dentre eles, a educação.

Acredita-se, assim, que a própria realidade social deva ser o ponto desencadeador da ação. Conforme aponta Flávia Caimi, é utilizar a realidade social como finalidade instrumen- tal, onde esta é o ponto de partida e de chegada do ensino.

Isso ocorre na medida em que se propõe a valo- rização das experiências individuais e coletivas dos alunos e a compreensão de suas relações socioistóricas como ponto de partida da forma- ção da consciência histórica. Como finalidade desse processo de formação, propõe-se a inter- venção autônoma e responsável desses “cida- dãos em formação” na vida coletiva, na comu- nidade local e nacional. (Caimi, 2001, p.136)

Propõe-se, então, partir da vivência individual para o conhecimento e, deste, para a transformação da sociedade através da ação cidadã.

Do ponto de vista social e indivi- dual, a escola representa oportunidade fundamental para enfrentar e superar limita- ções do contexto, diante de desejos e aspira- ções dos indivíduos, permitindo-lhes construir novas, mais complexas e mais amplas pers- pectivas de inserção e de participação na vida social. Contudo, isso requer a permanência do estudante na escola. (Dore; Lüscher, p.778)

to do IFFar – campus Santa Rosa a de construção coletiva e democrática para uma identidade de permanência e êxito. Acredita-se que o direito à educação – desde o acesso até a conclusão dos estudos – precisa ser orientado no sentido do fortalecimento da cidadania e de um processo educacional empoderador e libertador.

PERSPECTIVAS DEMOCRÁTICAS PARA A

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