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Ao longo do trabalho, intuímos pistas e condições ne- cessárias para viabilizar e verificar a utilidade de um disposi- tivo provocador-reflexivo no sentido de busca direcionada à permanência na educação, a fim de tomar duas perspectivas de compromisso como conceitos problematizadores da eva- são em tensão com a permanência.

A mobilização para essa iniciativa deu-se por meio de duas inquietações: 1) as características e tipos de envol- vimentos dos estudantes e operadores do ensino com ação de permanecer e pertencer à escola configuram informações mais fieis sobre o grau de qualidade do ensino praticado do que os indices de evasão baseado no fluxo escolar; 2) as pu- blicações acadêmicas, estatísticas e jornalísticas da evasão/ fracasso escolar escolar, tendem a caraterizar-se como um objeto sociomidiático que mais serve para chamar a atenção sobre o que falta ou do que vai mal, do que à busca eficaz da permanência e êxito dos estudantes

A respeito dessas intuições seguimos duas pistas para verificar a validade da hipótese que orienta as pesquisas do grupo Nucleape: 1- o excesso de publicações sobre evasão em relação às publicações sobre permanência; e 2- o sentido da evasão transcende o fato de o estudante abandonar a es- se o ato de permanecer do estudante contivesse uma incom-

pletude no processo de alcance do êxito.

Conforme respostas dadas à enquete realizada, um segundo grupo de respostas associa o termo permanência a um direito que precisa ser garantido fora do âmbito das polí- ticas educacionais: “não é porque a lei afirma que é para fazer, que será feito, pois quem faz é quem está na ‘ponta da corda’ como diz o ditado popular” (Depoimento L.I.S., 2016). E con- clui, a partir de um exemplo pessoal quanto ao direito de defi- cientes auditivos: “[...] a LDBEN garante o acompanhamento de um intérprete de libras para os surdos, mas na prática isso não acontece, tem que entrar no ministério público ou na mí- dia para que o surdo tenha de fato esse acompanhamento”.

De forma diferente dos dois grupos de respostas, nos conteúdos das publicações que têm os termos “evasão e permanência” no título, a tendência é justificar a “prevenção ou o combate a evasão” como condição para se alcançar a permanência e êxito do aluno, como se a permanência fosse uma consequência desta prevenção ou combate.

As sínteses das observações acima são: 1- a perma- nência é insuficiente para aprender e; 2- a permanência é consequência do combate à evasão. Consideramos que tais percepções configuram uma ambiguidade e um equívoco so- bre a relação entre as duas temáticas e que, por isso, podem vir a constituir matéria-prima empírica a ser provocada pelo dispositivo construído, bem como reveladoras de sentidos e estratégias para a permanência escolar, ainda desconhecidos.

O que nos chama maior atenção é que “o combate ou a prevenção da evasão” conformam um equívoco epistemo- lógico no ambiente escolar: o objeto de pesquisa não pode semanticamente sugerir um mal, uma doença ou vícios a se- rem erradicados de dentro da escola. Ao contrário, o objeto

uma escolarização que exclui, para o anúncio de que a contrapartida começa a se desenhar nas ciências humanas e sociais, ao se promoverem reflexões profundas e continuadas sobre o que se vem fazendo em matéria de inclusão escolar, atentos às soluções cotidianas e aos inventivos modos de fazer uma escola pública e popular, acelerando processos pela proposição de deba- tes e de discussões públicas (PAIVA, 2016, p. 113).

Apoiados em Paiva (2016) e Resende (2016), acredi- tamos ser viável e útil esse processo de provocação-reflexiva porque nos leva, ainda, a intuir que a permanência seja uma agenda bem mais rica do que a evasão para catalisar adesões em torno da implementação de uma política pública. Tal in- tuição se dá por meio de uma nova pista, que pergunta: se a escolarização pública, no Brasil, não promove a inclusão nem a permanência na escola, por que consegue promover o cons- tante desejo de reiterado ingresso ou retorno a essa escola?

Como resultado final, pelo lado conceitual, concluí- mos que é plausível e frutífero propor uma “virada episte- mologica”, pautada num amplo programa de pesquisa nos Institutos Federais, focada na permanência e no êxito do es- tudante e do professor. Pelo lado metodológico, concluímos que os estudos sobre a evasão devam evoluir no sentido de contribuir para o esclarecimento de categorizaçoes inade- quadas ou ambíguas, perguntando, por exemplo: porque um estudante que migra para um outro curso, dentro da mesma instituição, continua a ser “contabilizado” como evadido? Porque esse erro lógico continua a acontecer? Quem o de- fende? Por quê?

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à equipe da Rimepe pelos anos de es- forços para constituir uma rede nacional e internacional que cola e é se propaga como um objeto sociomidiático com base

no que falta na escola, na família, no estudante, etc, etc. Em seguida, a partir de duas noções de compromisso estabelecemos o horizonte de provocação reflexiva de modo a observar as justificações sobre conflitos e acordos gerados, seja por quem defenda a permanência seja por quem se oponha a ela. Por último, as noções de equivalência e de coordenação das ações nos servem como ferramentas para o tratamento e análise dos dados empíricos, delimitando assim os resultados do dispositivo provocador-reflexivo, principalmente em torno dos mal-entendidos, haja vista que os acordos são mais pos- síveis quando há consenso de que a escola é um bem-comum desejado e valorizado pelos sujeitos envolvidos.

Consideramos que a discussão sobre a viabilidade e utilidade do dispositivo não se dá num vazio experiencial. Na verdade, complementa e aperfeiçoa, reorganizando os modos de pensar, agir e escrever sobre os procedimentos de ação do grupo operativo Nucleape, no sentido de avançar nas discussões por meio de novas perguntas prospectivas, como por exemplo: em quais situações a expressão “Eles não têm base” caracteriza uma esquiva do compromisso circuns- tancial com o aprender do estudante?

Por fim, expomos nossas expectativas quanto à pro- va de realidade da pesquisa-anúncio a fim de evitar a arma- dilha tautológica da pesquisa-denúncia para denunciar o excesso de pesquisas sobre a temática da evasão. E, a partir dela, concordando com a opção de Paiva (2016), reforçamos nossa intuição de apostar na pesquisa-anúncio como crítica:

[...] esta parece-me a questão central, esgotadas as tentativas de entender a evasão como desa- fio às políticas públicas. Tal como Freire (1992), opto por deslocar-me da denúncia do que apa- renta ser fracasso de estudantes brasileiros em

Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Uni- versidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2008. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Nº 9394. Brasília: Congresso Nacional, 20 dez. 1996.

_______. Termo Aditivo nº 02/2015 ao Convênio nº 01/2015. Convenentes: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec- nologia Fluminense Universidade Estadual do Norte Flumi- nense Darcy Ribeiro. Diário Oficial da União nº 209 – Parte I, 16 de dezembro de 2015, p. 30.

CARMO, Gerson; CARMO, Cintia. A permanência escolar na Educação de Jovens e Adultos: proposta de categorização discursiva a partir das pesquisas de 1998 a 2012 no Brasil. Education Policy Analysis Archives, v. 22, Nº 63, 2014. Dossiê Educação de Jovens e Adultos II. Editoras convidadas: San- dra Regina Sales e Jane Paiva, v. 22, 2014. pp.1-45.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.

GALLO, Sílvio. Deleuze & a Educação. Belo Horizonte: Autên- tica Editora, 2003.

LENSKIJ, Tatiana. Direito à permanência na escola: a lei, as políticas públicas e as práticas escolares. Dissertação (Mes- trado) - Universidade Federal do Rio Grande Sul, Faculdade de Educação, programa de Pós-raduação em Educação, Por- to Alegre, RS, 2006.

MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães. O conselho de classe e a construção do fracasso escolar. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, Nº 2, maio/ago. 2005. pp. 215-228.

acompanha a evolução da Rede de Educação Profissional brasileira, integrando pesquisadores e equipes de pesquisa em sua diversidade de abordagens sobre as temáticas da eva- são e da permanência escolar.

O Nucleape como grupo de pesquisa do IFFlumi- nense em parceria com a UENF, ambos do Estado do Rio de Janeiro, agradece a essas duas instituições pelo apoio e credi- bilidade dada às pesquisas que vem sendo realizadas.

NOTAS

1Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior (CAPES)/ Observatório da Educação (OBE- DUC) / Edital Nº 49/2012 / Projeto nº 16.787 - Diagnóstico da Qualidade do Ensino do PROEJA na Região Norte e Noroeste Fluminense com foco nos aspectos formativos e metodológi- co aprovado com financiamento por 48 meses que, além das treze bolsas de pesquisa mencionadas, forneceu recursos para: passagens, inclusive internacionais, aquisição de equi- pamentos, serviço de terceiros e material de consume

REFERÊNCIAS

ARRETCHE, Marta. Uma contribuição para fazermos ava- liações menos ingênuas. In: BARREIRA, Maria Cecília R. No- bre; CARVALHO, Maria do Carmo Brant (Orgs.). Tendências e Perspectivas na Avaliação de Políticas e Programas Sociais. São Paulo: IEE/PUC, 2001. pp. 43-56.

BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. De la justification. Les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.

BRAGANÇA, Grazielle Avellar. A produção do saber nas pesquisas sobre o fracasso escolar (1996-2007). Dissertação (Mestrado em

NINGUÉM TIRA O TRONO DO

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