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O contexto que antecede a Rede Federal remete aos primórdios da história do Brasil. Segundo Fonseca (1961), fo- ram os índios e negros escravos os primeiros aprendizes de ofícios durante o período colonial, o que trouxe a essa for- ma de ensino um estigma de servidão pertencente às baixas categorias sociais. Aos filhos dos colonos cabia a educação intelectual ministrada pelos jesuítas. Moura (2007) assinala o evidente dualismo educacional presente durante o curso da educação no Brasil, em que a educação profissionalizante é destinada à classe proletária para a qualificação de mão de obra, enquanto a educação propedêutica se destinava às eli- tes, reproduzindo a diferenciação das classes sociais.

Como primeiro marco legal que antecede a história da Rede Federal, tem-se o Decreto 7.566, de 23 de Setembro de 1909 (BRASIL, 1909), que cria as Escolas de Aprendizes e Artífices, durante o governo de Nilo Peçanha. O decreto justifica a criação das Escolas como um meio de facilitar às classes proletárias vencerem dificuldades, sendo necessário “não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensavel preparo technico e intellectual, como fazel- -os adquirir habitos de trabalho proficuo, que os afastará da ociosidade ignorante, escola do vicio e do crime” (BRASIL, 1909), retratando ainda o caráter dual da educação ao início do século XX. Aponta-se aqui para a noção vigente do Esta- do, à época, da classe proletária como à mercê do ócio, da ignorância, do vício e do crime, adotando a postura de con- trole da ordem social e se utilizando, para tal, da educação profissionalizante.

Em 1937, as Escolas de Aprendizes e Artífices se transformam em Liceus Industriais, através do artigo 37º

fissional das capitais aos interiores no Brasil e promover o desenvolvimento das regiões onde um campus se implanta. Tal movimento visa combater as desigualdades sociais, em consonância com o plano de governo vigente. Coêlho (2017) defende que a expansão dos IF’s e das universidades federais é uma estratégia promissora para o desenvolvimento regio- nal no Brasil, uma vez que pode viabilizar sistemas regionais de inovação, desconcentrar a produção de conhecimento e tecnologias e fomentar atividades inovadoras nas periferias.

A Expansão encontra desafios para sua execução, oriundo da própria desigualdade, como a evasão e a reten- ção. Souza (2014) aponta a importância da investigação dos fatores que levam à evasão escolar, entendendo esta não como culpada, mas como denunciadora dos processos com- plexos envolvidos na trajetória juvenil, que podem favorecer ou dificultar a permanência do jovem na escola. As medidas de combate à evasão e retenção muitas vezes demandam in- vestimentos à Rede Federal, desde a ampliação da equipe de servidores e estruturação do campus, até a garantia de exe- cução da Política de Assistência Estudantil, regulamentada pelo PNAES. Essas ações, bem como as demais executadas nos IF’s, estão ameaçadas diante da crise econômica na- cional de meados de 2014 e das mudanças de plano de go- verno instauradas após o impeachment, em 2016, que cul- mina com a diminuição de investimentos na Rede Federal. Em 2018, surge uma proposta de reordenamento dos campi, repudiada pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), pelo contexto de instabilidade política e econômi- ca, falta de um processo participativo democrático quanto à decisão e impacto negativo às comunidades locais onde há um campus (CONIF, 2018, in IFCE, 2018). A diminuição de investimentos ameaça a manutenção plena das ações de nal, entretanto, na prática se restringiu às escolas públicas,

enquanto as privadas, em sua maioria, continuaram com o ensino propedêutico, voltado às elites, acirrando o dualismo.

A década de 1980 é marcada pela globalização e, a ní- vel nacional, pela redemocratização do Brasil e pela retração da economia, contrariando as expectativas quanto à forma- ção de mão de obra qualificada em larga escala, da década passada. Na década de 1990, as Instituições Federais de Edu- cação Profissional e Tecnológica passaram por mudanças alinhadas às demandas sociais locais e regionais. Com a Lei 8.984, de 8 de Dezembro de 1994, as Escolas Técnicas e Agro- técnicas Federais se transformam em Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet). Novos Cefets são implantados em 1999 (MEC, 2010). Nesta década, há ainda como marco legal a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a nova Lei de Diretrizes e bases da educação nacional (LDB), que destina artigos que regulamentam a educação profissional (BRASIL, 1996). Segundo Moura (2007), o contexto do final dos anos 90 acabou por explicitar o dualismo educacional entre o ensino médio e a educação profissional, com o acirramento e forta- lecimento do mercado educacional no Brasil.

O início da década de 2000 traz marcos e transfor- mações importantes aos Cefets, tomando o fator social como foco primordial ao fazer pedagógico, em vez do fator econô- mico, como historicamente foi desenvolvido (MEC, 2010). A Lei nº 11.195, de 18 de novembro de 2005, também se faz um marco importante na história da Rede Federal, uma vez que muda o entendimento do parágrafo 5º do artigo 3º da Lei nº 8.948/1994, possibilitando o plano de expansão dos IF’s (BRA- SIL, 2005). Finalmente, a Lei 11.892/2008, cria os IF’s, como integrantes da Rede Federal (BRASIL, 2008). A Expansão da Rede Federal surge no intuito de descentralizar o ensino pro-

Retenção dos Estudantes, considerando o Plano Estratégico para a Permanência e Êxito dos Estudantes do IFCE (PPE) e o seu objetivo de “fortalecer a qualidade do ensino através de ações de incentivo à permanência e à promoção acadêmica” (IFCE, 2017b, p.2). Alguns exemplos de ações desenvolvidas no campus descritas no PPE como potenciais fortalecedoras da permanência e êxito a citar são as atividades científicas, culturais e desportivas, as formações de células de aprendi- zagem cooperativa, a atuação do setor de Assistência Estu- dantil e dos núcleos extensionistas Núcleo de Acessibilida- de à Pessoa com Necessidades Educacionais e Específicas (NAPNE) e Núcleo de Estudos de Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI), os horários de atendimento estudantis, o incentivo do campus à mobilização estudantil e acompanhamento do Grêmio Estudantil, etc.

Este campus, enquanto política pública em educa- ção, assim como os demais IF’s, assume um compromisso com a sociedade quanto à democracia, ao combate às desi- gualdades estruturais e ao desenvolvimento local. Ainda en- quanto política pública, é influenciado por diferentes variá- veis, como o contexto do território e a disputa de interesses dos diferentes atores envolvidos. Considerando este aspecto, constrói-se, a seguir, uma reflexão acerca da participação popular como diferencial a esta política pública.

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