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Autores como Gaudêncio Frigotto, defendem que para realizar uma pesquisa com base no materialismo his- tórico e dialético é necessário “ter como ponto de partida o conhecimento enquanto esforço reflexivo de analisar critica- mente a realidade” (FRIGOTTO, 2010, p. 84). Trata-se de um método que, segundo o autor, foi formulado por Marx e En- gels. O materialismo histórico e dialético, continua o autor, é um método fundado na dialética marxista e no aspecto filo- sófico da práxis. Para o autor, a dialética materialista históri- ca, como é também chamada por ele, exprime uma forma de rompimento entre a “ciência da história ou do humano-so- cial e as análises metafísicas de diferentes matrizes e níveis de compreensão do real” (FRIGOTTO 2010, p. 72).

O materialismo histórico como um método está re- lacionado ao entendimento aprofundado da realidade, ir à sua raiz. Frigotto (2010) afirma que a realidade humana pode ser compreendida por meio de um método de pesquisa que afirmam tratar-se de um método proposto por Karl Marx, es-

pecialmente na relação entre Karl Marx e Friedrich Engels. A presente pesquisa realizou um trabalho de análise das produções acadêmicas disponíveis nos principais ban- cos de dissertações e teses de universidade brasileiras com o intuito de propor um estudo crítico da metodologia domi- nante no Brasil nas pesquisas sobre a relação entre educação e trabalho, que se refere ao “materialismo histórico e dialéti- co” e ampliar o conhecimento sobre as fontes das expressões materialismo histórico e materialismo dialético e a sua supe- ração pelo conceito de “filosofia da práxis”, apresentado por Gramsci nos Cadernos do cárcere.

O tema emergiu como proposta de estudo a partir da recorrente presença das expressões materialismo histórico e materialismo dialético em pesquisas realizadas no campo da educação, especialmente educação e trabalho, como re- ferência teórica e metodológica em teses e dissertações. Fato que definiu o recorte para o exercício de análise dos traba- lhos pesquisados.

Considerando a controvérsia em torno dessa orga- nização de pensamento, Gramsci (1999, p.126) destaca que o conceito de materialismo não pode se limitar apenas à questão técnico-filosófica. “Chamou-se de materialismo toda doutrina filosófica que excluísse a transcendência do domínio do pensamento (...) mas também foi chamada de materialismo qualquer atitude prática inspirada no realismo político.” Ao especificar o materialismo histórico Gramsci o apresenta como dialética real na compreensão da história. É a partir dessa concepção de Gramsci que o referencial deste trabalho está fundamentado, visando questionar o concei- to de materialismo histórico e dialético como referencial de metodologia de pesquisa pois ao tratar sobre a filosofia da

produzem transformações radicais e estruturais (metamorfose). Para poder compreender essas mudanças, necessitamos de uma massa gran- de de informações e uma extensão maior delas, pois para compreender as inter-relações sociais e as dinâmicas de tempos longos é preciso re- cuperar dados que permitam ver o movimento histórico, a gênese e a transformação dos fenô- menos. (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p.116).

Para o autor a dialética materialista é ampla no senti- do da compreensão do fenômeno como inserido em um pro- cesso histórico e mostra-se “como um método fundamental da epistemologia moderna”, (SANCHEZ GAMBOA 1998, p. 15). Citando Habermas (l986) Sanchez Gamboa (1998, p.15) explica que esta abordagem se consolidou a partir do mo- mento em que as bases epistemológicas do materialismo histórico passaram a fazer parte novamente das reflexões sobre a ciência. Nesse sentido o autor define que a dialéti- ca materialista pode ser reconhecida como epistemologia devido ao fato desta oferecer “importantes subsídios para a análise da produção científica, num contexto social amplo” (SANCHEZ GAMBOA 1998, p. 15)

Segundo Sanchez Gamboa (1998, p18) a dialética materialista faz parte de um rol de métodos que estão funda- mentados na interdisciplinaridade e na ciência como práxis histórico-social. Compreender suas bases para o autor signi- fica considerar a teoria crítica do conhecimento firmada no materialismo histórico e dialético concebendo “a ciência como uma produção social determinada pelas condições históricas do desenvolvimento do gênero humano” (SANCHEZ GAMBOA 1998, p. 15). Essa perspectiva abarca o materialismo histórico e dialético como método dentro da abordagem crítico - dialética de compreensão da realidade, sem perder de vista a relação in- trínseca entre dialética, lógica e teoria do conhecimento. visa a “romper com o modo de pensar dominante ou com a

ideologia dominante” (FRIGOTTO, 2010, p. 84). Para realizar uma ruptura como essa, ele propõe a metodologia do mate- rialismo histórico que estaria ligada a uma forma de enxer- gar a realidade no seu conjunto, com todas as suas nuanças (FRIGOTTO, 2010. p. 84).

Na mesma direção, ao expor diferentes metodologias de pesquisa, dentre elas o positivismo e a fenomenologia, Tri- viños (1987 p. 73) explica que o “pesquisador que segue uma linha baseada no materialismo dialético deve ter presente no seu estudo uma concepção dialética da realidade natural e social”. O autor discute de maneira distinta os conceitos de materialismo histórico e materialismo dialético. No entan- to, ao apresentar esta concepção como método de pesqui- sa, Trivinõs (1987) expõe o termo o materialismo histórico e dialético de maneira unificada, que tem como ponto de par- tida o estudo das manifestações da natureza e da sociedade em suas complexas relações, sem perder de vista uma abor- dagem calcada no movimento histórico destes elementos.

Sánchez Gamboa (2007), por sua vez, explica que se destacam três abordagens básicas de investigação em educa- ção sendo: Empíricoanalíticas, fenomenológico-hermenêu- ticas e crítico-dialéticas. Para recorte do presente trabalho, será enfatizado a perspectiva crítico-dialética em que o autor aborda o modo pelo qual a dialética materialista se relaciona com a pesquisa em educação.

Para a dialética materialista todo o fenôme- no deve ser entendido como parte de um pro- cesso histórico maior. No caso da educação, suas transformações estão relacionadas com as transformações culturais e sociais. Sua di- nâmica depende das mudanças sociais. Essas mudanças são quantitativas e qualitativas, na medida em se acumulam forças e tensões que

quer intenção de dar respostas a algo de manei- ra imperativa é sempre incorrer em um erro fa- talista pois já é sabido que não é possível aparar as arestas da realidade para se enquadrar em herméticas teorias. (PIRES 2010, pág 18)

Ao definir a abordagem metodológica para pesquisar a implementação do Projovem no município de Porto Alegre/ RS sob a perspectiva dos jovens participantes a autora utilizou como premissa Triviños (2011) e Minayo (2000 e 2002). Levan- do assim ao entendimento de que esse trabalho teve como tratamento um conceito de materialismo histórico e dialético a partir da visão de referencial de método de pesquisa.

Pires explica que no campo das ciências humanas a dialética surge como uma espécie de lente para compreen- der os fenômenos e o método para promover essa leitura do objeto em questão é o materialismo histórico e dialético. Para a autora esta metodologia “pressupõe unidade da teoria com a prática” (PIRES 2010, pág 39)

Outro trabalho apresentado na mesma linha é a tese de Sieben² (2017). Ao tratar sobre o processo de implantação do ensino médio politécnico no Rio Grande do Sul o autor esclarece que para compreensão deste objeto de estudo, ele trilhou sua pesquisa na abordagem crítica de pesquisa que teve “por base o materialismo histórico dialético de Marx e Engels” (SIEBEN 2017, pág 16) caminhando no sentido do estudo do objeto sob a ótica da totalidade - utilizando aqui o conceito de totalidade como princípio da dialética conforme Ciavata 2001 – que é “formada por uma multiplicidade de fe- nômenos com relações simples e relações complexas” (SIE- BEN 2017, pág 25). Observa-se que para delimitar o campo metodológico o autor apesar de citar Marx e Engels no início do trabalho não faz nenhuma referência explícita a esses au- Na construção dos seus argumentos Sanchez Gam-

boa (2007) destaca que a dialética materialista está fundada nos escritos sobre filosofia e história da educação deixados por Marx, Engels, Gramsci dentre outros, esclarecendo que estes textos foram gradualmente adaptados. Como exemplo para explicar os fundamentos da dialética materialista, o au- tor invoca Karl Marx.

Os pressupostos apontados pelo autor encaminham para o entendimento do materialismo dialético e materialis- mo histórico como concepções inseparáveis. Ele explica que é “indispensável construir um sistema que tome em unidade todos esses momentos das categorias, como um processo de formação e evolução, construídos e desenvolvidos através da história do pensamento” (SANCHEZ GAMBOA 1998, p. 22). Ele chama a atenção para a relação entre o desenvolvimento da filosofia e as categorias próprias do marxismo na legitimação do método de construção de conhecimento proposto por ele.

Influenciadas pelas concepções acima citadas fo- ram encontradas algumas dissertações e teses que derivam, defendem e reconhecem o pensamento dos autores citados como fonte primária de acesso ao conceito de materialismo histórico e dialético. Observa-se a ausência de maior profun- didade teórica no que diz respeito a discussão sobre materia- lismo histórico e dialético como método de pesquisa.

A dissertação de Pires (2010)¹ é um exemplo de como a utilização do conceito do materialismo histórico e dialético pode ser totalmente inspirada nas premissas já apresentadas.

O entendimento do objeto de estudo como uma totalidade de múltiplas determinações é orientado pelo materialismo dialético. Este aporte teórico conta com a percepção de que é impossível responder de forma decisiva e única as determinações que a vida nos impõe. Qual-

vimento do seu método. A autora chama a atenção dizendo que o método de Marx teve como base as relações sociais. Ela explica que Marx partiu do entendimento de que a análise da “sociedade necessitava se originar na materialidade. Não era suficiente entender a história como o processo dialético do de- senvolvimento da ideia, era fundamental apreender a própria noção de materialidade da/na história.” (SOUZA 2017, pág 37).

Tendo em vista que a tese tem relação com a psico- logia histórico cultural Souza (2017) a autora esclarece a raiz da articulação do pensamento de Karl Marx e o pensamento de Vigostky, considerado pela autora um teórico firmado em bases marxianas.

_____________________________¹PIRES Itaara Gomes. A im-

plementação do Projovem no município de Porto Alegre/RS sob a perspectiva dos jovens participantes. Dissertação (mes- trado) – Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS – São Leopoldo - RS (2010)

²SIEBEN, Leandro. (Des) encontros no processo de implanta- ção da proposta de ensino médio politécnico no Rio Grande do Sul. Tese (doutorado) Universidade do Vale dos Sinos – UNI- SINOS – São Leopoldo (2017).

A união das premissas expos- tas (...) compõe o método proposto por Marx: o materialismo histórico dialético. Tal método fundamenta as ideias de Vi- gotsky ao longo de toda a sua obra e, ao nosso ver, constitui a forma mais com- pleta de analisar a história da humani- dade: a partir da sua materialidade e da dialética das relações sociais. Isso não seria diferente no caso do psiquismo, para Vigotsky. (SOUZA 2017, pág 39) tores. Ele utiliza referências de autores como Frigotto (2010)

e Ciavata (2001) como sustentáculos do trabalho.

Um aspecto interessante do trabalho do Sieben (2017) é a utilização do conceito de práxis. O autor utiliza como referência conceitual o postulado de Gramsci (1978). Ele explica a filosofia da práxis como “atitude polêmica e crítica” (SIEBEN 2017, p. 27). Na reflexão sobre filosofia da práxis Sieben (2017) esclarece que de acordo com Gramsci (1978) “ práxis é a unidade, a relação indissoluvelmente in- trincada entre teoria e prática, é como uma necessária cone- xão entre ideias e ação” (GRAMSCI 1978 P.51 apud SIEBEM 2017, pág 25). Neste sentido observa-se um esforço do au- tor em estabelecer uma linha de discussão que estabelece a dialética como eixo central da pesquisa.

Ainda na análise das pesquisas sobre a relação entre juventude, educação e trabalho, especialmente no que se refe- re ao “materialismo histórico e dialético” como referência me- todológica dos trabalhos encontra-se a tese de Souza³ (2017). Ao estudar o processo de criminalização e escolarização de adolescentes privados de liberdade a autora também escolheu o materialismo histórico dialético a partir da relação deste, que ela chama de método com a psicologia histórico cultural.

O método proposto por Marx e Engels (1846/2013) se desenvolveu a partir do enfoque nas relações sociais existentes entre as duas classes preeminentes na Europa, durante o sé- culo XIX. Marx tinha como objeto de análise a constituição da sociedade capitalista e o surgi- mento da burguesia em contraposição ao pro- letariado (SOUZA 2017, pág 36)

Ao esclarecer a sua escolha Souza (2017) realiza um breve resgate histórico sobre a dialética, explicando que a dialética tem suas origens no pensamento de Hegel mas que foi incorporada por Marx de maneira crítica para desenvol-

Gramsci a retrata como “ atitude polêmica e (...) como críti- ca do senso comum” (GRAMSCI p. 101 2015), vale ressaltar que a crítica ao senso comum só acontece após a valoriza- ção de todos como filósofos, como uma forma de respeito ao conhecimento existente. Para Gramsci 2015 não se trata de criar algo novo, mas de tornar crítico o conhecimento exis- tente. A filosofia da práxis para ele tem como objetivo levar aqueles considerados “simples” a uma condição superior de concepção de vida. (Gramsci, 2015).

A EMERGÊNCIA DO CONCEITO DE

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