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A incapacidade do movimento marxista-leninista pós-FAP de lançar acções violentas

No documento Luta Armada em Portugal (1970-1974) (páginas 134-143)

Das eleições de 1958 à herança “fapista”

3. A herança fapista

3.3. A incapacidade do movimento marxista-leninista pós-FAP de lançar acções violentas

Ainda na fase de desagregação da FAP desenham-se esboços de acções especiais, como a que teria sido pensada, por Manuel Claro, com vista à libertação de João Pulido Valente, que tinha sido preso em Outubro de 1965.

A acção, proposta ao que restava da Direcção da FAP/CMLP no exterior, tivera a concordância dos restantes elementos, ainda que nunca viesse a passar dos planos iniciais, que consistiam em fazer chegar a João Pulido um fio especial de nylon com que este serraria as grades da sua cela. Há uma variante deste plano, referida por José Capillé , segundo a qual a acção se realizaria numa altura em que o dirigente preso tivesse de ser transportado em carrinha celular281.

De qualquer modo, independentemente da modalidade de que a acção se revestisse, contaria sempre com a participação de um grupo armado constituído em França, que viria para o interior para cobrir a fuga, utilizando armas e explosivos depositados em Portugal à guarda de Hélder Costa, que era o elemento que, no interior, assegurava a ligação entre a pulverizada organização e a direcção da FAP/CMLP em Paris. Hélder Costa integrava, ao mesmo tempo, o grupo de falsificação de documentos e de apoio às saídas clandestinas do país, angariando armas de jovens que, ao desertarem, as traziam consigo, entregando-as como uma espécie de contrapartida para o apoio concedido na fuga do país. A continuada angariação de armas e explosivos asseguraria, principalmente a partir de 1966 a existência de arrecadações, principalmente em Paris, mas também em Portugal, embora em menor quantidade, e que eram autênticos pequenos paióis. Teria havido mesmo quem desertasse com várias malas de armamento282.

Ainda nos últimos tempos de existência da FAP/CMLP, a ida para França de alguns dos operacionais que haviam estado no assalto ao paquete Santa Maria e ao desvio do avião da TAP que fazia a ligação Casablanca-Lisboa, como Hermínio da Palma Inácio e Camilo Mortágua, antes da

281Entrevista José Capillé, Montijo, 10 de Setembro de 201

fundação da LUAR, ocasiona contactos, quer com o CMLP, primeiro, quer com o grupo O Comunista, depois.

O primeiro desses contactos formais é estabelecido por intermédio de José Capillé, tendo tido Francisco Martins Rodrigues, em 1965, ainda antes de regressar ao país, uma reunião com Palma Inácio283. Estes contactos vão prosseguir, intensificando-se particularmente depois da 1ª Conferência do CMLP, ou seja ao longo dos anos de 1967 e 1968. José Alberto confirma estas ligações da FAP/CMLP com elementos que virão a constituir a LUAR, como com a LUAR propriamente dita, já depois do assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, a 10 de Maio de 1967, continuando Camilo Mortágua e Palma Inácio a serem os principais interlocutores.

Nesta fase, teria havido também, segundo José Alberto, contactos com um brasileiro que teria estado na guerrilha com Che Guevara e que terá chegado a fazer formação militar a quadros do CMLP e que teria chegado a Paris juntamente com os futuros operacionais da LUAR ou na mesma altura que eles 284. Camilo Mortágua afirma, no entanto, não ter vindo nenhum brasileiro com eles, embora refira a presença em França de um elemento de nacionalidade brasileira, que efectivamente teria estado na guerrilha de Cuba e que pertencera ao DRIL, mas, que nunca terá estado integrado na LUAR285. De qualquer modo, este brasileiro seria quem mais contacto teve com dirigentes do CMLP, sendo também o mais consistente do ponto de vista político e ideológico, já que, na perspectiva dos futuros dirigentes, a LUAR era uma organização meramente anti-fascista. Nestes encontros admitia-se fortemente a realização de acções conjuntas.

Na visita partidária que realizou à Albânia na Primavera de 1967, José Alberto, enquanto membro da Comissão Directiva do CMLP, terá discutido esta perspectiva nas conversações que teve com dirigentes do Partido do Trabalho da Albânia, cuja reacção terá sido de expectativa moderada. O entusiasmo em relação a esta convergência não era uniforme, não era propriamente comum a todos os elementos que constituíam a direcção do CMLP saída da 1ª Conferência, mas tocava alguns dos seus membros.

Já em 1968, na 2ª Conferência do CMLP, o grupo de Heduíno Gomes, que aí triunfa, denuncia o facto de haver quadros do CMLP que trabalhariam secretamente para a LUAR, organização que “junta todas as correntes burguesas” e que se oporiam à reconstrução do Partido Comunista (marxista-leninista). No seu entendimento, a LUAR seria a demonstração clara que a burguesia utilizava a luta armada “com o fim de desviar as massas da única via justa, (o marxismo- leninismo)” e que se teria infiltrado no CMLP com esse objectivo, isto é, “colocá-lo ao serviço da sua política pequeno-burguesa radical”. São mesmo apontados três membros da Comissão Directiva

283Entrevista a José Capillé, Montijo, 10 de Setembro de 2012

284Entrevista a José Alberto e Lina Alberto, Vila d'Alva, 13 de Setembro de 2012

anterior com forte envolvimento nestes contactos – “Inácio”, Miguel” e “Rodrigo”286.

Um destes, José Alberto (“Inácio”) fora para Paris em Fevereiro de 1965, ao sentir a pressão e a vigilância policial apertar-se sobre si. Nunca tinha sido militante do PCP, embora gravitando na sua órbita. No primeiro emprego que consegue trava conhecimento com José Capilé, já da direcção da FAP/CMLP, que o recruta para a organização, chegando, no processo da 1ª Conferência, à Comissão Directiva287. Outro era Jacinto Rodrigues (“Miguel”), que integrara as Juntas Patrióticas de Libertação Nacional ao tempo das movimentações estudantis de 1962, tendo depois prestado serviço militar, desertando depois de ter sido mobilizado para a Guiné. Sai do país com o apoio da estrutura clandestina que Hélder Costa e os seus companheiros mantinham para esse efeito. Em Paris, torna-se militante do PCP, mas por pouco tempo. Influenciado pelas leituras de Mao Tse Tung e de Guevara e, ao tomar conhecimento do “Luta Pacífica, Luta Armada…”, decide-se pela adesão à FAP/CMLP, passando a usar o pseudónimo de “Ioga”. Tal como José Capilé, é guindado rapidamente ao Comité Central no exterior. Depois das prisões dos dirigentes e do desmantelamento da organização no interior, recusa a directiva de regressar ao país para aferir da extensão do desastre organizativo e lançar as bases da reorganização, considerações não haver condições de segurança para o efeito. Seria, por isso, afastado288. No entanto, meses depois, mediante autocrítica, é aceite o seu reingresso, passando a usar o pseudónimo de “Miguel”. Entusiasta da luta armada e da aproximação à LUAR, é Jacinto Rodrigues que em determinada altura, quando percebe que a recém-constituída LUAR pretende arranjar um campo de treinos na Europa, sugere à Direcção do CMLP instar o Partido do Trabalho da Albânia para localizar aí essa importante infra-estrutura logística, ideia que conta com o apoio de José Alberto, que aliás vinha defendo justamente a convergência com a LUAR no seio da Comissão Directiva.“Rodrigo”, por seu turno, é acusado de apoiar as acções de José Alberto e Jacinto Rodrigues, este acusado mesmo de trabalhar secretamente para a LUAR, pelo que todos eles acabariam sendo expulsos do CMLP como “castristas” 289. José Alberto virá, praticamente de seguida, a fundar com Hélder Costa O Comunista enquanto Jacinto procurará uma via de aproximação mais estreita ainda à LUAR, com base num pequeno grupo que se continuava a reclamar do “marxismo-leninismo” e a ter como referência o PC da China.

A proximidade em relação à LUAR ou àqueles que no período imediatamente precedente a viriam a fundar não radicava propriamente em qualquer tipo de afinidade ideológica, ainda que

286Comité Marxista-Leninista Português, “Documentos Relativos à 2ª Conferência do CMLP”, SI., CMLP, Novembro

de 1968

287Entrevista a José Alberto e Lina Alberto, Vila d'Alva, 13 de Setembro de 2012

288Entrevista a Jacinto Rodrigues, Esposende, 18 de Setembro de 2013

289Comité Marxista-Leninista Português, “Resolução. Eis Como Manobram os Inimigos da Classe Operária”, in

inspirados na experiência cubana e no “guevarismo” encarassem sobretudo as vantagens de uma unidade na acção com vista a apressar, por via da violência revolucionária, o derrube do regime.

Se é verdade que Francisco Martins Rodrigues nos seus escritos se vinha procurando demarcar da experiência cubana, essa influência nunca fora completamente extirpada da FAP/CMLP, particularmente entre os dirigentes de segunda linha. Este sector pressionava para a realização de acções radicais, aspecto a que a sua direcção não podia deixar de ser sensível.

A prisão de Martins Rodrigues, Rui d' Espiney e João Pulido Valente, os três dirigentes fundadores da FAP, causaria enorme desorientação e levaria a que exterior se procurasse quase desesperadamente recompor caminho.

A obra de Mao Tse-Tung apresentava a frescura das grandes mobilizações de massas, trazia o conceito de “guerra popular prolongada”; mas essa realidade estava distante e nada tinha a ver com a situação em Portugal e com as suas características de pequeno país sem grandes zonas montanhosas ou áreas densamente florestadas. Por outro lado, por mais interessante que fosse a experiência da revolução cubana, com a guerrilha da Sierra Maestra, essas formas de combate em meio rural apresentavam óbvias dificuldades naturais de aplicação ao país. No caso de Cuba, era ainda a progressiva aproximação à União Soviética que causava problemas, de algum modo superados com a apologia das atitudes e do percurso de Che Guevara, exemplo de internacionalismo baseado no desencadeamento de guerrilha por pequenos grupos, onde se queria ver demarcação em relação à URSS e sobretudo uma enorme generosidade revolucionária. Por isso o exemplo do Che e a obra de Régis Debray, Revolução na revolução, editada em França pela Máspero logo em 1967, exerceram uma importante influência neste contexto com as teses sobre o “foquismo”, isto é, sobre a multiplicação de focos de guerrilha como forma de fazer alastrar os processos revolucionários.

Menos divulgado, mas também influente nesta fase foi a obra Algumas questões sobre a

guerrilha no Brasil, de Carlos Marighella, dirigente do PC do Brasil, que em meados dos anos 50

estivera uma longa temporada na República Popular da China, mas que, em rotura, vem a abandonar o PC do B em 1967, altura em que participa em Cuba, na importante conferência da Tricontinental. No regresso ao Brasil, já fora do PC do B funda no início do ano seguinte a Aliança Libertadora Nacional290.

Era um “heterodoxia” doutrinária que levava a uma revalorização do pensamento de Trotski num caldo ecléctico, feito de inquietações, de muita desorientação, sem que perdessem de vista os escritos de Martins Rodrigues no “Revolução Popular” onde, os dirigentes do CML, procuravam, afanosamente, lógicas de compatibilização entre todos estes caudais que fervilhavam entre dentro

da organização.

É nesta altura que chega a Paris Palma Inácio, rodeado de uma aura de romantismo revolucionário, acrescida, aliás, com o assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, e que em tudo se afastava da figura de Martins Rodrigues. Os dirigentes do CMLP balanceavam entre estes dois paradigmas de revolucionários. Palma Inácio aproximava-se, inclusivamente, da figura desprendida de João Pulido Valente, afinal o único dos três dirigentes históricos que não havia cedido face à polícia.

É da combinação de todos estes factores, de todas estas circunstâncias que se explica a aproximação de um sector importante do CMLP à LUAR, rompendo objectivamente com os cânones fechados, ideologicamente rígidos, fortemente centralistas do ponto de vista orgânico que o “marxismo-leninismo” pretendia impor.

Quando Hermínio da Palma Inácio foi preso em Paris, em Maio de 1967, o CMLP está presente na campanha contra a sua extradição e pela sua libertação, participando nas manifestações e concentrações e editando panfletos de apoio, justificando que o assalto ao banco da Figueira constituirá uma acção política, de cunho antifascista e não de delito comum291.

O ano de 1968, muito marcado, evidentemente, pelos acontecimentos de Maio em Paris, acrescenta-lhe um frémito de entusiasmo e de participação em que os exilados portugueses da esquerda radical se envolvem, inflamando o quadro de turbulência interna que atravessava o CMLP.

Logo após ter sido expulso do CMLP, Jacinto Rodrigues participa no grupo da LUAR que, em Setembro de 1968, entra em Portugal para tomar a cidade da Covilhã. Fracassado o movimento com muitas prisões, entre as quais a de Herminio da Palma Inácio, a LUAR entra num período de confusão e indefinição e Jacinto Rodrigues decide formar o colectivo Divulgação Popular, que pretendia ser um grupo de pressão dentro da LUAR para que esta se tornasse mais ideológica e inflectisse o seu posicionamento num sentido mais “marxista-leninista”.

Mas, de entre os que haviam sido expulsos ou se afastaram do CMLP no processo da 2ª Conferência, muitos vão, como vimos, formar o grupo O Comunista, onde este espírito guerrilheirista está bem vivo. A polarização que leva à constituição do grupo faz-se em torno da necessidade premente e radical de lutar contra a ditadura e a guerra colonial, defendendo a luta armada. O grupo que Hélder Costa tinha criado em Portugal uma estrutura para apoio a desertores e activistas da oposição que queriam sair do país, que se mantinha, sem designação própria e com um funcionamento evidentemente clandestino, muito fechado e constituído sobretudo por estudantes, mas também por alguns operários292. Em troca da passagem clandestina da fronteira, os desertores

291Entrevista a Jacinto Rodrigues, Esposende, 18 de Setembro de 2012

deveriam dar as suas armas e passaportes. Desta forma, as armas, granadas e passaportes falsos que este grupo reunira passaram para O Comunista. José Alberto refere, em 2012, que chegou a guardar armas na sua própria casa, assim como material que servia para fabricar explosivos 293.

A palavra de ordem da organização relativamente à guerra colonial era “Deserção sempre e em todas as circunstâncias”, se bem que defendessem o aproveitamento das possibilidades de trabalho revolucionário no seio das Forças Armadas, quanto mais não fosse para fazer preparação militar, pois “a preparação física, táctica de guerrilha e contra-guerrilha, organização e funcionamento do exército, o estudo e a prática de todo o armamento, são conhecimentos fundamentais para a luta armada que cedo teremos de travar contra a burguesia”294.Mas também era

importante para a organização que os desertores antes de abandonarem o exército procedessem ao levantamento da planta do seu quartel, devidamente pormenorizada e detalhada quanto à localização de gabinetes e messes de oficiais, das casernas, paióis, arrecadações de material, sentinelas, casas da guarda, central telefónica ou identificação dos locais mais acessíveis para penetração no quartel em caso de assalto. Tudo isto devia ser acompanhado do registo da actividade diária de rotina, como os turnos de sentinela, as funções específicas do corpo de oficiais, os regulamentos internos, a identificação dos oficiais e sargentos suspeitos de colaboração com a PIDE, a composição dos regimentos e seu funcionamento operacional, as áreas de especialização dos diversos serviços das Forças Armadas, os códigos, os salários de todas as patentes. Do mesmo modo, deviam apossar-se de cartas topográficas existentes, manuais de armamento e de táctica, estudos sobre as colónias, fardas, bússolas e rádios. Quando desertassem esse material, bem como o armamento de que se pudessem apoderar seria entregue à organização295.

Para além dos aspectos estritamente ligados à deserção, todo este frenesim em torno da angariação de armamento, que pressupunha a preparação de acções violentas, traduz-se nos primeiros números do jornal O Comunista, numa lógica de descentralização e de autonomia dos grupos que federava ou de núcleos de trabalhadores e estudantes que lhe pudessem estar próximos. Defendia-se, nas suas páginas, que as massas deviam saber como se defender contra a repressão, quer utilizando acções de protesto pacíficas, quer sabendo fazer e utilizar armamento simples pouco sofisticado, que poderiam fabricar com material de acesso fácil. Aí se ensinava a fazer cocktails

molotov e bolas de pingue-pongue explosivas. Também se explicava como com poucos meios se

podia fazer materiais de propaganda, como cartazes ou pequenas publicações, para o que se indicava como construir e utilizar um copiografo manual.

No número 3 de O Comunista são dadas orientações concretas sobre a organização de

293Entrevista a José Alberto e Lina Alberto, Vila d'Alva 13 de Setembro de 2012

294“Nós desertamos com armas”, O Comunista nº 6, Maio de 1970, p. 3

manifestações ou para a realização de acções de guerrilha urbana. As manifestações deveriam ser cuidadosamente preparadas e convocadas para um local de grande movimento, para que se desenrolassem no meio da população, evitando locais que permitissem um cerco fácil pelas forças policiais e o local. O modo de arranque da manifestação, a sua forma de desenvolvimento e o momento em que devia terminar deveriam ser minuciosamente planeados. O grupo encarregado de dirigir a manifestação deveria conhecer bem o terreno, ser necessariamente reduzido e constituído por elementos que não fossem conhecidos da polícia política pela sua actividade legal ou pelo seu grau de exposição anterior.Como medidas de segurança contra o ataque policial, no embate corpo a corpo, aconselhava-se à constituição de grupos de auto-defesa, munidos de capacetes de motociclistas ou da construção civil, evitando respirar os gases das granadas dispersivas com um pano a cobrir o nariz e a boca e óculos protectores. Contra os cães da polícia deviam meter um cotovelo dentro da boca do cão e dar uma pancada com o cutelo da mão entre os olhos e o focinho. Já para o ataque às forças de segurança sugeriam-se a utilização de barras de ferro, paus e pedras ou o lançamento de batatas com lâminas espetadas, esferas de aço arremessadas com fisgas, etc. O que interessava era que “cada destacamento se arme a si próprio e não passe a vida à espera de ajuda de cima, de armas, etc.”., acrescentando que para o militante da guerrilha urbana “todas as armas servem e são úteis. O que conta é a audácia, a imaginação, a decisão e o efeito surpresa” 296 Não surpreende pois que, também aqui, com este ambiente, não tivesse desaparecido a ideia de aproximação à LUAR.

Contudo, a aproximação entre O Comunista e a LUAR acabou por acontecer muito também na base das relações de proximidade que o exílio naturalmente propiciava297, facilitada, de resto, pela partilha de cafés, pelos mesmos locais de trabalho, tanto forjando laços de amizade e camaradagem, como inimizades que se perpetuaram prolongadamente no tempo. Mas havia um outro factor que ajudava a essa aproximação. Depois do assalto ao banco na Figueira da Foz, alguns dos participantes teriam beneficiado do apoio da organização que Hélder Costa deixara montada no interior para auxílio à fuga do país de perseguidos políticos. Em Paris, os contactos entre as duas organizações continuariam mas situar-se-iam sempre ao nível de acções convergentes e de solidariedade entre as organizações e os seus militantes298.

A LUAR apreciava aliás a quantidade de armas e explosivos que O Comunista ia reunindo, resultando, como referimos, principalmente do movimento de deserções, pois não dispondo dessa capacidade, a organização de Palma Inácio tivera de optar pela aquisição de armas com parte do dinheiro resultante do assalto ao banco. A questão do treino militar constituía, neste contexto uma

296“Manifestações de massa e guerrilha urbana”, O Comunista nº 3, Junho de 1963

297Entrevista a Hélder Costa, Lisboa, 31 de Julho de 2012

preocupação central. Teria havido sessões de treino militar restritas a pequenos grupos proporcionadas por aqueles que haviam tido preparação no exército português ou experimentando explosivos que pelos mais variados e engenhosos processos iam sendo testados299.

Em meados de Junho de 1968, chegaram a Paris elementos de um pequeno grupo que havia sido enviado pelo PCP a Cuba em meados de 1967 para receber treino militar com vista ao desencadeamento de acções especiais, mas que se haviam cindido do partido porque essas acções foram sendo adiadas, formando as Forças Armadas de Libertação (FAL)300. Este grupo, onde

No documento Luta Armada em Portugal (1970-1974) (páginas 134-143)