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O fim do colonialismo

No documento Luta Armada em Portugal (1970-1974) (páginas 35-37)

Capítulo I O Mundo em Mudança

1. O fim do colonialismo

Durante os séculos XIX-XX, alguns países, sobretudo europeus, conquistaram com relativa facilidade muitos daqueles que se chamaram, no século XX, países do Terceiro Mundo. Praticamente todas as partes da Ásia e da África eram propriedade de alguns estados do hemisfério Norte ou sentiam-se dependentes deles, uma vez que administravam e dominavam o mundo. Porém, esta era de colonialismo teve o seu fim logo após a II Guerra Mundial, quando se iniciou uma vaga de descolonizações, que deram origem a novos estados soberanos e transformaram a geografia e a geo-política mundial.

Logo em 1945, a Síria, o Líbano e a Indonésia tornaram-se independentes; no ano seguinte, os EUA concederam o estatuto formal de independência às Filipinas; em 1947, foi a Índia e o Paquistão que obtinham a independência; e em 1948, foi a vez da Birmânia, Ceilão (Sri Lanka), Palestina (Israel) e Indonésia. O Império Japonês tinha desaparecido em 1945, e o Norte de África e a maior parte da África Central e Setentrional, assim como as ilhas das Caraíbas e do Pacífico mantinham-se relativamente calmos. Contudo, no Sudeste asiático a descolonização política sofreu resistência, principalmente na Indochina francesa (actualmente dividida em três nações, Vietname, Camboja e Laos), onde a resistência comunista declara a independência, sob a liderança de Ho Chi Minh. Os franceses, apoiados pelos britânicos e pelos EUA lançaram-se numa ofensiva desesperada

47HOBSBAWM, Eric, 2011, A Era dos Extremos. História Breve do século XX (1914-1991), Editorial Presença, Lisboa,

para reconquistar o país mas foram derrotados e obrigados a retirar, em 1954. O país ficou dividido entre o Vietname do Norte, apoiado pela União Soviética, e o Vietname do Sul, apoiado pelos Estados Unidos da América. Esta divisão levou a uma guerra que durou dez anos, na qual os Estados Unidos saíram derrotados, sendo obrigados a retirar, em 1975, depois de uma onda de contestação contra a guerra do Vietname que correu o mundo e levou parte da população norte americana a contestar a continuação desta guerra.

Em 1950, a descolonização asiática estava completa, excepto a Indochina e Malásia. No entanto, começavam as transformações nas zonas do Islão ocidental, que era sacudido por uma série de movimentos populares, golpes revolucionários e insurreições. No Irão, Muhammad Mussadeq, apoiado pelo Partido Tudeh (comunista), chegava ao poder, tendo sido derrubado, em 1953, por um golpe organizado pelos serviços secretos anglo-americanos48. No Egipto, Gamal Abdel Nasser dirigiu a Revolta dos Oficiais Livres, o que deu origem à crise do Suez49, pois o Reino Unido, a França e Israel uniram-se para tentar derrubar Nasser.

Na Argélia, a situação era bastante complicada, com a França a resistir ao levantamento pela independência nacional argelina. Durante oito anos (1954-1962), o Exército de Libertação Nacional argelino e o exército francês confrontaram-se numa guerra brutal, em que foram utilizadas tácticas de guerrilha e foi institucionalizada a prática da tortura pelo exército e forças policiais. Enquanto isso, em 1956, o governo francês negociou a autonomia e a independência da Tunísia e de Marrocos. Neste mesmo ano, a Grã-Bretanha deu a independência ao Sudão.

Em Abril de 1955, reuniram-se na Conferência de Bandung, na Indonésia, os líderes de vinte e nove estados asiáticos e quatro estados africanos. O objectivo era a promoção da cooperação económica e cultural afro-asiática, como forma de oposição ao imperialismo e ao colonialismo, tendo sido afirmado que imperialismo e racismo eram crimes e que todos os povos tinham direito de lutar pela sua auto-determinação. Nesta conferência foram lançados os princípios da Política do

Não-Alinhamento, ou seja, da postura de equidistância diplomática e geopolítica que os chamados

países do Terceiro Mundo deviam manter face às chamadas grandes potências.

Em finais dos anos 50, já era óbvio que os velhos impérios estavam a desabar e que não seria possível travar a sua dissolução. Quase todas as colónias britânicas, francesas e belgas foram libertadas entre 1945 e 1970. Somente Portugal e os Estados de colonos brancos independentes (África do Sul e Rodésia do Sul) resistiam à tendência da descolonização. Porém, os países

48HOBSBAWM, Eric, 2011, A Era dos Extremos. História Breve do século XX (1914-1991), Editorial Presença, Lisboa,

5ª edição, pag. 219

49A 30 de Outubro de 1956, começou um dos conflitos no Médio Oriente, que opôs o Egipto por um lado e a França ,

Grã Bretanha e Israel, pelo outro. O conflito ocorreu na sequência da nacionalização do Canal do Suez, em 26 de Julho desse ano, pelo dirigente egípcio Gamal Abdel Nasser. Até aquela altura o canal era propriedade britânica pelo que esta nacionalização foi considerada uma afronta pelas principais potências ocidentais.

colonialistas estavam cada vez mais isolados. Em Portugal, a política se António Oliveira Salazar e Marcelo Caetano em manter as colónias conduziu o país a treze anos de guerra em Angola, Guiné e Moçambique e, somente, após a Revolução do 25 de Abril de 1974 é que as colónias portuguesas obtiveram a independência.

Quase todos os países do chamado Terceiro Mundo viveram, na segunda metade so século XX, revoluções, golpes militares ou alguma forma de conflito interno armado. No contexto da “coexistência pacífica”, os Estados Unidos identificavam este potencial revolucionário com a influência comunista da União Soviética e procuraram combatê-lo, por todos os meios, desde a propaganda ideológica, à ajuda económica. Por seu lado, a União Soviética, dava apoio aos movimentos revolucionários e de libertação que foram surgindo em diversos países, que se denominavam de anti-imperialistas e de socialistas, mas, procurou não se envolver directamente nos conflitos.

A partir dos anos 6o, com o dissídio sino-soviético, nos sectores mais polítizados, começou a generalizar-se a ideia que a violência revolucionária era imprescindível, contra a visão da “coexistência pacífica”.

Esta época de revoluções seria interpretada, na Europa, pelos levantamentos estudantis e de operários, sobretudo franceses e italianos, que tiveram o seu epílogo no Maio de 68, pela radicalização geral da sociedade e pelo recurso à violência por parte de grupos minoritários.

No documento Luta Armada em Portugal (1970-1974) (páginas 35-37)