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A BELEZA DO JOGO DOS GRÃOS E SEU DESENHO NO MUNDO

4.1 PRIMEIRA VIVÊNCIA: UM OLHAR SOBRE S

Esta primeira vivência foi realizada por meio do correio eletrônico (e-mail). Apesar de ser uma forma de contato considerada por muitos como sendo fria, distante e sem sentimentos, optamos por esta abordagem metodológica por acreditar que podemos tecer uma trama de afetividade através destas interações virtuais, pela facilidade de participação dos sujeitos da pesquisa e por considerar que as novas tecnologias representam importantes instrumentos de educação e de autoformação. Nesse sentido, Moraes (2005, p. 219) afirma que os novos instrumentos na educação devem colaborar “para fazer o ritual de passagem de uma era para a outra, como facilitadores das relações, das interações, para que os mais diferentes diálogos possam ser estabelecidos”. Iniciamos nosso diálogo, firmado pelo encontro dos diferentes grãos minerais17, pelas afinidades e também pela identificação das características de cada um deles: suas formas, jeito de lidar com o mundo, aspectos que identificam como importante forma de se mostrar corporalmente ao mundo. A partir da solicitação da pesquisadora, cada participante enviou uma fotografia que o representasse naquele

momento de sua vida. A fotografia deveria vir acompanhada de um texto justificando a escolha da imagem, procurando responder às seguintes perguntas: Que imagem este futuro educador tem de si próprio? Como ele se vê no mundo?

Ao escolher uma imagem que os representasse, os participantes estavam se mostrando e deixando aberta uma parte de seu mundo. O contexto das fotografias enviadas, com o apoio do texto, nos deu indicativos importantes referentes à autoformação destes sujeitos:

Eu escolhi essa foto por que ela representa os três pilares que regem minha vida no momento Meus Amigos [...] Meus sentimentos mais sinceros ([...] Minha namorada) e minha base, pela qual eu luto (Minha mãe). Eu sou isso atualmente, uma mistura. No momento sou a mescla disso tudo e por isso escolhi essa foto. (CÓRINDON, 2009).

Pode-se observar também o aflorar da sensibilidade ao reconhecer os parceiros como pessoas importantes em sua constituição, as relações familiares e com os amigos, como pilares na composição do ser e motivo de alegria e motivação, como afirma Csikszentmihalyi (1999, p. 83) que as experiências mais positivas que as pessoas relatam em geral “são aquelas compartilhadas com os amigos [...] as pessoas geralmente ficam mais motivadas e felizes quando estão com os amigos, independentemente do que estejam fazendo”. São os minerais com maiores afinidades que se aproximam e se encaixam no espaço vivencial. O cimento das relações afetivas e afinidades irão determinar o grau de consolidação da rocha que começa a se formar. Muitas vezes, mesmo sem a presença do cimento, os grãos ficam juntos até que um fluxo os retire da posição estacionária, mas eles carregam consigo as marcas destes encontros.

Sentimentos e emoções são revelados pelos participantes, que abrem seus corações e socializam situações pessoais críticas (Figura 6), mas que são superadas pela convivência com os outros e consigo próprio, através da entrega a aventuras lúdicas onde o homo ludens emerge com graça e alegria, onde a reflexividade autobiográfica, amparada pela sensibilidade, demonstra o potencial do humanescer no reconhecimento da superação e no otimismo “[...] na verdade, assim como na foto, se olharmos pra trás (ao fundo) perceberemos que vencemos "(rochas) desafios mais estreitos" e que à nossa frente encontraremos uma saída” (TOPÁZIO, 2009).

Featherstone (2010) discute a imagem do corpo e sua influência na cultura de consumo. De acordo com o autor, as imagens de corpos bonitos, saudáveis, cercados de bens de consumo, são usadas para servir de referência para os outros terem aqueles

corpos e os bens materiais que os cercam. Assim, a imagem do corpo é uma importante referência para o outro, ou seja, é a imagem mental do que o sujeito quer que o outro veja em si.

Figura 6 – Fotografia do participante Topázio para representar a si mesmo. A fotografia evidencia a criatividade e sensibilidade para a representação de uma situação momentaneamente difícil, mas possível de ser superada. Ao fundo as rochas apertadas e quase intransponíveis, e à frente o caminho aberto para a saída do sufoco.

Fonte: Lima (2008).

Nesse sentido, as pessoas se preocupam em mostrar a melhor posição de seus corpos, o melhor sorriso, o cabelo arrumado, como podemos observar nos depoimentos a seguir: “eu escolhi essa foto porque é a mais atual que eu tenho. Bem, o meu cabelo, já está curtinho, e também estou bem alegre na foto! (MUSCOVITA, 2009) ou ainda, enfatizando a sensualidade: “essa foto atualmente representa a mudança de uma menina sonhadora para uma mulher decidida que já sabe o que quer da vida e com a sensualidade aflorada!”(TURMALINA, 2009). Estes depoimentos evidenciam estados de prazer em estar alegres, estarem bonitos, sensuais, fluindo e lidando bem com as emoções, como afirma Damásio (2004, p. 95) “um sentimento de emoção é uma ideia do corpo quando este é perturbado pelo processo emocional, ou seja, quando um estímulo emocionalmente competente desencadeia uma emoção”. Assim, o corpo reflete

o emocionar, pois é nele que transparecem as emoções, como corrobora Cipullo (2000, p. 50) “a expressão corporal de um indivíduo é uma importante pista de sua expressão emocional”.

A partir das imagens e dos relatos observa-se a forma de ser e estar no mundo dessas pessoas. Certamente analisar as fotografias sem o apoio do texto escrito envolveria um maior aprofundamento da temática relacionada à fotografia e à subjetividade. Fica claro que as fotografias falam muito mais que os textos que as acompanham e que as histórias que envolvem as fotografias são mais profundas, principalmente depois que passamos a conviver com estas pessoas e entender um pouco de suas relações com o mundo. A forma de vestir, o local escolhido para a fotografia, o semblante, são importantes indícios para uma leitura mais profunda da imagem e do sujeito que está ali retratado.

A figura 7 mostra um grupo de pessoas em uma atividade ao ar livre, onde eles realizam caminhadas e rapel. As quatro pessoas em pé fazem parte desta pesquisa. É interessante observar que o grupo inteiro encontra-se sorrindo, e as três pessoas da direita apresentam atitudes corporais indicativas de alegria, descontração e prazer em estar vivenciando aquela atividade. Os corpos estão livres, relaxados, abertos. É o corpo que fala de suas emoções e de sua história por meio de uma escrita corporal que revela seus mais íntimos sentimentos.

Alguns autores fazem criticas à adoção do sorriso como indicativo de alegria, principalmente em adultos, mas o ilustre naturalista britânico Charles Darwin (2009, p. 169), em seu livro “A expressão das emoções nos homens e nos animais” lançado em 1872, fala sobre as emoções, a partir de suas pesquisas pelo mundo e em seu próprio mundo vivencial, com seus filhos e cães. O autor afirma que “o riso parece ser primariamente a expressão da mera alegria ou felicidade”. De acordo com o autor, existem gestos faciais que são característicos do riso de alegria, o que dá para diferenciar do riso histérico, do riso nervoso e de outros tipos de riso. Portanto, consideramos que o riso observado na figura 7, seja reflexo de alegria e bem estar com a vida, refletindo o contexto no qual estão inseridos.

Posteriormente, estas pessoas criaram um grupo de caminhadas que se encontram nos finais de semana para realizarem passeios e outras vivências de lazer com seus colegas e, muitas vezes, também na companhia de seus familiares. Esta vivência foi tão significativa na vida destas pessoas que três deles enviaram suas fotografias com elas neste mesmo lugar.

Figura 7. Participantes da pesquisa no Parque Estadual da Pedra da Boca – PB.Neste parque eles realizaram e ainda realizam caminhadas e rapel. O grupo mostra atitudes corporais de alegria e prazer, evidenciando a sintonia que une o grupo.

Fonte: Lima (2008).

4.2 SEGUNDA VIVÊNCIA - PEDRAS, AREIA E ESPAÇOS: O LUGAR DO