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Sistemas de execução, de acordo com a relação entre o agente de execução e

4.2 Classificação dos sistemas de execução em função de seu agente

4.2.2 Sistemas de execução, de acordo com a relação entre o agente de execução e

A relação verificada, na dinâmica do exercício da execução civil, entre o agente de

execução, de um lado, e o juiz – como personagem detentor da jurisdição estatal – de

outro, é mais um eixo útil para a análise dos diversos sistemas que a execução pode adotar.

Sob tal prisma, identificam-se modelos em que o agente de execução é subordinado ao juiz181.

Atribui-se ao juiz, de regra sob instância do exeqüente, a direção da execução e a promoção dos atos de execução, realizados por si ou por auxiliar da justiça sob seu comando. Neste sistema, a execução exige “participação intensa e decisões constantes do

juiz. Cada ato é controlado, ou conduzido, pelo juiz”182, adstringindo-se o agente de execução a praticar notadamente os atos materiais que lhe ordena previamente o juiz.

No mais das vezes, tais modelos correspondem àqueles em que o agente de

execução é vinculado ao Poder Judiciário, já referidos.

Ao revés, modelos de execução há nos quais o agente de execução não atua diretamente sob as ordens do juiz. As diligências executivas são promovidas diretamente pelo agente de execução, sobre o qual o juiz não exerce superioridade hierárquica183.

181 Valendo registrar que há casos em que o papel de agente de execução é desempenhado pelo próprio

magistrado, situação já reportada e que é indiferente para o aspecto ora destacado para exame.

182 K. HENDERSON et al, Regional best practices: enforcement of court judgments. Lessons learned from Latin América, 2004, p. 1. Aponta referido autor que, neste sistema, os agentes de execução – sejam oficiais vinculados à Corte, sejam de outra categoria – só podem praticar atos de execução em cumprimento de ordens emanadas do juiz, limitando-se ao necessário para implementá-las (ob. cit., p. 5).

183 Em vista do sistema português, observa P. COSTA E SILVA que “se bem que, no art. 808/1, se afirme que o agente da execução pratica os actos ali referidos sob controlo do Tribunal, se bem que, no art. 809/1, se disponha que o poder geral de controlo do processo compete ao juiz da execução, se bem que se diga que a competência para julgar a reclamação do acto do agente de execução compete ao juiz da execução, se bem que o poder de destituição do agente de execução compita ao Tribunal, não pode perder-se de vista que o agente de execução não se encontra em relação hierárquica com o juiz” (A reforma da acção executiva, 2003, p. 35). Se tais conclusões já eram verdadeiras à luz da disciplina do Decreto-Lei nº 38/2003, sobre a qual debruçou-se a autora, justificam- se ainda mais depois da vigência do Decreto-Lei 226/2008, que, dentre outras alterações que alargaram a

Os matizes de tais modelos são os mais diversos possíveis, variam em função dos graus de autonomia e iniciativa que se concede ao agente de execução e em função de aspectos procedimentais peculiares a cada disciplina de execução civil considerada em concreto.

Embora, mais uma vez, seja impossível predeterminar critérios de classificação uniformes e suficientes para distinguir e enquadrar inequivocamente toda a ampla gama de hipóteses verificáveis no mundo fenomênico, elegemos alguns que, segundo entendemos, revelam-se úteis para a elucidação do tema aqui examinado.

Dependendo da disciplina que receba a execução em cada modelo concretamente considerado, pode-se atribuir ao Poder Judiciário a função de receber o pleito de início de execução e encaminhá-lo ao agente de execução competente. Assim, muito embora a prática dos atos executivos deva ocorrer fora do âmbito do Poder Judiciário, o procedimento nasce perante os Tribunais. Assim acontece, v.g., em Portugal, onde o

requerimento executivo é apresentado ao Tribunal de Execução184. Em outros ordenamentos, no entanto, o requerimento de início de execução deve ser apresentado diretamente pelo exeqüente ao agente de execução: é o que ocorre, p. ex., na França, Grécia, Luxemburgo e Polônia185.

Também a depender da disciplina concreta de cada procedimento de execução, pode-se exigir que os atos de agressão ao patrimônio do executado só se desencadeiem depois de autorização do juiz, que exerce, por assim dizer, um controle prévio da

competência do agente de execução e reduziram a participação do juiz, suprimiu a expressão ‘sob controlo do juiz’ antes existente no art. 808/1, assim como suprimiu a previsão de ‘poder geral de controlo do processo’ originalmente presente no art. 809/1, e ainda atribuiu precipuamente ao exeqüente a faculdade de substituir livremente o agente de execução, conforme previsão inserta no art. 808/6 do Código de Processo Civil Português. É certo, no entanto, que remanesce o juiz com a atribuição de “julgar, sem possibilidade de recurso, as reclamações de actos e impugnações de decisões do agente de execução (...)”, nos termos do art. 809/1/”c”.

184 Art. 810/1, Código de Processo Civil Português. Observe-se, no entanto, que, a partir da reforma operada

pelo Decreto-Lei 226/2008, tal requerimento, além de outros elementos, deve trazer a indicação do agente de execução escolhido pelo exeqüente (art 810/1, “c”), sendo excepcionais as hipóteses em que caberá à Secretaria do Tribunal, por sorteio, designar o agente de execução que atuará no caso concreto (art. 811-A do Código de Processo Civil Português). Sobre as linhas gerais da execução no Código de Processo Civil Português, v. item 5.1.1 abaixo.

185

EUROPEAN COMISSION FOR THE EFFICIENCY OF JUSTICE (CEPEJ), Enforcement of court decisions in Europe. Disponível em: <http://www.coe.int/t/dghl/cooperation/cepej/series/ Etudes8 Execution_en.pdf>. Acesso em: 20.04.2011.

admissibilidade da execução. Tal ocorre, v.g., na execução de título extrajudicial alemã, em que o agente de execução, o executor do juízo (Gerichtsvollzieher), funcionário judicial pago pelo erário público, só pode proceder aos atos executivos mediante ordem judicial186. Também no anterior direito português, ainda sob a égide do Decreto-Lei nº 38/2003, cabiam à Secretaria do Tribunal e ao juiz o exercício, de ofício, de controle formal prévio ao desencadeamento dos atos executivos, situação que não mais persiste como regra após a vigência do Decreto-Lei 226/2008187.

De outro turno, é possível conceber que o agente de execução proceda de imediato aos atos de execução sem controle prévio do magistrado. O sistema alemão novamente proporciona o exemplo, se o título executivo for a sentença: neste caso, o juiz só intervém

a posteriori, em caso de litígio188.

No curso da execução, e mais uma vez variando em função de cada ordenamento concretamente considerado, determinados atos reputados especialmente sensíveis devem ser requisitados ao juiz pelo agente de execução. Invocando-se, mais uma vez, o exemplo do direito português, sob a égide do Decreto-Lei 226/2008, dentre outros desdobramentos concretos do que aqui se afirmou, embora o agente de execução possa procurar bens penhoráveis do executado por meio de consulta direta a “bases de dados da administração

tributária, da segurança social, das conservatórias do registo predial, comercial e automóvel e de outros registos ou arquivos semelhantes”, dependerá de prévia autorização

judicial para examinar aqueles cobertos por sigilo fiscal ou sujeitos a regime de

confidencialidade (art. 833-A/2-7); embora lhe seja facultado solicitar diretamente o auxílio das autoridades policiais se surgir resistência ao ato de penhora, dependerá de

prévia ordem judicial o eventual arrombamento de portas para sua realização (art. 840/2- 3).

Seja como for, independentemente da relação hierárquica, reserva-se aos juízes sobretudo a função de tutela – isto é, compete-lhes julgar imperativamente eventuais litígios que venham a surgir no curso da execução, inclusive as eventuais defesas do

186

J. LEBRE DE FREITAS, A acção executiva depois da reforma da reforma, 2009, p. 24, nota 54. 187 Sobre o ponto, v. notas 208 e 209 abaixo.

executado – e, em algum grau, de controle - seja prévio, seja incidental, para resolver eventuais dúvidas suscitadas pelo próprio agente de execução-189.

5 Minimização da participação do juiz nos atos de execução

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