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JOHN LOCKE (1632 – 1704)

2.2.4. As Teorias dos Direitos Humanos

Como vimos na secção anterior, o utilitarismo não teve uma aceitação fácil. Designadamente, ao tempo em que ele começou a ser estruturado, a outra perspectiva omnipresente na história do pensamento ocidental quanto à origem das lógicas dos valores e da acção, teoria baseada na existência de valores pré-existentes à existência humana, afirmava-se, sobretudo a partir de Kant, como alternativa ao utilitarismo, defendendo que o que nos faz apoiar ou rejeitar valores e acções é o conceito de justiça, baseada no direito natural.

Esta tese foi defendida e exposta, já na segunda metade do Século XVIII, por Robert Jacques TURGOT, António Caritat (Condorcet) e Thomas JEFFERSON. CONDORCET, em 1790, definia assim o seu princípio:

«Tudo deve tender não à maior utilidade da sociedade, princípio vago e fonte profunda de más leis mas ao gozo (jouissance) dos direitos naturais.» 99.

Esta tese daria origem à doutrina dos direitos do homem, conhecidos por dedução racional a partir do direito natural. Este método já havia sido defendido por

97 A influência de de Rousseau e de Kant e do idealismo alemão, em Inglaterra, também se fazia sentir no

tempo de J.S. Mill, particularmente através de John Grote (1813-1866), de Francis Bradley (1846- 1924) e de Thomas H. Green (18836-1882), os quais, cada um a seu modo, denegriram o utilitarismo como lógica do prazer animalista (cf. C. AUDARD, 1999, II: 5-7).

98 Veja-se o que diz Mill (1998), no Essai sur Bentham, p. 161: «Je n`ai jamais cesse de

considérer que le bonheur est le critère de toutes les règles de conduite et le but de la vie. Mais je tenais à présent que ce but serait atteint à condition de ne pas en faire un but direct. (…).

Que le but puisse se déplacer de la fin sur le moyen autorise un véritable développement moral puisque le vertu peut devenir ainsi désirable en elle-même. En retour, les buts secondaires deviennent les parties du bonheur ; le désirable en soi n`existe qu`à travers des désirables de fait.»

E, em Utilitarismo (MILL, 1998 : 31), explica : «(…) le principe d`utilité ou du plus grand bonheur pose que les actions sont moralement bonnes (right) dans la mesure où elles tendent à promouvoir le bonheur, moralement mauvaises dans la mesure où elles tendent à produire le contraire du bonheur.».

99 António CONDORCET (1790; 1997). Vie de Monsieur Turgot, Paris, Éditions ADEP, p. 191. A

Samuel PUFENDORF em Le Droit de Nature (1673). Porém, enquanto que Pufendorf aceitou a desigualdade natural e social e, mesmo, a escravatura, do que agora se trata é da defesa da igualdade, dignidade e liberdade para todos os seres humanos.

O axioma fundamental de que partem os defensores dos direitos do homem é o da sociabilidade do ser humano, a qual conduz à interdependência de todos os seres humanos uns em relação aos outros, já que não podem satisfazer sozinhos as suas necessidades, advindo daí a reciprocidade social. Por isso, no dizer de D`ALEMBERT (1986: 201),

«Tudo se funda numa só verdade de facto e incontestável, isto é, sobre a necessidade mútua que os homens têm uns dos outros e sobre os deveres recíprocos que esta necessidade impõe.»

A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, em França, proclamou portanto os direitos e os deveres numa perspectiva de Direito Natural Liberal. Tais direitos foram: a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Mas a Declaração da Independência dos Estados Unidos, de 1786, tinha um articulado diferente: «(…).todos os homens foram criados iguais; foram dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis; entre estes, a vida, a liberdade e a busca da felicidade e do bem-estar.» E, em 1793, A. Condorcet e Thomas Paine propuseram: a liberdade, a igualdade, a segurança, a propriedade, a protecção social e a resistência à opressão. (Cf. F. VERGARA, 2002: 132).

Ao contrário da Teoria do Direito Natural, tal como a concebeu S. Pufendorf, a Teoria Racionalista dos Direitos do Homem ou Teoria do Direito Natural Liberal prevê a igualdade permanente e irrevogável dos direitos naturais. Enquanto Pufendorf admitia que tendo os homens nascido todos livres e iguais, poderiam tornar- se desiguais em virtude de contratos e de ocorrências da vida, Turgot, Condorcet e Paine afirmam a imutabilidade e a irrevogabilidade dos direitos naturais.

O primeiro e principal direito a ser definido foi o da liberdade. Para ele Condorcet e Paine tenham estabelecido um princípio de acção bastante semelhante ao de Mill para salvaguarda da autonomia da vida privada: «a liberdade consiste em fazer tudo o que não é contrário aos direitos dos outros» (CONDORCET, citado por F. VERGARA, 2002: 136).

No entanto, este princípio de acção tem consequências diferentes do de MILL. Mill e os utilitaristas afirmavam que a liberdade individual terminava no momento em que as nossas acções causassem dolo ou mal-estar aos outros, o que remetia a apreciação da acção para o domínio subjectivo ou intersubjectivo. Os racionalistas dos direitos humanos puseram a tónica numa fronteira objectiva: o direito consagrado dos outros, plasmado na autonomia ontológica da Lei.

A questão seguinte é a de quem garante o respeito da regra de Condorcet e de Paine. A resposta surgiu da herança do Estado Autoritário. É necessário um conceito metafísico, a partir do qual se desenvolva uma estrutura conceptual de regras e de deveres. Tal conceito é o de justiça e foi operacionalizado na frase: «a justiça consiste em dar a cada um aquilo a que ele tem direito» (F. VERGARA, 2002: 141), o que significa que o Estado terá de salvaguardar o cumprimento da justiça.

Para os ultraliberais e para os defensores do direito natural radical, como Hugo Grócio e Samuel Pufendorf, o dever do Estado terminaria aqui. Mas, para os liberais clássicos dos direitos do homem, o papel do Estado deveria ser muito mais amplo.

Do facto de o indivíduo ter de cumprir certas regras, os teóricos dos direitos humanos derivaram o dever social e estatal de vigilância e bem-fazer aos outros, com base na reciprocidade. Assim, na perspectiva de Turgot, de Condorcet e de Jefferson, o Estado tem o dever de fazer aplicar a justiça, de criar as condições infra-estruturais para o desenvolvimento económico e de dotar os cidadãos de meios de concorrência com os outros em situação o mais igual possível. Neste sentido, o Estado deveria ajudar os mais pobres e dar apoio diferenciado conforme as necessidades dos indivíduos.

Deveria ainda organizar os sistemas sociais que promovessem a autonomia e a liberdade de iniciativa, com predominância para as infra-estruturas de desenvolvimento económico, para a educação e para a saúde. Turgot, quase um século antes de Mill, mas ao mesmo tempo que Adam Smith, chegou mesmo a defender um sistema público de Educação.

Ficaram assim em conflito duas perspectivas no liberalismo clássico: a anglo-americana segundo a qual o Estado poderia apoiar a sociedade civil nas tarefas do progresso ma não substitui-la; e a francesa, segundo a qual, o Estado deveria promover tal progresso, substituindo, sempre que necessário, a sociedade civil. Tratava-se do gérmen do Estado Social.

Mas também de uma concessão ao Estado autoritário, a que a democracia continental ficaria vinculada. Pelo menos até hoje. O «ethos» democrático passaria a derivar de uma realidade ontológica transcendente aos actos humanos, tendo mais dificuldade em conformar-se às dinâmicas sociais do que em conformar os cidadãos. E, necessitando de uma superestrutura administrativa para se expandir pela sociedade, acabou por ser vítima de tal superestrutura, pela via da burocratização, diminuindo, em nome da salvaguarda dos direitos comuns, o campo de liberdade individual e social.

2.2.5. O Ultraliberalismo

Como referimos na secção sobre o Liberalismo Económico (secção 2.2.1 deste capítulo) são comumente atribuídas ao liberalismo clássico características que não lhe são próprias, tais como a defesa de um Estado Mínimo ou a defesa da ausência de Estado. Estas características, porém, são próprias do Ultraliberalismo.

Por outro lado, o que caracteriza os liberais clássicos é a coerência ideológica na busca de um primeiro princípio orientador, chame-se ele princípio de utilidade ou critério da maior felicidade para o maior número, para os utilitaristas, ou conformidade à Justiça e ao Direito Natural para os partidários da teoria dos «Direitos do Homem». Enquanto que, para os Ultra-liberais, existe um certo ecletismo nos quadros orientadores da acção política, social e organizacional.

Assim, apesar de invocarem tanto o critério de utilidade quanto o do direito natural, invocam sobretudo o da quantidade de liberdade conferida 100 pelos quadros

legais instituídos, a qual só pode ser colocada em causa para adquirir uma liberdade maior. F. VERGARA (2002: 176-177) analisa este princípio e chega à conclusão de que, com ele, chegaríamos até a destruir todo o Estado Social Europeu, exemplificando com a autorização para abrir escolas não estatais, para as quais, em nome da liberdade, não poderia haver qualquer critério de competência ou de requisitos, e invocando, tal como Constant, Tocqueville, Mill e Sidgwick, o receio de um regime tão baseado na extrema liberdade como o do Terror, logo após a Revolução Francesa.

Para F. BASTIAT (1849- 1983) e H. SPENCER (1880- 1981), o critério organizador deve ser, como na escola dos «Direitos do Homem», de TURGOT e de CONDORCET, o direito natural mas, apesar disso, limitam tal critério à reivindicação de um único papel para o Estado: o de aplicar a Justiça. O Estado, segundo eles, não deve nem promover infra-estruturas para o desenvolvimento económico nem benfeitorias sociais. Apenas aplicar a Justiça, segundo o Direito Natural.

Ora, os liberais clássicos, tais como Adam Smith e Turgot, pensaram ao contrário (F. VERGARA: 2002: 182-183). Segundo este autor, eram favoráveis à obrigatoriedade escolar, ao fornecimento de um ensino gratuito (ou quase gratuito) pelo Estado, à ajuda do Estado aos desfavorecidos, à acção pública em favor da saúde e da higiene, ao incremento das artes e das ciências, à construção, pelo Estado de uma rede de estradas e canais, etc. . Mas H. SPENCER dirá que a ajuda aos pobres só produz efeitos perversos e que, portanto, deve ser impedida.

Em concreto, e no caso da Educação, todos os liberais clássicos foram favoráveis ao seu incremento, desde Adam Smith 101 a J.S.Mill 102. Já Milton

100 Veja-se estas citações de F. VERGARA (2002:173), extraidas de Milton Friedman e de Fritz Machlup:

«(…) en tant que libéraux, nous prenons la liberté de l`individu, ou peut-être de la famille, comme but ultime permettant de juger les institutions sociales.» (M. Friedman) e «(…) un libéral est quelqu`un qui met la liberté au-dessus de tout autre but social et qui ne consentira jamais à limiter une quelconque liberté – économique, politique ou intellectuelle – sauf comme moyen pour attendre la réalisation plus complète d`une autre liberté.»

101 Adam SMITH (1776; 1999, II: 420-421) vai mesmo ao ponto de defender a escola para todos, como

instrumento de aperfeiçoamento intelectual e de progresso dos povos, defendendo a escola pública para os pobres, já que os ricos não precisam dela e são, por isso, instruídos na família: «Mas embora a gente comum não possa, em qualquer sociedade civilizada, ter tão boa instrução como as pessoas de posição e fortuna, contudo as partes fundamentais da educação, ler, escrever e contar, devem ser cedo adquiridas na vida das pessoas, de tal modo que a grande parte até da vida das pessoas que se destinam às ocupações mais inferiores, tenham tempo de as adquirir antes que tenham de se empregar nessas ocupações.». Para isso, «O público pode fazê-lo através da criação em cada paróquia ou distrito de uma pequena escola onde as crianças possam ser ensinadas através de um pagamento tão reduzido… .».

102 Diz J. S. MILL (1985: 318 - 320), citado por F. VERGARA, 2002: 185: «L`Éducation dispensée

dans ce pays sur la base du principe volontaire (…) même en quantité est, et probablement demeurera, tout à fait insuffisante. (…) L`éducation, donc, est une de ces choses qu`il est admissible, du point de vue des principes, qu`un gouvernement fournissent au peuple.».

FRIEDMAN e os neoliberais ultraliberais acham a intromissão do Estado na Educação desnecessária e prejudicial 103.

Na mesma linha, os Ultra-liberais recusam qualquer papel regulador do Estado, seja na economia seja nos serviços sociais. Segundo H. Spencer e F. Hayek, a sociedade é o produto de uma evolução, onde sobreviveram e devem sobreviver os melhores. Logo, a regulação externa deturpa a ordem natural, sendo necessário deixar funcional «a harmonia natural dos interesses». Ao contrário, tanto Adam Smith como Turgot como ainda Mill recusaram ver a harmonia natural em tudo e preferiram que o Estado interviesse e garantisse uma ordem social que possibilitasse a integração social de todos, conciliada com o máximo de liberdade individual.

E, segundo os ultraliberais, a intervenção do Estado é desnecessária porque, na sequência de Bernard de Mandeville, o interesse individual coincide com o interesse colectivo, ou seja, este é feito do resultado da luta entre os interesses individuais 104. Já

para os Clássicos, com Adam Smith (1776; 1999) à cabeça, o interesse individual nem sempre coincide com o interesse colectivo e o Estado deve intervir quando julgue que esse interesse deva ser harmonizado. E dá como exemplo a necessidade de o Estado preparar Professores.

Nesta luta entre os interesses que constituem a sociedade, não é possível, segundo F.A. HAYEK (1980, I: 42), antecipar o futuro ou moldá-lo de acordo com um esquema conceptual pré-concebido. A sociedade é um produto da história e da acção humanas mas, por isso mesmo, constitui uma ordem natural ou Kosmos e não uma táxis, isto é, uma ordem racional calculada que, mesmo que existisse, não deixaria de ser enviezada por múltiplos efeitos perversos.

Daqui decorre um ataque violento de Hayek à ordem democrática contemporânea que ele caracteriza como construtivismo racionalista pelo facto de, desde o racionalismo da modernidade, se pretender construir, idealmente, a ordem social, económica, jurídica, política e cultural a partir de ideais pré-concebidos, como se a realidade lhes pudesse ser adequada.

Tal racionalismo é caracterizado por Hayek como tendo duas heranças fundamentais: 1) o voluntarismo racionalista cartesiano, com início em 1628; e o idealismo Kanteano-Rousseauneano de construir a ordem político-social com base numa invenção teórica – a da justiça social. Hayek exemplifica as consequências de ambas as heranças na destruição da tradição cultural de cada povo que, segundo ele, é a base fundamental da sua evolução, condenando, por isso, todo o idealismo modernizador, desde o de Voltaire aos de Rousseau e de Turgot, e anatemizando também qualquer positivismo jurídico.

103 Milton FRIEDMAN (1980: 197) escreve que a intervenção do Estado em Educação foi desnecessária

porque quando foi realizada já os ingleses e os americanos estariam instruídos, o que, como vimos, é contrariado por J. S. Mill. Mas, além disso, diz Friedman, «le rôle croissant que le gouvernement a joué dams le financement et dans l`administration de l`enseignement a conduit (…) à un système éducatif beaucoup plus mauvais (…).».

104 Veja-se Henri Lepage (1978: 180): «La structure des intérêts particuliers s`ajuste

Acusando de monismo (monocracia) todo o edifício democrático, Hayek contrapõe-lhe o pluralismo da ordem social natural, sugerindo que tanto o igualitarismo como a igualdade social de oportunidades não passam de paliativos próprios de uma sociedade primitiva e tribal, que se quer destruir a si própria, na medida em que quer controlar as rupturas e as inovações, na intolerância pelas diferenças face à inovação.

Nesta linha, no terceiro volume de Droit, Législation et Liberé (1979; 1995), analisa mais profundamente a ordem democrática até ao terceiro quartel do Século XX, dirigindo a sua crítica contra o progressivo aumento dos poderes legislativos das Assembleias, que acusa de construírem leis cada vez mais específicas e cada vez mais redutoras do espaço de liberdade individual, e contra as maiorias absolutas parlamentares que, segundo Hayek, constituem uma máscara maioritária. O autor conclui então que, à medida que as democracias distribuem bens sociais, degeneram em socialismo, e à medida em que, pela legislação e pelos regulamentos, coarctam a liberdade individual, se transformam em sistemas totalitários.

Por outro lado, a sua crítica à democracia dirige-se também à contradição interna dos sistemas democráticos, segundo os quais é o princípio maioritário que determina as vontades governativas, verificando-se pelo contrário que as governações são dominadas por minorias camufladas e pelo oportunismo dos dirigentes políticos, sob o manto do mercado eleitoral. Georges LAVAU e Olivier DUHAMEL (1985: 94) sublinham a pertinência das críticas de Hayek face à prevalência das manipulações de interesses a que é sujeita a democracia, sobretudo no âmbito do Welfare State.

A partir do conjunto destas premissas, Hayek propõe a construção de uma democracia limitada, com um poder político limitado nos seus poderes e na sua duração temporal, e uma ordem legislativa que fixe quadros de acção e não regras de acção 105. Diversas cortes constitucionais contribuiriam para limitar o poder dos

membros da Assembleia Legislativa e os do Governo.

E, para que estes poderes fossem realmente muito limitados, tornar-se-ia necessário incrementar intensamente o processo de descentralização e de regionalização, responsabilizando as novas estruturas pelo menos por parte do seu financiamento e colocando-as em competição umas com as outras não só por financiamento mas também por população.

A redução do Estado deveria ser terminada com o fim dos serviços públicos, que deveriam ser todos privatizados, e com a outorga da possibilidade de as empresas também cunharem moeda. Hayek cai assim num modelo ainda mais radical que o de Robert DAHL, que reuniu no seu conceito de poliarquia o contributo de grupos concorrentes e adversários na negociação e limitação do poder dos governantes. Só que, para Hayek, o papel do Estado deve ser o mínimo possível e para Dahl o Estado deve ser conformado pelos interesses das diversas poliarquias.

105«Dans une société libre, l`État est une organisation parmi les autres; celle à qui on demande

de fournir de façon effective un cadre à l`intérieur duquel peuvent se former les ordres autogénérées, mais qui englobent seulement l`appareil des pouvoirs publics et n`a pas à déterminer les activités des libres individus.» (F. HAYEK, 1999, III: 167).

A limitação do Estado, operada por Hayek é confirmada por Robert NOZICK (1974; 1988), que «rejeita toda a autoridade coercitiva e todo o contracto social gerador de Estado» (G. LAVAU e O. DUHAMEL, 1985: 96). Segundo Nozick, a função do Estado é apenas garantir os direitos naturais dos indivíduos, obedecendo ao princípio mais geral de que nenhum direito individual deve ser limitado.

O Estado, na perspectiva do mesmo autor não deve pensar na «utopia» da justiça social nem na da função redistributiva porque, no jogo social, os indivíduos aliam-se uns aos outros e a única coisa que lhes interessa é terem segurança e paz para poderem jogar este jogo da liberdade.

Nozick só prevê o Estado para garantir a liberdade deste jogo, a segurança da propriedade, a paz e estabilidade nas relações internacionais. E, por isso mesmo, o Estado deve ser uma criação dos próprios indivíduos, livres e iguais no Estado de Natureza, os quais, para defenderem interesses comuns, se vão associando em associações cada vez maiores até surgir o Estado como a associação maior de todas mas que deve manter-se como Estado Ultra-Mínimo 106. A sociedade será portanto

uma arena de lutas e coligações entre indivíduos livres. Uma antecipação de «A Anarquia que aí vem» (Robert KAPLAN, 2002).

Caberá perguntar se nesta arena poderão ter lugar os menos poderosos, económica e intelectualmente, e o que farão com eles o Estado e os indivíduos livres. Nozick responde que cada indivíduo encontrará o seu lugar na sociedade, conforme o seu valor económico, cultural e social. Que, nestes casos, o Estado não deve fazer mais que permitir novas oportunidades.

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