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Âs cinco formas de governo e sua série como progres­ são degenerativa.

I II DEUS E O MUNDO (TEOLOGIA E COSMOLOGIA)

VI. A LEI E O ESTADO

10. Âs cinco formas de governo e sua série como progres­ são degenerativa.

Há tantas formas de govêrno, que correspondem, talvez, aos tipos e modos da alma. — E quantos são? — Cinco de govêrno e cinco de alma. — Dize-me quais são? — Digo que um modo de govêrno seria o que acabamos de examinar,# que pode ter dois nomes. Surgindo, pois, entre os gover­ nantes um só homem ilustre, chamar-se-ia reino, encon­ trando-se porém muitos, aristocracia (Rep., IV, 19, 445).

Considero bom e reto ' um Estado e govêrno dêsse gê­ nero, assim como o homem que se ajuste a êsse tipo; m aus e enganados, os outros. . . e os incluo entre as quatro espé­ cies de vícios (ib., V, 1, 449).

É difícil desenraizar um Estado assim plantado, m as como o que tudo o que nasce morre, nem mesmo tal consti­ tuição permanecerá eternamente (ib., VIII, 3, 546). Mistu­ rando-se o ferro com a prata e o bronze com o ouro, nasce um a desigualdade e uma discorde anom alia. . . Nascida a discórdia. . . violentando-se e dirigindo-se cada um em sen­ tidos opostos entre s i . . . (ter-se-á) um govêrno misto, bom. e mau em tudo. — Pois é misto, e nêle predominará um só elemento, que provém do domínio da faculdade passio­ nal, isto é, as invejas e as ambições (timocracia) (ib., VIII,

3-4, 546-8). a

E o que vem depois dêste será a oligarquia. . . , o govêr­ no fundado na riqueza, em que mandam os ricos, e o pobre não toma parte no govêrno. . . O primeiro defeito dêste go­ vêrno acha-se justamente aqui, na sua mesma determina­ ção. De fato, pensa no que aconteceria se, nos navios, se

elegessem os pilotos, com base na riqueza. . . E então? Acaso será menos grave êste outro (defeito)? — Qual? __ Que semelhante Estado será forçosamente rião um, mas dois; o dos pobres e dos ricos, nêles coabitando, mas sempre arman­ do insídias, reciprocamente (ib., 6-7, 550-1).

Dêsse modo passa-se da oligarquia à democracia, pela insaciabilidade do bem ambicionado, que é a transformação em ricos, na maior medida possível. . . Na oligarquia". . transform am -se... êles mesmos e os seus, já desde jovens, em luxuriosos, que as fadigas do corpo e da alma às abor­ recem e são débeis para resistirem aos prazeres e às dores. . . Reduzidos a esta situação, quando se encontram governan­ tes e súditos, em caminho ou em reuniões. . . ou durante a navegação ou em expedições m ilitares. . . , o pobre, magro, queimado pelo S o l . . . , ao ver (o rico) sem coragem e teme­ roso, crês que não pensa que essa gente é rica por sua pró­ pria culpa, e que, quando se encontram entre si, não dizem .un s aos outros: os nossos amos não valem n a d a !? .. . A de­

mocracia, segundo creio, nasce, então, quando os pobres, derrotando os outros, em parte os matam, em parte os ex­ pulsam . . . e como é um govêrno sem elh a n te? .. . Não é tal­ vez antes de t udo . . . o Estado cheio de liberdade, também de palavras, e no qual cada um tem a faculdade de fazer o que mais desejar?. .. Cada um segue o modo de vida que mais lhe agrada. . . Será, ao que parece, um govêrno agra­ dável, anárquico e variável, que distribui um a certa igual­ dade aos iguais e aos desiguais (ib., 10-11, 555-8). Êste é, meu caro, o princípio tão belo e temerário de que nasce a

ti r a n i a ... Parece que o excesso de liberdade não conduz

senão a um excesso de escravidão dos indivíduos e dos Esta­ d o s . . . Os caudilhos das facções, despojando os possuidores, de riquezas, distribuem-nas ao povo, conservando, porém, muito mais para s i . . . Logo, pois, um caudilho, q u e . .. man­ de para o exílio e condene à mort e. . . , depois disto, é fatal que seja morto pelos inimigos, o que se transforme em tira­ no e, de homem, se transforme em l ôbo. . . Todos os que chegaram a êsse extremo recorrem ao famoso recurso tirâ­ nico de pedir ao povo uma guarda para salvar o defensor do povo. . . E então, êsse chefe firma-se sôbre o carro do Estado mudando-se de chefe em tirano . . . E, antes de tudo, provoca sempre guerras para que o povo se encontre neces­

sitando de um chef e. . . E, por isso mesmo, não terá sem­ pre necessidade de guardas tanto mais numerosos e fiéis, à medida que, por sua conduta, vá aumentando o ódio dos ci­ dadãos para com êle? (15., 15-18, 563-7). E, segundo o pro­ vérbio, o povo, para fugir à fumaça da sujeição aos livres, cairia no fogo da dominação dos escravos (ib., 19, 569). E é evidente a todos que não há Estado mais infeliz do que o que se acha sob o pêso de um a tirania. . . Se, pois, o ho­ mem é semelhante ao Estado. . . , também a alma submetida à t i r ani a . . . , sempre arrastada pela fôrça do furor, será cheia de tumulto, de confusão e arrependimento (Rep., IX, 4-5, 576-7). Então, meu Clauco, é completamente infeliz esta condição, e o tirano, no exercício das suas funções, leva uma vida ainda mais atormentada do que a que julgavas atorm entadíssim a. . . ; e parece. . . cheio de temor durante tôda a sua vida, de aflições e de dores. . . e forçosamente tem que chegar a ser, ainda mais do que an t e s . . . , inve­ joso, injusto, sem amigos, ímpio, repositório e alimento de* tôda a maldade. . .

Felicíssimo o ótimo é o muito justo, isto é, o homem régio por excelência, que conserva o domínio de si mesmo; infelicíssimo o péssimo e muito injusto, que vem a ser tirânico por excelência, tirano de si mesmo e do Estado

(ib., 6, 579-80).

Variações posteriores da classificação. Não é a m onarquia, talvez, para nós, um a das constituições políticas? — Sim. — E depois, da m onarquia, poder-se-ia dizer o governo de poucos. — Efetivamente. — E, terceira for­ m a de governo, não é o domínio da m ultidão cham ada democracia? (Polit., XXXI, 291). Dividindo em dois cada um a destas, fazem-se seis, pondo de lado a constituição perfeita, que é a sétima. ■— Como? — Da monarquia, o reino e a tirania; do im pério de poucos, a aristocracia de bom augúrio e a oligarquia; do governo de m uitos que já, crendo-o simples, indicamos como democracia, tam bém se devem supor duas fo rm as. .. o governo segundo as leis e contra as leis, nesta, com nas outras constituições... A m onarquia, então, ligada a boas escritas, a que chamamos leis, é a me­ lhor dentre tôdas as seis; sem leis, é a m ais dura e pesada para su p o rta r... O império de poucos, como o pouco se acha no meio do um e da m ulti­ dão, será considerado médio entre ambos; depois o da m ultidão, débil em tudo, incapaz de nada grande, nem para o bem nem para o m a l... Por isso, é a pior de tôdas as constituições legítimas; de tôdas as ilegais, a melhor. E, se tôdas são desenfreadas, leva a palm a o viver na democracia; se são ordenadas, não se deve p referir viver nela, m as na prim eira, exce­ tuando-se a sétim a (ib., XLI, 302-3).

A preferência final à forma m ista de monarquia e de democracia. Não se deve constituir podêres grandes e não m is to s ... É preciso, então, que (o Estado) participe de duas (m onarquia e democracia) se devem existir liberdade e concórdia com sabedoria. O E stado que tenha amado o p rin ­ cípio monárquico ou o da liberdade m ais do que devia (amá-lo), exclusiva­ m ente, não teve nem um nem outro na ju sta m edida (Leis, III, 11-12, 693). Havendo (o rei) suprim ido em dem asia a liberdade do povo, e aum entado mais do que devia a autoridade real, destruiu a concórdia e o am or no E sta d o ... Por outro la d o ... a absoluta liberdade, desligada de todo poder, não é inferior em pouco a um regime que tenha um a medida estabelecida na dependência dos diversos podêres (ib., 13-14,697-8).

Por isso, escolhidos os dois regimes típicos do despotismo e da liberda­ d e ... vimos que, tom ando um e outro em condições de proporção, um a

respeito do despotismo, o outro com referência à liberdade, nasce então, nos mesmos, o bem -estar por excelência: mas, levados ambos ao extremo, um da escravidão, o outro da liberdade, não beneficiaria nem a um nem a