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A ATER como articuladora de políticas públicas locais do campo

presa às velhas práticas”

9. A ATER como articuladora de políticas públicas locais do campo

Se, por um lado, é fundamental essa interface dos entes federativos, por outro, é estratégico garantir a paridade entre representantes do governo e da sociedade em todos os espaços de representação, colegiados e representações. Isso empodera, valoriza a participação e democratiza o processo. No entanto é preciso ter claro de que são os governos das três esferas que tem a responsabilidade de criar condições favoráveis para que a sociedade se mobilize e participe

33 Empoderamento pressupõe educação e capacitação técnica e política para o

desenvolvimento, a constituição de novas bases de informação, com a produção e socialização de indicadores locais de desenvolvimento, que incorporem índices de qualidade de vida e de desenvolvimento humano. Precisa também da aplicação de estratégias eficientes de comunicação e marketing social que possibilite um fluxo permanente de informações e o despertar para as possibilidades e vantagens de um processo de desenvolvimento mais solidário e ético (FRANCO, 1998).

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efetivamente. Não se pode esperar uma Política de ATER universalizada e de qualidade sem a participação também dos estados e municípios, principalmente em relação ao financiamento e gestão. É preciso que, também, estes entes federativos participem, efetivamente, articulando-se e elaborando leis estaduais e municipais em sintonia com a Política Nacional.

Uma das formas de descentralizar as ações e aumentar a abrangência dessa política pública é criar as condições objetivas para que os municípios e territórios tenham o apoio da estrutura pública. Por exemplo, a elaboração de planos locais de ATER, construídos de forma paritária e supervisionados pelo MDA ou entidades contratadas para assessoramento. Na medida em que os estados, municípios e entidades participarem efetivamente dessa articulação entre si e com o governo federal poderá se ter um aumento, muito grande, no número de famílias atendidas, rumo a universalização destes serviços.

Muitas das ações e formulação das demandas poderiam ser construídas por entidades e instituições que vivem localmente e já conhecem a trajetória das famílias, comunidades, assentamentos rurais e das próprias organizações. A proposta que consolidaria a integração dos entes federativos seria a criação do Serviço Unificado de Extensão Rural, juntando todos os atores locais com seus respectivos recursos e logística e passando a atuar conjuntamente e de acordo com demandas levantadas a partir das famílias, comunidades, assentamentos e organizações da agricultura familiar e camponesa.

Da mesma forma que se quer estados e municípios participando mais efetivamente dessa política pública a fim de universalizá-la, é preciso considerar os seus serviços como processos educativos, como afirma a Pnater:

Desenvolver processos educativos permanentes e continuados, a partir de um enfoque dialético, humanista e construtivista, visando a formação de competências, mudanças de atitudes e procedimentos dos atores

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sociais, que potencializem os objetivos de melhoria da qualidade de vida e de promoção do desenvolvimento rural sustentável‖ (MDA, 2004).

A justificativa para que sejam investidos recursos públicos neste serviço poderia ser a mesma que dá suporte a oferta de escolas públicas:

melhorar a distribuição de renda mediante a oferta de igualdade e oportunidades (ou igualdade de acesso às informações sobre tecnologias de produção) e geração de externalidades positivas para toda a população (produção de alimentos a custos menores, quantidades e qualidades maiores; segurança alimentar). (PEIXOTO, 2008, p.40).

Em vista de novas exigências e enfoques do desenvolvimento rural, entende-se que a Extensão Rural orientada pela sustentabilidade, necessita levar em conta um conjunto de aspectos complementares e explicativos sendo imprescindível a interação das políticas públicas dentro do próprio governo e deste com as organizações e movimentos sociais. Embora já tenha passado quase duas décadas desde a ―independência‖ do MDA em relação ao MAPA, as manifestações explicitadas pelas organizações e movimentos sociais é de que ainda não foram superadas as contradições entre ambos34.

Os governos têm procurado contemplar, através de políticas públicas, dois modelos de desenvolvimento. Por um lado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento desenvolve ações de promoção do agronegócio baseado em um sistema organizado por cadeia ou setor produtivo, com investimentos altamente subsidiados e renegociação permanente das dívidas, entre outros. Por outro lado, o Ministério de Desenvolvimento Agrário que atua com um público mais excluído, com menos reconhecimento e poder dentro do governo, embora, com muito maior responsabilidade social, com programas baseados na produção

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ecológica e no desenvolvimento rural sustentável, atendendo demandas específicas para as mulheres e os jovens, por exemplo (CAPORAL, 2006). Os desencontros entre os dois ministérios tem sido constantes. Muitas atribuições que estão no MDA vieram do MAPA que reluta em abrir mão daquilo que, historicamente, foi ―seu‖. Mesmo que as atribuições de ATER tenham sido transferidas do MAPA ao MDA (Decreto nº 4.739), já em junho de 2003, ainda hoje aquele Ministério busca resgatar competências sobre os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural. Todavia, através do Decreto nº 5.351 de janeiro de 2005 o governo tirou do MAPA essa competência (PEIXOTO, 2008, p.38).

Outras disputas internas aparecem, frequentemente, entre os dois ministérios e que pouco ajuda o desenvolvimento da política de Extensão junto aos agricultores. Uma delas é lei de certificação dos orgânicos que, atualmente, é de competência do MAPA, mesmo que a maioria dos produtores sejam agricultores familiares. Outro embate se dá em torno do tema da Agroecologia que, historicamente, foi construído pelas organizações que se abrigam no MDA e estabelecido como princípio da Pnater, mas que, ultimamente, é pleiteado pelo MAPA.

Sobre o Serviço Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária (SUASA), a situação é ainda mais conflitante. Constituído ainda no governo Lula, através do Decreto nº 5.741 de 2006, só não foi implementada, por conflitos entre setores do próprio governo. Há indícios de que existem forças internas ligadas ao ministério da Agricultura que dificultam que uma proposta tão importante para o desenvolvimento da Agricultura Familiar e Camponesa fique anos sem poder ser operacionalizada.

Evidentemente, há diferentes concepções e interesses assim como uma complexa política que permeia os serviços de ATER nos estados e municípios. Mesmo como parte orgânica do MDA, por exemplo, os Programas de ATES (INCRA) e de ATER (MDA), não estão devidamente articulados no aspecto conceitual e operacional. Existem

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diferenças jurídicas, políticas e práticas que acabam refletindo nas ações cotidianas dos agricultores familiares e camponeses (INFORMAÇÕES COLHIDAS NA CONFERÊNCIA DE ATER DO PARANÁ, 2011).

10. A ATER e o desafio de aproximar o ensino -