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presa às velhas práticas”

6. A NOVA ATER e a superação do modelo difusionista

Para dar conta destes desafios mencionados e construir uma nova proposta de ATER há necessidade de serem construídas e apoiadas mudanças institucionais e estruturais com novos arranjos e formatos alternativos ao extensionismo convencional. Nesta nova perspectiva, a administração de tipo centralizada deve dar lugar a um modelo de gestão cooperativo e democrático, pois quanto maior é o grau de funcionamento autocrático da administração central, menos eficaz será a função educacional da Extensão Rural (WATTS, 1987, p. 31).

A análise de Watts (1997) contribui para perceber a importância do diálogo interno da construção de um ambiente favorável para a cooperação entre os funcionários e destes com outras organizações do

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setor público, organizações de representação dos agricultores familiares e ONG envolvidas em atividades de desenvolvimento rural. Ademais, desde a perspectiva do conhecimento técnico, parece necessário mudar o modelo piramidal em cujo topo estão os especialistas, que se consideram os donos do saber e que são os mentores das diretrizes de projetos e orientações tecnológicas que devem ser executadas pelos agentes de campo. Este modelo, que foi adequado às estratégias da Revolução Verde, não parece ser compatível com processos participativos (CAPORAL; COSTABEBER, 2004).

O redesenho da sistemática dos serviços de Acompanhamento Técnico e Social no país, aponta para um modelo de gestão federativo, articulado, integrado, participativo e sustentável. Um sistema único com papeis e responsabilidades estabelecidos, instrumentos de financiamento dos serviços e qualificação dos já existentes, como a Lei e as Chamadas Públicas, e com garantia da continuidade das atividades, a qualificação da gestão e do controle social.

É importante compreender também de que a tarefa da

construção do conhecimento social no campo não deve ser entendida,

unicamente, sob o ponto de vista das entidades prestadoras de serviços de ATER. Ela deve ser gestada pelos entes federativos em parceria com os movimentos e organizações sociais do campo. Por esta compreensão, não significa negar às prestadoras de serviços o papel de contribuir no processo, até porque a construção coletiva deve ter a participação efetiva do (a) Agente de ATER. No entanto, as decisões e encaminhamentos políticos deverá ser daqueles que vivem a realidade, ou seja, dos agricultores e suas organizações. Nem mesmo ao estado cabe outro papel que não seja o de prestar os serviços demandados e definidos por quem vive a realidade do dia a dia.

Mesmo com os inúmeros avanços em relação à abordagem e metodologia adotados, percebe-se que ainda são necessárias mudanças significativas na prática das entidades e dos agentes e ou extensionistas.

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As equipes de Agentes ainda necessitam ampliar a multidisciplinaridade e a forma de atuação interdisciplinar e intercultural. Apesar de legitimadas na Lei de ATER, os mecanismos de gestão social, conselhos e colegiados, ainda devem ser fortalecidos em sua representatividade e capacidade, para poder influenciar as decisões sobre os programas e prioridades da ATER. As novas abordagens necessitam aprofundar e se apropriar de temas como relações de gênero, etnodesenvolvimento, geração, etnia, e os relacionados com a qualificação da produção e acesso a mercados.

Por fim, diante de um cenário de escassez de energia, comida e água, é imprescindível a estruturação de uma nova proposta produtiva voltada para formas de produção e meios de vida mais sustentáveis (CAPORAL, 1998). Nessa perspectiva da construção do Desenvolvimento Local Sustentável30 que garanta a equidade social e o uso sustentável dos

recursos naturais, surge como desafio de efetivar uma proposta mais focada na Construção Social do Conhecimento orientada pela Agroecologia.

Seguindo o raciocínio de Caporal (1998), a Política de ATER orientada pela metodologia da Construção Social do Conhecimento, desenvolvida junto à agricultura familiar e camponesa, movida por ações locais/territoriais e articuladas em redes, terá possibilidades para desenvolver sistemas produtivos que incorporem as dimensões sócio, econômicas, ambientais, assumindo condições de suprir as demandas locais de água e alimentação. No entanto, para se tornarem efetivas, estas novas concepções e suas aplicações práticas, requerem uma ruptura e superação de processos historicamente constituídos dessa política pública que terá que ser planejada na perspectiva de longo prazo, como afirma Santos:

30"Desenvolvimento local sustentável é um novo modo de promover o

desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades específicas além de fomentar o intercâmbio externo, aproveitando-se de suas vantagens locais" (FRANCO, 1998).

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As novas tendências orientadas para os processos de sustentabilidade, nos parecem de grande impacto positivo a longo prazo, mas de difícil implementação à curto prazo, pois estão fortemente atreladas a mudanças de atitudes e de concepções das pessoas envolvidas, o que torna o processo mais lento e gradual, Em articulação com as grandes empresas que controlam o mercado de sementes e a distribuição mundial de cereais (SANTOS, 2008, p.22-39).

Segundo o raciocínio de Santos (2008), alguns fatores que devem ser levados em conta são o tempo de absorção e os múltiplos processos de tradução por que passa uma determinada proposta de mudança. No caminho de uma ideia/proposta gestada em nível nacional até ser internalizada, em nível local, existe uma rede que filtra as informações. Nesta relação, quanto maior o nível de imposição, sem diálogo, maior a resistência. Relações que estabelecem o diálogo, embora possam alongar o processo de implantação, gera comprometimento e co-responsabilidade dos atores envolvidos.

7. O papel da EXTENSÃO RURAL na luta pela Reforma