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A ATER e a construção de estilos sustentáveis de agricultura

presa às velhas práticas”

5. A ATER e a construção de estilos sustentáveis de agricultura

Construir estilos sustentáveis de Agricultura com base nos princípios da Agroecologia é tarefa que vai muito alem da economia verde ou da exploração dos nichos de mercado que acabam beneficiando poucos e geralmente aqueles que têm mais condições. Embora seja mais fácil de ser percebida, e mais simples de ser construída, só a ecologização da agricultura não muda a realidade social e pouco contribui para sustentabilidade. E como afirmam Costabeber e Caporal:

[...] enquanto a corrente agroecológica defende uma agricultura de base ecológica que se justifique pelos seus méritos intrínsecos ao incorporar sempre a ideia de justiça social e proteção ambiental, independentemente do rótulo comercial do produto que gera ou do nicho de mercado que venha a conquistar, outras propõem uma ‗agricultura ecologizada, que se orienta exclusivamente pelo mercado e pela expectativa de um prêmio econômico que possa ser alcançado num determinado período histórico, o que não garante sua sustentabilidade no médio e longo prazos (COSTABEBER; CAPORAL, 2003, p.20).

E como afirma Caporal (2008), o modelo hegemônico, orientador do desenvolvimento rural e agrícola no Brasil desde a segunda guerra mundial, está dando mostras de crise e esgotamento. Isto se deve não apenas aos limites de disponibilidade dos recursos naturais do qual é dependente, mas, também, devido ao acelerado consumo, destruição e degradação destes recursos. Tal modelo, ainda dominante nas orientações

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de política pública, foi e continua sendo responsável por um processo permanente de êxodo rural, desigualdades e concentração da posse da terra. Nesse raciocínio Caporal acrescenta que:

O que se observa é que, ao contrário dos discursos sobre sustentabilidade,bastante vazios em sua essência, os fatos empíricos demonstram que caminhamos para uma degradação socioambiental sem precedentes e para um aprofundamento da crise civilizatória em que estamos imersos (CAPORAL, 2011, p.150).

O aprofundamento da crise civilizatória a que se refere Caporal (2008) tem no modelo agroquímico sua principal causa. A liberalização do comércio e a expansão rápida das grandes empresas multinacionais tem se apropriado dos mercados de commodities e de alimentos do mundo.

O setor agro alimentar segue, apesar de particularidades, a dinâmica da economia geral, com crescimento do valor e da participação das vendas. Entretanto, mesmo com toda a retórica de produção de alimentos propagandeada pelo agronegócio, mais de um bilhão de seres humanos passa fome, diariamente, e a mesma quantidade está obesa (FAO, 2013).

E apesar desse crescimento tão propalado, Esther Vivas pondera de que num mundo onde são produzidos mais alimentos do que em qualquer outro período histórico, 870 milhões de pessoas passam fome. Se você não tem dinheiro para pagar o preço dos alimentos, que se torna mais caro a cada dia e nem acesso a recursos naturais como terra, água, sementes; você não come! (VIVAS, 2013).

De acordo com a FAO (2013), mais de 70% da diversidade agrícola já desapareceu. Produz-se em função dos interesses do mercado, apostando em variedades resistentes ao transporte de longas distâncias, que tenham uma aparência ótima deixando de lado outros critérios não comerciais.

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O empobrecimento do campesinato é outra das consequências do atual sistema agroindustrial. Se aposta em um modelo agrícola que ignora o conhecimento camponês, subsidia o agronegócio e diminui, cada vez mais, os espaços da agricultura familiar e a de pequena escala. A agricultura familiar, ao contrário do agronegócio, é potencialmente capaz de produzir alimentos saudáveis. Considera a transformação no próprio local como estratégia importante para a superação do papel de produtor de matéria prima para as grandes agroindústrias, restabelecendo, assim, a condição de produtora de alimentos28 e não ―mercadorias comestíveis ou

ração humana‖29, como faz o agronegócio (VIVAS, 2013, p. 3).

Avanços foram consolidados, nos últimos dez anos de governo, rumo à construção de políticas públicas voltadas a agricultura familiar e camponesa. No entanto, haverá que se realizar, ainda, muitas outras mudanças e percorrer um longo caminho rumo à construção de um Desenvolvimento Rural local e Sustentável.

Entre estas mudanças, a segurança e soberania alimentar e nutricional tem se tornado ponte das relações entre as diversas organizações da sociedade civil e espaços democráticos do governo. Ações de produção local, transformação baseada em agroindústrias familiares ou cooperativadas, abastecimento local e regional e com relações diretas de distribuição e comercialização são elementos que tem contribuído, fortemente, na consolidação dessa estratégia.

28Alimentos são substâncias e proteínas utilizadas pelos seres vivos como fontes

de matéria e energia para poderem realizar as suas funções vitais, incluindo o crescimento, movimento e reprodução.

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Ração é uma ―porção de alimento que deve cobrir as necessidades de um animal e assegurar sua eficiência em termos econômicos‖ (Dicionário Aurélio), mencionamos no texto o como a definição relativa da forma como é produzida pelo agronegócio, considerado pelas empresas que comercializam esses produtos via supermercados junto aos consumidores. Na mesma linha de raciocínio denominamos mercadoria alimentícia para classificar aqueles produtos que são tratados com os mesmos critérios de qualquer outro bem de consumo. Muito longe do que preconiza como alimento.

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Os programas de aquisição de alimentos e da alimentação escolar, por exemplo, estão exigindo a implementação, urgente, de outros padrões de produção e consumo. A consciência e preocupação com alimentação saudável, despertada por esse debate, passam a exigir novas habilidades e compromissos da Extensão Rural no apoio à construção de estilos de agricultura mais sustentáveis.

O apoio à produção já não é mais suficiente. Haverá de se dar suporte e apoiar as famílias nos processos de inserção em mercados contemporâneos de consumidores que exigem, a cada dia, novas demandas, tanto em qualidade nutricional, apresentação, estética, garantia de sanidade, entre outras.

A articulação de novos canais de comercialização que se apresentam e oportunizam às famílias venderem seus alimentos na lógica de um comércio justo e economia solidária são partes que se somam na construção de novos estilos sustentáveis de agricultura.