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presa às velhas práticas”

2. Importantes avanços da NOVA ATER

Entre os principais avanços ocorridos com a implantação da nova concepção de Extensão para o Brasil podem ser destacados: a participação da sociedade civil; a descentralização dos processos (na fase inicial) até por volta de 2009; a definição de objetivos, público, princípios e diretrizes da proposta; o conteúdo orientado pela Agroecologia, mais evidenciado até a lei de ATER em 2010; o aumento na disponibilização dos recursos e, principalmente, a institucionalização de uma lei própria para esta política pública, a lei número 12.188 (BRASIL, 2010a).

Em relação à participação da sociedade na construção da Nova ATER, muito da elaboração coletiva foi a partir da sociedade organizada, que teve uma árdua trajetória de contestação e elaboração alternativa. Os acúmulos que foram sendo construídos, desde a década de 1960 com Paulo Freire, passaram pelas contestações dos movimentos sociais do campo, na década de 1980 (luta pela terra, por uma agricultura alternativa e preservacionista), culminando com o grande encontro, realizado em 1997.

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Estes momentos tiveram um significado ímpar na reestruturação da Extensão Brasileira, com elaborações e encaminhamentos que serviram de base para a formulação dessa política Pública. Ainda em relação à participação da sociedade, há que se destacarem os quatro grandes seminários regionais realizados em Belém, Curitiba, Campo Grande e Recife, ainda em 2003, que reuniram, em média, 450 participantes em cada um. É bom lembrar de que toda essa articulação foi possível pela parceria que reuniu mais de cem entidades de diversos setores do governo federal, seguimentos da sociedade civil e lideranças de organizações e agricultores. Processo culminou com uma oficina, em 24 e 25 de Setembro de 2003, realizada em Brasília e, finalmente, com o seminário nacional ocorrido, também em Brasília, em junho de 2004 (DATER/MDA, 2004).

Foi a partir deste seminário nacional que surgiram as bases para a constituição da Pnater – Política Nacional de ATER, lançada ainda no mesmo ano, que passa a ser a referência na definição das diretrizes do Pronater e da política de ATER para o Brasil nos próximos anos (DATER/MDA, 2004).

É importante destacar que a Nova ATER, em sua fase inicial, não implicou, necessariamente, na centralização no plano federal. Os sistemas públicos estaduais continuaram a manter um considerável grau de autonomia e descentralização, inclusive contando com mais recursos para infraestrutura e logística. Essa proposta de descentralização está descrita na versão final do texto publicado em maio de 2004 pelo MDA - SAF- Dater, referindo-se ao processo de descentralização da seguinte forma;

[...] a nova Ater deverá organizar-se na forma de um Sistema Nacional Descentralizado de Ater Pública, do qual participem entidades estatais e não estatais que tenham interesse e protagonismo no campo da Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER/MDA, 2004, p.5).

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Essa preocupação dos organizadores e elaboradores com a descentralização também está contemplada na diretriz da nova Política Nacional de ATER descrita como:

Viabilizar serviços de Ater que promovam parcerias entre instituições federais, estaduais, municipais, organizações não governamentais e organizações de agricultores familiares e demais públicos anteriormente citados, estimulando a elaboração de planos de desenvolvimento municipal, territorial e/ou regional, assim como a formação de redes solidárias de cooperação interinstitucional (DATER/MDA, 2004, p.7).

Nessa perspectiva da descentralização surgiram as Redes de ATER20articuladas por segmento representativo das populações e atores

do campo e também por temas geradores. De 2004 a 2008, doze redes contemplavam mais de 100 (cem) organizações não governamentais e 27 (vinte e sete) organizações governamentais que realizaram muitos encontros, debates e construções coletivas que contribuíam na crítica e nas sugestões para os encaminhamentos do MDA/Dater (CAPORAL, 2009).

Outro avanço na construção da Nova ATER foi a definição dos objetivos, do público, dos princípios e das diretrizes que orientariam as ações de ATER daí por diante (PNATER BRASIL, 2004). Em relação aos princípios, ficaram assim definidos:

a. Assegurar, com exclusividade aos agricultores familiares, assentados por programas de reforma agrária, extrativistas, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e aquicultores, povos da floresta, seringueiros, e outros públicos definidos como beneficiários;

20 Articulação Mineira de Agroecologia – Rede AMA; Rede ECOVIDA; Rede

Nordeste de ATER; Rede Contag; Rede Fetraf; Rede MPA; Rede Ceffa‘s; Rede Proambiente; Rede CAT; Rede Unicafes e outras quatro novas redes em processo de formação visando a ampliação da oferta qualificada de Serviços de ATER, com base nos princípios da Pnater (DATER/SAF/MDA, 2007).

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b. Contribuir para a promoção do desenvolvimento rural sustentável, com ênfase em processos de desenvolvimento endógeno, apoiando os agricultores familiares e demais públicos descritos anteriormente, na potencialização do uso sustentável dos recursos naturais;

c. Adotar uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, estimulando a adoção de novos enfoques metodológicos participativos e de um paradigma tecnológico baseado nos princípios da Agroecologia;

d. Estabelecer um modo de gestão capaz de democratizar as decisões, contribuir para a construção da cidadania e facilitar o processo de controle social no planejamento, monitoramento e avaliação das atividades, de maneira a permitir a análise e melhoria no andamento das ações;

e. Desenvolver processos educativos permanentes e continuados, a partir de um enfoque dialético, humanista e construtivista.

Estes princípios não podem ser resumidos apenas a descrições teóricas construídas por alguns técnicos bem intencionados. Eles são o resultado de embates tensos e exaustivamente disputados entre representantes da agricultura familiar e camponesa e interesses dos ruralistas. No seminário de Curitiba dois temas foram temas de muita tensão; sobre a exclusividade da política aos agricultores familiares e a temática da Agroecologia. Os ruralistas liderados pela Federação da Agricultura do Paraná (ligada aos grandes produtores do Estado) que defendiam a proposta de que a Política Nacional de ATER deveria tender a todos os agricultores e não só aos familiares e contra a adoção do princípio da Agroecologia como parte do documento do Seminário como princípio da nova política (MDA, 2003).

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A partir da consolidação da Pnater, em 2004, a Agroecologia passou, juntamente com ―metodologias participativas‖, a orientar os convênios, projetos e processos de formação dos Agentes de ATER. Os Termos de Referência construídos pelo Dater/MDA eram ajustados a cada convênio e neles estavam muito claros os compromissos das conveniadas. Embora alguns movimentos sociais considerem que a forma não foi a mais adequada, pois centrava os processos em cursos pontuais, é inegável o quanto a determinação do Dater/MDA serviu para colocar o tema da Agroecologia em debate desde os espaços de atuação local das organizações de base, nos territórios, nas esferas estadual, nacional e até mesmo internacional.

Em relação aos recursos, a partir da implementação da Nova ATER, ocorre uma expansão significativa nos financiamentos tanto para a ATER estatal como não governamental, passando de 03 milhões, em 2002, para 42 milhões, já em (2003) e alcançando a cifra de 626 milhões, em 2010 (MDA, 2010), um crescimento significativo, em sete anos. Neste período, o número de agricultores atendidos passou de 106 mil para dois milhões e o número de extensionistas, no campo, aumentou de 10.500 para 16.500, tendo sido capacitados aproximadamente oito mil agentes de ATER (MDA, 2010).

No auge do apoio às entidades da sociedade civil, em 2006, quase metade dos recursos disponibilizados foram dirigidos às ONG (Von der WEID, 2011, p.3), significando uma mudança extraordinária em relação ao período da Revolução Verde em que a Extensão Rural oficial tinha, praticamente, todos os recursos do Estado. Esse aporte de recursos às ONG e demais organizações não governamentais chegaram num momento vital, principalmente porque os recursos da cooperação internacional vinham diminuindo ano a ano.

Apesar de muitas posições contrárias, a conferência Nacional de ATER de 2012 reconhece como avanço institucional da Nova ATER para a Extensão Rural a aprovação da Lei nº 12.188 aprovada em 11 de Janeiro

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de 2010 no Congresso Nacional. A nova lei, segundo os conferencistas presentes na Primeira Conferência nacional de ATER realizada em 2012 na capital Brasília foi exaustivamente negociada pelo MDA/Dater com os setores mais conservadores do congresso brasileiro que resistiam à ideia de repassar recursos sem licitação para as ONG.

As dificuldades foram maiores por conta de que, neste mesmo período, estava em discussão a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava o repasse de recursos às ONG (―CPI das ONG‖)21. Na época o

relator da CPI, o senador Heráclito Fortes chegou a declarar: ―com esta lei, estaremos entregando ao governo federal recursos para serem manipulados ao seu bel prazer, através das ONG e outras organizações da sociedade civil (DINIZ, 2010)‖. No entanto, mesmo com essa resistência, a lei foi aprovada, permitindo cumprir com uma de suas principais funções que era de minimizar os problemas de Marco Legal, possibilitando que os financiamentos dos projetos de ATER pudessem a ser feitos através de contratos e não de convênios.