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A ATER e o desafio de aproximar o ensino pesquisa e a valorização dos saberes locais

presa às velhas práticas”

10. A ATER e o desafio de aproximar o ensino pesquisa e a valorização dos saberes locais

Na mesma lógica de compreender a Política de ATER como um processo educativo é preciso que haja maior entrosamento entre aquilo que é demanda das famílias, o que ensina a Universidade e o que se pesquisa com recursos públicos. Esse tripé ―ensino, pesquisa e extensão‖, que é a base para a sustentação do modelo de produção da Revolução Verde poderá ser, agora, fundamental para contribuir na Construção Social do Conhecimento no Campo rumo ao Desenvolvimento Local Sustentável.

Mesmo considerando que houve mudanças, o modelo de formação escolar (técnica)35 dos profissionais que atuam com a Extensão

Rural continua convencional. Os alunos adquirem muito mais conhecimento de máquinas e insumos do que de gente. Estudam muito mais de solos como substrato, de animais como produtores e de plantas como seres produtivos do que das famílias do campo. A formação é cartesiana e disciplinar, segue um modelo clássico de formação em que não se orienta sobre a lógica da visão sistêmica dos agroecossistemas. Em geral não se faz integração de disciplinas, dificultando aos profissionais uma visão holística da realidade onde vai atuar (CAPORAL, 2003).

35 Em 1946, consagrou-se, no Brasil, a Educação Rural como formação para o

trabalho, desde a aprovação, pelo Ministério da Educação, da Lei Orgânica do Ensino Agrícola, que alijou este ramo de ensino da rede primária regular, mantendo-o sob a Pasta da Agricultura. A medida permitiu uma inflexão categórica nas práticas de Ensino Agrícola, limitando-as à qualificação da força de trabalho, sob a capa missionária da ―difusão do princípio de desenvolvimento comunitário‖, capaz de ―combater o marginalismo e educar os adultos, antes de tudo para que o país possa ser mais coeso e solidário‖ (MA, 1959, p.123).

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Há muitos desafios a serem superados e mudanças a serem buscadas no processo de formação profissional dos futuros extensionistas. E, como afirma Chambers:

Entre os problemas que são identificados com respeito às possibilidades de mudança, uma inquietude permanente, ‗é se nós, como profissionais do desenvolvimento, temos sentimentos e mudaremos nosso comportamento‘, isto é, se estamos dispostos a abraçar as possibilidades de mudança e atuar de uma forma inversa à convencional. Os desafios estão postos para todos. Para nós, os extensionistas, o principal desafio é se conseguiremos falar menos e escutar mais, aprender a aprender e a facilitar processos de aprendizagem, ademais de ‗proporcionar opções‘ e serviços responsáveis e comprometidos com os beneficiários, que sejam impulsionados por um ‗novo profissionalismo‘ (CHAMBERS, 1997, p. 236).

Não se trata, evidentemente, de uma mudança que afetaria só os extensionistas. Chambers (1997) também atribui responsabilidades para outros profissionais, dizendo que:

Economistas e burocratas devem descentralizar e apoiar a diversidade local; professores de universidades, institutos e escolas devem ir com seus alunos às povoações locais para aprender, devem revisar os currículos, reescrever os livros de texto, dar menos aulas e ajudar mais a que os outros aprendam (CHAMBERS, 1997, p. 237).

Igualmente, o autor faz recomendações no mesmo sentido para os líderes políticos, para o pessoal de ONG, lideranças comunitárias, de movimentos sociais, entre outras. De acordo com o que escreve Chambers (1997), a Extensão Rural terá que estar atenta à promoção da cidadania e ao fortalecimento da organização social estimulando a população para que estase organize e participe ativamente das decisões que dizem respeito à sua comunidade, ao seu município e ao espaço público em geral (CHAMBERS, 1997).

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Essas atribuições ou novas tarefas da Política de ATER pressupõem, por parte dos seus profissionais, capacidade para aportar informações e conhecimentos sobre metodologias de trabalhos de grupos, formação de lideranças, planejamentos participativos, assim como leitura e compreensão dos interesses em jogo bem como dos conflitos inerentes em qualquer processo de organização social (SILIPRANDI, 2002). É preciso compreender inclusive que a tarefa de demandar, definir e coordenar estas ações cabe aos agricultores e suas organizações e não as instituições prestadoras destes serviços.

A política de ATER deve assumir um papel de definição de estratégias de qualificação e ampliação dos quadros técnicos, garantindo uma abordagem participativa, conforme estabelecido em lei. Deve se ter a percepção das diferenças entre os públicos da agricultura familiar, da reforma agrária e dos povos e comunidades tradicionais. E, da mesma forma, contemplar o papel das mulheres e jovens rurais no processo de desenvolvimento rural sustentável, diminuindo as desigualdades e garantindo a sucessão das famílias no campo.

Outra questão chave no processo da Construção Social do Conhecimento com foco na base Agroecologia refere-se aos mecanismos de interação da Política Pública de ATER com o ensino e pesquisa. Uma das demandas estratégicas para o desenvolvimento de estilos mais sustentáveis de agricultura é a pesquisa. É de fundamental importância, o desenvolvimento de inovações tecnológicas e de gestão e de métodos adequados para a diversidade da agricultura familiar.

É necessário que se busque maior aproximação com a pesquisa, tanto dos métodos, como de conteúdos. Historicamente, a pesquisa oficial esteve pouco integrada com a extensão.

Torna-se imprescindível sua aproximação para evitar o que ocorreu com a revolução verde quando se prestaram tão somente ao modelo convencional, mas numa outra dimensão; amenizar os estragos

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sócio-ambientais de então e construir propostas de estilos sustentáveis para a produção de alimentos.

A interação ―pesquisa e extensão‖ é de fundamental importância nos processos de capacitação profissional para a transição agroecológica. Nesse sentido o papel da Extensão é construir parcerias com agricultores experimentadores, com instituições de ensino e com órgãos oficiais de pesquisa, aproximando-o sem processos locais ativos.

11. RESUMO DE ALGUNS FATOS E MOMENTOS QUE