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A instituição da ANATER: outra investida do Agronegócio

presa às velhas práticas”

3. Reflexões críticas sobre a NOVA ATER

3.4 A instituição da ANATER: outra investida do Agronegócio

A reflexão que se faz da Agência Nacional de ATER – Anater é sobre as muitas dúvidas que persistem com as decisões encaminhadas. Essa indefinição tem deixado as organizações e os movimentos sociais do campo sem entender precisamente sobre a referida proposta. Trata-se, afinal, de uma Agência de execução e operacionalização ou de disputa do Agronegócio com a NOVA ATER?

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A argumentação que sustenta a proposta de criação e regulamentação dessa Agência, até agora, é defendida por alguns técnicos do Dater/MDA, declarando que o tema foi ―muito‖ debatido e encaminhado na Conferência Nacional de ATER, no início de 2012, em Brasília. No entanto, a proposta de constituição de um sistema Nacional que unificasse as ações nacionais foi referendada sim, mas para ser exclusividade da Agricultura Familiar, Assentados da reforma Agrária e povos tradicionais, conforme expressa o documento da conferência:

Criar um Sistema Nacional público para coordenar, planejar, avaliar e monitorar a implementação da Pnater, de forma articulada e participativa com as diversas pastas do Governo Federal e integrada com os estados, municípios e territórios rurais, e com a participação de representantes das entidades prestadoras de serviço e dos públicos beneficiários de Ater, agricultores/as familiares (conforme nota 1)24, respeitando o princípio de

paridade das representações, tendo como gestores o MDA e INCRA, de forma compartilhada com os demais órgãos que tenham ações de Ater, coordenadas pelo MDA e INCRA (Item 158 do relatório final da Iª CONFERÊNCIA NACIONAL DE ATER, BRASILIA, 2012, p.11)

Em nenhum momento se cogitou a possibilidade de incluir o agronegócio e suas representações e nem de que a Embrapa teria qualquer papel na coordenação desse sistema. Portanto, ao se confirmar essa proposta como foi anunciada, em início de junho, no lançamento do ―Plano Safra 2013/2014‖, pela presidência da República, estará havendo uma contradição muito grande entre a Conferência Nacional de ATER e o governo.

24 Nota 1 - Para fins de leitura deste documento, toda vez que se tratar da

agricultura familiar e/ou dos povos e comunidades tradicionais, e/ou das mulheres do campo, da floresta e das águas, compreende-se como sendo a

diversidade dos segmentos: agricultura familiar tradicional, camponeses, acampados, assentados da reforma agrária, povos indígenas, povos de terreiro e ciganos/as, quilombolas, açorianos, atingidos por barragens, mineradoras e hidrelétricas, extrativistas, seringueiros/as, quebradeiras de coco, fundos de pasto, faxinalenses, pescadores/as artesanais, ribeirinhos/as, aquicultores familiares, caiçaras, marisqueiros/as, retireiros/as, torrãozeiros/as, geraizeiros/as, vazanteiros/as, pomeranos/as, pantaneiros/as, caatingueiros/as, dentre outros/as.

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Segundo o deputado Elvino Bohn Gass (PT/RS), presidente da Frente Parlamentar Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural da Câmara:

A Agência Nacional de ATER – ANATER vai articular recursos de quatro ministérios e contará com um orçamento inicial de, aproximadamente, R$ 2 bilhões. Este é o montante de recursos que atualmente estão divididos em quatro ministérios – Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pesca e Meio Ambiente – que desenvolvem algum tipo de ação relacionada A ATER. Ainda, segundo o deputado, ‗A presidenta Dilma está empenhada na reconstrução de um sistema nacional público de ATER. A agência é a afirmação deste empenho. A ideia é integrar o atendimento de milhões de agricultores brasileiros melhorando a produção e ampliando a capacidade de acesso a novas tecnologias‘ (GASS, 2013).

Em sintonia com o presidente da Frente Parlamentar Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário, sustenta que:

A proposta do Governo Dilma é que a Agência tenha uma capacidade de atender de forma ágil os agricultores familiares. [...] Estudos do governo federal dão conta de que nas propriedades que têm acesso a ATER, a renda dos agricultores chega a ser três vezes maior. ‗Nossa intenção com a criação da Agência é universalizar este atendimento, garantido que as inovações tecnológicas cheguem ao meio rural de forma mais célere. Vale, ainda, lembrar que a nova agência é fruto da demanda dos movimentos sociais‘ (SILVA, 2013 apud GASS, 2013, p.1).

Ainda, segundo a Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), a medida vai incorporar novas tecnologias ao trabalho já desenvolvido e sustenta que:

‗Essa agência vai coordenar o sistema brasileiro de Ater pública, governamental ou não governamental. Ela vai realizar um amplo trabalho de formação e especialização de extensionistas, a fim de que o conjunto de tecnologias

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e métodos desenvolvidos pela pesquisa possa chegar ao universo dos agricultores‘. A Agência vai levar aos agricultores familiares um serviço de Ater com mais qualidade, respeitando as diversidades sociais, econômicas, étnicas, culturais e ambientais do País. ‗A institucionalidade por meio da Agência representa um avanço. Ter uma estrutura que vai coordenar e formar esses técnicos é um passo a frente nos esforços que têm sido feitos até agora pelo governo federal para os serviços de Ater, no que diz respeito à formação e a ampliação dos recursos, já que a agência é interministerial‘ (BIANCHINNI, 2013 apud MDA, 2013, p.1).

A leitura feita pelas organizações da sociedade civil é no sentido de que há uma força muito articulada do agronegócio tentando consolidar uma proposta de Assistência Técnica generalizada e padronizada sem estabelecer diferenças ou prioridades entre os agricultores, contrariando a Pnater que considera como público a exclusividade da Agricultura familiar. A crítica, no entanto que os movimentos fazem é a mesma feita por ocasião da aprovação da Lei de ATER em 2010; pouca oportunidade de participação da sociedade organizada do campo.

4. A NOVA ATER e o desenvolvimento local