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A Autoeficácia e a sua Distinção Face a Constructos Próximos

2 A Autoeficácia do Professor

2.4 A Autoeficácia e a sua Distinção Face a Constructos Próximos

Ao longo do desenvolvimento do conceito de autoeficácia, tem-se assistido à necessidade de esclarecimento das diferenças entre esta crença e outros conceitos que lhe são próximos (Bandura, 1997; Navarro, 2002; Pajares, 1997; Zimmerman & Cleary, 2006). De acordo com os autores, esta necessidade decorre da perceção de equivalência de constructos que, na sua essência, assume diferenças que carecem ser esclarecidas para que não se efetivem correspondências erróneas. Com o propósito de clarificação de alguns destes equívocos conceptuais, seguidamente iremos distinguir esses conceitos, destacando as diferenças dos mesmos relativamente ao constructo de autoeficácia.

A autoeficácia tem características específicas que permitem a sua distinção face a outras crenças tanto pessoais como coletivas. De acordo com o previamente reportado, a autoeficácia refere-se ao juízo que o indivíduo realiza acerca das suas capacidades para organizar e levar a efeito um conjunto de ações necessárias ao alcance de um determinado nível de performance (Bandura, 1986). De entre os constructos relativos a perceções pessoais que são usualmente confundidas com a autoeficácia, centrar-nos-emos no autoconceito, na autoestima, na expectativa de resultados, no Locus de controlo e Locus de causalidade e na eficácia coletiva.

2.4.1 Autoconceito.

O autoconceito é uma definição do ‘Eu’ criada pelo próprio indivíduo. Trata-se de uma visão global formada através da experiência direta e da avaliação realizada pelos outros significativos, isto é, pelos pares que o ‘Eu’ valoriza (Bandura, 1986, 1997). Segundo Zimmerman e Cleary (2006), o autoconceito reporta-se a um autoavaliação generalizada que engloba uma multiplicidade de reações, tais como sentimentos de autoestima e crenças gerais de competência. Comparativamente com a autoeficácia, de cariz mais específico e contextualizado,

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o autoconceito diz respeito a uma avaliação mais geral que procura responder à questão: ‘Quão bom eu sou a fazer alguma coisa?’.

O autoconceito também pode ser específico de uma determinada área, no entanto não se refere a tarefas concretas, mas a juízos mais gerais e menos sensíveis aos contextos (Pajares, 1997). Pajares e Miller (1994) desenvolveram um estudo com o objetivo de analisar o papel preditivo e de mediação da autoeficácia na resolução de problemas de matemática. Os autores puderam concluir que a autoeficácia era melhor preditor do desempenho do que o autoconceito. Paralelamente, foi possível constatar que a autoeficácia tinha um impacto indireto sobre o desempenho por intermédio do autoconceito. Deste modo, pôde concluir-se que, tanto direta como indiretamente, a autoeficácia se constitui como um melhor preditor do desempenho do que o autoconceito.

2.4.2 Autoestima.

A autoestima diz respeito a uma crença que envolve uma reação afetiva, indicadora do modo como uma pessoa se sente acerca de si própria. Esta decorre da forma como o indivíduo perceciona que é valorizado pelo meio sociocultural em que está inserido (Bandura, 1986). Assim, a autoestima distingue-se da autoeficácia que envolve julgamentos cognitivos relativos à capacidade pessoal para a implementação de tarefas específicas. Nesta perspetiva, a independência dos dois constructos centra-se na circunstância de um indivíduo poder avaliar-se como capaz para o desenvolvimento de uma ação concreta, não se sentindo, contudo, orgulhoso de si por tal facto.

Zimmerman e Cleary (2006) esclarecem que, apesar de a autoestima ser necessária, o elemento central reside na sua relação com a autoeficácia, pelo facto de esta crença se constituir como um preditor particular da performance académica. A este respeito Mone, Baker e Jeffries (1995) observaram que a autoeficácia é um preditor distintivo dos resultados académicos, quando comparada com a autoestima.

2.4.3 Expectativa de resultados.

Os equívocos associados à equivalência entre os constructos de autoeficácia e de expectativa de resultados têm sido frequentes. Contudo, a sua distinção é evidente e carece ser cabalmente esclarecida no sentido de desmistificar uma sobrevalorização no âmbito da aprendizagem cognitiva (Bandura, 1997). Zimmerman (1995) argumenta que, de acordo com as teorias que estão subjacentes a estes constructos, os resultados esperados pelos indivíduos, aquando da implementação de uma determinada ação, surgem como o elemento determinante da motivação

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para essa mesma ação. Bandura (1986) refuta esta perspetiva, referindo que o envolvimento de um indivíduo numa determinada ação decorre da avaliação que este realiza acerca da sua capacidade para a implementar a um determinado nível de performance. Sustenta-se, desta forma, o relevo da autoeficácia.

Sintetizando, Bandura (1986) menciona que a diferença entre autoeficácia e expectativa de resultados reside no facto de a primeira se referir aos juízos de eficácia pessoal para realizar uma ação e a segunda aos juízos acerca do sucesso dos efeitos dessa ação. Contudo, de acordo com mesmo autor, a autoeficácia influencia as expectativas de resultado, dado que as pessoas que se sentem capazes de implementar uma determinada tarefa, geralmente, também tendem a antecipar resultados positivos. No entanto, é possível que uma pessoa tenha um elevado sentimento de autoeficácia e, ao mesmo tempo, expectativas de resultado negativas (Navarro, 2002). A investigação, de que é exemplo um estudo desenvolvido por Shell, Murphy e Bruning (1989), demonstra que a perceção de autoeficácia se constitui como um melhor preditor do comportamento, quando comparada com as expectativas de resultado.

2.4.4 Locus de controlo e Locus de causalidade.

O Locus de controlo reporta-se à crença de que determinadas ações influenciam os resultados e estes são atribuídos a fatores externos ou internos (Navarro, 2002). As semelhanças entre a perceção de controlo e a autoeficácia dizem respeito ao facto de ambas se relacionarem com o modo como os indivíduos podem intervir de forma ativa no seu envolvimento. No entanto, a perceção de controlo não considera o grau de confiança que o indivíduo tem relativamente à consecução de uma tarefa específica num contexto particular. Nesta linha, Bandura (1986,1997) questiona o valor de perceções de controlo descontextualizadas como o Locus de controlo. Zimmerman e Cleary (2006) evidenciam que, no essencial, a diferença entre a perceção de controlo e a autoeficácia reside no facto de a segunda ser específica da tarefa e do contexto e de se focar exclusivamente na perceção de um indivíduo acerca da sua capacidade.

A atribuição causal diz respeito ao modo como os indivíduos avaliam as razões do êxito ou inêxito de uma determinada ação. Segundo Weiner (1983), a teoria da atribuição causal contém três elementos: o Locus de causalidade, a estabilidade e a controlabilidade. O Locus de causalidade diz respeito à ‘localização’ da causa, podendo ser interna ou externa ao indivíduo. A estabilidade refere-se à possibilidade da manutenção futura da causa, podendo esta ser estável ou instável. A controlabilidade é a capacidade do indivíduo influenciar a causa da ocorrência.

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2.4.5 Eficácia coletiva.

Segundo Bandura (1997), a perceção de eficácia coletiva constitui-se como uma prioridade a nível de grupo, não se circunscrevendo à simples soma da eficácia individual dos diferentes membros de um determinado grupo. Contudo, não existe uma entidade que opere independentemente das crenças e ações dos indivíduos que compõem o sistema social do grupo. Assim, são pessoas que operam conjuntamente e que partilham uma crença comum. As crenças de eficácia coletiva assumem funções semelhantes às da eficácia pessoal e atuam através de processos similares.

A pesquisa referente ao estudo da eficácia coletiva tem permitido chegar a resultados que evidenciam que, quanto maior for a eficácia coletiva, mais fortes são as aspirações dos grupos e o investimento motivacional para a consecução das ações (Bandura, 2000). Paralelamente, a eficácia coletiva tem-se associado a uma maior resistência face ao insucesso e ao stress, bem como ao alcance de elevados desempenhos (Bandura, 2001).

2.5 As Medidas de Eficácia desenvolvidas na Tradição de

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