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3 Formação de Professores

3.4 Experiências de Formação em Contexto de Estágio Pedagógico

3.4.1 Experiências formativas de caráter expositivo.

O papel desempenhado pelo formador, ao nível de experiências formativas de preleção e demonstração, implicam uma participação ativa diminuta ou mesmo inexistente, por parte dos formandos.

No que se refere à preleção, Onofre (1996) esclarece que esta se trata de uma experiência formativa subjacente a uma técnica de supervisão expositiva de cariz teórico. As suas finalidades prendem-se com o esclarecimento das prioridades gerais de formação e das características das diferentes etapas da mesma. O recurso a esta experiência surge como eficaz, quando as finalidades de comunicação entre o formador e o formando implicam a transmissão de quadros de referência (Marcelo, 1999). O caráter expositivo que domina esta técnica atribui ao formador o papel fundamental no seu desenvolvimento, cabendo ao formando uma ação mais passiva de captação da informação transmitida. Nesta perspetiva, as competências associadas à reflexão não são mobilizadas no decorrer desta experiência. Apesar do papel atribuído ao

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estagiário, no contexto desta experiência formativa e das limitações que a mesma encerra ao nível do desenvolvimento de competências fundamentais como a análise e reflexão, Ribeiro (2005), num estudo referente às perceções dos estagiários e dos orientadores de estágio de Educação Física, relativamente às técnicas de supervisão pedagógica, observou que os professores estagiários consideravam a preleção como uma das técnicas mais importantes, indicando que a sua principal finalidade se prendia com o melhorar o ‘saber-fazer’. Tal resultado leva-nos a refletir acerca de dois aspetos centrais que se encontram em estreita relação. Por um lado, questionamo-nos acerca do papel que o professor estagiário assume ao nível do estágio pedagógico, por outro, colocamos a hipótese de esta técnica ser sobreutilizada no contexto em análise. No mesmo estudo, os orientadores revelam que esta estratégia é muito importante, tem propósitos de desenvolvimento da reflexão e, em simultâneo, é a técnica mais fácil de implementar. Tais perceções, por parte dos orientadores, surgem-nos como controversas, na medida em que parece estar subjacente a ideia de que a criação de condições para o desenvolvimento de competências reflexivas é paralelamente fácil e alcançável através da preleção. Acresce, a estes resultados, o facto de tanto estagiários como orientadores referirem que a preleção é uma das técnicas mais utilizadas durante o estágio. Uma análise dos resultados decorrentes da fase intensiva do estudo conduz-nos à colocação da hipótese de que supervisores e estagiários se reportam à preleção, interpretando-a como uma entrevista de índole fortemente diretiva. Estas conclusões levam-nos a sublinhar a importância da formação dos supervisores ao nível das estratégias e técnicas de supervisão.

Não excluindo as potencialidades, já expostas, a utilização da preleção no processo de estágio deve ter uma frequência diminuta pelo poder limitado que lhe é característico, ao nível do desenvolvimento de competências de análise, crítica e reflexão que são prioridade neste período formativo.

A experiência de demonstração tem subjacentes processos de modelação que se constituem como um meio de ilustração de indicações práticas ou formulações teóricas específicas que se efetivam no decorrer do processo de formação (Onofre, 1996). A existência de modelos eficazes de desempenho, ao nível do processo de estágio, constitui-se como meio de desenvolvimento de aprendizagens, na medida em que se assumem como referenciais potenciadores da segurança dos formandos. A possibilidade de observação de um modelo esclarecedor dos comportamentos de qualidade que se perseguem, possibilita ao formando aceder a imagens tradutoras de habilidades as quais, até então, só havia alcançado através de palavras. Para além das suas potencialidades de ilustração, a demonstração, quando envolvida em processos de modelação, ultrapassa esta vertente, na medida em que, tendo por base a imagem observada, o formando procura a sua reprodução (imitação) e integração (Bandura,

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1997). A este respeito, Dinkelman (2003) e Loughran (1996) salientam que a aprendizagem da reflexão pode ser desenvolvida através de processos de modelação. Neste âmbito, uma experiência tradicionalmente expositiva, parece poder constituir-se como uma primeira abordagem a experiências com propósitos de reflexão. Ao nível do estágio pedagógico, os modos de atuação do supervisor constituem-se como fontes que contribuem para a construção de um quadro de referências por parte dos estagiários, relativamente ao que deve ou não ser realizado. Ribeiro (2005) verificou que, tanto orientadores como estagiários atribuem relevância a esta experiência formativa. No que se reporta às finalidades de utilização desta técnica, a dispersão da opinião dos estagiários foi clara, embora tenha prevalecido a promoção da reflexão, sendo também este o propósito mais apontado por parte dos orientadores. Contudo, esta experiência, em combinação com outras, pode contribuir para propósitos reflexivos, embora a sua realização isolada não permita alcançar tais objetivos. Neste mesmo estudo, tanto orientadores, como estagiários referiram que o recurso a esta experiência de formação era muito frequente.

No contexto das experiências que devem ser integradas no practicum, ao nível da formação de professores, Darling-Hammond (2006) destaca a modelação de experiências práticas de qualidade. A este respeito, salientamos, das palavras da autora, a referência à qualidade, no sentido em que as potencialidades da modelação perdem a sua expressão, quando a qualidade não é assegurada, correndo-se o risco do formando incorrer em processos de imitação acrítica de comportamentos e habilidades dissonantes da eficácia. Associada a esta questão, destacamos que, em contexto formativo, a demonstração nunca deverá ser desprovida de um olhar crítico que possibilite uma avaliação criteriosa do objeto observado. Nesta perspetiva, caberá ao formador avaliar e promover a capacidade crítica do formando, através dos recursos à combinação da demonstração com outras experiências formativas.

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