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A construção do corpus de pesquisa: um pouco a respeito do contexto

Sumário

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.2 A construção do corpus de pesquisa: um pouco a respeito do contexto

Na perspectiva da RedSig, o procedimento de análise dos dados deve compreender, inicialmente, uma “vivência” ou “mergulho” do pesquisador na/com a situação pesquisada (Rossetti-Ferreira, Amorim & Silva, 2004). A experiência da pesquisadora como psicóloga em uma instituição de acolhimento para crianças com idades até 7 anos, no ano de 2006, sem dúvida, possibilitou sua entrada inicial nesse universo. A partir dessa vivência, desse mergulho, viu-se mobilizada e apaixonada pela complexidade que envolve o acolhimento institucional de crianças.

Em seguida a essa experiência, e por causa dela, teve a oportunidade de desenvolver sua dissertação de mestrado nesse contexto, buscando conhecer a perspectiva de crianças acolhidas institucionalmente sobre suas redes sociais e a importância do relacionamento com seus irmãos (Almeida, 2009; Almeida, Maehara & Rossetti-Ferreira, 2011). Na ocasião, pôde conhecer um pouco mais de perto outras instituições de acolhimento e suas práticas com relação às crianças. Práticas muito diversas, por sinal.

Imergiu ainda mais nesse contexto a partir de sua atuação como facilitadora em um programa de formação para profissionais dos serviços de acolhimento institucional7, durante os anos de 2010 e 2011, na cidade em que a presente pesquisa foi realizada, promovido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e pela prefeitura, através da Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social e da Secretaria Municipal de Educação. Nesses dois anos de trabalho, conheceu as gestoras municipais dos serviços de alta complexidade do município e vários funcionários das instituições que, posteriormente, tornaram-se participantes da pesquisa.

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Esse contato prévio e, principalmente, a mediação das gestoras municipais facilitaram a entrada da pesquisadora nas instituições, embora não tenham garantido que fosse “acolhida” por todas.

Desde 2009, o município, que é de grande porte e fica no interior do estado de São Paulo, vem se mobilizando fortemente para reordenar as instituições de acolhimento. E cada uma delas, no período em que os dados foram coletados, encontrava-se em estágios diferentes do processo. Soma-se a isso, o fato de possuírem características que as diferenciam bastante em relação ao funcionamento e à estrutura, assim como ao perfil e relacionamento entre os profissionais. Outro elemento importante que conferia certa instabilidade ao funcionamento das instituições, naquele momento, era a alta rotatividade de funcionários8.

Esses elementos influenciaram para que, em algumas instituições (a maioria), a pesquisadora fosse realmente acolhida, no sentido das pessoas se organizarem para recebê-la, disponibilizando tempo suficiente para as conversas e reflexões sobre o tema pesquisado, mesmo que, inicialmente, tenha havido algum receio de mostrarem as dificuldades enfrentadas; enquanto em outras isso não aconteceu. Em uma das instituições, por exemplo, os contatos iniciais se deram apenas por telefone e muito rapidamente. Os profissionais apresentaram grande resistência em agendar um momento para conceder a entrevista e quando o fizeram9, após alguma insistência, disponibilizaram apenas vinte minutos de seu tempo10, com exceção de uma técnica recém-ingressa na instituição que se mostrou mais receptiva.

Frente a essas circunstâncias, o tempo de permanência da pesquisadora em cada uma das instituições variou bastante, porém restringiu-se, em geral, ao tempo de duração das entrevistas (mais detalhes no item 5.4).

8 Apenas o abrigo institucional municipal Tulipa não vivencia, significativamente, a rotatividade de funcionários.

O último concurso público para contratação de funcionários havia sido há 10 anos. Desta forma, há estabilidade no quadro de recursos humanos da instituição.

9 A técnica que mediou o contato com as educadoras, permitiu que apenas duas participassem (deveriam ser três,

pelos critérios estabelecidos na pesquisa) e com apenas 20 minutos do tempo delas para a entrevista. Inclusive, essa mesma funcionária permaneceu próxima à sala em que a entrevista com as educadoras ocorria, de forma a interrompê-la ao final do tempo por ela estipulado. Porém, todas essas entrevistas, inclusive a da própria técnica, acabaram tendo duração superior ao tempo estipulado.

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5.3 Participantes

A partir de levantamento da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, feito em março de 2011, de todas as instituições de acolhimento para crianças e adolescentes vitimizados, identificou-se que existiam, no município11, cinco abrigos institucionais que acolhiam, mesmo que não exclusivamente, crianças com idades até 6 anos. Para abarcar todo o universo dessas instituições, com a colaboração e mediação de gestoras da secretaria municipal supracitada, as cinco instituições foram convidadas e aceitaram participar desta pesquisa.

No entanto, foram analisados os dados de quatro instituições. A escolha deveu-se ao fato de duas delas serem mantidas e dirigidas pela mesma associação. Ademais, o abrigo

institucional excluído passava por importantes mudanças que também contribuíram para essa decisão: a coordenadora trabalhava na instituição há apenas um mês, além de estar em processo de seleção e contratação de uma assistente social e uma pedagoga.

A escolha das instituições pautada na faixa etária da população acolhida deveu-se às diferenças e especificidades existentes nos processos de recepção e acolhida de crianças e adolescentes de diversas idades. Os procedimentos com crianças pequenas são diferentes daqueles utilizados com adolescentes com vivência de rua, por exemplo. Todavia, embora esta pesquisa aborde questões específicas relacionadas às crianças com idades até 6 anos, há contribuições que fomentam reflexões sobre o processo de acolhimento como um todo, e podem ser ampliadas para outras faixas etárias.

Além dos profissionais das instituições de acolhimento, participaram representantes dos conselhos tutelares do município.

Os oficiais de justiça também foram convidados. Esses profissionais tornaram-se importantes protagonistas no processo de acolhimento institucional, após a promulgação da Lei 12.010/2009 (2009a). O afastamento da criança ou do adolescente do convívio familiar tornou-se competência exclusiva da autoridade judiciária, salvo em situações emergenciais que envolvam vítimas de violência ou abuso sexual (Art. 101, § 2o). Assim, no município em que a pesquisa foi realizada, crianças e adolescentes passaram a ser retirados de seu contexto familiar e conduzidos às instituições de acolhimento por meio de mandados de busca e apreensão expedido pelo juiz e cumpridos pelos oficiais de justiça. No entanto, a pesquisadora

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não teve acesso direto aos oficiais de justiça, pois o convite foi mediado por uma técnica da Vara da Infância e Juventude. E, segundo ela, nenhum dos oficiais manifestou interesse em participar da pesquisa.

Tentou-se também entrevistar uma técnica da Vara da Infância e Juventude do município, responsável pelo acompanhamento das crianças acolhidas. No entanto, na época da coleta de dados, devido à demanda de trabalho no sistema judiciário, a profissional não mostrou disponibilidade para conversar com a pesquisadora. Em todas as tentativas de contato, a profissional estava ocupada.

A seguir, estão caracterizadas as instituições de acolhimento e os participantes da pesquisa.

a) As instituições de acolhimento

Com o objetivo de resguardar a identidade das instituições, são utilizados nomes fictícios12 e é apresentada apenas breve caracterização de cada abrigo institucional.

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