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O Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg)

A economia brasileira nas décadas de 1950 e 1960

Tabela 1 – Indicadores macroeconômicos no governo JK:: 1956 a 1961

Ano PIB real(em %) Renda per capita (em %) Inflação(IGP-DI) Saldo da balança comercial (em

milhões de US$)

Investimento

(em % do PIB)

1956 2,9% 3,7% 24,6% 407,4 14,5% 1957 7,7% 3,9% 6,9% 106,3 15,0% 1958 10,8% 4,1% 24,4% 65,8 17,0% 1959 9,8% 4,4% 39,4% 72,2 18,0% 1960 9,4% 4,7% 30,5% -24 15,7% 1961 8,6% 4,9% 47,8% 111,1 13,1% Média 8,2% 4,3% 28,9% 66,3 16,0% Fu nd ão G et ul io V ar ga s ( FG V) ; I ns tit ut o B ra si le iro de G eo gr afi a e E st at ís tic a ( IB G E) ; B an co C en tr al d o Br as il ( BC B) .

Na época do PM, as autoridades monetárias eram formadas pelas seguintes instituições: Banco do Brasil, que operava com a carteira do redesconto; a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que controlava o sistema monetário; e o Tesouro Nacional, que autorizava a emissão monetária.

A indústria de transformação, no governo JK, cresceu em termos reais 186%. Com isso, a estrutura econômica alterou-se significativamente, desenvolvendo o país. De acordo com Abreu et al. (1990), entre 1957 a 1961, foram construídos 17 mil quilômetros de rodovias, gerados 1,6 milhões de quilowatts, produzidos 75 mil barris de petróleo ao dia, 650 mil toneladas de aço e produzidos 133 mil carros e caminhões.

O Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg)

O PM foi um sucesso na área do desenvolvimento e modernização do parque industrial brasileiro. E, sem dúvida, foi essencial para diversificar a produção nacional, principalmente no que se refere aos setores produtores de bens de consumo duráveis e bens de capitais. Contudo, como descrito no gráfico 1, a inflação ganha força, em 1964, com a excessiva emissão monetária e o aumento salarial. Nesse ano, a inflação mensurada pelo IGP-DI registrou uma variação de 92,1% e era a principal preocupação do governo do Marechal Castelo Branco.

O novo governo militar identificava três causas essenciais que alimentavam o processo inflacionário: o elevado gasto público;

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a expansão do crédito às empresas;

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o crescimento dos salários reais acima da expansão da produtividade do trabalhador.

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Com isso, lançou-se um amplo programa conhecido como Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), que tinha como objetivo central combater progressivamente o processo inflacionário com a manutenção do crescimento econômico.

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Deveria, portanto, reduzir os gastos públicos, controlar a expansão do crédito às empresas e corrigir os ganhos salariais reais acima do crescimento da produtividade do trabalhador. Contudo, o Paeg identificou um problema estrutural que inviabilizaria o efetivo combate ao processo inflacionário: a falta de um sistema financeiro desenvolvido.

Gráfico 1 – Desempenho da taxa de inflação anual (IGP-DI) no Brasil de 1960 a 1969

1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0% IGPI-DI (em %) 30,5% 47,8% 51,6% 79,9% 92,1% 34,2% 39,1% 25,0% 19,3% Fu nd ão G et ul io V ar ga s ( FG V) .

Com a necessidade de se obter uma configuração mais organizada no sistema financeiro e, sobre-tudo, viabilizar o financiamento do governo não por meios inflacionários, mas via emissão monetária, foram criados em 31 de dezembro de 1964, pela Lei 4.595, dois órgãos essenciais para estabilizar a economia.

Conselho Monetário Nacional (CMN)

:::: 1: é a instituição responsável por divulgar as diretrizes

gerais para o bom funcionamento do Sistema Financeiro Nacional. Suas principais funções são: adaptar a oferta monetária às reais necessidades da economia; zelar pelo equilíbrio das contas externas e a solvência e liquidez das instituições financeiras.

Banco Central do Brasil (

:::: Bacen): é o principal executor das políticas monetárias, de crédito e políticas externas determinadas pelo CMN. Tem como função zelar pela estabilidade e liquidez do sistema financeiro e bancário. Realiza as operações de redesconto e determina a taxa de juros da economia. É considerado o Banco do Governo e é utilizado para captar recursos (dinheiro) no mercado para financiar o Tesouro Nacional. E, para tornar o título público mais interessante e financeiramente viável ao mercado, criou-se em julho de 1964 a Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), que corrigia a inflação do pagamento de juros. Foi utilizada para financiar o déficit do governo.

Em termos operacionais, o sistema financeiro estava estruturado da seguinte forma: o Conselho Monetário Nacional funcionaria como um órgão normativo que iria legislar sobre o regime cambial e monetário que a economia brasileira deveria seguir e o Banco Central como uma instituição executora

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das políticas determinadas pelo CMN, sendo também o Banco do Governo nas questões de financia-mento do setor público.

Em 1963, o déficit do governo era de aproximadamente 4,2% do PIB e era integralmente financiado pela emissão de moeda. Consequentemente, a inflação neste ano, como destacado no gráfico 1, foi de 79,9%. No ano seguinte, o déficit público de 3,2% do PIB também foi totalmente pago com a emissão inflacionária, e o IGP-DI foi o mais elevado no período analisado, ficou em 92,1%. Contudo, com a criação do CMN e do Bacen, em 1965, o déficit do governo de 1,6% foi financiado em 55% pela emissão de títulos públicos, as ORTNs. Em 1966, 86% do déficit público de 1,1% do PIB foi financiado pela venda de títulos da dívida pública, não inflacionários. Por isso que a inflação a partir de 1966 torna-se bem mais estável e baixa.

O Paeg reduziu rapidamente o déficit público controlando os gastos do governo, mas, sobretudo, ampliando a arrecadação. Segundo Giambiagi et al. (2005), a elevação da carga tributária em porcenta-gem do PIB foi expressiva, pois em 1963 esta era de 16% e em 1967 passou para 21% do PIB. Em grande medida, esse fato pode ser justificado pelas seguintes mudanças tributárias:

ampliação de impostos no mercado bancário.

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criação do Imposto Sobre Serviços (ISS), que caberia aos municípios recolherem.

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aplicação do Imposto sobre Circulação de Mercadoria (ICM).

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Criou-se também o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)2 e o Programa de Integração

Social, que foram fundamentais para a formação de uma poupança compulsória destinada a estabilizar a demanda agregada da economia em períodos de recessão, garantindo assim uma remuneração mínima ao trabalhador desempregado. E com o objetivo de diminuir o déficit habitacional brasileiro em 1964 instituiu-se o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que tinha como órgão financeiro o Banco Nacional da Habitação (BNH).

Com relação ao setor externo, o Paeg procurou incentivar as exportações com isenções fiscais e um sistema de minidesvalorização da taxa de câmbio, tornando as próprias exportações mais competitivas. A Resolução 63 do Banco Central viabilizou a captação externa pelos bancos comerciais e de investi-mentos. Esse recurso obtido do exterior era utilizado para financiar ou capitalizar as empresas brasileiras. Ampliava-se, com isso, a capacidade de absorver recursos para o processo produtivo da economia.

Em termo de combate à inflação, o Paeg apresentou um grande sucesso. Contudo, seu combate não foi gradual. No gráfico 1, fica claro observar que de 1964 a 1965 a inflação despencou de 92,1% ao ano para 34,2%. E, com a redução da liquidez e do crédito às empresas, a política monetária contracio-nista possibilitou um pequeno crescimento do PIB de 2,4% e um crescimento negativo da produção industrial de 4,7%. Expandiu-se nesse período o número de falências e concordatas das empresas e os segmentos de vestuário, alimentos e construção civil foram os mais atingidos. Com a redução do crédito e dos gastos do governo, o setor da construção civil foi uma das indústrias que mais sofreram no Paeg.

Por exemplo, em 1965, esse setor cresceu em termos de produção física apenas 1%3.

2 Instituído por meio da Lei 5.170/66.

3 Os dados sobre o PIB e da produção industrial foram obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e no Sistema de Contas Nacionais (SCN).

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