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Do Imperialismo à Primeira Guerra Mundial

A economia cafeeira era reflexa, primário-exportadora, com as mesmas características da economia colonial das precedentes. Tratava-se, como no caso do açúcar, de uma atividade com alta densidade de mão de obra, estabelecida em uma região cuja população ainda era relativamente pequena.

As principais consequências foram o desenvolvimento de dois mercados internos. O primeiro formado pelos latifundiários e classes políticas dominantes. Nesse caso, consumindo produtos manufaturados importados e concentrando a renda. E o segundo mercado formado pelos escravos libertos e os imigrantes, com renda baixíssima e consumindo apenas para sua sobrevivência. Esse mercado consumidor interno, aliado ao mercado internacional, possibilitou a expansão do comércio e dos serviços no Brasil. Em especial destaca-se o crescimento da malha ferroviária, que passou de 223 quilômetros, em 1860, para 3 398 quilômetros, em 1880, e 9 973, em 1890, transportando toneladas de café das regiões produtoras para os portos. Setores financeiros, como bolsa de valores, bancos comerciais e infraestrutura básica de iluminação e saneamento também se beneficiaram e se desenvolveram com as exportações do café. O crescimento populacional foi expressivo. Estima-se que, em 1818, o Brasil tivesse 3,8 milhões de habitantes, 11,7 milhões em 1880 e, em 1889, 14,3 milhões.

No início do século XX, o crescimento desenfreado da produção de café levou o país a registrar períodos de superprodução e queda nos preços, como destacados na tabela 1. Os estados cafeeiros buscaram diminuir esse problema com o Convênio de Taubaté, em 1906, estabelecendo basicamente a compra, por parte do governo, do excedente agrícola e a ampliação dos empréstimos internacionais para manter a política de bons preços.

A ampliação da produção de borracha, no final do século XIX e início do século XX, justifica a queda relativa das exportações de café que em 1890 eram de 64%, passando para 57% em 1900 e 42% em 1910.

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

A tabela 2 descreve as potências europeias da Tríplice Entente antes e durante a Primeira Guerra Mundial. A Inglaterra era a nação mais industrializada e urbanizada, seguida da França. Em 1913, antes da guerra, aproximadamente 34% da população inglesa vivia nas cidades, isto é, mais de 15 milhões de pessoas. Na França, nesse mesmo ano, 15% dos habitantes residiam nas cidades, representando mais de 39 milhões de pessoas. O fato curioso é que a Rússia, um país de território continental e populoso, com mais de 175 milhões de habitantes, em 1913 era pouco industrializado, isto é, urbanizado. Nesse ano, apenas 7% de sua população vivia nas cidades. A Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial como um país preponderantemente agrícola.

Tabela 2 – População total e urbana em milhões e população urbana em porcentagem das potências da Tríplice Entente:: 1890 a 1920

Países Rússia Grã-Bretanha França

(K EN N ED Y, 1 98 9. A da pt ad o.)

Ano População total População urbana Pop. Urb./ Pop. Total População total População urbana Pop. Urb./ Pop. Total População total População urbana Pop. Urb./Pop. Total

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Países Rússia Grã-Bretanha França

Ano População total População urbana Pop. Urb./ Pop. Total População total População urbana Pop. Urb./ Pop. Total População total População urbana Pop. Urb./Pop. Total

1910 159,3 10,2 6,4% 44,9 15,3 34,1% 39,5 5,7 14,4% 1913 175,1 12,3 7,0% 45,6 15,8 34,6% 39,7 5,9 14,9% 1920 126,6 4,0 3,2% 44,4 16,6 37,4% 39,0 5,9 15,1%

Analisando a situação da Tríplice Aliança, ilustrada na tabela 3, pode-se destacar a maior industria-lização da Alemanha. Essa economia apresentava, em 1913, aproximadamente, 21% da sua população urbanizada, isto é, mais de 14 milhões de habitantes. O Império Áustria-Hungria, apesar de populoso, com 52 milhões de habitantes em 1913, não apresentava uma taxa de urbanização acima de 9%. Eram, em termos relativos, mais industrializados que a Rússia. A Itália tinha uma pequena população de 35 milhões de habitantes em 1913, e com uma boa taxa de urbanização, mais do que 11% de sua popula-ção.

Tabela 3 – População total e urbana em milhões e população urbana em porcentagem das potências da Tríplice Aliança:: 1890 a 1920

Países Alemanha Áustria – Hungria Itália

(K EN N ED Y, 1 98 9. A da pt ad o. )

Ano População total População urbana Pop. Urb./ Pop. Total População total População urbana Pop. Urb./ Pop. Total População total População urbana Pop. Urb./Pop. Total

1890 49,2 5,6 11,4% 42,6 2,4 5,6% 30,0 2,7 9,0% 1900 56,0 8,7 15,5% 46,7 3,1 6,6% 32,2 3,1 9,6% 1910 64,5 12,9 20,0% 50,8 4,2 8,3% 34,4 3,8 11,0% 1913 66,9 14,1 21,1% 52,1 4,6 8,8% 35,1 4,1 11,7% 1920 42,8 15,3 35,7% 37,7 5,0 13,3% Nota: em 1915, a Itália saiu da Tríplice Aliança para se juntar à Inglaterra.

Na questão demográfica, destaca-se ainda o crescimento do efetivo militar e naval dos países industrializados, como ilustrado na tabela 4. Todas essas nações expandiram significativamente suas unidades militares desde 1880. Por exemplo, a Alemanha passa de 426 mil unidades, em 1880, para 524 mil em 1900 e, no início da guerra, para 891 mil unidades. A Rússia, nesse mesmo período, apresenta os seguintes dados: 791 mil, 1,162 milhão e 1,352 milhão. A tabela 5 descreve o crescimento da produção inicialmente de ferro e depois aço no período de 1890 a 1920. Destaca-se que antes da primeira guerra, a produção de aço se expandiu significativamente. Por exemplo, em 1890 a Alemanha produzia 4,1 milhões de toneladas de ferro, em 1910 passou a produzir 13,6 milhões de aço e, em 1913, 17, 6 milhões de aço. A França, nesse mesmo período, expandiu, respectivamente, a produção mineral com os seguintes valores: 1,9 milhões de toneladas de ferro, 3,4 milhões de toneladas de aço e 4,6 milhões antes do conflito armado.

Esses exemplos indicam que a Europa vivia um período de preparo para um conflito das grandes potências. A “paz armada” indicou um crescimento da produção industrial bélica antes da Primeira Guerra Mundial. A disputa pela liderança na Europa e no mundo era evidente entre as grandes potências.

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Tabela 4 – Efetivo militar e naval das potências:: 1880 a 1914

Países 1880 1900 1914

(K EN N ED Y, 1 98 9. A da pt ad o. ) Alemanha 426 000 524 000 891 000 Áustria-Hungria 246 000 385 000 444 000 EUA 34 000 96 000 164 000 Grã-Bretanha 367 000 624 000 532 000 França 543 000 715 000 910 000 Rússia 791 000 1 162 000 1 352 000

Tabela 5 – Produção de ferro e aço das principais potências de 1890 a 1920 em milhões de toneladas

Países 1890 1900 1910 1913 1920

(K EN N ED Y, 1 98 9. A da pt ad o. ) Alemanha 4,1 6,3 13,6 17,6 7,6 Áustria–Hungria 0,97 1,1 2,1 2,6 EUA 9,3 10,3 26,5 31,8 42,3 Grã-Bretanha 8,0 5,0 6,6 7,7 9,2 França 1,9 1,5 3,4 4,6 2,7 Rússia 0,95 2,2 3,5 4,8 0,16 Nota: até 1890 a produção é de ferro; a partir desse ano é de aço.

A tabela 6 descreve a participação relativa das potências na produção industrial mundial. A Ale-manha, logo após sua unificação, passa de uma participação de 8,5% para 14,8% em 1913, ultrapassando sua rival Inglaterra, que neste ano registrava uma participação de 13,6%. Isto é, a Alemanha, no início do conflito, era a maior potência industrial europeia. Os Estados Unidos, nesse mesmo ano, apresentava uma produção industrial relativa de 32%, a maior economia do mundo. A entrada dos americanos na Primeira Guerra Mundial, ao lado dos ingleses e aliados, foi decisiva na vitória contra a Alemanha.

Tabela 6 – Participação relativa (em %) na produção manufatureira mundial:: 1880 a 1928

Países 1880 1900 1913 1928

(K EN N ED Y, 1 98 9. A da pt ad o. ) Alemanha 8,5% 13,2% 14,8% 11,6% Áustria-Hungria 4,4% 4,7% 4,4% EUA 14,7% 23,6% 32,0% 39,0% Grã-Bretanha 22,9% 18,5% 13,6% 9,9% França 7,8% 6,8% 6,1% 6,0% Rússia 7,6% 8,8% 8,2% 5,3%

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sua produtividade, [...]”. Era fundamental expandir a produção industrial neste período, e com isso demandar mais mão de obra e matérias-primas. A tabela 7 organiza os gastos efetuados a preços constantes e a força mobilizada durante o conflito. No total, a Tríplice Entente gastou mais de 57 bilhões de dólares, sendo que o Império Britânico contribuiu com o maior valor, 23 bilhões de dólares. Mobilizaram também uma força de mais de 42 milhões de pessoas, sendo que a Rússia, o país mais populoso, participou com 13 milhões de pessoas. O Império Britânico, com a ajuda de suas colônias, principalmente a Índia, mobilizou mais de 9 milhões de pessoas. Os EUA participaram mais com recursos financeiros do que com tropa efetiva. Com o receio de perder seus maiores consumidores, financiaram mais de 17 bilhões de dólares.

No caso da Tríplice Aliança, a Alemanha financiou grande parte do conflito, sendo que o mon-tante total foi de 24,7 milhões de dólares. No caso da força militar, a Áustria-Hungria contribuiu com 9 milhões de pessoas e a Alemanha com 13 milhões.

Tabela 7 – Despesas de guerra e total de forças mobilizadas no período de 1914 a 1919