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A Grande Depressão e o pensamento keynesiano

Mais importante foi, porém, a Revolução Russa de 1917, que manteve o trigo russo fora do mercado mundial. Em torno de 1925, a gradual recuperação da economia e da agropecuária da Europa Ocidental, bem como uma nova política econômica na Rússia, fez com que a produção mundial de trigo aumentasse no mundo, diminuindo assim os preços do produto. Esperando por um rápido retorno aos altos preços, os fazendeiros e comerciantes canadenses estocaram muito de seu trigo, em vez de reduzirem sua produção. A introdução de maquinário, especialmente o trator, levou ao crescimento da produção de trigo tanto no Canadá quanto nos Estados Unidos. Todos estes fatores em conjunto desencadearam um colapso nos preços do trigo em junho de 1929, destruindo a economia de Alberta, Saskatchewan e Manitoba, e afetando severamente a economia de Ontário e Quebec.

À parte dos Estados Unidos da América, o Canadá foi o país mais duramente atingido pela Grande Depressão. O Canadá, ainda oficialmente parte do Império Britânico, usava ativamente o padrão-ouro. Isso, aliado aos estreitos laços econômicos existentes entre o Canadá e os Estados Unidos (muito dos produtos fabricados no Canadá eram exportados para os Estados Unidos, por exemplo), fez com que o colapso da economia americana após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York rapidamente afetasse o Canadá. O colapso econômico canadense é considerado o segundo mais acentuado da Grande Depressão, atrás somente do colapso da economia do próprio Estados Unidos da América. [...]

[...] A economia do Canadá foi atingida duramente pela Grande Depressão primariamente por causa de sua dependência em relação ao trigo e produtos industrializados, mas também por causa da dependência da economia do canadense em relação às exportações de produtos canadenses para os Estados Unidos. A primeira reação de vários países, incluindo os Estados Unidos, quando a Grande Depressão teve início, foi de aumentar impostos. Isso causou mais danos à economia do Canadá do que para outros países no mundo.

Richard Bedford Bennett, que atuou como primeiro-ministro do Canadá entre 1930 e 1935, tentou minimizar os efeitos da Grande Depressão no país, inclusive através da introdução de uma

New Deal semelhante a dos Estados Unidos, implementado em 1934. Porém, a economia do país

somente passou a se recuperar muito lentamente a partir de 1934.

Em 1933, 30% da força de trabalho canadense estava desempregada; deflação ocorreu, reduzindo salários e preços de produtos, o que reduziu investimentos. Em 1932, a produção industrial canadense havia caído para 58%, em relação à produção industrial em 1929. Enquanto isso, o PIB canadense havia caído em cerca de 42%, em relação ao PIB do país em 1929. Apesar de ter passado por um período de curto e pequeno crescimento econômico entre 1934 e 1937 – que de longe fora suficiente para atenuar os efeitos causados pela Depressão – a economia do Canadá entrou novamente em uma grande recessão em 1937. Foi somente com a entrada do país na Segunda Guerra Mundial, em 1939, que os efeitos da Grande Depressão teriam fim no país.

Reino Unido

O Reino Unido saiu-se vencedor na Primeira Guerra Mundial. Porém, a guerra e a destruição causada pela última destruíram a economia britânica. Desde 1921, a economia do Reino Unido lentamente recuperou-se da guerra, e da recessão causada por esta. Mas em abril de 1925, o

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valor da moeda nacional ao padrão-ouro, à taxa pré-guerra, de 4,86 dólares. Isso fez o valor da moeda britânica convertível ao seu valor em ouro, mas causou também o encarecimento dos produtos exportados pelo Reino Unido a outros países. A recuperação econômica do Reino Unido caiu drasticamente, o que causou redução de salários no país inteiro, debilitando a economia nacional.

Quando a Grande Depressão teve início nos Estados Unidos, em 1929, diversos países no mundo inteiro criaram ou aumentaram tarifas alfandegárias, o que causou uma grande diminuição nas exportações de produtos britânicos. A taxa de desemprego saltou de 8% para 20% no final de 1930. O Reino Unido cortou gastos públicos – que incluíram fundos e dados para programas de ajuda social aos desempregados. Em 1931, mais cortes em salários e programas de ajuda social foram realizados, e o imposto de renda nacional foi aumentado. Essas medidas somente pioraram a situação socioeconômica do país e, em 1932, ápice da Grande Depressão no Reino Unido, as taxas de desemprego eram de 25%. Foi somente com o abandono do padrão-ouro e a instalação de tarifas alfandegárias para produtos importados de qualquer país que não fossem parte do Império Britânico que a economia britânica passou a gradualmente recuperar-se.

Atividades

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2. O que foi a crise de 1929? Descreva seus impactos imediatos na economia norte-americana.

3. Descreva como se calcula a taxa de desemprego e comente como essa variável e os salários se

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Gabarito

1. Na década de 1920, observou-se o renascimento do liberalismo econômico com o crescimento

dos mercados, da iniciativa privada, do mercado acionário e da diminuição do Estado na ordem econômica. Muitos governos reduziram significativamente os gastos públicos. Nos EUA observou--se uma redução do governo na economia e no progresso econômico. O consumo de bens duráveis foi importante para moldar o estilo de vida dos EUA na década de 1920. Em contrapartida, a economia europeia passava por grandes mudanças e um período de recuperação, principalmente a Alemanha derrotada na Primeira Guerra Mundial.

2. Foi a quebra da Bolsa de Nova York em 24 de outubro de 1929, diminuindo drasticamente os

preços das ações com medo de uma recessão generalizada na economia. A bolsa caiu em média 21,3% e, em quatro anos (1929-1933) reduziu em mais de 66%. Destaca-se que, durante toda a década de 1930, os preços das ações permaneceram inferiores ao valor de 1929 e só retornam seus valores pré-crise no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O volume negociado na Bolsa de Nova York foi reduzido drasticamente. Os empréstimos aos corretores atingiram seu topo em setembro de 1929, com um valor mensal de US$8,5 bilhões. Em dezembro desse mesmo ano, o volume negociado era aproximadamente de US$3,9 bilhões e com a falta de confiança no mercado acionário, em dezembro de 1930, o volume negociado pelos corretores foi de aproximadamente US$1,8 bilhão e no mesmo mês de 1932 o volume despencou para US$347 milhões.

O sistema financeiro e as corretoras de valores foram as atividades que inicialmente mais sofreram com a queda da bolsa. De acordo com o Federal Reserve Bank (FED), em dezembro de 1929, havia 24 026 bancos comerciais operando no país, no mesmo mês de 1930 o número já era de 22 172, caindo para 19 375 no ano seguinte e 15 519 em 1933, o pior ano da Grande Depressão. Isso significa dizer que em quatro anos consecutivos 6 653 bancos comerciais, ou seja, as principais instituições do sistema financeiro pediram falência. Uma queda de 30% no número de instituições bancárias.

Como consequência, a concessão de empréstimos foi drasticamente reduzida. Em 1929, os bancos comerciais emprestaram cerca de US$49,4 bilhões para o consumo e o investimento das empresas, em 1933 esse valor foi reduzido para US$30,4 bilhões, uma queda de 38,5%.

3. A taxa de desemprego é calculada pela seguinte expressão:

d =Número de pessoas desempregadas

População economicamente ativa x 100

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Nesse sentido, tem-se que a taxa de desemprego é obtida pela razão entre o número de pessoas desempregadas e a população economicamente ativa, isto é, a oferta de trabalhadores. E, assim, classificamos a taxa de desemprego como uma variável socioeconômica e um elevado valor dessa representa um desperdício de mão de obra que necessita de emprego, mas não encontra. Com a queda substancial do PIB, no início da Depressão, o desemprego explodiu. Em 1929, nos EUA, havia 1,5 milhões de desempregados e a taxa de desemprego era de 3,2% da força de trabalho. Em um ano o número de pessoas sem emprego aumentou para 4,3 milhões de pessoas ou 8,7% da PEA. Em 1932, em uma situação caótica da economia mundial, a taxa de desemprego norte--americana foi de 23,6% da PEA, representando cerca de 12 milhões de pessoas desesperadas por um trabalho. No ano seguinte, a taxa de desemprego aumentou para 24,9% da força de trabalho, isto é, mais de 12,8 milhões de pessoas esperando um emprego. Com a elevada taxa de desemprego, de 1929 a 1931, os salários reais caíram em mais de 20,8% e comparando com 1933 mais de 50%.

4. Keynes argumentava que, em caso de insuficiência de demanda efetiva e severa crise de

confiança no futuro da economia, as empresas convivendo com uma situação de superprodução (aumento nos estoques dos produtos) iriam inevitavelmente reduzir, no período seguinte, o volume de produção. Esse ajustamento da produção para o novo nível de demanda iria aumentar o desemprego e reduzir os salários. Seguindo o raciocínio keynesiano, a queda na renda dos trabalhadores produziria uma redução no consumo das famílias, gerando um efeito multiplicador no aparelho produtivo. Como a demanda iria cair mais ainda, o corte inicial da produção não iria ser suficiente para combater a superprodução e, assim, nos períodos seguintes as empresas iriam novamente reduzir seu volume de produção em virtude de uma queda em suas vendas. O desemprego iria subir mais ainda, prejudicando os salários.

O processo de industrialização