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1950 14,5 15,5 2,3 2,5 1951 33,3 20,1 3,2 3,0 1955 40,5 29,5 4,3 2,5 1960 45,3 36,9 4,6 6,7 1965 51,8 62,3 5,8 13,7 1968 80,7 85,4 5,6 17,8 1970 77,8 72,0 5,8 23,7 (K EN N ED Y, 1 98 9, p . 36 7)

Com a entrada na Guerra da Coreia, os Estados Unidos aumentaram seus gastos militares de US$14,5 bilhões no ano de 1950 para US$33,3 bilhões em 1951, um crescimento de 129%. Curiosamente, nesse mesmo período, a União Soviética, já com a bomba atômica, expande seus gastos militares de US$15,5 bilhões para US$20,1 bilhões, aumento de 29%. A China pelo lado comunista e o Reino Unido representante do capitalismo também expandem constantemente seus gastos em defesa nacional. A tabela 1 retrata, com isso, a corrida armamentista vivida na Guerra Fria.

105 | A Guerra Fria e os choques do petróleo

Com o intuito de conter o avanço do comunismo na Ásia, os norte-americanos patrocinam o desenvolvimento e o avanço da economia de mercado no Japão, incentivando as indústrias tecnológicas e a produtividade média de seus trabalhadores.

O fortalecimento do capitalismo também foi observado na Europa, através da formação de blocos de cooperação econômica e organização do planejamento produtivo. A economia capitalista, orientada exclusivamente pelo sistema de preços e de mercado, foi sendo substituída por uma liberdade condi-cionada aos interesses mais globais, mantendo a iniciativa privada.

Um exemplo interessante desse processo é relatado por Hobsbawn, quando o autor descreve uma consequência importante da Guerra Fria para a Europa. “Contudo, o efeito da Guerra Fria foi mais impressionante na política internacional do continente europeu que em sua política interna”. Completa o autor: “Provocou a criação da ‘Comunidade Europeia’, com todos os seus problemas; uma forma de organização sem precedentes (HOBSBAWN, 1995, p. 236-237).

Seus membros iniciais eram formados pelos seguintes estados-nações independentes: França, República Federativa da Alemanha, Holanda, Luxemburgo, Bélgica e Itália. Sua aliança política e econô-mica, iniciada por esses países em 1957 pelo Tratado de Roma, estava baseada em um capitalismo libe-ral que com o passar do tempo iria buscar uma relativa independência econômica dos Estados Unidos e um planejamento social para o capitalismo de mercado. Realmente, na década de 1970 e 1980, ou-tros importantes países aderiram ao bloco, tais como: Reino Unido, Portugal, Espanha e Islândia. As diminuições das barreiras econômicas e as ligações comerciais dos países-membros da Comunidade Europeia ou atual União Europeia foram fundamentais para a construção da atual organização político--econômica desse continente.

No campo tecnológico-militar, em 1949, os Estados Unidos anunciaram o desenvolvimento de uma nova arma atômica, a Bomba-H, muito mais poderosa que a bomba usada em Hiroshima e Nagasaki. Em 1953, a Rússia também divulgou e testou sua Bomba-H, depois de nove meses do teste americano.

Reanalisando a tabela 1, destaca-se que, nesse período, a União Soviética possuía uma excelente tecnologia no lançamento de foguetes. Em virtude da união das tecnologias russa e alemã e a ampliação nos gastos militares, os mísseis poderiam ser disparados a um raio superior a 7 500 quilômetros. Em

1957, a URSS lança o primeiro satélite artificial no espaço, o Sputnik2. Em 1961, a União Soviética gastava

aproximadamente US$36,9 bilhões ao ano com defesa militar e o avanço do programa espacial Russo foi intensificado. No ano seguinte, Iuri Gagarin foi o primeiro homem a ir ao espaço com sua nave Vostok.

Em 1962, com mísseis de grande alcance, a URSS tentou construir 40 silos3 nucleares em Cuba, com

o objetivo inicial de se defender dos americanos. Era de conhecimento geral que a União Soviética pretendia com esse ato responder à construção de uma base militar americana na Turquia. Em uma negociação complicada e tensa, o governo de John F. Kennedy decidiu retirar sua base militar na Turquia, em troca da não ativação das bombas nucleares. O governo norte-americano também se comprometia em não atacar militarmente Cuba. O líder político, Nikita Khrushchev, aceitou o acordo. Contudo, o preço pela paz para ambos foi elevado. Como recorda Hobsbawn (1995), Kennedy foi assassinado em 1963 e, no ano seguinte, Khrushchev foi afastado do poder, pelo seu fracasso em Cuba.

2 Em russo, sputnik significa “amigo” ou “companheiro”.

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Em 1964, os EUA entraram na Guerra do Vietnã (1958-1975), auxiliando o Vietnã do Sul contra o avanço do comunismo do Vietnã do Norte. Em 1968, sofreram uma grande derrota e, no ano seguinte, o presidente dos EUA, Nixon, anunciava um programa de retirada gradual da guerra que, em 1973, iria resultar em um acordo de cessar-fogo. Os EUA gastaram mais de US$250 bilhões na Guerra do Vietnã, lançando aproximadamente 45 milhões de toneladas de bombas.

A guerra significou uma imensa perda de recursos para os norte-americanos. Nesse período de conflito, a URSS ampliou sua tecnologia nuclear, frota naval, equiparando seus equipamentos bélicos aos dos norte-americanos. De acordo com a tabela 1, em 1964, os gastos militares soviéticos e norte- -americanos eram de US$51,2 bilhões e de US$48,7 bilhões, respectivamente. Quatro anos depois, em 1968, os gastos da URSS eram de US$85,4 bilhões e dos EUA de US$80,7 bilhões. Isto é, neste ano, a União Soviética comunista gastou mais em defesa nacional que a superpotência mundial do capitalismo.

A economia americana foi fortemente afetada por esse conflito. O déficit governamental aumentou de US$7,8 bilhões, em 1964, para US$21 bilhões, em 1967, e US$30,9 bilhões, em 1971, sendo que, nesse ano, a taxa de desemprego tornou-se historicamente elevada, isto é, acima de 6% da força de trabalho. Surge, com isso, uma questão importante: como o setor público pode ampliar seus gastos

significativamente e a taxa de desemprego subir de 3,8% em 1964 para 6% em 1967?

A resposta consiste, em grande medida, na análise da eficiência econômica. Os gastos governamen-tais não estavam sendo mais eficientes para estimular o crescimento do PIB que, em 1968, apresentou um crescimento de 4,8%; em 1969, de 3,1%; em 1970, de 0,2% e em 1971, uma expansão de 3,4%. Ou seja, uma média de crescimento anual do produto de apenas 2,86% entre 1968 a 1971, muito baixa para um país que ampliava consideravelmente seus gastos públicos.

O gasto público exagerado gerou também outro problema na economia, o aumento na taxa de

inflação4. Em 1967, de acordo com o gráfico 1, a inflação anual nos Estados Unidos era de 3,0%, isto

é, baixa e bem controlada para a época. Contudo, com o excesso na expansão dos gastos públicos, a inflação começou a subir. Em 1969, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) tinha dobrado e passado para uma inflação de 6,2%, e sua origem estava no forte crescimento da demanda agregada. De acordo com Galbraith (1979, p. 225): “O remédio keynesiano era assimétrico; ele dava certo no combate ao desemprego e à depressão econômica, mas não ao contrário, contra a inflação”. O autor também analisa o problema em ampliar muito os gastos em armamento, que podem ativar a economia e esta gerar um processo inflacionário, como observado no período de 1967 a 1969. Com a gradual saída dos EUA da Guerra do Vietnã, de acordo com a tabela 1, os gastos em defesa diminuíram de US$80,7 bilhões para US$77,8 bilhões e, em 1971 e 1972, os gastos reais em defesa nacional também sofreram uma redução. Com isso, a inflação sofreu um arrefecimento e, em 1972, com muito esforço do governo, a inflação estava em 3,4%.

4 Em 1963, antes dos EUA entrarem no conflito, a inflação medida pelo IPC foi de 1,64%. Quatro anos depois, o IPC registrava, em 1967, uma inflação de 3,0%.

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Gráfico 1 – Taxa de inflação anual nos Estados Unidos de 1967 a 1982 (Índice de preços ao consumidor) 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 3,0 4,7 6,2 5,6 3,3 3,4 8,7 12,3 6,9 4,9 6,7 9,0 13,3 12,5 8,9 3,8 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 Taxa de inflaç ão (em %) U .S . D ep ar tm en t o f L ab or : Bu re au o f L ab or S ta tis tic s.

Observando o gráfico 1, a partir de 1972, a taxa de inflação na maior economia capitalista do mundo não parou de subir. Para ser mais exato, o IPC explodiu, tornando a inflação explosiva. Além disso, os gastos do governo e o nível de demanda agregada estavam em redução. O que estava afetando,

neste caso, a inflação norte-americana?

A resposta está no aumento consistente e constante do preço internacional do petróleo como veremos a seguir.