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A Primeira Revolução Industrial e o pensamento de Adam Smith

Texto complementar

A Revolução Industrial

Máquinas-ferramentas a pleno vapor

(TAUILE, 2008)

Em geral, a Revolução Industrial é associada à invenção da máquina a vapor aparentemente porque ela permitiu maior mobilidade e flexibilidade à disposição física do capital produtivo, isto é, ao layout das fábricas em si, assim como viabilizou a ampliação das escalas de produção. No entanto, sem se desprezar a importância que a máquina a vapor possa ter tido para a Revolução Industrial, sob certo ângulo de análise, essa percepção generalizada, se não é completamente equivocada, deve ser devidamente qualificada.

Em uma carta de Marx a Engels, de 28 de janeiro de 1863, os fundamentos da revolução indus-trial são enfocados de maneira distinta (MARX; ENGELS, 2001 e MARX, 1998). Na carta, bem como no capítulo sobre maquinaria e indústria moderna de O Capital, Marx enfatiza a importância do

surgimento da working machine1, para caracterizar a Revolução Industrial do ponto de vista das

relações sociais de produção. Segundo essa óptica, o fundamental não é o desenvolvimento de um mecanismo como a máquina a vapor, que dispensa ou potencializa o exercício da força motriz humana (como para fazer girar uma roda), mas sim de um mecanismo que concretiza a capacidade de transferência do conhecimento sobre o processo de trabalho, que passa da esfera do trabalho para a esfera do capital. A possibilidade real para que isso acontecesse estava materializada nos movimentos repetitivos – e já extremamente simplificados pela divisão do trabalho – que o traba-lhador fazia com a ferramenta ao atuar diretamente sobre a peça a ser produzida.

Não é difícil entender. O fato de uma máquina de costura ser movida a eletricidade ou por movimentos regulares do pé da costureira atuando sobre o pedal mecânico por si só não altera a extraordinária importância que esse equipamento tem como amplificador da capacidade de trabalho humano; no caso, a capacidade de costurar. Novamente segundo Marx (1998), a máquina a vapor em si, tal como ela existia na época de sua invenção, durante o período manufatureiro, ao final do século XVII, e tal como continuou a ser até 1780, não fez surgir qualquer revolução industrial. Ao contrário, foi a invenção das máquinas-ferramentas que tornou necessária a revolução da forma das máquinas a vapor necessárias.

Marx acentua que, de fato, Watt aperfeiçoou aquela linhagem de mecanismos anteriores, criando a máquina de autopropulsão. No entanto, ainda naquela forma, ela continuava a ser meramente uma máquina para puxar água e outros líquidos das minas de sal.

1 A máquina propriamente dita é um mecanismo que, após ser colocado em movimento, desempenha com suas ferramentas as mesmas operações que anteriormente eram executadas pelo trabalhador com ferramentas similares. O fato de a força motriz ser derivada do homem ou de alguma outra máquina não faz diferença nesse caso (MARX, 1998).

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Em sintonia com esse argumento, a percepção aqui defendida é a de que a Revolução Indus-trial foi deflagrada no momento em que, concreta e sistematicamente, começaram a se transferir as ferramentas das mãos dos trabalhadores – e, consequentemente, suas habilidades, informações e conhecimentos sobre o processo de trabalho – para mecanismos móveis que cristalizavam tais habilidades, informações e conhecimentos sob a forma social de capital fixo, ou seja, começava a concretizar-se, aí, de maneira real, um longo e incessante processo de transferência objetiva de conhecimento produtivo, que passava do âmbito do trabalho para a esfera do capital.

Atividades

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2. Quais foram as grandes invenções da Primeira Revolução Industrial? Como elas contribuíram para

a industrialização?

3. Descreva os três benefícios da divisão social do trabalho para o sistema econômico, destacados

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4. Com relação aos impactos sociais, descreva os principais benefícios que os movimentos sociais

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Gabarito

1. Na base política está a Revolução Inglesa do século XVII com a Revolução Gloriosa de 1688. As

duas fazem parte de um mesmo processo revolucionário, daí a denominação de Revolução Inglesa do século XVII, limpando terreno para o avanço do capitalismo. Depois de vencer a monarquia, a burguesia conquistou os mercados mundiais e transformou a estrutura agrária, gerando uma grande liberdade econômica para os burgueses ingleses.

2. A máquina a vapor de James Watt, desenvolvida entre 1769 e 1782, contribuiu consideravelmente

na geração de energia para a indústria têxtil. Apesar do vapor já ter sido utilizado como fonte de energia anteriormente, a máquina de Watt possibilitou um ganho de produtividade na atividade mineral e no transporte. Com o objetivo de aumentar a capacidade de tecer, John Kay desenvolveu em 1733 a lançadeira volante. O tear mecânico inventado por Edmund Cartwright, em 1785, revolucionou a fabricação de tecidos. Para mover o tear mecânico, era necessária uma energia motriz mais constante que a hidráulica, à base de rodas d’água. James Watt, em 1769, aperfeiçoando a máquina a vapor, chegou à máquina de movimento duplo, com biela e manivela, que transformava o movimento linear do pistão em movimento circular, adaptando-se ao tear. Nos Estados Unidos, Eli Whitney inventou o descaroçador de algodão. Nesse sentido, com esse avanço tecnológico, a indústria têxtil algodoeira, como destacado por Rezende (2005), inaugurou a fase de produção capitalista, focada no emprego da máquina – regular, rápida, precisa e incansável –, permitiu um enorme crescimento da produção com custos baixos.

3. Em primeiro lugar, a especialização melhora a destreza do operário, ampliando assim a

quanti-dade e a qualiquanti-dade do produto. O segundo benefício consiste na economia de tempo. Passar de uma tarefa para outra, ao longo do processo produtivo, gera perda de concentração e de tempo. Por último, a divisão social do trabalho possibilita a invenção e o aprimoramento das máquinas que facilitam o trabalho humano. As grandes máquinas utilizadas nas indústrias manufatureiras, segundo Smith, foram invenções de operários comuns, os quais, naturalmente, preocuparam-se em dispensar uma atenção especial no aperfeiçoamento do processo produtivo.

4. A redução da jornada de trabalho para 12 horas nas indústrias têxteis em 1833; a proibição do

trabalho infantil e de mulheres nas minas de carvão em 1842; o limite da jornada máxima de trabalho para mulheres e crianças de 10 horas diárias em 1847.

A Segunda Revolução