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A proteção animal na Região Metropolitana do Recife: configuração atual

2. O CAMPO DE PESQUISA E O PERCURSO METODOLÓGICO

2.4 APONTAMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A PROTEÇÃO ANIMAL NA RMR

2.4.2 A proteção animal na Região Metropolitana do Recife: configuração atual

Em 2011, participei de uma pesquisa de mapeamento da proteção animal na Região Metropolitana do Recife, que contou com a participação de 98 pessoas72. Os quatro pesquisadores iniciaram os questionários procurando os contatos que possuíam, visitando alguns eventos e, a cada aplicação, pediram indicação de outros protetores, tanto indivíduos que faziam parte de grupos organizados de proteção (54,1% da amostra) quanto pessoas que realizassem as atividades de forma independente (45,9%). Entre os informantes, 77 eram mulheres e 21 eram homens. A idade dos protetores que participaram da pesquisa variou entre 18 e 69 anos, estando as ocorrências distribuídas de forma regular (BRAGA et al, 2011; LIMA & SILVA NETTO, 2011).

Quanto à renda familiar, a distribuição geral dos dados foi de R$ 510,00 (um salário mínimo) a R$ 16 mil, com média de R$4.708,00. Recodificamos esta variável de acordo com o critério de estratificação de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)73 e o resultado foi uma predominância da classe C (renda mensal entre

R$ 1.064 e R$ 4.591,00), que reuniu 45,9% dos informantes. A segunda faixa de renda (acima de R$ 4.591,00) reuniu 34,7% dos informantes e, por fim, 18,4% pertenciam à classe E, com renda mensal inferior a R$ 768,00.

72 A coleta das informações foi realizada a partir de uma amostra não-probabilística, tendo em vista a

população flutuante de protetores e as condições e o tempo de trabalho do grupo.

73 Para o IBGE, a classe B é a que possui ganhos mensais acima de R$ 4.559. Como os valores muito acima

disso não foram muito frequentes, unimos as classes A e B que, juntas, representam, 34,7% da amostra. A classe C, segundo o IBGE, é composta por indivíduos pertencentes a famílias que possuem renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.591. Os brasileiros inseridos na classe D recebem entre R$ 768 e R$ 1.064 e a classe E abrange as famílias que ganham menos de R$ 768 mensais.

O indicativo de status socioeconômico fornecido pela renda familiar dos informantes foi reforçado pelo grau de escolaridade máxima possuída pelos respondentes, pois o menor nível escolar identificado foi Ensino Médio ou técnico completos (31,6% da amostra). As pessoas com curso superior ou especialização latu sensu somaram 33,7% da amostra e aquelas com especialização strictu sensu somaram 23,5%. Por fim, 11,2% dos protetores possuíam título de Mestre, Doutor ou Pós-Doutor.

Os indicadores socioeconômicos demonstraram que a proteção animal na Região Metropolitana do Recife tinha uma predominância de pessoas da classe C (renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.591) com alto nível de escolaridade (a menor faixa encontrada foi o ensino médio ou técnico completo com 31,6% da amostra). Esse dado reforça a ideia de que a proteção animal, bem como o ativismo vegano e ambientalista, de forma semelhante aos Novos Movimentos Sociais, são compostos fundamentalmente por pessoas de classe média.

Diferente do ambientalismo, no entanto, o perfil da proteção animal indicou uma predominância das ações assistencialistas, com pouca articulação e mobilização política. Perguntados se realizavam algum tipo de articulação com o poder público, 78,6% dos entrevistados afirmaram que não. Além disso, na identificação das atividades realizadas com maior frequência, foram listadas 10 opções, entre as quais as mais citadas foram alimentação de animais nas ruas (19,4%) e recolhimento de animais (16,3%)74. Por fim,

vale citar os resultados encontrados diante da questão aberta “Qual o maior problema relacionado aos animais hoje?” Após agrupar as respostas, três categorias foram encontradas: falta de consciência ou educação das pessoas (48,4%), ausência de controle populacional (26,5%) e falta de políticas públicas ou leis (12,9%). O maior problema dos animais, portanto, era atribuído à maneira como os indivíduos lidavam com eles, remetendo, portanto, a uma busca de soluções relacionadas à educação e conscientização (BRAGA et al, 2011; LIMA & SILVA NETTO, 2011).

Naquele ano de 2011, identificamos 13 grupos organizados de proteção animal em Pernambuco75. Já em 2015, alguns daqueles grupos haviam desaparecido, enquanto

74 Também foram citadas as atividades de lar temporário, busca de adoção, castração, angariação de fundos,

organização de eventos, denúncia de maus tratos, contribuição financeira e atuação em abrigos.

75 Os grupos identificados em 2011 foram: AADAMA (Associação dos Amigos Defensores dos Animais e

do Meio Ambiente), Adota Eu! (DABB/UFRPE), Adote um Vira-Lata (UFPE) Arca de Noé, Brazucas Associação para Lutar pelos Animais (Brala), Gato Feliz, Movimento de Proteção Cães da Colina (MPC), Pet PE, Rede de Adoção, Savama, SOS 4 Patas, SOS Vida e a ONG Veterinários Sem Fronteira (VSF). Além disso, havia dois grupos de ativismo vegetariano: o grupo local da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e o Ativismo Vegetariano (Ativeg).

vários outros surgiram. Em um novo levantamento, contabilizei 23 grupos atuando no estado: Associação dos Protetores de Animais de Aldeia (AAPA), Associação de Proteção aos Animais (APA), Adote um Bichano (AUB), Associação dos Amigos Defensores dos Animais e do Meio Ambiente (AADAMA), Associação de Defesa do Meio Ambiente (Ademape) Adote um Vira-Lata (UFPE), Bicharada Carente, Brazucas Associação para Lutar pelos Animais (Brala), Eu Amo Animais, Gatinhos Urbanos, Gigi Pet Sitter, Julietas, Movimento Ação Animal (MAA), Movimento Amigo Bicho (MAB), Movimento de Defesa Animal (MDA), Movimento de Proteção Cães da Colina (MPC), Pet PE, Projeto Animus (UFRPE), Projeto Patinhas, Savama, SOS 4 Patas, SOS Vida e a ONG Centro de Controle de Natalidade Animal (CCNA). Existem, ainda, as comunidade virtuais no facebook: SOS Adoção Recife, Adota Recife e Adoção Animal Recife. Além disso, o ativismo vegano, que já contava com Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e Ativismo Vegetariano (Ativeg), ganhou o grupo Liberte.

Diante dessa multiplicidade, é cabível ressaltar que, quando falo em protetores de cães e gatos, estou me referindo a uma categoria bastante diversa. Para facilitar a visualização dessa diversidade, a tabela a seguir resume as principais atividades realizadas por protetores de animais na Região Metropolitana do Recife, com indicação daquelas que foram identificadas entre os grupos cujas informações estavam disponíveis:

Promovem eventos de adoção Participam de eventos de adoção Promovem ações de castração eventos ou campanhas para arrecadar doações para abrigos Realizam ações em abrigos arrecadação para tratamento de animais resgatados Realizam programas educativos Os membros realizam lar temporário Administram página no facebook 1. AADAMA X X 2. APAA X X X X X 3. Adote um Bichano X X X X X X 4. Adote um Vira-Lata X X X X X 5. APA X X X 6. Bicharada carente X X X X 7. Brala X X X 8. Gatinhos Urbanos X X X 9. Gato Feliz X X X X

10. Gigi Pet Sitter X X X X X X X X

11. Julietas X X 12. MAA X X X X X X X X 13. MAB X X X X X 14. MDA X X X X 15. Projeto Animus X X X X 16. Projeto Patinhas X X X X X X 17. Savama X X X X

até o envolvimento em uma dinâmica social e política mais ampla. Nos últimos anos, tem se tornado mais comum que os protetores concebam o problema do qual tratam como uma questão de caráter público, aproximando-se de cobranças ou proposições de políticas públicas voltadas para cães e gatos.

O contexto em que essa pesquisa foi realizada é marcado pelo surgimento de uma configuração social em que aumentam os mecanismos de controle sobre as relações de tutoria, levando à emergência de dilemas morais relativos ao convívio humano com cães e gatos. Nesse processo, o crescimento da proteção animal na Região Metropolitana do Recife é um indicador importante a ser considerado.

3.

OS IMPULSOS CIVILIZADORES E A POSIÇÃO AMBÍGUA