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ANÁLISE E DISCUSSÃO

No documento Volume 2 (páginas 89-94)

Realizou-se uma leitura e análise exploratória do material e, posteriormente, a análise de conteúdo a partir da seleção de trechos mais significativos, em que se encontram a temá- tica ambiental e os indícios das possíveis concepções de EA. Depois de fragmentar o texto, categorizou-se as unidades.

Os parâmetros foram escolhidos considerando sua abordagem essencial em uma pers- pectiva crítica de EA, que é a que foi adotada neste trabalho.

O quadro 2 reúne trechos extraídos da cartilha e caracteriza-se por ter informações obje- tivas, informativas, e de orientação em relação às práticas que devem ser adotadas, para evitar e minimizar as situações que podem causar danos ao meio em que o indivíduo está inserido, e a situação de risco a qual poderá ser exposto.

Quadro 2 –Características da cartilha analisada Cartilha de São Paulo

Parâmetros Tendências Comentários

1 - Como entender o ser humano em rela- ção à natureza.

Pragmática

Não há uma relação direta com a natureza. São pontuadas ações que para minimizar os impac- tos sobre meio em que vive e a convivência com os riscos existentes.

2 - Considerações acerca das diversida- des sociais, culturais

e naturais. - Não é abordado no material.

3 - Abordagem dos conflitos referentes à temática ambiental.

-

Não apresenta conflitos referentes a temática ambiental. Traz uma abordagem que expõe os problemas ambientais e a forma de atuação.

4 - Abordagem da experiência estética

com a natureza. Pragmática Os materiais não contemplam abordagem es-tética com a natureza. 5 - Responsabiliza-

ção pelas causas dos problemas ambien- tais.

Pragmática

A responsabilidade pelas causas dos proble- mas ambientais é atribuída, no caso de desli- zamento de encosta, aos “processos naturais ou induzidos pelo homem”. Elas são informa- das ao indivíduo e instrui como o mesmo deve agir para evitar ou reduzir a possibilidade de ocorrência dos deslizamentos em áreas com moradias.

6 - Proposta de atua- ção individual ou co- letiva.

Pragmática

O material deixa implícita que a proposta de atuação é na esfera individual. Não foi encontrada nenhuma citação ou frase que remeta a atuação com a comunidade. Frases como “Diante disso é preciso informar ao cidadão que há formas de evitar ou reduzir a possibilidade de ocorrência dos deslizamentos...”. “Você que enfrenta situação de risco, pode ajudar os técnicos da sua prefeitura ou da Defesa Civil da sua cidade” exemplificam a proposta.

Nesse material há uma contextualização e definições sobre o que são deslizamentos, as situações de risco, sobre quem pode ajudar e como ajudar os indivíduos que estão inseridos nes- se meio. As orientações quanto às situações de risco também estão presentes além das práticas que devem ser mudadas para uma melhor interação com o meio e para prevenção em relação aos riscos geológicos. A cartilha, de uma forma lúdica, propõe atividades como jogos dos 7 erros, trilhas, colorir, encontrar palavras, entre outras como forma do indivíduo assimilar e fixar o conteúdo tratado pelo material. A tendência que permeia o conteúdo do material é a vertente da educação ambiental pragmática. De acordo com Silva (2009),

A educação ambiental pragmática propõe normas a serem seguidas, pois focaliza suas ações na procura de soluções para os problemas ambientais. Tem como um de seus objetivos a mu- dança de comportamentos individuais e busca mecanismos que permitam a compatibilidade entre o manejo sustentável dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico. (SILVA, 2009)

Dessa forma, tal concepção não leva o indivíduo a desenvolver uma consciência crítica a respeito do problema e direciona para a adoção de comportamentos individuais ambiental- mente adequados. Em síntese, de acordo com Jacobi (2003),

“...torna-se cada vez mais necessário consolidar novos paradigmas educacionais para ilumi- nar a realidade desde outros ângulos, e isso supõe a formulação de novos objetos de refe- rência conceituais e, principalmente, a transformação de atitudes. Um dos grandes desafios é ampliar a dinâmica interativa entre a população e o poder público, uma vez que isso pode potencializar uma crescente e necessária articulação com os governos locais, notadamente no que se refere ao desenvolvimento de práticas preventivas no plano ambiental.”

Segundo Carret e Zuin (2008), acredita-se que considerar as diversidades sociais, cultu- rais e naturais é imprescindível quando se trata da temática ambiental, uma vez que se torna ne- cessário compreender os tipos de relações sociedade-natureza existentes ou possíveis para que se possa agir sobre determinada realidade. Abordar os valores estéticos e éticos também se faz necessário nessa perspectiva de EA, que tem como um de seus objetivos a formação de “uma atitude ecológica dotada de sensibilidades estéticas, éticas e políticas sensíveis à identificação dos problemas e conflitos que afetam o ambiente em que vivemos” (CARVALHO, 2004, p. 21). CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho permitiu avaliar que esse instrumento (a cartilha) é alicerçado em dois conteúdos: por um lado os impactos provocados pelas ações antrópicas, as dinâmicas naturais deflagradoras dos riscos; e por outro, a mudança de comportamento, as ações individuais ade- quadas a prevenção e medidas de autoproteção para minimizar e permitir a convivência com os riscos.

As informações contidas nesse material, segundo Beck (1992, apud SULAIMAN, 2013, p.9-10), atuam com a premissa de “conhecer para prevenir, que indicam o que fazer antes, du- rante e depois da emergência sem discutir as causas profundas que permitem e problematizam

os contextos e áreas de risco[...]”. As ações são limitadas a certos períodos do ano e, consequen- temente, esse “conhecer” torna-se momentâneo e exclusivo para atuar num período.

Nesse sentindo, sugere-se que seja feito um trabalho contínuo por todo ano e que pos- sa ir além de estabelecer o comportamento e a prevenção. É muito importante estimular a participação coletiva e social para discutir os problemas fundamentais geradores dos riscos geológico-geotécnico, como está sendo construído esse território, passando a uma postura de questionamento do risco. Dessa maneira será possível exigir ações do poder público, melhorias nas condições de vida da população e equidade social.

Outra sugestão é elaborar um número maior de materiais direcionado ao público infan- til. A ideia da cartilha é muito interessante, pois trabalha seu conteúdo com uma linguagem bem simples, muitas ilustrações e jogos para ajudar no entendimento, demonstrando a necessidade de fazer a criança entender algumas razões que podem causar as situações de risco geológico/ geotécnico.

Por fim, acredita-se que esse trabalho abre um leque de possibilidades para futuras pes- quisas e reflexões sobre como as características da educação ambiental crítica pode contribuir para a formatação de novos materiais que tem por objetivo a prevenção de acidentes em áreas de riscos ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECK, U. Risk society: towards a new modernity. Los Angeles; London: Sage, 1992. In: SU- LAIMAN, S. N, JACOBI, P. R. Os desafios e potencialidades da articulação entre educação ambiental e prevenção de desastres naturais no Brasil. In: Anais da 36ª Reunião Anual da ANPED. Goiás: UFG, 2013.

CARRET, L.S; ZUIN, V.G. Análise das concepções de educação ambiental de livros paradidá- ticos pertencentes ao acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola 2008. In: Pesquisa em Educação Ambiental. Vol. 5, N.1, p.141-169, 2010.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação. In: LAYRARGUES, P. P. (Org.). Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: Minis- tério do Meio Ambiente, 2004.

CARVALHO, L.M et al. Conceitos, valores e participação política. In: TRAJBER, R.; MAN- ZOCHI, L. H. (Org.). Avaliando aEducação Ambiental no Brasil: Materiais Impressos. São Paulo: Gaia, 1996.

CASTRO, J. C. P. Inventário de Riscos de Deslizamentos na Comunidade de Babilônia. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Departamento de Geociências, 2010.

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Educação Ambiental, Meio Ambiente e Interdisciplinaridade. In: Anais da 36ª Reunião Anual da ANPED. Goiás: UFG, 2013.

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LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental e gestão participativa na explicitação de conflitos. In:Gestão em Ação. V.7, n. 1, jan.- abr. Salvador: 2004.

MARPICA, N. S. As questões ambientais nos livros didáticos de diferentes disciplinas da quinta-série do Ensino fundamental. 2008. Dissertação(Mestrado em Educação) – Universi- dade Federal de São Carlos,2008.

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2009.

SILVA, R. L. F. O meio ambiente por trás da tela: estudo das concepções de Educação Am- biental dos filmes da TV Escola. 2007. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universi- dade de São Paulo, São Paulo.

SILVA, R. L. F. Ciência e Tecnologia em programas educativos de meio ambiente. In:Enseñanza de las Ciencias, v. extra, p. 1138-1142, 2009.

SULAIMAN, S. N, JACOBI, P. R. OS desafios e potencialidades da articulação entre educação ambiental e prevenção de desastres naturais no Brasil. In: Anais da 36ª Reunião Anual da ANPED. Goiás: UFG, 2013.

ATIVIDADES DE CAMPO NO ENSINO ESCOLAR EM UNIDADES DE CONSER-

No documento Volume 2 (páginas 89-94)

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