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LAURY AMARAL LIERS CLAUDIA PAIVA

No documento Volume 2 (páginas 87-89)

ROSANA LOURO FERREIRA DA SILVA

RESUMO

O presente trabalho avalia de que forma a Educação ambiental está inserida no pro- cesso de Gerenciamento de áreas de risco geológico-geotécnico. O objeto analisado foi uma cartilha impressa destinada a prevenção de riscos. Dessa forma, caracterizou-se como um es- tudo de caso e utilizou uma bibliografia de referência para a análise de conteúdo utilizando-se categorias de concepções da educação ambiental (conservadora, crítica, pragmática), que estão presentes no conteúdo desse objeto de estudo. A análise permitiu avaliar a ocorrência preponde- rante de conteúdos cientificista e comportamentalista, que não geram um questionamento sobre os cenários de riscos. Esses cenários possuem uma relação explícita com a configuração dos espaços urbanos, uso e ocupação do solo, planejamento, políticas urbanas e práticas políticas. A educação ambiental crítica, nesse sentido, pode atuar para questionar a construção social dessas áreas promovendo maior participação e engajamento social a favor de melhores condições de vida, equidade social e justiça ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Áreas de risco, Prevenção e Planejamento. INTRODUÇÃO

Este trabalho desenvolve uma reflexão que permite avaliar de que forma a educação ambiental está inserida no processo de gestão das áreas de risco geológico-geotécnico. A moti- vação para realizar esse estudo surgiu após experiência com a produção de um material didático em Educação Ambiental no formato de um jogo de cartas. Seu objetivo era tratar situações e problemas ambientais relacionados às mudanças climáticas globais de forma lúdica, a fim de gerar a construção de argumentações consistentes para posicionar o indivíduo frente às ques- tões ambientais, além de desenvolver habilidades para elaborar ações de participação coletiva. A educação ambiental é muito importante para a gestão das áreas de riscos geológico- -geotécnico, pois faz parte das ações não estruturais previstas no planejamento e gerenciamento dessas áreas. Segundo Castro (2010), as ações não estruturais são aquelas onde se aplica um rol de medidas relacionadas às políticas urbanas, planejamento urbano, legislação, planos de defesa civil e educação. São consideradas tecnologias brandas e, normalmente, têm custo muito

mais baixo que as medidas estruturais (tecnologias duras). Tratam-se, portanto, de medidas sem a intervenção de obras de engenharia.

A questão da ocupação das áreas de risco geológico-geotécnico evidencia que se trata de um problema complexo, que envolve a interação de questões socioeconômicas, opções de planejamento urbano, políticas urbanas e práticas políticas. A educação ambiental, nesse senti- do, exerce um papel muito importante, pois pode desenvolver a construção de uma nova racio- nalidade, que permita novas formas de reapropriação do mundo, fazendo com que o indivíduo passe a questionar o modelo socioeconômico e a segregação socioespacial que esse modelo promove.

A importância desse trabalho se justifica considerando, conforme Loureiro, 2004c (p.81), que a prática da Educação Ambiental crítica, transformadora e emancipatória estão fo- cadas nas pedagogias problematizadas do concreto vivido, no reconhecimento das diferentes necessidades, interesses e modos de relações na natureza, que definem os grupos sociais e o ‘lugar’ ocupado por estes em sociedade, como meio para buscar novas sínteses que indiquem caminhos democráticos, sustentáveis e justos para todos.

A educação ambiental tem como objetivo atuar na mudança da mentalidade e práticas de consumo dos indivíduos que compõem a nossa sociedade. Deve atuar para formar cidadãos críticos e participativos orientando-se para a comunidade, incentivando o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto de realidades específicas. Nela, está inserida a busca da consolidação da democracia, a solução dos problemas ambientais e uma melhor qualidade de vida para todos (REIGOTA, 2009).

Desta forma, o objetivo deste trabalho foi investigar a concepção de Educação ambiental de um material educativo utilizado com população residente em áreas de risco, buscando contribuir para a melhoria do papel da educação ambiental nesse contexto.

METODOLOGIA

A metodologia adotada para esse trabalho foi um estudo de caso utilizando como objeto de pesquisa um material impresso (cartilha) elaborado por um órgão governamental. A análise utilizou a categorização proposta em Silva (2007), que apresenta três concepções de EA: Edu- cação Ambiental conservadora, Educação ambiental pragmática e Educação Ambiental crítica. Além da categorização, foi utilizado um roteiro proposto por Carret e Zuin (2008), baseados nas concepções propostas por Carvalho et al. (1996) e Marpica (2008), de modo a classificá-los de acordo com as vertentes propostas por Silva (2007). Os parâmetros utilizados para compor a análise estão expressos no quadro 1.

dos para a categorização das unidades de análise.

Parâmetros Conservadora Pragmática Crítica

1 - Como enten- der o ser humano em relação à natu- reza.

Há uma dicotomia entre ambiente e ser humano (visto ape- nas como ser bioló- gico). Visto como destruidor.

Antropocentrismo, ser humano mani- pula a natureza, que reage de acordo com o trato que recebe.

Relação complexa, histori- camente determinada. Ser humano pertence à teia de relações e vive em intera- ção.

2 - Considerações acerca das diversi- dades sociais, cul-

turais e naturais. Trata apenas da di-versidade natural.

Não expõe a diver- sidade, pois focaliza as metrópoles urba- nas e industriais.

Considera a diversidade na- tural, cultural e social e suas relações como um todo. 3 - Abordagem

dos conflitos refe- rentes à temática ambiental.

Questões que envol- vem conflitos não são abordadas.

Apresenta o confli- to como um “falso consenso”.

Apresenta o conflito na perspectiva de vários sujei- tos sociais. 4 - Abordagem da experiência estéti- ca com a natureza. Experiência estética plena, contemplati- va. A abordagem é uti- litarista e não há ex- periência estética.

A experiência estética é complexa, pois somos parte da natureza.

5 - Responsabili- zação pelas cau- sas dos problemas

ambientais. Todos são igualmen-te responsáveis. As causas não são discutidas.

As causas são consequên- cias do contexto histórico e cultural da sociedade. 6 - Proposta de atuação individual ou coletiva. As ações giram em torno da mudança individual do modo de vida. Individual, com a mudança de com- portamento de cada um. Ênfase na participação coletiva, fortalecimento da sociedade civil.

Fonte: CARRET, L.S, ZUIN, V.G (2008), partindo das concepções de SILVA (2007).

Conforme Carret e Zuin (2008), o quadro descreve as características de cada corrente de acordo com as tendências de EA para cada parâmetro exposto acima. Embora essa proposta de roteiro para análise da cartilha tenha sido baseada numa tipologia com foco em materiais didá- ticos, foi possível obter informações coerentes e importantes para avaliar o material impresso e concluir qual era a vertente predominante da educação ambiental.

No documento Volume 2 (páginas 87-89)

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