• Nenhum resultado encontrado

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO ESTRATÉGIA DE SENSIBILIZAÇÃO E EDU CAÇÃO AMBIENTAL

No documento Volume 2 (páginas 101-108)

Amanda Berk Naetê Reis Marcella Guimarães Resumo

Diante da necessidade de modificar o paradigma educacional expositivo de transmissão do co- nhecimento por forma de transferência, surgem novas metodologias de ensino voltadas para a construção e interatividade. Dentro dessa proposta o presente estudo relata a aplicação de uma atividade de contação de história com a temática da educação ambiental. Com personagens e elementos confeccionados em feltro e velcro, os alunos contribuem com o desenvolvimento da história incluindo os personagens que foram previamente distribuídos. A atividade foi execu- tada em dois momentos, na escola Municipal Julia Cortines e na Creche Sempre Vida ambas instituições públicas de ensino, e com dois grupos de perfis diferentes: crianças de 2 a 4 anos e crianças de 6 a 9 anos. O alcance e aproveitamento de ambos os grupos foi bem diferenciado. A faixa etária de alunos menores aproveitou bem o lúdico, o reconhecimento de formas e for- matos dos elementos, mas teve dificuldade na compreensão da construção da história. Já a faixa etária dos maiores demonstrou uma sensibilização muito grande a respeito da degradação am- biental e da retirada de elementos naturais para introdução dos antrópicos. Foi observado como critério conclusivo a validade da atividade para aplicação em ambas faixas etárias no intuito de introduzir conceitos de educação ambiental, preservação da natureza e equilíbrio ecológico. Palavras-chave: Contação de história, equilíbrio ecológico, iniciativas interativas.

Referencial

As questões ambientais diante do capitalismo e consumismo desenfreado tornam-se cada vez carentes da atenção da população devido ao grau de comprometimento de recursos na- turais assim como os índices de degradação e poluição ambiental caracterizados por um lamen- tável processo de exclusão (SORRENTINO, 2005). A Educação Ambiental (EA) diante desse desafio surge como ferramenta fundamental de transformação de hábitos e de pensamentos acerca dos elementos naturais. Jacobi (2003) afirma que a EA é um processo crítico e de inova- ção constante que “deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social”.

Segundo Cardoso (2011) a EA consegue contribuir para a formação de cidadão com uma visão ambiental crítica podendo dessa forma se destacar atuando na sociedade em prol da

preservação ambiental. Há uma necessidade constante de diálogo e de disseminação de infor- mação sobre fatores que ocasionam essa deteriorização ambientais e a relação entre as atitudes humana frente a essas questões.

A qualidade de vida dos indivíduos está comprometida em razão do aumento da po- luição nas últimas décadas e a disponibilidade de recursos para as futuras gerações ameaçada (DIAS, 1998). A discussão de pactos e acordos internacionais de governantes em relação aos quesitos ambientais de manutenção pouco dá resultado e há uma necessidade urgente de que os próprios habitantes se mobilizem para uma mudança individual que possa refletir no coletivo interligado.

No ambiente escolar não existe um espaço especifico designado para a abordagem da temática ambiental (CUBA, 2011). Fica a encargo dos professores optarem por conteúdos que irão tratar questões como resíduos sólidos, extinção de espécies, poluição de recursos hídricos entre outros. O critério de escolha e a forma como esses temas serão trabalhados não são regi- dos por nenhuma determinação das autoridades educacionais. Dessa maneira não há um com- promisso específico com nenhum tema e nem tampouco uma responsabilidade de inserir toda a temática aos alunos (CUBA, 2011).

Uma alternativa para a apresentação desses aspectos são projetos externos que atuam no ambiente escolar como proposta complementar. Essas iniciativas são de fundamental impor- tância principalmente acerca da educação ambiental, pois são capazes de ampliar os horizontes dos alunos e professores. Monteiro et al. (2004) afirma que há uma grande dificuldade para os professores aplicarem inovações em sala de aula dentro do ensino regular.

Um recurso que vem revolucionando a prática de ensino são as tecnologias que atual- mente ainda são pouco difundidas nas salas de aula brasileiras (FERREIRA, 1998). O emprego de mídias no ensino é altamente produtivo uma vez que permite a melhor visualização dos conteúdos por parte dos alunos. Na EA esses recursos como vídeos e músicas, também vêm sendo amplamente usados em cursos, oficinas e outras atividades educativas principalmente por se relacionar com a questão emotiva para sensibilizar de maneira mais efetiva os indivíduos.

A utilização de ferramentas metodológicas lúdicas e dinâmicas para a EA é recorrente. De acordo com Monteiro et al. (2004) a interatividade enriquece profundamente o processo de ensino-aprendizagem, permitindo que os alunos associem os conteúdos com sua realidade e encontrem justificativas para as questões didáticas.

As práticas pedagógicas interativas são fundamentais para o aprendizado do aluno e devem seguir alguns princípios básicos de orientação como a valorização da contribuição e co- nhecimento constante do aluno; conduzir a argumentação do conteúdo para que o discente veja sentido no que está sendo explicado; potencialização da autonomia discente; estabelecer canais de comunicação constantes e permanentes com os alunos, entre outros (ZABALA, 1998).

Metodologia

A proposta é a aplicação de uma atividade lúdica com perfil dinâmico interativo fo- cado no público infantil. A ideia é um livro de histórias na qual a mesma é construída com a participação dos alunos. O livro é confeccionado com placas de papelão resistentes e revestido com feltros de cores claras e neutras. A capa do livro é enfeitada como a capa de um livro de histórias infantis. Na apresentação da atividade é feita uma introdução da história com o intuito de envolver os alunos na proposta, instigando sua curiosidade. O livro é aberto e encontra-se vazio funcionando como base para o desenvolvimento da história com a adição dos elementos e personagens a partir da evolução como é narrada por quem estiver conduzindo a atividade. Os elementos e personagens são produzidos à imagem e semelhança da realidade em cores e formatos, feitos de feltro e enchimentos com velcros atrás para fixar no livro.

Primeiramente após a chegada dos alunos, são distribuídos personagens e elementos individuais para cada aluno na medida em que já há uma sensação de pertencimentos do mesmo e um comprometimento com a atenção e colaboração dos mesmos com a atividade. Com uma música de fundo com sons da natureza, o clima da contação também é estabelecido e esse som ambiente também irá sendo alterado em concomitância com a evolução da história. É explicado para os alunos que no momento em que os elementos que receberam surgirem na história os mesmos devem levantar-se e entregarem para a composição do cenário ao desenrolar dos fatos. A partir de um roteiro baseado na criação do mundo primariamente com elementos naturais vão surgindo personagens que foram produzidos para a atividade. A mãe Natureza, o personagem principal, vai criando de forma afetiva as nuvens, o sol, as montanhas, a gotinha (nascente) que vira um rio, as pedras, as árvores e os animais todos interagindo e dependendo uns dos outros para a existência de um equilíbrio. Até a chegada do ser humano que altera toda a estrutura ali existente para o benefício próprio e retirando elementos naturais para inserir casas, animais de pecuária, poluição que são frutos de suas atividades diárias prejudicando o que já estava em harmonia anteriormente. Por fim os alunos contribuem com a construção do equilíbrio e respeito mútuo entre o ser humano e a natureza tendo espaço para ambos os grupos de habitantes.

Essa referência visual dos personagens e elementos cria uma associação que é importan- te para os alunos que se aproximem do que está sendo relatado e possam identificar como real o que está ocorrendo possibilitando assim uma compreensão mais profunda. A participação e interatividade também é muito produtiva uma vez que percebem sua colaboração no contexto da realização da atividade e transferem essa sensação para o que podem executar em ações co- tidianas para a preservação ambiental.

Resultados e discussões

A atividade foi aplicada primeiro na Escola Municipal Júlia Cortines no bairro Icaraí no município de Niterói/RJ, para alunos do primeiro seguimento do ensino fundamental do 1o ao 4o

ano na faixa etária de 6 a 9 anos. Participaram 4 turmas uma de cada ano, totalizando cerca de 120 alunos no mês de dezembro de 2012 com duração de 30 minutos em média por turma, com a mesma metodologia modificando apenas a linguagem e abordagem com cada turma. Essa ati- vidade foi realizada através de uma parceria da equipe da Subsecretaria de Sustentabilidade de Niterói parte da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade de Niterói e a Escola Municipal Julia Cortines.

A atividade ocorreu sem maiores alteração com participação entusiasmada dos alunos que conseguiram entender sua contribuição e ajudando uns aos outros avisavam e levantavam-se no momento em que os seus elementos apareciam na história. Interagiam também com respos- tas ao serem indagados sobre os personagens seguintes e sobre os elementos que compunham os ambientes demonstrando um bom feedback de compreensão. A sensibilização gerada com a contação foi visível nas expressões dos alunos assim como nas suas manifestações verbais diante dos acontecimentos da história em que ocorria a degradação ambiental e a demonstração de afeto pelos personagens introduzidos. Acompanharam, portanto sem dificuldades o desen- rolar dos acontecimentos e puderam revelar sua compreensão diante dos prejuízos ambientais da retirada de elementos como as árvores que servem de moradia para grande parte dos ani- mais assim como da poluição de rios e o desaparecimento sucessivo de peixes. As professoras acharam a atividade interessante e válida para a construção de conceitos ambientais que foram apresentados aos alunos e informaram que continuariam trabalhando os mesmos com os alunos.

Figura 2: Montagem dos elementos da história com a colaboração dos alunos da Esco- la Julia Cortines. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 3: Diferença do ambiente com elementos antrópicos para o ambiente equilibrado. Fonte: Arquivo pessoal.

Houve a aplicação da mesma metodologia de ensino em uma atividade na creche Sem- pre Vida na comunidade Palmeirinha no Bairro Honório Gurgel no município do Rio de Janei- ro. Essa ação foi promovida através de uma parceria da empresa Verde Criativa com a unidade do SESC de Madureira. A faixa etária dos alunos era bem menor contando com crianças de 2 a 4 anos. A quantidade de crianças também foi menor totalizando cerca de 60 participantes. A atividade foi realizada no mês de outubro de 2013, em proximidade com o dia das crianças como data comemorativa. A animação dos alunos foi grande diante da atividade gerando uma agitação por parte dos mesmos. Interessaram-se diante da temática evidenciando grande afeto e afinidade com os elementos ambientais apresentados, mas manifestaram maiores dificuldades para alcançar a proposta como um todo. No momento interativo onde deveriam identificar sua participação na introdução dos elementos demonstraram certa confusão não entregando os ele- mentos de forma correta. Dessa maneira o formato de história construtiva com a participação de alunos dessa faixa etária demonstrou uma debilidade.

Figura 4: Participação interativa dos alunos da Creche Sempre Vida. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 5: Explicação da história e apresentação dos personagens aos alunos da Creche Sempre Vida.

Conclusões

Não há bases de conhecimento acerca das temáticas ambientais nas escolas onde o estu- do foi aplicado. Os alunos manifestam interesse e afinidade com o tema, mas pouco se percebe de uma percepção ambiental prévia vista por eles em critérios educacionais. O que expressam são meros instintos de observação de vivências próprias anteriores ou externas ao ambiente escolar.

O resultado e desempenho dos indivíduos diante das atividades foram relativos diante da faixa etária. Os alunos da creche envolveram-se mais com os personagens buscando uma referência de identificação e de descoberta dos elementos naturais que tiveram pouca oportu- nidade de contato ainda. Para a faixa etária da Escola Municipal Julia Cortines foi identificado uma maior compreensão da evolução da história e dos impactos causados pela modificação dos elementos incluídos no livro ao desenrolar da atividade.

A iniciativa teve uma receptividade muito proveitosa por parte dos alunos e da comu- nidade escolar. Percebe-se uma carência diante do tema e principalmente com atividades mais dinâmicas que possam ser um diferencial no ambiente escolar expositivo.

Referências

CARDOSO, Kênia Mesquita Mendes. Educação ambiental nas escolas. Brasília: 2011.

CUBA, Marcos Antonio. Educação ambiental nas escolas. Educação, Cultura e Comunica- ção, v. 1, n. 2, 2011.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental. Princípios e práticas, v. 5, 1998.

EFFTING, Tânia Regina. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: realidade e desafios. Mo- nografia (Pós Graduação em “Latu Sensu” Planejamento Para o Desenvolvimento Susten- tável)–Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste, 2007.

FERREIRA, Vítor F. As tecnologias interativas no ensino. Química Nova, v. 21, n. 6, p. 780- 786, 1998.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, v. 118, n. 3, p. 189-205, 2003.

MONTEIRO, Marco Aurélio Alvarenga; TEIXEIRA, Odete Pacubi Baierl. UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES DIALÓGICAS EM AULAS DE CIÊNCIAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL (An analysis of the dialogical interactions science in classes of the primary school). Investigações em Ensino de Ciências, v. 9, n. 3, p. 243-263, 2004. SORRENTINO, Marcos et al. Educação ambiental como política pública. Educação e Pesqui- sa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, 2005.

ZABALA, Antoni; ROSA, Ernani F. da F. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO SO-

No documento Volume 2 (páginas 101-108)

Outline

Documentos relacionados