Taís Mansur ZIEGLER Araciele Maria Vanelli PARIS Alanza Mara ZANINI Isabel DAHMER Jéssica HEREK Sônia Beatris Balvedi ZAKRZEVSKI RESUMO
A pesquisa buscou caracterizar o trabalho pedagógico desenvolvido pelas escolas do Alto Uru- guai Gaúcho sobre a Mata Atlântica e o Pampa. O estudo envolveu 71 professores de 15 muni- cípios da regiaõ. Para a identificação das percepções dos professores sobre os biomas em foco, foi aplicado um questionário constituído por questões abertas e fechadas, por evocações livres, que foram submetidos a processos de análise de conteúdo (semântica e lexical). Verificou-se por meio do estudo, que parece haver um tímido envolvimento das escolas com as questões ambientais, de um modo geral, e também sobre os biomas em estudo. Evidenciou-se que a Mata Atlântica e o Pampa são objeto de estudo exclusivo de Ciências Naturais e Geografia, sem a existência de interfaces entre as disciplinas. Os professores utilizam-se especialmente dos livros didáticos para a organização de seus planos de ensino e para o trabalho pedagógico propriamente dito. Evidenciou-se a fragilidade do conhecimento dos docentes sobre a biodiver- sidade da Mata Atlântica e o Pampa e sobre alternativas para o uso sustentável de seus recursos naturais. Há a necessidade de investimentos do governo estadual em processos de formação de professores em EA (educação ambiental), bem como na produção de materiais didáticos para subsidiar processos voltados à conservação sobre os biomas Mata Atlântica e o Pampa.
Palavra-chave: Educação Ambiental. Biomas. Livros didáticos. INTRODUÇÃO
As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental (BRASIL, 2012) estabele- cem que os planejamentos de Educação Ambiental (EA) devem considerar os “[…] níveis dos cursos, as idades e especificidades das fases, etapas, modalidades e da diversidade sociocultural dos estudantes, bem como de suas comunidades de vida, dos biomas e dos territórios em que se situam as instituições educacionais” planejamento curricular e a gestão das instituições de en- sino devem considerar os valores da sustentabilidade, a diversidade de manifestações da vida, promovendo uma “[…] visão integrada, multidimensional da área ambiental, considerando o estudo da diversidade biogeográfica e seus processos ecológicos vitais, as influências políticas, sociais, econômicas, psicológicas, dentre outras, na relação entre sociedade, meio ambiente,
natureza, cultura, ciência e tecnologia”.
Considerando a importância da escola priorizar o estudo dos biomas em que está inseri- da no seu trabalho pedagógico de EA, esta pesquisa é direcionada a caracterização da EA vol- tada à conservação do Pampa e da Mata Atlântica desenvolvida nas escolas públicas da região do Alto Uruguai Gaúcho.
METODOLOGIA
A pesquisa caracteriza-se como um estudo quanti-qualitativo. Envolvendo professores de ensino fundamental e médio que exercem atividades em escolas públicas, em 15 dos 32 municípios situados na região do Alto Uruguai Gaúcho. Para avaliar em que medida as esco- las desenvolvem o tema Mata Atlântica e Pampa foram encaminhados 150 questionários aos professores representantes da cada área do conhecimento das escolas de educação básicas da região. Os questionários, constituídos por perguntas abertas e fechadas, enfatizou os assuntos mais frequentemente tratados sobre a Mata Atlântica e o Pampa, as técnicas didáticas e recursos pedagógicos empregados, o tempo destinado ao estudo de cada tema, bem como as dificuldades enfrentadas no desenvolvimento do tema em sala de aula. Destes retornaram 71 questionários, respondidos na sua maioria por educadores das áreas de Ciências da Natureza e Ciências Hu- manas. Os dados dos questionários foram submetidos a um processo de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Temas estudados nas escolas segundo relatos dos professores
Sobre a Mata Atlântica e o Pampa os educadores declaram que são poucos os encon- tros realizados com os estudantes para tratar sobre os Biomas. A Mata Atlântica e o Pampa são estudados exclusivamente nas disciplinas de Ciências Naturais (ensino fundamental), Biolo- gia (ensino médio) e Geografia (ensino fundamental e médio). Existem diferenças em relação aos conteúdos apresentados nos planos de ensino e os conteúdos citados como efetivamente trabalhados pelos professores. Parece que os planos de ensino foram elaborados a partir dos conteúdos propostos nos livros didáticos; já os conhecimentos que os professores afirmam tra- balhar com maior ênfase são aqueles que apresentam uma maior importância sociocultural. Nos quadros 1 e 2 são listados os conteúdos que os professores afirmam trabalhar nas escolas.
Tema Conteúdos Disciplina
Paisagem - Paisagens naturais brasileiras Geografia (7º ano)
- Floresta Tropical Ciências (7º ano)
Geografia (6º e 8º ano) Geografia (Ensino médio) - Bioma – Mata Atlântica
- Mata de Araucárias
Geografia (Ensino médio) Solo - Características do solo da Mata Atlântica Geografia (7º ano) Clima e Domínios - Clima da Mata Atlântica Geografia (6º, 7º e 8º ano)
Biologia (Ensino médio) - Domínio climático tropical
- Domínios fitogeográficos Biologia (Ensino médio) Localização - Localização das Florestas Tropicais no Planeta Geografia (8º ano)
- Localização dos principais trechos da Mata Atlântica Geografia (7º ano) Diversidade Ani-
mal - Espécies animais- Animais da Mata Atlântica em risco de extinção Geografia (6º e 8º ano)Geografia (7º ano) Biologia (Ensino médio) Diversidade Ve-
getal - Flora da Mata Atlântica-Vegetação nas Florestas Tropicais Geografia (7º ano)Geografia (6º e 8º ano) - Influência do clima e do relevo na vegetação Geografia (6º ano) Impactos humanos
na Mata Atlântica - A vegetação original e a sua devastação Geografia (6º e 7º ano) Biologia (Ensino médio) - Problemas ambientais decorrentes da ocupação humana Geografia (Ensino médio) - Extrativismo vegetal na Mata Atlântica Ciências (7º ano) Políticas e ações
voltadas à Conser- vação
- Mata Atlântica - reservas da biosfera Geografia (9º ano) - Unidades de Conservação na Mata Atlântica Geografia (Ensino médio)
Ciências (6º ano) - ONG com atuação voltada à conservação da Mata Atlântica Ciências (6º ano)
Quadro 1– Conteúdos sobre a Mata Atlântica trabalhados pelas escolas no Ensino Fundamental e médio do Alto Uruguai Gaúcho
Tema Conteúdos Coleção
Paisagem - Campos - paisagens naturais brasileiras Geografias (7º ano) - Grandes paisagens naturais da terra Geografia (8ª ano) - Pampa – Bioma Brasileiro Geografia (Ensino Médio) Solo - Características do solo do Pampa Geografia (6º 7ª e 8º ano) Clima e Domínios - Clima da Pampa Geografia (7ª e 8º ano)
- Pradarias como os domínios morfoclimáticos no Brasil Geografia (7º ano) - Regiões temperadas - Pampa Ciências (6º ano) Localização - Localização da campanha gaúcha ou região dos Pampas Geografia (7º ano)
Geografia(Ensino médio) - Localização dos Estepes e Pradarias Geografia (7º e 8º ano) - Localização dos domínios das pradarias Geografia (7º e 8º ano) Diversidade Ani-
Diversidade Ve-
getal - Vegetação do Pampa Geografia (7º e 8º ano)
Geografia(Ensino médio) - Campos como um tipo de vegetação brasileira Geografia (6º ano) Aspectos históri-
cos e culturais - Guerras pelas delimitações das fronteiras Geografia (7º ano) -BR-153: a rota da pluralidade Geografia (7º ano) -Trajes, rotina, valores e costumes do gaúcho Geografia (7º ano) Impactos da ação
humana no Pampa - Esgotamento do solo no Pampa e erosão Ciências (7º ano) Geografia (8º ano) - Pecuária e plantação de arroz, trigo e soja Geografia (6º e 7º ano)
Ciências (7º ano) - Impacto das atividades agropecuárias sobre a vegetação Geografia (7º e 8º ano) Quadro 2 – Conteúdos sobre o Pampa trabalhados pelas escolas no Ensino Fun- damental e médio do Alto Uruguai Gaúcho.
Infelizmente os conteúdos trabalhados associados à Mata Atlântica e ao Pampa não são tratados sob um enfoque interdisciplinar; considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade. Os conteúdos são estudados de forma fragmentada, pelas disciplinas. Também há repetição, sem aprofundamento de conteú- dos ao longo das séries e de disciplinas.
O enfoque metodológico adotado
A educação ambiental pode ser trabalhada a partir de um pluralismo de idéias e de con- cepções, não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino, mas numa abordagem curricular integrada/interdisciplinar e transversal, contínua e permanente em todas as áreas de conhecimento e atividades escolares (BRASIL, 2012). Os projetos de trabalho favo- recem a transversalidade quando “[...] se tornam um meio de ligação da escola com as políticas públicas de educação e com os anseios da comunidade, contribuindo desta forma, para a forma- ção de um aluno cidadão, capaz de refletir e agir sobre sua realidade” (CARVALHO, 2004, p. 1).
Para estudar a Mata Atlântica e o Pampa os professores, no geral, usam estratégias de ensino tradicionais: aulas expositivas com utilização do quadro de giz, leitura, compreensão e discussão de textos e realização de exercícios, normalmente para revisar o conteúdo. Mas existe um esforço para tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas às crianças e adolescentes: propõem pesquisas bibliográficas e entrevistas com pessoas da comunidade; trabalham com documentá- rios e slides; com a leitura de fotos, mapas e gráficos; realizam seminários e debates; confeccio- nam cartazes e maquetes para aplicação dos conhecimentos construídos.
De forma geral, os professores parecem se esforçar no sentido de desenvolver temas ligados à biodiversidade e conservação destes biomas, apesar da reduzida abordagem desses
assuntos pelos livros didáticos. Isto deve levar os professores a procurar informações dessa natureza em outras fontes, o que aumenta a responsabilidade dos jornais e revistas, e da mídia de modo geral em divulgar informações corretas sobre os mesmos.
Para o desenvolvimento das atividades, os recursos pedagógicos disponíveis nas escolas são: TV, computadores, internet, projetores de multimídia. Com vistas à criação de um ambien- te propício à aprendizagem, além da utilização dos recursos disponíveis na escola, os espaços sociais, culturais e naturais do entorno, poderiam ser mais explorados.
Nas escolas do Alto Uruguai se faz necessário a constituição de redes de aprendizagem em EA, garantindo a comunicação entre estudantes e professores de diferentes áreas do conhe- cimento, por meio de práticas e recursos diversos, a fim de favorecer uma melhor compreensão sobre os biomas Mata Atlântica e Pampa. É necessário o desenvolvimento de propostas peda- gógicas que avancem na direção de um trabalho mais colaborativo, capaz de superar a fragmen- tação dos componentes curriculares e de inserir a dimensão ambiental de modo interdisciplinar e transversal.
Existem vários exemplos de possibilidades de integração do currículo (propostas cur- riculares ordenadas em torno de grandes eixos articuladores; projetos interdisciplinares com base em temas geradores formulados a partir de questões da comunidade e articulados aos componentes curriculares e às áreas do conhecimento; currículos em rede; propostas ordenadas em torno de conceitos-chave ou conceitos nucleares que permitam trabalhar as questões cogni- tivas e as questões culturais numa perspectiva transversal; e projetos de trabalho com diversas acepções).
Dificuldades enfrentadas para o ensino sobre o Pampa e a Mata Atlântica
A dimensão socioambiental deve constar dos currículos de formação inicial e continua- da dos profissionais da educação, considerando a consciência e o respeito à diversidade multié- tnica e multicultural do País. Desta forma, os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender de forma pertinente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Educação Ambiental (BRASIL, 2012).
Os professores participantes da pesquisa afirmam possuir falta de conhecimento sobre os dois biomas para o trabalho na escola. Alguns docentes que atuam, inclusive nas disciplinas, cujos planos de estudo contemplam assuntos sobre a Mata Atlântica e Pampa não possuem for- mação específica e, portanto não estudaram sobre as temáticas em sua formação inicial.
A maioria dos professores relata que o trabalho destes dois biomas não se caracteriza como um trabalho de EA, mas como um trabalho pedagógico desenvolvido por duas disciplinas
(Ciências Naturais e Geografia), de modo isolado e por isso não tem um papel de destaque na formação dos estudantes. O único material didático impresso disponível na escola para o traba- lho sobre a Mata Atlântica e Pampa são os livros didáticos de Ciências, Biologia e de Geografia, selecionados pelos docentes do Programa Nacional do Livro Didático. Alguns educadores (oito professores) demonstram insatisfação com este fato, destacando que muitas vezes este é o único material que serve de subsídio para o professor planejar as suas aulas.
São apontados como principais fatores limitantes para o trabalho: a) o currículo escolar organizado na forma disciplinar, dificultando o diálogo entre saberes; b) a falta de conheci- mentos sobre o assunto pelos professores; c) a falta de materiais didáticos/de formação para subsidiar a prática dos professores. Destacam também que a falta de transporte para a realiza- ção de visitas guiadas e as limitações geradas pelos tempos da escola, dificultam a realização de atividades práticas, que exigem o deslocamento dos professores e estudantes para conhecer alguns ambientes naturais.
Com relação à falta de materiais didáticos, reiteramos a idéia apresentada pelas Dire- trizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental (BRASIL, 2012), que estabelece que os sistemas de ensino, em regime de colaboração, devem criar políticas de produção e de aquisição de materiais didáticos e paradidáticos, com engajamento da comunidade educativa, orientados pela dimensão socioambiental. É um grande desafio às escolas de Erechim/RS o aprofundamen- to do pensamento crítico-reflexivo mediante estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos sobre a Mata Atlântica e o Pampa, considerando-se os serviços ambientais por eles prestados. As ações públicas devem valorizar a participação, a cooperação, o senso de justiça e a responsabilidade da comunidade educacional em contraposição às relações de dominação e exploração que parecem estar presentes na realidade dos municípios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se por meio do estudo, que parece haver um tímido envolvimento das escolas com as questões ambientais, de um modo geral, e também sobre os biomas em estudo. Elas pre- cisam ser estimuladas a refletir criticamente e propositivamente para a inserção dos temas Mata Atlântica e Pampa em suas Propostas Pedagógicas, como integrantes do currículo, superando a mera distribuição dos temas pelas disciplinas de Ciências Naturais e Geografia. As comuni- dades escolares podem ser agentes importantes na democratização de informações ambientais, estimulando o fortalecimento e desenvolvimento de uma consciência crítica voltada à conser- vação da biodiversidade. E, oportunidades para os professores conhecerem e analisarem expe- riências assentadas em diversas concepções de currículo integrado e interdisciplinar, podem favorecer mudanças significativas nos currículos, contribuindo para que a dimensão ambiental se torne uma política da escola.
reflexivo mediante estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos sobre o Pampa e a Mata Atlântica, considerando-se os serviços ambientais por eles prestados. As ações devem valorizar a participação, a cooperação, o senso de justiça e a responsabilidade da comunidade educacional em contraposição às relações de dominação e exploração. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília: Conselho Nacional de Educação, DF, 2012.
CARVALHO, I. C. A escola como projeto sociocultural e os projetos de trabalho na escola. In: Bo-
letim Vida e natureza, ambiente e cultura. MEC/ TV Escola, abril, 2004. Texto subsídio para o
A MATA ATLÂNTICA NA ESCOLA: O QUE É ENSINADO PELOS LIVROS DIDÁ-