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MAPAS MENTAIS COMO METODOLOGIA NA ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE DOS PROFISSIONAIS RESPONSÁVEIS PELAS FORMA-

No documento Volume 2 (páginas 115-125)

ÇÕES CONTINUADAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE (MS)

SILVA, Analice Teresinha Talgatti VARGAS, Icléia Albuquerque de Sobrinho Osleane Patrícia Gonçalves Pereira Resumo

O presente artigo é uma pesquisa qualitativa sem intervenção que teve o intuito de investigar a percepção ambien- tal e as concepções de meio ambiente dos profissionais responsáveis pelas formações continuadas da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande (Mato Grosso do Sul, Brasil). Trata-se de uma pesquisa baseada em da- dos qualitativos obtidos pelo uso dos mapas mentais como instrumento metodológico. Para análise e discussão dos resultados, foram avaliados os elementos encontrados nos mapas mentais tendo-se como referência a metodologia Kozel (2007) para a interpretação descritiva dos mesmos e as concepções de meio ambiente propostas por Reigota (2007). Percebe-se que os professores possuem uma concepção globalizante de meio ambiente como sendo a in- teração entre sociedade e natureza. Entretanto, alguns professores ainda possuem concepções antropocêntricas e naturalistas de meio ambiente.

Palavras-chave: Mapas mentais; Percepção ambiental; Meio ambiente. 1. Introdução

O meio ambiente tornou-se um tema de extrema relevância nas últimas décadas, não só para a política como para a educação. As décadas de 60, 70 e 80 do século XX foram marcadas por fortes mudanças nas relações do ser humano com a natureza, chamando a atenção do mundo para a exaustão dos recursos naturais, das fontes de energia e consequentemente, comprome- tendo a vida em sociedade.

Segundo a história ambiental, as preocupações intelectuais com os problemas relaciona- dos ao meio ambiente estão presentes nas discussões desde o século XVIII, porém a novidade está na propagação desse debate para uma parcela muito mais ampla da sociedade. Segundo Pádua (2010)

Não é por acaso que nas últimas décadas organizaram-se iniciativas de ensino e pes- quisa em economia ecológica, direito ambiental, engenharia ambiental, sociologia ambiental etc. Estabeleceu-se um movimento de mão dupla, em que as produções científicas influenciaram e foram influenciadas pelas ações públicas. (PÁDUA, 2010, p. 82)

atitude diante das questões ambientais, por meio da interdisciplinaridade dentre as áreas de conhecimento, procurando discutir e debater sobre o ensino de educação ambiental.

Quando as questões ambientais como biodiversidade, poluição, destinação correta do lixo e outros, são discutidas para a busca de soluções, diversas concepções aparecem. Como descrito por Reigota (2007, p.14), “o primeiro passo para a realização da educação ambiental deve ser a identificação das representações das pessoas envolvidas no processo educativo”. Portanto, para caracterizar o objeto de investigação de uma pesquisa de Educação Ambiental é necessário identificar quais concepções ambientais as pessoas envolvidas detêm.

Na busca das concepções e representações de meio ambiente dos profissionais respon- sáveis pelas formações continuadas da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande a linha investigativa empregada foi a percepção ambiental.

Os estudos de percepção ambiental têm se constituído numa importante ferramenta para a compreensão das relações entre natureza e sociedade. Nestes estudos, são demonstradas como se dão as interações dos seres humanos com o meio ambiente, individualmente ou em grupo. De acordo com Tuan (1980) os indivíduos, no decorrer de sua vivência, percebem, rea- gem e respondem diferentemente frente às ações do meio à que estão expostos, considerando assim, os fatores educativos, culturais, emotivos e sensitivos. Afirma ainda que as respostas ou manifestações são, portanto, resultados das percepções dos processos cognitivos, bem como os julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, estas são constantes e vem afetar a forma de conduta, na maioria das vezes, inconsciente.

Como postula Kozel e Souza (2009) “a percepção envolve as trajetórias de vida social dos sujeitos, isto é, os significados, as diferentes experiências, os valores que os seres humanos atribuem à sociedade e aos homens”. Uma forma de ver e interpretar o ambiente é a utilização de mapas mentais, que segundo Kozel (2007) é a representação sociocultural do espaço.

Nesse contexto o mundo cultural tem uma grande influência, pois é considerado não apenas como uma soma de objetos, “mas como uma forma de linguagem explicitada no sistema de relações sociais no qual estão inseridos valores, atitudes e vivências, e essas imagens passam a ser entendidas como mapas mentais” (Kozel, 2008, p.74). Dessa forma a linguagem aparece como uma semantização que os sujeitos fazem de seu espaço vivido ou uma modalidade privi- legiada de representação. De acordo com Kozel (2007) essa linguagem é referendada por signos que são construções sociais.

Diante disso a Educação Ambiental é uma possibilidade de modificação da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio da conscientização advinda de uma prática social reflexiva, que segundo Loureiro (2012, p. 34) estabelece a“relação entre o ‘eu’ e o ‘outro’, pela

prática social reflexiva e fundamentada teoricamente”.

Portanto a educação ambiental, nas suas diferentes possibilidades, abre um espaço para repensar práticas sociais e a ação dos professores como mediadores de um conhecimento que segundo Jacobi (2004) é

Necessário para que os alunos adquiram uma base adequada de compreensão essen- cial do meio ambiente global e local, da interdependência dos problemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um para construir uma sociedade planetá- ria mais equitativa e ambientalmente sustentável. (JACOBI, 2004, p.34-35)

Na busca da relação entre percepção ambiental, meio ambiente e educação ambiental o presente trabalho tem por objetivo investigar as concepções do meio ambiente dos profissionais responsáveis pela formação continuada dos professores da Rede Municipal de Ensino de Cam- po Grande-MS, utilizando a metodologia dos mapas mentais.

2. Caracterização do universo pesquisado

A pesquisa foi realizada na Secretaria Municipal de Educação do município de Campo Grande (Mato Grosso do Sul, Brasil). O público escolhido para desenvolver a atividade foram os integrantes das Coordenadorias do Ensino Fundamental dessa Secretaria. Esse público foi selecionado por serem os responsáveis pelas formações continuadas dos professores da Rede Municipal de Ensino - REME. As coordenadorias são divididas em dois grupos:

• Coordenadoria do Ensino Fundamental 1º ao 5º ano, da qual 10 pessoas participaram da pesquisa, sendo nove pedagogos e um profissional formado em Letras.

• Coordenadoria do Ensino Fundamental 6º ao 9º ano, da qual 22 pessoas participaram da pesquisa, sendo dois Pedagogos, cinco profissionais de Letras, seis Matemáticos, dois Edu- cadores Físicos, dois Arte-educadores, um Historiador, três Biólogos e um menor-aprendiz.

3. Procedimentos metodológicos

Foi utilizado, como instrumento de coleta de dados, o mapa mental, visando à com- preensão da percepção ambiental dos formadores responsáveis pela Formação Continuada da REME sobre o tema Meio Ambiente. A elaboração de mapas mentais foi baseada na seguinte proposta: “Desenhe no espaço abaixo o que é meio ambiente para você?”

A atividade foi desenvolvida no período de 24 de novembro a 04 de dezembro de 2013. Para sua realização, foi distribuído aos participantes um kit, contendo uma folha A4 com a per-

gunta, lápis preto, borracha, apontador e uma caixa de lápis de cor. Os voluntários ficaram livres para desenvolver a atividade que teve a duração entre 30 e 60 minutos.

A metodologia utilizada para a análise dos mapas mentais foi a Metodologia Kozel, que é embasada em uma linguagem dialógica em que a reflexão dos signos revela uma construção social e cultural, para tal Kozel (2007, p.133) delineia os seguintes pontos para a análise dos mapas mentais:

1 – Interpretação quanto à forma de representação dos elementos na imagem;

2 – Interpretação quanto à distribuição dos elementos na imagem; 3 – Interpretação quanto à especificidade dos ícones:

- Representação dos elementos na paisagem natural - Representação dos elementos da paisagem construída - Representação dos elementos móveis

- Representação dos elementos humanos

4 – Apresentação de outros aspectos ou particularidades.

Para a análise quanto às concepções de meio ambiente, nos referenciamos em Reigota (2007) que afirma que não podemos debater questões ambientais antes de conhecer as concep- ções de meio ambiente das pessoas envolvidas na discussão. O autor ainda escreve (Reigotta 2007), sobre a importância das representações sobre as concepções do meio ambiente dos in- divíduos abarcados no processo de ensino e aprendizagem, pois pode-se perceber os objetivos das atividades e as consequências, mostrando os resultados que esse grupo pode obter. Reigotta (2007), categoriza essas representações em:

• Antropocêntrica: privilegia os recursos naturais para a sobrevivência da socie- dade humana;

• Globalizante: demonstra as relações mútuas entre natureza e sociedade; • Naturalista: evidencia apenas os aspectos naturais do meio ambiente.

4 – Análise dos mapas mentais

Os mapas mentais segundo Kozel (2009) vão além do entendimento do mundo e do ser humano no mundo. Segundo essa autora eles são construídos por intermédio de imagens, sons, formas, odores, sabores, porém seu caráter significativo prescinde de uma forma de linguagem para ser comunicado. Revelam a ideia que as pessoas têm do mundo e assim vão além da per-

cepção individual refletindo uma construção social. Portanto o “espaço não é somente percebi- do, sentido ou representado, mas, também vivido. As imagens que as pessoas constroem estão impregnadas de recordações, significados e experiências (Kozel, 2007, p. 117)”.

Nesse contexto Kozel (2009) afirma que

O ser humano, sua consciência e cultura são únicos em sua identidade, todavia, são produtos incorporados de outras consciências, outras culturas, mediadas pela comuni- cação que se instala no centro das relações. É dessa forma, portanto, que os discursos ao serem incorporados se constituem em signos que se transformam em enunciados ou representações nas diferentes formas de linguagem (KOZEL, 2009, p.3).

A seguir, apresenta-se a análise dos mapas mentais, tendo em vista os aspectos da Me- todologia Kozel (KOZEL, 2007). Para a discussão serão expostas algumas das representações. 1. Interpretação quanto à forma de representação dos elementos na imagem

.

As formas de representação encontradas nos desenhos são diversas: letras, mapas, globos, linhas, figuras geométricas, elementos soltos, elementos bióticos e abióticos, dentre outros. Na grande maioria das imagens foi detectada a combinação de ícones e letras, sendo estas últimas de caráter complementar, aparecendo de diversas formas.

2. Interpretação quanto à distribuição dos elementos na imagem. R. 01 - Elementos na imagem R. 04 - Elementos na imagem R. 03 - Elementos na imagem R. 02 - Elementos na imagem

Nesse grupo foram encontradas diversas formas dos desenhos, elas aparecem dispostas hori- zontalmente, verticalmente, em quadros, em perspectiva. Notamos que a forma predominante é a horizontal.

3. Interpretação quanto à especificidade dos ícones. A) Paisagem natural

B) Representação dos elementos das paisagens construídas.

R. 08- Visão em quadros

R. 06 - Visão em perspectiva R. 07 - Visão vertical R. 05 - Visão horizontal

C) Representação dos elementos móveis

D) Representação dos elementos humanos

Nos mapas analisados verificou-se a representação de todas as categorias básicas de íco- nes proposta por Kozel (2007). A maioria dos mapas apresenta paisagens tipicamente urbanas

R. 10 – Paisagem construída

R. 13 – Elementos móveis

R. 14 – Elementos humanos R. 15 – Elementos humanos

compostas pela representação dos elementos construídos pelo ser humano como casas, prédios, ruas, quadras, áreas de cultivo, postes, cercas, estradas, igreja, jardins, parques entre outros. 4- Apresentação de outros aspectos ou particularidades

4 –

Observou-se que em alguns mapas a concepção de meio ambiente foi exposta por meio de texto, conforme a representação 16 e ilustrações com escritas, como na representação 17. Constatou-se também que alguns mapas colocam-se problemas ambientais por meio de senti- mentos humanos ao planeta Terra, como no caso do mapa da representação 18; em outro mapa [representação 19], há a relação de interdependência entre os elementos naturais e econômicos dos cinco continentes; no mapa da representação 20 inclui-se o Universo na visão de meio am- biente.

5 – Análise das concepções de meio ambiente

De acordo com as concepções de meio ambiente propostas por Reigota (2007) os mapas mentais analisados apresentam as seguintes categorias:

- Concepção Naturalista: no universo de 32 mapas mentais apenas um apresentou essa concepção, representando 3% do grupo investigado, que tem como característica a visão de natureza intocada pelo ser humano, demonstrando apenas os aspectos naturais.

- Concepção Antropocêntrica: oito participantes apresentaram essa concepção, que re-

R. 16 – Outros aspectos R. 17 – Outros aspectos

presenta 25% dos mapas mentais analisados, percebe-se a presença de características da cate- goria antropocêntrica de visão do meio ambiente, no qual, observa-se que o meio ambiente é o meio onde o ser humano está envolvido, sendo este o meio para servi-lo.

- Concepção Globalizante: nessa última concepção vinte e três pesquisados que cor- respondem a 72% apresentaram a concepção globalizante que tem como característica as in- terações entre o ser humano e a natureza. Essa concepção se torna mais complexa porque une aspectos naturais, políticos, sociais, econômicos, filosóficos e culturais.

6 – Considerações finais

A pesquisa mostrou que a maioria dos mapas mentais dos participantes possui uma vi- são globalizante de meio ambiente, esse resultado provém das análises dos mapas que mostram a relação entre a sociedade e a natureza retratada nas atividades com a presença de carros, edi- fícios, rios, florestas, pássaros, ser humano, planetas, ruas, lixo, áreas urbanas e rurais, ou seja, a inter-relação entre os elementos naturais e construídos.

Entretanto encontramos ainda uma quantidade significativa de profissionais que pos- suem as concepções naturalista e antropocêntrica de meio ambiente pois representaram seus mapas mentais somente com elementos naturais e outros com relação de domínio sobre a na- tureza. As concepções de meio ambiente têm uma relação direta com as práticas de EA, pois levam e carregam consigo valores imbricados dos pressupostos teóricos em que estão alicerça- dos.

Considerando que os sujeitos investigados são responsáveis pelas formações continua- das dos professores da REME e portanto podem influenciar a construção de concepções equi- vocadas de meio ambiente e consequentemente de Educação Ambiental, faz-se necessário por parte da Secretaria Municipal de Educação investimento em formação continuada desses pro- fissionais na área de Educação Ambiental.

Sem dúvida, a Educação ambiental é um dos meios mais indicados para ampliar a noção de meio ambiente, de forma que o ser humano recupere a compreensão de que, ao falar de meio ambiente, ele está falando também de si mesmo.

7- Referências

LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2012.

JACOBI, Pedro. Educação e meio ambiente – transformando as práticas. Revista brasileira de educação ambiental / Rede Brasileira de Educação Ambiental. Nº 0 (nov.2004). – Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, 2004.

KOZEL, Salete Teixeira. Representação e Ensino: Aguçando o olhar geográfico para os as- pectos didático-pedagógicos. SERPA, A., org. Espaços culturais: vivências, imaginações e representações [on line]. Salvador: EDUFBA, 2008. Disponível em <http://books.scielo.org/ id/bk/pdf/serpa-9788523209162-05.pdf> Acesso em 21 de janeiro de 2014.

KOZEL, S. Mapas mentais – uma forma de linguagem: perspectivas metodológicas. In: KOZEL, S.; COSTA SILVA, J.; GIL FILHO, S.F. (orgs). Da percepção e cognição à represen- tação: reconstruções teóricas da geografia cultural e humanista. São Paulo: Terceira Margem; Curitiba: NEER, 2007. p. 114-138.

KOZEL, S.; SOUZA, L.F. Parintins, que espaço é esse? Representação espacial sob a ótica do morador e do visitante. In: KOZEL, S.; SILVA, J.C.; FILIZOLA, R.; GIL FILHO, S.F. (orgs.). Expedição amazônica: desvendando espaço e representações dos festejos em comuni- dades amazônicas. “A festa do boi bumbá: um ato de fé”. Curitiba: SK, 2009. p. 117-144. PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estudos Avançados, 2010, p.81-101. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0103-40142010000100009> Acesso em 15 de janeiro de 2014.

REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

TUAN, YU-FU. Topofilia – Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Am- biente. Tradução Lívia de Oliveira, Prof. Adjunta do Depto. de Geografia – UNESP – Rio Claro, SP (1980).

No documento Volume 2 (páginas 115-125)

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