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A MATA ATLÂNTICA NA ESCOLA: O QUE É ENSINADO PELOS LIVROS DIDÁ TICOS?

No documento Volume 2 (páginas 151-157)

Isabel Dahmer Araciele Maria Vanelli PARIS Sônia Beatris Balvedi ZAKRZEVSKI RESUMO

No cenário brasileiro, o livro didático tem especial importância, pois em muitas regiões é o único livro com o qual o educando tem contato. Historicamente é um dos principais instrumen- tos adotados para assegurar a aquisição de saberes e competências aos educandos e também um dos principais materiais utilizados pelos professores para o planejamento de suas aulas. Este estudo avalia a Mata Atlântica nos livros didáticos adotados pelas escolas públicas para o trabalho pedagógico no ensino fundamental e médio. As cinco coleções de livros didáticos mais adotados pelas escolas foram submetidas a um processo de análise de conteúdo, que con- templou: conteúdos relativos ao bioma Mata Atlântica propostos nos livros didáticos; definição de Mata Atlântica; correção científica; presença ou ausência de explicação dos termos desco- nhecidos; adequação dos conteúdos à faixa etária dos alunos; adequação à realidade geográfica e econômica; aprofundamento dos conteúdos relativos às séries anteriores; qualidade e papel das ilustrações nos livros didáticos; práticas sugeridas e atividades propostas; relações do tema com questões sociais, políticas, econômicas e culturais. A pesquisa evidenciou que apesar das temáticas ambientais serem consideradas no cenário escolar brasileiro como temas transversais e interdisciplinares, a Mata Atlântica é um assunto proposto apenas pelos livros didáticos de Ciências Naturais Biologia e Geografia. Trazem informações descritivas sobre o bioma, apre- sentando como algo distante da realidade dos estudantes do Alto Uruguai gaúcho, desconside- rando aspectos socioculturais associados. A Mata Atlântica é apresentada como um dos mais ricos biomas do Planeta Terra; Infelizmente os livros didáticos adotados, principais materiais utilizados pelos professores para o planejamento e desenvolvimento de suas aulas não contri- buem de modo significativo para que os estudantes construam saberes e novos valores sobre os dois biomas da região sul do País.

Palavras-chaves: Bioma. Educação Ambiental. Ensino.

INTRODUÇÃO

No cenário brasileiro, o livro didático tem especial importância, pois em muitas re- giões é o único livro com o qual o educando tem contato. Historicamente é um dos principais instrumentos adotados para assegurar a aquisição de saberes e competências aos educandos e também um dos principais materiais utilizados pelos professores para o planejamento de suas aulas (MAGAYEVSKI, 2013).

las escolas públicas para o trabalho pedagógico no ensino fundamental e médio. O estudo ava- liou os conteúdos e atividades propostas, correção científica, linguagem utilizada, e ilustrações apresentadas pelos livros adotados pelas escolas da região do Alto Uruguai Gaúcho.

METODOLOGIA

O trabalho caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica que analisou os livros didá- ticos de 6º a 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio na região do Alto Uruguai Gaúcho. Por meio de contato prévio com o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação, Progra- ma Nacional do Livro Didático, foi acessada a lista das coleções de livros didáticos adotadas na região. Foram obtidas as cinco coleções de livros mais adotados pelas escolas e as mesmas submetidas a um processo de análise de conteúdo, que contemplou: conteúdos sobre a Mata Atlântica propostos nos livros didáticos; definição de Mata Atlântica; correção científica; pre- sença ou ausência de explicação dos termos desconhecidos; adequação dos conteúdos à faixa etária dos alunos; adequação à realidade geográfica e econômica; aprofundamento dos conteú- dos relativos às séries anteriores; qualidade e papel das ilustrações nos livros didáticos; práticas sugeridas e atividades propostas; relações do tema com questões sociais, políticas, econômicas e culturais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O bioma Mata Atlântica é apresentado aos estudantes no ensino fundamental do Alto Uruguai Gaúcho por meio dos livros didáticos adotados para as disciplinas de Geografia e Ciências Naturais; em nenhum outro livro didático este tema é contemplado. No ensino médio é apresentado pelas disciplinas de Geografia e Biologia.

A definição de Bioma nos Livros Didáticos

No geral, os livros não apresentam uma definição explícita para bioma. Diferentes classificações dos biomas brasileiros são apresentadas para estudantes do 7º ano e 1º ano do ensino médio, dificultando um processo de elaboração conceitual mais consistente. Os livros de Geografia adotam a classificação dos biomas brasileiros proposta pelo Ministério do Meio Ambiente em seus materiais didáticos sem incluir o bioma denominado de Ambientes Costeiros e Marinhos. Já os livros de Ciências Naturais e Biologia classificam os biomas em Cerrado, Caatinga, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Complexo do Pantanal e Pampa; também con- sideram a Mata dos Cocais, Mata das Araucárias e Outras formações, como biomas brasileiros. Em algumas coleções analisadas, também está presente a ideia de que bioma é um gran-

de ecossistema. As ilustrações de livros apresentam os biomas e os domínios fitogeográficos, como sinônimos. Segundo Coutinho (2006, p. 20), o bioma é um tipo de ambiente “[…] bem mais uniforme em suas características gerais, em seus processos ecológicos, enquanto que o domínio é muito mais heterogêneo. Bioma e domínio não são, pois, sinônimos”.

Conteúdos sobre a Mata Atlântica propostos nos Livros

A Mata Atlântica é tratada, superficialmente, nos livros de Ciências (6º e 7º anos) e de Geografia (6º, 7º e 8º anos) do Ensino Fundamental; de Geografia (1º ano) e Biologia (2º ano) do Ensino Médio e de livros com volume único para o ensino médio. Os livros de Ciências Naturais e Biologia apresentam menor número de informações sobre os biomas quando compa- rados aos livros de Geografia.

Os conteúdos sobre a Mata Atlântica são especialmente ligados aos assuntos referentes às Regiões Brasileiras – Região sul e sudeste (Mata Atlântica); os domínios morfoclimáticos brasileiros; clima; relevo; vegetação, distribuição da Mata Atlântica no território brasileiro bem como sua devastação; características da Mata Atlântica do ponto de vista fisionômico; ocupação e povoamento da região sul; degradação ambiental e suas consequências. Destacam-se ainda os temas relacionados a fauna (sendo também citadas as espécies já em extinção), impactos am- bientais na Mata Atlântica gerados pelas atividades humanas e ações coletivas desencadeadas por Organizações não-governamentais com o objetivo de proteger esse ecossistema.

A Mata Atlântica é o bioma mais citado para exemplificar os temas como ecossistemas, devastação e floresta tropical.

Correção Científica e Presença ou Ausência de Explicação dos Termos Desconhecidos A correção científica é uma condição para tornar acessível ao estudante um dado con- teúdo. Ao analisar as coleções de livros didáticos de Ciências Naturais e Geografia percebemos que existe correção científica nas informações.

Para explicar os termos desconhecidos relacionados aos biomas em estudo as coleções de livros didáticos utilizam a estratégia do glossário, inserido na página em que o novo vocabu- lário é apresentado aos estudantes ou no final de cada volume.

De modo geral, a linguagem utilizada nos livros para tratar da temática Mata Atlântica é correta; porém os textos são pouco atrativos para os estudantes. Em todas as coleções são utilizadas estratégias que explicam os termos técnicos e desconhecidos ou incentivam a busca por definições, o que facilita a compreensão do conteúdo pelos alunos.

Adequação e aprofundamento dos conteúdos

Os conteúdos sobre a Mata Atlântica propostos pelos livros são adequados ao nível de desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Há uma sequência hierárquica de ideias referente à Mata Atlântica, porém na maioria das coleções há uma simplificação dos conteúdos aborda- dos. Também há ocorrência de repetição de conteúdos sem aprofundamento de uma série à outra, por exemplo, os aspectos morfoclimáticos na Mata Atlântica. O modo como os temas são distribuídos ao longo das séries também dificulta a busca de relações com outros conteúdos e disciplinas.

Os livros didáticos estudados não fazem relações do que é estudado com a vida do aprendiz, no que diz respeito ao bioma Mata Atlântica, caracterizada como o domínio de natu- reza mais devastado do Brasil. Conforme Bizerril (2001), na seleção dos conteúdos escolares é fundamental que seja considerado o contexto social, econômico, cultural e ambiental onde se insere, para que os estudantes sejam capazes de identificar-se como parte integrante da natureza e sentindo-se afetivamente ligados a ela.

Qualidade das ilustrações nos livros didáticos

No geral, os livros didáticos são ilustrados com inúmeras fotografias, desenhos, gráfi- cos, mapas e esquemas de boa qualidade. Um ponto de destaque das coleções é que as unidades geralmente são iniciadas com estes recursos, caracterizando ilustrações que problematizam os conteúdos, cuja função é convidar os alunos a observar, analisar e interpretar imagens e fotos. Há uma boa distribuição das ilustrações que também auxiliam na compreensão das informações textuais.

A maioria dos livros didáticos de Ciências naturais apresenta nas suas ilustrações, as escalas ou o tamanho dos animais, dando uma ideia real do que está ilustrado. As escalas são muito importantes para que o aprendiz tenha uma noção das ilustrações de forma mais real, este recurso não é utilizado em nenhuma ilustração das coleções analisadas para o ensino médio.

Também, a maioria das ilustrações analisadas é acompanhada dos créditos dos autores. Porém, ainda encontramos algumas coleções que apresentam incorreções ou inadequações nas ilustrações, com o tamanho diminuto das letras, falta de legenda e indicação de data e local de produção, comprometendo assim, a compreensão e entendimento do conteúdo.

Quando comparados com a ocorrência de gráficos, tabelas e esquemas observa-se que os mapas e fotos se destacam com frequência. Os mapas, em sua maioria, restringem-se a apre- sentar a distribuição do clima, vegetação e relevo nos territórios brasileiro, sul americano ou mundial.

A leitura de textos não contínuos tende a ser desprezada nos livros didáticos analisados, não possibilitando deste modo, que o estudante visualize como as informações se organizam, o que possibilita compreendê-las e não simplesmente memorizá-las.

Práticas sugeridas e atividades propostas

É desejável que as atividades propostas contemplem a aquisição de conhecimentos, a capacidade de análise, de crítica e estimulem a iniciativa dos estudantes. Essas atividades cons- tituem um fator decisivo para avaliação da qualidade do livro didático. Desta forma, agrupamos os tipos de atividades propostas em cinco categorias: atividades de análise; atividades de reso- lução de problemas; atividades de cópia; atividades extra-livro; atividades de resposta aberta.

Em todas as coleções analisadas percebe-se que as atividades de análise são as mais frequentes, onde o aluno deve pensar para responder as questões, sem apresentar a solução no texto. Além das atividades de análise, há uma tendência das Coleções proporem atividades de resolução de problemas e de resposta aberta, pois os conteúdos sobre biomas geralmente envol- vem questões que precisam ser respondidas não só a partir do conhecimento adquirido, como dos valores dos estudantes. As coleções apresentam poucas atividades de cópia, evidenciando outro ponto positivo. Uma coleção apresenta mapas de conceitos para serem construídos em grupo ou já construídos com o intuito de facilitar a organização das ideias.

Verifica-se que quanto à forma de execução, as coleções de Ciências sempre propõem alguma atividade de grupo relacionada aos conteúdos estudados. Já nas coleções de Geografia há uma tendência na realização de atividades em caráter individual. A realização de trabalhos em grupo é uma oportunidade de construir coletivamente o conhecimento. Por meio dessa prá- tica, o estudante se relaciona de modo diferente com o saber; é um momento de troca, em que o mesmo se depara com diferentes percepções.

As atividades propostas devem estimular e desafiar os estudantes a identificar, carac- terizar e analisar criticamente questões relacionadas à Mata Atlântica. Esses objetivos poderão ser alcançados a partir da realização de outras atividades, como por exemplo, atividades de vi- sitas guiadas em diferentes ambientes, instigando os estudantes a observarem os elementos que fazem parte do ambiente, bem como os próprios ambientes, contribuindo para o entendimento de sua realidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar das temáticas ambientais serem consideradas no cenário escolar brasileiro como temas transversais e interdisciplinares, a Mata Atlântica, apresentada como um dos mais ricos

biomas do Planeta Terra, é um assunto propostos apenas pelos livros didáticos de Ciências Na- turais, Biologia e Geografia.

Na maioria dos casos os livros trazem informações descritivas sobre o bioma, apresen- tando-os como algo distante da realidade dos estudantes do Alto Uruguai gaúcho, desconside- rando aspectos socioculturais associados.

Infelizmente os livros didáticos adotados, principais materiais utilizados pelos professo- res para o planejamento e desenvolvimento de suas aulas não contribuem de modo significativo para que os estudantes construam saberes e novos valores sobre os dois biomas da região sul do País. Não são uma fonte inspiradora de práticas educativas sobre Mata Atlântica e pouco contribuem para a formação de atitudes positivas em relação ao Bioma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIZERRIL, M. X. A. O Cerrado e a Escola: uma análise da educação ambiental no ensino fundamental do Distrito Federal. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília – DF, 2001.

COUTINHO, L. M. O conceito de bioma. Acta bot. bras. v. 20, n. 1, p. 13-23, 2006.

MAGAYEVSKI, R. M. Percepções da Comunidade Escolar de Taboporã/MT sobre o Cerrado e a Amazônia. Erechim, 2013.

No documento Volume 2 (páginas 151-157)

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